Sangue, sobrevivência e Supernatural escrita por Lorena B


Capítulo 5
Capítulo 05 - Vamos passear na floresta...


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, o quinto capítulo não demorou para sair, e o sexto já está sendo escrito porque hoje Kamisama resolveu iluminar minha mente perturbada ♥
Boa leitura!



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- Teremos que fugir pela floresta. – Ele disse em um tom sério, olhando para a varanda. Ele só pode estar zoando com a minha cara.

- Você não está falando sério, está? – Retruquei, dando uma risada nervosa. Ele não pode estar falando sério. Não pode mesmo.

- Estou. E iremos à pé. É o único modo de eles demorarem mais para nos encontrarem. – Ele continuou a me encarar seriamente, sem relaxar nem ao menos um segundo. Ele só podia estar ficando maluco. Não tenho condições físicas e muito menos psicológicas para ficar me aventurando pela floresta amazônica.

- Eles quem? – Quando minha mão começou a tremer, eu levantei com o pensamento de fugir dali, mas sentei novamente logo depois, fazendo a cama soltar um estalo. Para onde eu pensei que poderia fugir? É inevitável, não há para onde correr. Enquanto eu estiver nas mãos de Ian, eu teria que fazer o que ele manda, mas digamos que isso não será o maior dos meus problemas depois que eu morrer comida por uma onça.

- Metamorfos. – Ele respondeu, soltando um suspiro, tentando soar calmo. Ótimo, não podia ficar melhor.

“Melany...”

De repente, um arrepio percorreu minha coluna em sintonia com a estranha voz no meu ouvido. Era a mesma voz calma e doce que o garoto do meu sonho tinha, porém estava mais audível e clara, como se ele estivesse ali mesmo do meu lado, quase que sussurrando no meu ouvido. Ian continuou sentado ao meu lado, encarando o chão de forma apreensiva. Após algum tempo, ele olho para mim e sua expressão se suavizou.

- E por-porque você simplesmente não os mata? – Indaguei em tom de injustiça, ou pelo menos tentando soar assim, enquanto ele começava a se aproximar lentamente do meu rosto.

- Eles sempre atacam em bando...Melany. – Ele sussurrou o meu nome, já perto o bastante do meu rosto para eu sentir o seu hálito de menta fresca, mas mesmo assim não conseguia tirar o outro garoto da minha cabeça.

“Melany, estou procurando por você.”

Enquanto Ian me encarava, observei ele atentamente para me certificar do fato de que ele não estava escutando a voz assim como eu. Obviamente, ou eu estava enlouquecendo ou eu estava enlouquecendo. Ian pareceu cansado de esperar por não sei o que da minha parte e respirou fundo, fechando os olhos por um momento e logo depois levantou-se, saindo do quarto em passos lentos. Tentando ignorar todos os fatos sem sentido que estavam ocorrendo naquele momento, levantei e fui atrás dele. Ele estava na sala, sentando no sofá e com o queixo apoiado nos punhos. Agora parecia realmente que a situação não estava nada bem, pois o Ian nunca fica calado desse jeito em frente a um problema quando ele sabe que tem solução.

“Melany, não confie nele. Venha para mim.”

A cada frase, a voz parecia mais clara e confiante, como se ele estivesse cada vez mais perto, apesar de eu considerar essa uma opção inviável. Não havia como acontecer algo desse tipo.

“Onde...Onde você está?”

Tudo bem, agora estou tentando me comunicar com a voz estranha na minha cabeça. O que há de errado comigo? Nada mais parece certo, nada mais parece fazer sentido na minha vida. Eu só queria acordar de repente e perceber que foi tudo um sonho, só isso.

“Melany? Você consegue me escutar? Melany, eu estou...”

Antes que ele terminasse a frase, ouvi som de galhos se quebrando e folhas secas sendo pisadas e tudo ficou em silêncio. Aparentemente, conseguia me comunicar com algum garoto de algum lugar do mundo. Sabe o que falta? Duendes. Duendes descendo um arco-íris e me dando moedas de ouro, é isso que falta. Apenas isso. Quando me dei conta, Ian tinha voltado a me encarar intensamente, olhando nos meus olhos, e mesmo naquela distância conseguia sentir como se ele pudesse ler todos os meus pensamentos, ali mesmo. Desviei o olhar e andei em sua direção, sentando ao seu lado.

- Não podemos ficar aqui e chamar por ajuda? – Falei baixinho, olhando para minhas próprias pernas, como se elas pudessem me dar a resposta para tudo. Agora que me dei conta, eu não sabia nada sobre Ian. Eu pensava que sabia, mas era tudo mentira, e agora que ele revelou ser um vampiro, eu também não sei nada sobre a espécie dele, a não ser pelas coisas que assisti em Supernatural. E também, não sabia nada sobre metamorfos. Talvez Supernatural não seja assim tão útil quanto eu pensava. Passado alguns minutos, ele levantou e pude ver seu maxilar se contraindo com força enquanto ele cerrava os punhos. Ele estava realmente irritado.

- Talvez porque eles são um bando?! Talvez porque eles atacam todos de uma vez?! Talvez porque somos só nós dois?! Porque somos vulneráveis a eles?! Vamos logo e deixa de reclamar. – Saber que ele é vulnerável a eles não me deixou nem um pouco mais segura. Eu pelo menos precisava saber mais sobre as criaturas, e como me defender delas. Quase havia esquecido do detalhe de que iríamos a pé pela floresta, até ouvir som de pássaros cantando ao lado de fora da varanda.

Ele tateou a parede por detrás da televisão por uma fresta que havia entre a mesma e a parede e pareceu apertar algum botão que havia por lá.

- Além do mais, que ajuda você acha que podemos receber? – Ele disse abaixando o tom, se concentrando no que estava fazendo.

- Eu não sei! Pensei que talvez você pudesse chamar seu clã ou seja lá o que for. – Então, a televisão deu um estalo e começou a deslizar lentamente para o lado e logo depois para baixo. A suposta parede que havia atrás dela começou a subir lentamente, revelando ser uma parede falsa, onde atrás haviam armas. Suspirei, nervosa. – Desde quando isso existe? – Falei abaixando o tom, encarando as armas expostas na parede.

- Desde que essa casa existe. – Ele falou um tom calmo, aparentemente aliviado pelo fato de que as armas ainda estão ali.

Ian pegou algo que parecia uma espingarda e uma Winchester, que eu reconheceria até no inferno. Tudo bem, talvez Supernatural não fosse tão inútil quanto eu tinha acabado de pensar. Mas veja, um vampiro segurando uma Winchester. Irônico. Muito irônico.  Onde estão Sam e Dean quando se precisa deles? Ian foi pegando cada arma e colocando-as em cima do sofá, ao meu lado, até esvaziar a “parede”.

- Como pretende levar todas essas armas? – Indaguei, suspirando. Ele me lançou um olhar dissimulado e naquele momento percebi que eu estava extremamente ferrada.

************************

Apenas houve tempo para que eu trocasse de roupa, colocando um short jeans e uma blusa com mangas, que eu enrolei até os cotovelos. Enquanto estávamos ainda no começo da floresta, me xinguei internamente por ter falado com ele no primeiro dia de aula. Quem sabe se eu não tivesse aceitado começar uma conversa, eu estaria em casa agora, com meus pais e meus amigos sendo feliz e alegre ao invés de ter que andar por uma floresta fugindo de metamorfos enquanto estou com um vampiro que me diz todo dia que eu sou importante para a sobrevivência da espécie dele. Xinguei-me mentalmente de novo por ter aceitado as desculpas dele no halloween, depois dele ter virado amigo da Emily e começado a me ignorar. Eu sabia que aquela fantasia de vampiro parecia real demais. Enquanto estava perdida em meus pensamentos, acabei tropeçando e caindo por cima da mala que levava com as armas. Provavelmente soltei um gritinho de menininha apavorada, porque Ian olhou para mim e riu. Claro, porque não é ele que está com uma mala enorme cheia de armas carregadas e acabou de cair por cima delas e tá quase tendo um ataque cardíaco porque elas podiam disparar. Mas tudo bem, quem é importante mesmo para a sobrevivência da espécie de um certo Ian? Ah, sim, sou eu. Acho que ele esqueceu disso. A Winchester que eu segurava não parecia muito confiável, também.

Com muito esforço, levantei de novo e continuei andando. Não sei o que é pior, ter que seguir ele ou ficar para trás e ser comida por metamorfos. Sinceramente, que tipo de vida é essa? Se eu fosse uma Hunter, seria bem mais fácil. Poderia fazer isso agora mesmo, para falar a verdade. Estourar os miolos dele e de todos os metamorfos que se aproximassem e depois viver como uma fugitiva, caçadora de coisas sobrenaturais. Desisti da ideia segundos depois, imaginando que se eu tentasse atirar, o máximo que eu conseguiria é dar um tiro no meu próprio pé. Ian parecia bastante seguro sobre onde estava indo, por mais incrível que pareça. Para mim, todas as árvores se pareciam e cada lugar parecia exatamente idêntico ao que estávamos a uns 50 metros atrás. Digamos que meu conhecimento sobre botânica se resuma a pinheiros, salgueiros e bananeiras. Durante um intervalo de tempo, Ian parava e farejava rapidamente o ar, como se estivesse tentando achar algum rastro de qualquer metamorfo, apesar de eu só conseguir sentir cheiro de grama cortada. O ar no começo estava seco, mas desde que começamos a entrar mais na mata fechada, o ar começou a se tornar úmido e pesando, apenas dificultando minha caminhada, já que meu parceiro parecia nem se importar com o fato. Com mais alguns minutos, eu estava exausta e quase não conseguia respirar, pois cada inspiração parecia encher meu pulmão mais de água do que de ar.

Ao voltar meu olhar para cima, percebi que Ian havia parado e olhava para mim com uma das sobrancelhas erguidas.

- Você está? – Ele perguntou num tom tenso, olhando sério para mim enquanto eu me encostava a uma árvore qualquer para descansar por alguns segundos antes que ele desse um ataque de perereca e resolvesse correr de novo.

- Estou...o que? – Falei entre uma respiração e outra, forçando o ar a sair e entrar dos meus pulmões. É realmente difícil de respirar em um lugar muito úmido, parecia que cada porção de ar que eu inspirava estava me afogando.

- Assim... – Então ele apontou para minhas pernas disfarçadamente, como se houvessem muitas pessoas aqui para ver o que ele estava fazendo, e isso fosse um insulto a humanidade. Eu não estava entendendo merda nenhuma, e já estava ficando estressada.

- Assim o que? – Falei devagar para que ele entendesse, já que aparentava que ele havia perdido alguns neurônios no caminho.

- Naqueles...naqueles dias... – Ele falou timidamente, desviando o olhar do meu logo depois de falar. Eu não acredito que ele está assim por falar da minha menstruação. Quem diria, não é mesmo? Um vampiro com vergonha de perguntar se eu estou menstruada.

- Menstruada? Você quer saber se eu estou menstruada? Bom, seria interessante que você soubesse que eu nunca menstruei. – Falei de vez, jogando a sacola no chão de qualquer jeito.

- Isso não é...anormal? – Ele sussurrou, olhando para os lados como se fosse um pai cujo o filho de 10 anos acabara de perguntar como os bebês nascem, e você sabe que ele não vai cair na história da cegonha.

- É, é anormal, mas não há nada de errado, eu já fui ao médico. Apenas virá quando ela decidir que virá. – Completei, suspirando aliviada por finalmente conseguir respirar corretamente. – Mas pra que diabos você quer saber isso?

- Eles podem sentir o cheiro. – Então ele retornou ao tom sério que usava antes, como se o momento vergonhoso já tivesse passado. Apenas soltei um “Ah”, como se aquilo fosse óbvio, mas eu não tinha pensado nisso. Realmente, nem havia me passado pela cabeça, afinal eles são metamorfos... Então eu me dei conta que a única coisa que sei sobre metamorfos é que eles podem trocar de pele para virar qualquer pessoa que eles já tenham visto em vida.

- Os metamorfos... O que eles fazem de mal? – Comecei a falar antes que ele voltasse a andar novamente. Ele pareceu relaxar mais um pouco e apoiou sua sacola no chão, passando uma das mãos pelos cabelos como ele fazia sempre quando estava com pressa.

- Eles comem você, literalmente. E depois tomam sua forma física e se passam por você.

- E eles só se transformam em humanos, certo?

- Sim, os mais poderosos podem virar qualquer humano que existir na sua memória, depois que tocarem em você. Os mais fracos só conseguem isso depois que te comerem, mas em compensação conseguem virar lobos quando quiserem. – Ele pegou a sua sacola e ajeitou-a novamente no ombro, pronto para continuar a andar.

- Isso significa que...eles podem ser...qualquer pessoa da sua mente? – Ok, primeira dica quando você estiver na floresta fugindo de metamorfos: não deixe nada te tocar.

- Sim. – Ian respondeu rápido, encerrando aquela conversa. Ele fez um sinal para que eu continuasse a andar e foi na frente, me obrigando a dar alguns pulos até conseguir alcançá-lo.

**************************

Andamos durante algumas horas em um ritmo constante, até eu não conseguir mais dar nenhum passo de tanta fadiga.

- Vamos logo. – Ele começou dizendo, antes mesmo de eu conseguir me sentar.

- Espere um pouco, por favor. – Resmunguei, tomando fôlego e me encostando no tronco de uma árvore.

- Não temos tempo. – Ele retrucou com um ar irritado, ainda de costas para mim, me olhando pelo canto do olho.

- Eu não consigo mais andar. – Desabei, sentando de vez no chão, apenas para me levantar logo depois e me encostar de novo. Tinha que me manter pelo menos em pé, em qualquer caso que eu tenha que correr na adrenalina do momento por estar sendo perseguida por metamorfos que podem ser qualquer coisa.

- Você tem que andar, vamos. – Ele disse, tomando um tom cada vez mais irritado. Ele mesmo estava me irritando. Eu estou cansada, com fome e com sede, e mesmo assim ele quer me obrigar a andar por uma floresta. Percebe-se como eu sou mesmo importante. Abaixei a cabeça, tentando ignorar a tontura e manter minhas tripas dentro do meu corpo.

- Porque você não me deixa aqui para morrer?! Eu nunca pedi por isso, Ian. Por que tinha que ser logo eu? Por que você simplesmente não me deixa morrer?! – Fui aumentando o tom de voz a cada sentença, enquanto ele nem mesmo virava o rosto para mim. Ele cerrou os punhos e os dentes, soltando um rosnado que eu pude ouvir mesmo estando a alguns metros dele. Antes mesmo que eu tivesse tempo de pensar novamente, ele me pressionou contra a árvore e deu um soco no tronco que estava ao lado do meu rosto, desfigurando metade deste. Aquilo foi incrivelmente rápido, e ele poderia me matar facilmente se o soco fosse alguns centímetros mais para a esquerda. Ele rosnou de novo, desta vez já perto do meu ouvido, e eu pude sentir o calor da sua respiração no meu pescoço, e um arrepio correr por todo o meu corpo.

- É porque eu... – Ele começou a falar entre dentes, e eu pude sentir a pontinha dos caninos dele encostarem no meu pescoço levemente. Ele não vai me matar. Ele não pode me matar. Isso seria idiota depois de todo esse esforço para me trazer até aqui, e depois de me aguentar todo esse tempo. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Ele não me mataria. Repeti isso mentalmente para mim mesma algumas centenas de vezes, mas mesmo assim a sentença ainda parecia plausível. Senti a pressão dos seus dentes aumentarem lentamente no meu pescoço, fazendo-me arrepiar novamente. Ele não me mataria...não é?


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Notas finais do capítulo

Então é isso aí pessoal, logo logo o sexto capítulo vai sair para deixar vocês menos tensos :3 (ou mais tensos, quem sabe?)
Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo ~
PS: Vivi, não coma meus olhos, por favor.



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