– Naruto, eu te amo.

– Mm, não.

– Eu te amo, Uzumaki Naruto.

– De novo.

– Uzumaki, eu te amo.

– Sakura, pare de falar desse jeito robótico! Ele quer ouvir a confissão de uma garota apaixonada, não do R2D2, você sabe.

O.K, já faz mais de duas horas que estou praticando e não consigo nenhum resultado.

Depois que retornamos do acampamento, o colégio deixou a gente passar uma semana descansando. Acho justo. Bem, pelo menos, ninguém discutiu.

Eu fiz um acordo com a Ino. Eu iria confessar tudo que sinto para o Naruto até o fim dessa maldita semana. Mas eu mal sabia como começar, o que dizer, ou o que fazer. Então eu pedi ajuda do profissional.

E quando eu digo profissional, quero dizer a única pessoa que me ajudaria nisso.

Ou seja, Menma.

– Eu não sei o que você está querendo que eu diga... É só chegar no menino e falar, ué. - falei, cruzando os braços.

Menma tinha me ligado às 5:30 da manhã, e me obrigado a vir ao parque. Disse que "O dia dele começa cedo."

– Achei que estivesse querendo a perfeição. - suspirou ele, recostando no banco.

– Você está complicando as coisas simples.

– Só quero que tudo saia bem.

Bocejei alto, levantando os braços e fitando o chão.

– Menma, não sei se eu vou conseguir.

Ele me encarou, com uma expressão confusa e surpresa. Levantou do banco, se abaixando na minha frente e apoiando as mãos nos meus joelhos para não cair. Eu coloquei as minhas sobre as dele e engoli em seco. Não sei porque, mas fiquei com uma imensa vontade de chorar naquele momento.

– Sakura. - chamou, levantando meu rosto e me obrigando a olhar para ele. - Claro que você vai. Você tem que falar logo com o Naruto, ou vocês vão ficar nessa friendzone pra sempre.

Funguei, tentando mandar a vontade de chorar para longe.

– Obrigada por me ajudar, Menma. - sorri. - Não sei porque está desperdiçando seu tempo com uma fracassada como eu.

Não é brincadeira. Menma é o cara mais... Mais popular do colégio, digamos assim. Ele sempre tem uma legião de tietes atrás dele, um monte de caras que querem ser amigos dele, e mesmo assim, ele continua andando comigo, Sasuke, Ino, Naruto, e o resto do pessoal. Me pergunto porque ele faz isso.

– Você não é fracassada. Eu amo você, Sakura. - rebateu ele, com um sorriso. - E acho que amo o Naruto também. – deu os ombros. - Quero a felicidade dos dois. Isso é pedir demais? Querer que as duas pessoas que eu mais amo, felizes?

– M-Menma...

Ele se levantou e me estendeu a mão. A segurei com firmeza, e segui ele até a saída do parque. Quando paramos na frente do portão, Menma se virou pra mim com uma expressão mais que determinada.

– Ainda se lembra do plano?

Suspirei.

– Lembro... - passei a mão no cabelo, desviando o olhar, claramente nervosa. - Ai ai.

– Então agora é com você.

O.o.O.o

Eu desisto.

Eu não quero mais. Ino ganhou a aposta. Chega. Eu não consigo fazer isso. Eu não posso fazer isso.

Sinto como se em qualquer momento eu fosse explodir em uma nuvem cor-de-rosa. Uma nuvem cor-de-rosa bem brava. Que se alimenta de loiras.

No momento, estou sentada na beirada da calçada, sozinha, em frente a pequena pista de skate. Fica perto da residência Uzumaki.

Tentando passar todas as falas na minha cabeça. Imaginando qual seria a reação de Naruto.

A questão é que ele é burro. Não dá pra fazer um discurso bonitinho pra ele, se ele não for entender. O lance é ser direta.

Com esse pensamento, levantei na calçada em um salto, antes que eu perca a coragem. Em poucos segundos, eu já batia na porta da casa dele com toda a força de vontade. E logo, alguém abriu.

– EU TE AMO! - gritei, fechando os olhos em seguida.

– Oh, Sakura. Eu te amo também, mas sou casado.

Abri os olhos novamente, mas quem estava à minha frente era Minato. Ele sorria, e parecia entender completamente o que estava acontecendo.

– M-Minato-san... - comecei, mas ele me cortou.

– Ele está no quarto, ne. - deu um passo para trás, segurando a porta. - Pode subir.

Segui em frente, mas parei ao seu lado por um momento. Murmurei um obrigada, e subi.

Certo, eu estava suando. E a escada fazia barulho. E eu podia escutar os barulhos de tiros vindos do quarto dele.

Limpei a garganta antes de tocar a maçaneta. Mas antes de girá-la, dei algumas batidinhas na porta para avisar que estava entrando. Quando pus os pés ali dentro, Naruto pausou o jogo e voltou sua atenção pra mim.

– Sakura-chan..! Eu não estava esperando por você, ne. – ele mordiscou a maçã que tinha em uma das mãos, e sorriu. – Senta aí. – e apontou pra cama bagunçada dele.

Sem hesitar, eu me sentei, encarando o chão, pensando nas palavras certas. Ora, ele era o menino, ele devia tomar a iniciativa! Uh, mais ou menos. Sacudi a cabeça, tentando me livrar do pensamento.

Naruto se virou para mim com uma careta, provavelmente estranhando o meu silêncio.

– Eeh, Sakura-chan... TPM de novo não, né? – mumurou, suspirando alto.

– Naruto. Eu tenho uma coisa pra te dizer.

– O que é, o que é? – ele se aproximou, animado. – Algum podre de um conhecido? Eu quero saber!

Fechei os olhos com força. Apertei os punhos, que que estavam sobre o meu colo, sentindo uma gota de suor escorrendo pela testa.

– É que... É que eu amo você. Mas dessa vez, de verdade mesmo.

Silêncio.

Ele devia saber que eu estava falando sério. Mas eu não queria abrir os olhos e me deparar com aqueles enormes orbes azuis me encarando. Depois de praticamente um minuto apenas escutando pássaros e vento, abri os olhos.

Naruto estava ao lado da janela, parado, com os braços cruzados e encostado na parede. Olhava para fora, a cortina balançando em sua frente. Um pequeno sorriso dançava em seus lábios.

Ele percebeu que eu o estava olhando.

– Sakura-chan... – tombou a cabeça para o lado, alargando seu sorriso. – Você fica tão fofa quanto está nervosa.

Eu não esperava isso dele. Estava quase brava.

– Baka. – cuspi, me levantando brutalmente. – Você não toma jeito, Naruto. Eu sabia que não daria certo.

Dei dois passos em direção à porta, mas em vez de me impedir, ele simplesmente veio ao meu lado e tocou o meu braço suavemente.

– Do que você está falando?

– Do que eu..! – o empurrei para longe. – Eu venho aqui e digo o que sinto para você, com o coração aberto, e você diz, diz... Não diz nada..?! Eu achava que... Que você iria... Agir como sempre agiu.

À essa altura, eu já estava com as lágrimas prontas nos olhos.

E quando ele me abraçou, eu pude deixar elas escorrerem e molharem as mangas da camisa de Naruto. Não me privei de chorar alto ou de soluços. Deixei tudo sair.

Depois de algum tempo assim, eu já havia parado. Mas não queria me afastar dele.

Ainda juntos num confortável abraço, abri a boca.

– Já parei. – disse, num sussurro. – Já pode me soltar e ir matar uns zumbis.

Senti a mão dele passeando pelo meu cabelo.

– Preciso mesmo dizer alguma coisa? – respondeu delicadamente, com uma risada fraca.

Arregalei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver. Não. Ele não precisava dizer nada. Naruto nunca precisou dizer nada pra mim. Somente as suas atitudes deixavam claro a suas intenções e sentimentos. Ele sempre tinha sido um menino aberto e sorridente. Acho que agora, sendo tão misterioso e diferente do que era, eu estranhei.

Ele nunca precisou me dizer nada.