Cheguei à tempo. Cansada, a mochila escorregando das costas por conta do suor, bati na porta da casa Uzumaki com urgência. Ela foi aberta uns 15 segundos depois por Menma, que me olhou com cara de surpresa até eu cair lentamente na direção dele, exausta.

– Narutooo-! Tua namorada acabou de morrer nos meus braços. – gritou ele para dentro da casa, me segurando pelas costas.

Menma me arrastou para dentro e fechou a porta com o pé, enquanto Naruto surgia na sala com uma tigela de rámen, comendo-o apressadamente.

– Sakura-chan! – disse ele, com a boca cheia de macarrão. Engolindo tudo, ele colocou a tigela no braço da poltrona, e veio até nós, uma expressão preocupada surgindo em seu rosto.

Eu o abracei por um instante, sem dizer nada. Depois que nos separamos, nós três fomos conversar no quarto do Naruto, onde eu podia falar normalmente sem ter medo da Karin abrindo a porta de repente ou dela escutar tudo.

Naruto sentou no chão, e Menma na cama. Eu fui direto para o poof laranja que havia ali, perto de onde eles estavam. Agarrei o Pikachu de pelúcia e prenssionei contra o peito.

– Comece. – disse o moreno, me encarando com cara de bunda. Mostrei a língua pra ele antes de dizer alguma coisa.

– Vou ser direta, antes que ela chegue. – murmurei.

– Ela quem? – perguntou Naruto, arregalando os olhos.

Menma deu um tapa leve na cara dele.

– Cala a boca e deixa ela falar, seu loiro merda.

Ele franziu as sombrancelhas, pronto pra retrucar, mas desistiu, me fitando como quem diz: ‘Por favor, antes que eu que eu desça a porrada nele.’ Eu conheço esse olhar.

– Eu estava com a Karin no shopping, me lamentando sobre a briga com a Ino. – comecei, alternando o olhar entre os dois. – E de repente.. Dang. Ela mesma e o Sasuke apareceram ali do nada. E eles estavam no maior clima.

Naruto e Menma trocaram um olhar confuso entre si.

– A Karin e eu tentamos nos esconder, mas... Acabou saindo tudo errado e eles nos enxergaram, e vieram até nós. Bati um papinho com o Sasuke, perguntei sobre os dois e ele disse que aquilo era um encontro, que eles queriam começar um relacionamento.

Ao meu lado, Naruto tapou a boca para abafar um grito.

– Mas espera! A pior parte está por vir. – avisei, continuando a falar. – A Karin ficou muito, muito arrasada com aquilo e, se levantou da cadeira, falou algumas lindas palavras e saiu andando como... Como uma diva, sabe? Até o Sasuke ficou assustado, e eu acho que a Ino se sentiu culpada também. Eles tentaram me impedir, mas eu vim correndo pelo atalho até aqui. E a Karin já deve estar chegando. Me ajudem a falar com ela? Até porque, eu acho que ninguém esperava por isso. Muito menos ela.

Os dois me olharam, sem muita reação, quando eu terminei de contar. Cinco segundos depois, começaram a falar ao mesmo tempo, reclamando do Sasuke, falando mal e bem da Karin, comentando sobre o relacionamento repentino da Ino, etc. Gritei para eles calarem a boca, e ouvi a porta da frente se abrir.

Meu coração falhou uma batida, e eu respirei fundo. Olhei para Naruto, que sabia o que estava por vir.

Nós descemos a escadas com pressa, encontrando uma Karin transtornada sentada no sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto entre as mãos. Menma soltou um risinho abafado. Ergui o braço e dei uma cotovelada na barriga dele, enquanto ele se curvava de dor e fazia um joinha com a mão. Naruto riu, e eu sussurrei pra ele ficar quieto enquanto eu tentava me aproximar da Karin. No fim, nós estávamos parecendo um bando de gente com problemas psicológicos.

– Não precisam disso tudo.

Viramos para encarar a ruiva, que nos fitava com o óculos torto no rosto, os cabelos bagunçados, seus olhos mais vermelhos do que nunca.

– Karin... – dei um passo à frente.

– Não, Sakura. Não precisa falar nada. Eu sempre soube que isso iria acontecer. Já tava na cara. – ela enxugou uma lágrima insistente. – E não fiquem com pena de mim. Eu proíbo. – cruzou os braços e virou o rosto. – Pfff. A última coisa que eu preciso agora é um bando de desocupados que fingem se importar comigo pra parecer gente legal.

Agora ela estava negando. Cheia de raiva, abri a boca para falar alguma coisa que provavelmente soaria inútil, mas Menma soltou uma risada espontânea naquele momento. Troquei olhares com Naruto, que também não fazia idéia do que acontecia.

– Você só pode estar brincando, Karin. – disse, enxugando as lágrimas que escaparam dos olhos de tanto rir. – Olha só pra você. Deprimida e chorando por causa de um Uchiha playboyzinho. Faça-me o favor! – ele fez uma pausa, assim que ela o encarou de relance com um olhar ameaçador. Engoli em seco. – De onde saiu essa quedinha pelo Sasuke? Por que todas as meninas gostam dele? – com o silêncio, ele virou-se para mim, procurando uma resposta.

– H-Humm.. É porque ele era o menino mais bonito do colégio. – murmurei.

– Ah, mas é claro! Beleza. Todo mundo gosta dele porque o menino era um gatinho. E ninguém ligava pelo fato de que ele era uma porra de um pedaço de merda, ne? – e riu novamente. – Karin. Você é a garota mais forte que eu conheço. Não vai se rebaixar a isso, não é?

A esse ponto, ela já estava chorando de novo, mas não pelo Sasuke. E sim, pelo Menma.

– Nós somos uma família. – ouvi a voz atrás de mim, baixa e serena. Naruto. Ele andou até a Karin, abaixando-se em sua frente e a envolvendo em seus braços. – Tudo o que precisamos é um ao outro. Acredite em mim.

Eu acredito.

– C-Como..? – ela balbuciou. – Vocês.. Vocês realmente...

– Nos importamos com você. – sorri.

Silêncio tomou conta da sala enquanto Naruto enxugava as lágrimas de Karin e dizia coisas reconfortantes baixinho, só pra ela ouvir. Baixei a cabeça, a frase dele ecoando em minha mente. ‘Nós somos uma família.’

– Que tal fazer um brigadeiro de colher e ver um filme do Studio Ghibli pra comemorar a saída da depressão de 20 minutos da Karin e namoro dos dois pombinhos aqui? – disse Menma, dando uma risadinha e me cutucando com o cotovelo. Com as bochechas esquentando, dei um tapa de leve no ombro dele.

– Boa idéia! Às vezes o Menma não é tão cabeça-dura. – afirmou Naruto, e Karin assentiu, um pequeno sorriso surgindo em suas feições.

O.o.O.o

Minato e Kushina chegaram poucos minutos depois, e não precisaram ver aquela cena toda, o que provavelmente foi um alívio para Karin. Todos nós sentamos para assistir um filme e o Menma acabou deixando escapar sobre o namoro. Naturalmente, Kushina veio me abraçar, falando todas as coisas sobre o Naruto que eu já conhecia, toda animada, e Minato apenas sorriu e nos parabenizou com um abraço gentil.

Acho que não é mais um segredo agora.

Troquei um olhar com Naruto durante o filme. Ele deslizou a mão sobre o tecido do sofá para poder segurar a minha. O sangue subiu para nossas bochechas segundos depois, afinal, ambos havíamos percebido que estavam nos observando.

Talvez fosse disso que nós estivéssemos com medo. Foi isso que nos fez esconder.

O medo de todo mundo saber. De não ser mais algo somente entre Naruto e Sakura. Não era algo que só nós dois sabíamos. Mas está tudo bem, porque eu sei que não é assim que as coisas funcionam, e que aquilo se tornaria algo público um dia. Algo que as pessoas comentariam entre sussurros, que aprovariam ou não, e nós seríamos alvo disso. Restrições seriam estabelecidas. Tamanho de roupa, conversas com o sexo oposto, festas, tudo. Tudo.

Essa era a pior parte.

Eu não estou pronta para isso, definitivamente não. É mais um passo em direção ao mundo adulto, e eu sei que Naruto, principalmente, não quer ser um adulto ainda.

Decidi, naquele mesmo momento, que o tínhamos não era algo tão sério assim. Coisas sérias vêm com muitas responsabilidades.

– Nós sempre estivemos juntos. Só faltava admitir isso. – sussurrou Naruto, sua respiração misturando-se com a minha em um ritmo quase perfeito.

Porque, assim como a gente, a nossa relação era assim.

Quase perfeita.