Digimon Beta - E as Cartas Acessórias escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 14
Jogando a Toalha




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João acordara animado na manhã daquele domingo. Estava empolgado com o I Torneio de Domadores de Digimons promovido pelo Culumon. Muitos dos garotos acreditavam que aquela era uma forma de o deus-digimon reaproximar todos os domadores que estavam distantes desde a destruição do Hexágono do Mal. Já outros, queriam trazer à tona desavenças e esclarecer acontecimentos passados.

A ausência de alguns domadores preocupava. Com exceção de Rafael, Lúcia e Davi, os demais não haviam entrado em contato com os domadores que estavam presentes. A presença de quatro novos domadores, que nenhum dos veteranos sabiam que existiam, despertara a curiosidade dos demais. Existe uma nova ameaça? O quarteto não sabia responder. Precisavam encontrar o quinto integrante para, assim, descobrirem a sua real missão.

Além dos novatos, a presença de duas garotas e um garoto, batizados pelo Culumon como humanos simples, pessoas que não são domadores de digimons, preocupava a todos. Bárbara, Flávia e Murilo foram parar no Mundo Digital de forma acidental, causando uma grande confusão. Era preciso manter seguro o segredo sobre a existência de um mundo dentro da rede mundial de computadores onde habitam seres racionais e com superpoderes. E a descoberta desse mundo por parte de humanos que não poderiam, em hipótese alguma saber, preocupava o deus-digimon, que não sabia qual atitude tomar diante desse impasse. Sem falar que o número de humanos simples no Mundo Digital poderia crescer, já que havia a possibilidade de o irmão de uma das garotas também ter sido sugado pelo mesmo portal que a havia transportado até ali.

Blaze e Alex seguiam cercados de mistérios e querendo, a todo o custo, vingança. Minutos antes de chegarem a Arena Quadrática para participar do torneio, já haviam batalhado contra Carlos e Igor, além de descobrirem que Fernanda comungava do mesmo pensamento que eles, apesar da garota não querer maiores confusões.

Após a batalha entre Kau e Caio, dois dos domadores novatos, e a vitória apertada do garoto de cabelo verde e argolas no nariz e nas orelhas, Culumon fez o sorteio da próxima dupla a batalhar e todos se espantam com o resultado.

Blaze e Guilmon já se encontravam em uma das extremidades do campo de batalha, que agora representava uma praia, quando Antônio e Kokabuterimon se posicionam do lado oposto.

— Domadores prontos? – Questiona o deus-digimon sobrevoando o campo de batalha.

— Sim! – Respondem os garotos em coro.

— Que comece a partida!

 Kokabuterimon avança na direção do seu rival de cabeça baixa, numa tentativa de atingi-lo com o chifre. Guilmon, então, tenta cravar as garras dos pés no chão, mas como eles estavam em solo arenoso, de nada adianta. O pequeno tiranossauro vermelho não consegue afrontar a investida e é arrastado pelo digimon besouro de cor azul até a água, fazendo-o entrar em desespero.

O digimon de Antônio rapidamente levanta voo e passa a sobrevoar o campo de batalha.

— Boa Koka! – Vibra o garoto.

Guilmon seguia se debatendo na água até que consegue retornar a areia. Enfurecido, o digimon do Blaze dispara várias bolas de fogo na direção do digimon inseto, que, com muita facilidade, desviava de todas.

— Desça e lute de verdade, seu covarde! – Provoca Guilmon.

Blaze sorri com as palavras ditas pelo seu digimon, fazendo com que Antônio não gostasse da provocação e ordenasse que Kokabuterimon descesse e lutasse com Guilmon.

Acatando a ordem do seu domador, Kokabuterimon mergulha em direção ao Guilmon para lhe atingir com seu poderoso chifre. O digimon do Blaze continuava parado no mesmo lugar, observando o besouro azul que usa um lenço laranja amarrado ao pescoço e esperando uma ordem do seu domador.

— Blaze pirou? – Resmunga Alex. - Por que ele não passa nenhuma instrução ao Guilmon?

— Desse jeito, vai acabar perdendo! – Pontua a garota de lábios carnudos.

 

— To entediado de ficar aqui! - Diz o pequeno digimon que consegue voar com as orelhas.

Patamon, que estava sobre a jaula onde os humanos simples estavam presos, levanta voo.

— Vai aonde? – Grita o garoto magro de cabelos negros.

— Voar por ai! – Responde. - Cansei de olhar pra cara de vocês.

— Que sujeitinho mais folgado! – Retruca a garota loira de corpo escultural. - Vá e não volte mais, ta me ouvindo? Se não te acerto esta sandália na fuça.

— Que violência, Flávia! – Manifesta-se Bárbara. - Eu gostei dele.

— Violência uma ova!

Patamon sorri e segue voando para o interior da Arena Quadrática.

— E ainda ri da nossa cara! – Conclui.

Murilo se levanta e começa a sacudir a jaula.

— Droga! A gente vai ficar aqui até quando? – Questiona irritado.

— Eu tenho que procurar o meu irmão, pessoal. Tenho certeza de que ele está aqui, perdido, em algum lugar.

— Se a gente pudesse arrombar essa jaula... – Balbucia Flávia.

— E se convencêssemos um desses digimons a arrombar a jaula?

— Com tanto que não seja nenhum tiranossauro... Eu fui atacada por um monte deles!

— E eu fui perseguido por uma toupeira gigante e uma meleca verde que joga merda!

— Eu fiquei conversando com uma abelha gigante!

— Como que você sabe que ela é gigante se você é cega? – Questiona a garota de voz rouca.

— Flávia... – Diz Murilo, repreendendo-a.

— Desculpa, Bárbara. Eu disse sem pensar...

— Relaxa! – Interrompe-a. – Eu sei que você disse com inocência. Não falou por mal! Respondendo sua pergunta: Eu também não acreditei quando ela me disse, mas daí ela se aproximou e eu a toquei. É estranho acreditar nisso tudo, ainda mais sem poder vê-los.

Uma digimon abelha, do mesmo tamanho que o Patamon que estava ali a pouco tempo, surge voando e também pousa sobre a jaula.

— Vocês precisam de ajuda? – Pergunta.

Bárbara reconhece a voz da digimon e logo se põe de pé.

— Ei! É você?

— Oi humana. Sou eu sim! Não havia te visto aqui...

Bárbara e Fanbeemon caem na risada

— Vocês já se conhecem? – Pergunta o garoto magro.

— Essa é a digimon que eu disse que se parece com uma abelha!

— Realmente ela é uma abelhuda! – Manifesta-se Flávia.

— Abelha? – Pergunta a digimon. - O que é isso?

— É um inseto minúsculo que vive no Mundo Real. – Explica a garota de pele levemente bronzeada e longos cabelos negros cacheados.

— Eu pensei que lá só vivessem humanos.

— Não! Como você se chama mesmo?

— Fanbeemon. E você é Bárbara, não é?

— Sou sim! Esses são Murilo e Flávia.

— Olá! – Acena o garoto de sorriso largo.

— Por favor, nos tire daqui! – Implora a garota de voz rouca. - Os tais “domadores” querem destruir a gente.

— Tem certeza? – Questiona a digimon incrédula.

— Claro que tenho!

— Eu não sou tão forte assim... Mas vou tentar ajudar vocês!

 

Kokabuterimon continuava seu mergulho em direção ao Guilmon, que nada fazia para se defender. A vitória do digimon inseto mecânico era dada como certa pelos demais domadores, até Blaze interferir:

— Guilmon, dê dois passos para trás!

O digimon, sem desviar os olhos do inimigo, faz o que seu domador ordenou e dá dois passos para trás. Kokabuterimon, que descia em alta velocidade, não consegue reduzir a tempo e com um golpe certeiro crava seu chifre no solo, permanecendo preso de ponta a cabeça e totalmente vulnerável.

— Blaze foi esperto ao agir assim! – Vibra o garoto de olhos rasgados. – Usou a técnica do inimigo contra ele próprio.

— Agora acabe com ele! – Ordena o garoto alto de olhos verdes.

Guilmon avança no digimon de Antônio usando suas garras afiadas. Kokabuterimon não podia fazer nada para se defender. O digimon de Blaze seguia socando, chutando e disferindo arranhões no digimon besouro, que apenas urrava de dor, para desespero do seu domador.

Antônio não sabia o que fazer, a não ser olhar. Não conseguia pensar em nada. Quem assistia a cena percebia que Blaze sentia prazer em lutar contra o Antônio.

João mal conseguia permanecer sentado na cadeira. Era como se ele estivesse no campo de batalha, lutando contra Blaze.

— Calma, João! – Pede Betamon, preocupado.

— O que Antônio ta pensando? Por que ele não toma nenhuma decisão? Não fala nada? - João grita da arquibancada. - Antônio! Faça-o evoluir!

Blaze não gosta da intromissão do líder dos Domadores Beta e responde:

— Meta-se com sua vida! Ninguém pediu sua opinião.

Kokabuterimon seguia gritando de dor e Culumon nada fazia para interromper o massacre. A cada grito do digimon besouro, o domador de Guilmon gargalhava de satisfação.

Antônio estava apático, não conseguia pensar em uma forma de revidar. Os gritos do seu digimon seguiam despertando sua ira:

 - KOKABUTERIMON!

O digivice dentro do bolso da calça do garoto brilha intensamente, fazendo com que o Kokabuterimon fosse envolvido pelo casulo da evolução.

Guilmon se afasta do casulo, que cresce pouco.

Ao se dissolver, a esfera de luz revela a presença de um digimon mecânico em forma de espada árabe possuindo um cristal vermelho em seu punho.

— Bladekuwagamon, agora vamos dar o troco!

— Mas não vão mesmo. – Interfere Blaze. – Guilmon, evolua também.

— Rápido! Ataque antes que ele possa evoluir.

O corpo do digimon em forma de espada é revestido por um casulo de eletricidade e ele avança no oponente como um torpedo.

— GUILMON! – Grita Blaze ao vê-lo ser lançado a alguns metros de distância. - Rápido! Ponha-se de pé e evolua.

Bladekuwagamon, utilizando a mesma técnica, torna a avançar diversas vezes contra o Guilmon, não dando espaço para que o digimon pudesse evoluir.

Após alguns segundos de intensos ataques, Guilmon demonstrava sinais de cansaço.

— Está bem, Koka! Agora lance-o para fora do campo de batalha.

— Isso nunca! – Diz Blaze sorrindo.

O domador ergue o digivice acima da sua cabeça e o mesmo brilha, fazendo o pequeno tiranossauro vermelho crescer e ganhar uma crina branca, além de pequenos chifres

— Chama Extrema. – Brada Growmon.

Bladekuwagamon desvia do ataque por pouco.

— Koka, vamos redobrar a atenção

— Estraçalhe, Growmon!

— Chama Extrema.

Bladekuwagamon levanta voo e Growmon continua suas investidas a fim de atingi-lo.

— Bladekuwagamon fique aí... Um dia ele cansa.

— Growmon dispare contra o chão.

Antônio fica sem entender o que Blaze planejava.

Growmon dispara sua técnica contra o chão e é impulsionado para cima, conseguindo uma grande altura.

— Lâmina de Plasma.

Uma enorme garra presa ao antebraço do tiranossauro brilha, possibilitando ao Growmon lançar uma lâmina de energia explosiva.

Bladekuwagamon é atingido e cai na Arena.

Growmon cai em pé, logo em seguida, próximo ao digimon do Antônio.

— Chama Extrema.

A técnica atinge Bladekuwagamon a queima-roupa.

— Continue assim que a gente ta indo muito bem. – Vibra, da arquibancada, o garoto de olhos orientais.

— O que você quer dizer com isso, Alex?

— No momento certo você saberá, Fernanda.

 O Patamon que estava sobre a jaula dos humanos simples surge voando pelo portão de acesso e, ao ver a intensa batalha que acontecia nas dependências da suntuosa Arena recém construída, pousa sobre uma grade para observar.

 

— Ferrão Engrenagem.

A digimon abelha dispara uma sequência de ferrões, alojados na extremidade do seu abdômen, numa tentativa de arrebentar a tranca do portão.

— Não dá! – Diz Fanbeemon ofegante. - Eu não consigo. Minha técnica não é boa suficiente.

— Tenta mais um pouco! – Pede Murilo.

— Por favor, Fanbeemon! – Suplica Flávia. - Só você pode nos tirar daqui.

— Eu tentei várias vezes seguidas com a minha técnica e não consegui!

— Fanbeemon, – chama Bárbara - vá procurar ajuda, por favor. Talvez você consiga achar outro digimon que possa nos ajudar.

 

Mais uma vez Blaze e Growmon haviam tomado as rédeas da batalha, deixando Antônio sem ação. O garoto não sabia o que fazer para livrar Bladekuwagamon do tiranossauro vermelho de crina branca, enfurecido. Vários domadores pediam, da arquibancada, para que Culumon interrompesse a batalha e desclassificasse Growmon. Mas o deus-digimon não dava importância aos domadores que gritavam. Ele seguia assistindo ao embate tranquilamente.

João já estava prestes a mandar seu Betamon interromper a batalha quando Blaze, pra surpresa geral, faz algo inusitado:

— Growmon, eu ordeno que pare!

O digimon Adulto acata a ordem do Blaze, cessa as investidas e recua.

— Quero dizer a todos os presentes que abandono esta batalha. – Prossegue. – Growmon, desça do tablado e pise no grama.

Todos os presentes ficam atônitos com a repentina decisão do domador paranaense. Ninguém entende onde Blaze queria chegar com tal atitude.

Growmon sai do campo de batalha, pisa no gramado que circunda o tablado e retorna ao nível Novato. O digimon corre e passa a acompanhar o seu domador, que a essa altura já havia saltado do local onde ocorriam as batalhas e seguia caminhando na direção dos seus amigos.

— O que ele vai ganhar com isso? – Questiona a garota de olhar estonteante.

— Deve estar tramando alguma coisa, Verônica. – Responde Carlos, observando-o caminhar. - Só não sei dizer o quê.

Antônio corre até Bladekuwagamon, que também regride e volta a ser Kokabuterimon.

— Koka, você está bem?

— Nunca pensei que apanharia tanto na minha vida, Tonho.

— Relaxa, Koka. Agora tudo ficará bem.

O garoto pega seu digimon nos braços e sai do campo de batalha.

— Parabéns, Blaze! – manifesta-se Alex cumprimentando-o com um aperto de mãos -  Mandou muito bem. Apesar de que, surrar o digimon do Antônio não é lá grandes coisas.

— Eu sei disso. Agora todos devem estar se perguntando por que abandonei a batalha.

— Eu pensei que você fosse destruí-lo, logo, de uma vez.

— Prefiro não dar muita bandeira, por agora.

— Afinal de contas, - inicia Fernanda - por que você abandonou a batalha?

— Porque não temos motivo para competir num torneio que não vai ter fim.

 

Continua...


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