Ino brigou comigo porque eu me tornei muito amiga da Karin.

E eu briguei com ela porque a Karin não é a pessoa que a Ino pensa ser.

Essas paranoias da Ino já estão enchendo o saco. Não aguento mais ouvir ela reclamar, dizendo que estou estranha, que eu mudei, que não sou a mesma, que não tenho consideração por ela. Faça-me o favor! Ela é a garota que julga as pessoas pelo o que elas aparentam ser.

Hoje a gente discutiu feio sobre isso. A Ino começou a gritar, na saída do colégio, que eu tinha ido para o ‘Lado Negro da Força’, que iria me tornar uma vadia como a Karin, e que alguma devia ter acontecido para eu começar a pensar assim. E depois foi embora, batendo o pé, lacrimejando.

Eu fiquei muito mal por causa disso. Comecei a chorar, e a própria Karin apareceu, dizendo que tinha escutado tudo. Ela me levou até o shopping mais próximo, e eu pude reclamar e desabafar com ela em paz.

– Odeio brigar com a Ino. – murmurei, depois de mais de meia hora ali, a cabeça deitada na mesa. – E pior que ela tem um pouco de razão, sabe? Eu me afastei um pouco dela e dos outros amigos. Tenho passado mais tempo com vocês, Uzumakis.

– Entendo. – disse ela, bebendo um milk-shake. Com uma expressão perdida no rosto, ela baixou o olhar para mim. – Mas começo de namoro é assim mesmo. Logo vocês começam a brigar que nem dois idosos.

No momento em que ela terminou a frase, levantei a cabeça tão rápido que até me senti tonta. Arregalei os olhos para Karin, que apenas me olhou com um sorrisinho de canto.

– Não há nada que você possa esconder de mim, Haruno.

– C-C-Como você soube que eu estou com o Naruto? – balbuciei, a voz fraca. Eu juro, juro que não tinha feito nada com ele enquanto ela estava por perto. Nós estávamos mantendo a nossa relação em segredo absoluto.

– É com o Naruto? Pfft, achei que fosse com o Menma. - disse, fazendo uma pausa pra soltar uma risada. Eu quase caí da cadeira. – Mas eu sabia que era um dos dois, com certeza. Na verdade, o Menma tá mais pra melhor amigo gay. Ele já foi a fim do Sasuke-kun, sabia? Por umas três semanas. E era um concorrente forte, admito.

Eu acabei rindo junto com ela, quase esquecendo os meus problemas. A Karin é parecida com a Ino em vários aspectos, e acho que, se elas dessem uma chance uma para outra, poderiam ser boas amigas. Exatamente como aconteceu comigo e com a Ino à alguns anos atrás, quando eu tinha uma queda pela Sasuke e ela também. E no fim, colocamos nosso orgulho de lado para voltarmos a ser as melhores amigas que nunca deveríamos ter deixado de ser.

Cocei a parte de trás da cabeça, com um sorriso nervoso. Eu conhecia Karin à pouco tempo, não sabia se podia confiar nela.

– Espero que você possa guardar segredo por um tempinho. Naruto e eu ainda não queremos que todo mundo saiba. Apenas você e Menma descobriram. – afirmei, rindo de maneira envergonhada.

– Aw. Tudo bem, rosinha. – ergueu a mão, apertando a minha bochecha. – Vou deixar você e o loiro baka se divertirem. Só não façam muito barulho à noite. A tia Kushina tem ouvidos de mãe que escutam tudo.

Quase engasguei com a própria saliva, corando violentamente enquanto ela morria de rir da minha cara. E então, de repente, ela tapou a minha boca com a mão, apontando com o indicador para o balcão de uma cafeteria à alguns metros de onde nós estávamos, a expressão mista de surpresa e horror.

Ergui o olhar. Uma cabeleira loira. Ino! Ela estava ali, ainda de uniforme, assim como nós. Encostada na parede, ela parecia esperar por alguém. Segundos depois, o próprio Sasuke Uchiha surge, saindo da loja, dois copos de café em mãos. Ele olhou para os lados, procurando por Ino, e ela correu até ele, se jogando sobre suas costas em um abraço e quase o derrubando. Ela não pôde ver, mas eu e Karin vimos.

Um sorriso florescendo em seus lábios.

Eu me virei para Karin, com a mesma expressão apavorada. Ela tirou seu cardigã da cintura, sussurrogritando:

– Depressa! Eles vão nos ver. Pegue algo pra esconder o cabelo.

Abaixei para abrir minha mochila com urgência, pegando o meu casaco e jogando sobre o cabelo, como se fosse sair na chuva, e ela fez o mesmo. Nos olhamos.

A blusa dela era da cor vermelho sangue. E a minha era rosa suave.

– Grande bosta! – gritou ela, e a maioria das pessoas da praça de alimentação de virou para nos encarar.

Karin cobriu o rosto com as mãos, choramingando alguns xingamentos. Eu não sabia o que fazer. Apenas sorri torto e os trabalhadores e clientes voltaram a seus afazeres, provavelmente imaginando que nós duas éramos malucas.

Mas não Ino. Ela fez uma careta de surpresa e puxou a manga da blusa de Sasuke, que também olhou pra gente. Os dois se olharam por um momento, e então uma batalha silenciosa de olhares começou.

No fim, Sasuke acabou vencendo, e eles caminharam calmamente até nós, sentando-se nas cadeiras opostas com o máximo de cuidado.

– Oi. – começou ele, depois da Karin arrancar os casacos de nossas cabeças, bufando. Ele assentiu para ela em respeito, e a ruiva só estreitou os olhos. Então, Sasuke voltou sua atenção para mim. – Sakura. Já faz algum tempo, hm. O que estão fazendo aqui? – e me lançou um olhar discreto, que dizia ‘Eu não fazia ideia de que você tinha virado amiga da Karin.’

– Nós estamos só.. – eu disse, mas me interrompi. Sem querer olhei para Ino enquanto falava, e toda aquela tristeza voltou para mim. Ela percebeu, e por um segundo, eu pude ver uma expressão deprimida em seu rosto de porcelana. Depois, Ino virou o rosto, fingindo prestar muita atenção nas pessoas que desciam na escada rolante. - ..Viemos ver umas vitrines e tomar alguma coisa. Mas e vocês, Sasuke-kun?

Sua feição indiferente e neutra vacilou por um instante.

– Viemos num encontro, Sakura. Eu e Ino estamos planejando começar um relacionamento.

Eu pude sentir as pernas da Karin tremerem debaixo da mesa. Pelo canto do olho, vi ela morder o lábio inferior, fechando sua mão em punho sobre o joelho. Coloquei a minha direita sobre a mão dela, apertando-a delicadamente. Ela estava prendendo o choro.

As bochechas de Ino adquiriram um leve tom de vermelho, enquanto ela encolhia-se em sua cadeira.

Abri um sorriso para Sasuke, parabenizando-o. Ele agradeceu de maneira formal, dizendo que ainda não era nada oficial, e pediu para que eu não saísse espalhando a notícia para qualquer um.

– Mas é claro. Espero que vocês dêem certo. – disse eu, olhando para Ino, agora diretamente. Ela me encarou no mesmo instante. – Estou feliz por você, amiga. Estou mesmo.

Seus orbes azuis estavam brilhantes de lágrimas, e seus lábios tremiam levemente. Mesmo assim, ela conseguiu sorrir pra mim da maneira mais linda que fazia.

Naquele momento, eu soube que nós não estávamos brigadas. Nós nunca conseguíamos ficar assim por muito tempo.

Ino abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Karin levantou-se bruscamente de sua cadeira, fazendo-a escorregar para trás. A água já tinha começado a escorrer de seus olhos.

– Parabéns, Ino.

Foi a primeira vez que Karin a chamou pelo nome, eu acho.

– Você venceu. – Não havia sarcasmo em seu tom de voz, por mais que ela falasse de maneira chorosa. – E eu não estou nem um pouco brava. Estou alegre, alegre porque o Sasuke finalmente escolheu. Além do mais, eu não sou egoísta o suficiente a ponto de querer vê-lo comigo, sendo que eu sei que ele seria feliz com outra pessoa.

Meu coração começou a pesar no peito. Olhei de relance para Sasuke, e vi que até ele parecia um pouco alterado. Ele olhava para Karin como se ela fosse sua mãe, prestes a deixá-lo para sempre. Ela também o encarou, como se esperasse por uma resposta, mas parecia estar presa na garganta do moreno. Karin suspirou.

– Se me derem licença. – ela sorriu de maneira falsa, assentiu para mim e deu as costas, pegando a mochila do chão e caminhando para a saída.

Eu levantei para ir atrás dela. Ino ergueu-se da cadeira para segurar meu pulso.

– Sakura...! Não vá. Fique conosco por um tempo. Você é minha melhor amiga, eu preciso te explicar tudo direitinho, e...

Inclinei-me sobre a mesa para plantar um beijo em sua testa, me separando dela logo em seguida. Ino me olhou como se não entendesse nada, ainda aturdida.

– Me desculpe, Ino-chan. – respondi, com voz serena. – Eu estava triste hoje e a Karin me confortou. Agora ela está triste e é meu dever confortá-la. Sinto muito, mas ela precisa de mim agora. A Karin também é minha amiga, afinal...! – soltei uma breve risada, e me virei para Sasuke. – Cuide bem da minha garota, Uchiha. Você pode fazer isso?

Ele assentiu com a cabeça, segurando a minha mão, que eu nem tinha visto ele pegar.

– Confio em você, Sasuke-kun. – sorri, e ele retornou o gesto de maneira compreensiva.

Ino tirou os dedos de meu pulso devagar, enquanto Sasuke soltava minha mão.

Joguei minha mochila nas costas, e corri como louca atrás da Karin.

Pude ver o pontinho vermelho virar a esquina, do outro lado da rua. Eu sabia para onde ela estava indo, e decidi pegar um atalho.