Se o mundo acabasse naquele instante, não faria diferença pra mim. Eu poderia ficar enlaçada com Naruto nesse abraço infinito pelo resto da minha vida. Acho que, pela primeira vez, me senti completamente em paz.

Fechei os olhos, ouvindo somente o som do meu coração.

– Ei, Sakura-chan... Estou ficando cansado de ficar de pé.

Nunca me senti tão estranha ao ouvir a voz dele. Parecia que, no momento em que me confessei pra Naruto, cortei todos os laços que tínhamos antes. Como se estivéssemos recomeçando.

Me afastei dele, mas não tirei as mãos de suas costas. Ele não iria mais escapar, de jeito nenhum.

Ergui a cabeça para encarar os olhos azuis, ainda mais brilhantes. Naruto sorria, mas não aquele sorriso, largo e divertido. Esse sorriso era outro. Terno, verdadeiro, pequeno. Cheguei à conclusão de que esse é a melhor expressão que ele tem.

– Eu sempre... Sempre forcei a mim mesmo a pensar que esse dia chegaria. – pude vê-lo fungar. Ele tinha chorado. O brilho no seu olhar eram as lágrimas! – Mas eu nunca pensei no que dizer. Desculpe por não ter nenhum discurso pronto ou algo bonitinho pra te falar.

Não.

– Você nunca precisou dizer nada, Naruto. – balbuciei, desviando o olhar para o chão. – É que eu era muito boba e ingênua pra perceber.

– Orgulhosa. – corrigiu ele.

– Não força a barra, Baka. – toquei seu nariz com o indicador. – Eu ainda posso te bater.

Naruto riu. Então, se inclinou e me beijou, rapidamente, de surpresa. Não esbocei nenhuma reação. Apenas deixei que ele fizesse isso.

– Ah..! – ele se afastou, mas apenas o suficiente para poder me olhar nos olhos. – Esqueci de uma coisa. Eu também te amo.

Soltei uma risada cantada, e pulei em seus braços novamente. Eu estava tão feliz, e com medo. Tremendo. Meu sorriso era alegre, mas também nervoso.

Eu o amava, e ele me amava. Nós dois sabíamos disso.

E agora?

E se não der certo?

Eu perdi minha amizade com Naruto? Pra sempre, talvez?

Eu coloquei tudo em jogo no momento em que me confessei.

E agora?

O.o.O.o

– Mas por que? Tem vergonha?

– Claro que não, Sakura-chan..! Fala sério, por que eu teria?

– Certo, certo... Então me dá um motivo.

– Porque escondido é mais gostoso, oras.

Passaram-se uma hora. Depois de vários abraços, risadas e enrolação, a gente decidiu sentar e falar sobre o que passaria a acontecer entre nós agora, que era o que estava martelando na minha cabeça.

Fomos até a varanda e ficamos apoiados na sacada, observando as árvores balançarem com a brisa e ouvindo o canto dos pássaros. De vez em quando passava um conhecido de Naruto na rua, que dava um tchauzinho pra nós, sorrindo sem-graça pela minha presença. Eu não estava me importando em ser vista com ele, quando Naruto veio com esse papo de ‘escondido’.

Eu devia estar com uma careta bem feia no rosto. Confusa, surpresa, envergonhada, brava.

– O que foi, Sakura-chan? Não gostou?

– É só que... – franzi as sombrancelhas e olhei para baixo, dando os ombros. – Achei que você fosse... Sei lá, ficar animado e contar pra todo mundo que a gente se ama.

Naruto hesitou por um momento, como se esperasse que eu explicasse mais. E como não ouve mais explicação, ele sorriu.

– Isso todo mundo sabe.

A temperatura do meu rosto esquentou no mesmo segundo. Droga.

– O que eles não sabem é que a gente quer ficar junto, sacou..? – ele passou o braço pelos meus ombros. – Eu sinceramente, não tenho pressa alguma. Você é minha. Eu sou seu. Acho que vai ser pra sempre.

Olhei pra ele, esperando vê-lo rindo, debochando da minha cara vermelha. Mas ele apenas sorria com os olhos baixos.

E foi nesse instante que a porta se abriu.

Gelei, imaginando Kushina ou Minato nos vendo ali, nesse clima todo. Bem, especialmente Kushina. Ela com certeza correria até nós, falando sobre como ficamos bonitinhos juntos, animada e rindo. Minato provavelmente sorriria de um jeito calmo e fecharia a porta novamente.

Mas não era nenhum dos dois.

– Oohh, cheguei bem na hora! O casal feliz finalmente se acertou?

Antes que Naruto pudesse dizer alguma coisa, virei-me para ele e segurei suas mãos.

– Naruto... Menma me ajudou. Eu não conseguiria sem ele. – Naruto arregalou os olhos. – M-mas calma! Ele é o único que sabe.

Ele ficou um tempo alternando o olhar entre mim e o primo, quando se cansou e suspirou bem alto. A seguir, se espreguiçou e fez um bico.

– Urgh. Tá certo. Menma sabe. E Menma vai guardar segredo – disse, entre os dentes. – Senão Menma vai levar uma voadora bem no meio da cara feiosa dele.

– Vai com calma, Naruto. – ele se aproximou e esfregou a mão no cabelo dele, sorrindo. – Pegador. Claro que eu guardo segredo, seu merda. Como se eu fosse estragar o namorico escondido da minha best. – e apontou pra mim.

– Tá de brincadeira... – murmurou Naruto, e deu um tapa no próprio rosto.

– E você, Sakura... – Menma se aproximou de mim, mexendo no meu cabelo. – Acho que já pode começar a me chamar de senpai.

– Menma-senpai..?

– E Sakura-kouhai. – concordou ele.

– E Naruto-Não-Tô-Nem-Aí. – debochou o loiro. Quando Menma se virou para encará-lo, ele deu a língua e cruzou os braços.

Corri até ele, o abraçando de lado. Ergui os pés e dei um beijo em sua bochecha.

– Ah, então é assim, Sakura? – reclamou Menma, mas não conseguindo evitar um sorriso. – Você me troca? Por... – levantou o dedo e apontou para Naruto. – Por ele?! Eu sou o primo mais bonito e interessante.

– Você é uma cópia mal feita, Menma! Não é por acaso que ela prefere à mim do que você, seu ridículo metido a punk. – ele se virou pra mim, cochichando bem alto, enquanto sorria: - Ele pede pra minha mãe cantar pra ele, enquanto faz cafuné na cabeça oca dele. Muito rebelde, hein?

Caí na gargalhada com Naruto, enquanto Menma imitava a gente, com uma risada forçada e debochada. Então ele saiu, dando um tapa na cabeça de Naruto e deixando a porta aberta.

Deitados no chão, de mãos dadas, ainda rindo um pouco. Eu e Naruto olhávamos para cima, o quarto sendo iluminado pela luz que entrava pela sacada, as cortinas balançando.

– Menma é tudo que eu poderia querer pra um primo. – murmurou ele, bem baixinho. – Sempre considerei ele e Sasuke como meus irmãos.

– Uma família, não é? – comentei. – A melhor de todas.

– Você faz parte dela, Uzumaki Haruno Sakura. Você sempre fez parte.

Fechei os olhos, um sorriso dançando em meus lábios, o rosto novamente corado. Esperei alguns segundos antes de falar novamente.

– Como vai ser agora, Naruto? A gente? Juntos?

– Vai ser a mesma coisa de sempre. Só que com algumas coisinhas a mais, ne.

Odeio quando ele dá esse tipo de resposta. Eu não entendo nada.

Ele virou o rosto, e eu também.

– A gente sempre foi apaixonado um pelo outro, Sakura-chan.

Sorri, com os olhos cheios de lágrimas, que começaram a escorrer pelo cantos dos meus olhos até o carpete.

Ele aproximou o rosto do meu, rindo.

E juntos, nós selamos o nosso acordo.

O acordo de que ficaríamos juntos.

Pra sempre, ou até onde o amor durar.

Mas pra mim, não faz muita diferença mesmo. Sinto como se o meu amor fosse mesmo durar pra sempre.