Sangue, sobrevivência e Supernatural escrita por Lorena B


Capítulo 6
Capítulo 06 - Enquanto seu lobo não vem.


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, uma inicial explicação e uma linda surpresa para vocês nesse capítulo. Espero que vocês gostem (ou não), boa leitura. :3



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Ele apenas ficou ali por alguns segundos, seus caninos pressionados contra meu pescoço, até eu ouvir um zunido e sentir a pressão contra meu corpo diminuir lentamente, enquanto Ian se ajoelhava em minha frente. Ele levou a mão até o próprio pescoço, tirando de lá uma pequena agulha e jogando-a no chão, observando-a perplexo.

– Melany... Corra. – Ele falou em um tom de súplica, olhando para mim antes de tossir intensamente e deitar no chão se contraindo até fechar os olhos. Não sei se há alguma palavra para descrever o que eu sentia, mas acho que “pânico” talvez defina. Obviamente, a opção mais plausível no momento era seguir o conselho do vampiro inconsciente aos meus pés e sair correndo, mas a probabilidade de eu me perder e morrer também eram muito altas, além de eu não poder simplesmente abandonar ele ali, a mercê de qualquer coisa. Era hora de algum treinamento com armas, suponho.

A floresta seguiu com um silêncio, e tudo que eu conseguia ouvir era um grilo e as batidas do meu coração palpitando cada vez mais rápido. Ajeitei a Winchester na minha mão, puxando a trava ou seja lá como se chama aquele pequeno gatilho em cima do lugar onde se coloca as balas, apontando para alguns arbustos que haviam por ali. Como a agulha havia atingido Ian do lado direito, obviamente haviam atirado do mesmo lado. Virei para a direita, e logo percebi um pequeno movimento entre a folhagem das plantas mais baixas. Som de galhos se quebrando e folhas secas sendo pisadas. Minhas mãos começaram a tremer, até que algo saiu por entre os troncos grossos das árvores. Atirei antes mesmo de poder identificar quem era ou o quê era, mas logo após do som atordoador invadir meus ouvidos, percebi que não havia nada onde eu havia atirado. Eu só podia estar enlouquecendo, de verdade.

Abaixei-me sem tirar minha atenção do local onde eu havia acabado de atirar e coloquei a Winchester delicadamente no chão, para poder abrir a mochila e tirar mais pistolas acho que semi automáticas de lá, colocando-as no chão para eventual “suporte”. Depois, me levantei com a Winchester em mãos e, depois de guardar uma das pistolas presa entre a barra do meu short e minha pele, voltei a apontar cautelosamente para a direita. Eu nunca havia atirado na minha vida, mas não parecia ser tão difícil depois do primeiro tiro, imagino eu, ou seja apenas do caso da Winchester ter gostado de mim. Outro ruído à esquerda e eu imediatamente apontei para lá, com as mãos trêmulas. Alguns momentos depois, um lobo saiu dos arbustos, encarando-me com uma expressão calma, se é que um lobo pode ter expressão. Todo seu pelo era mais ou menos malhados, em maioria cinza mas com pequenas manchas riscadas de marrom e preto. Não queria ter que matar um lobo, portanto apenas continuei apontando para ele enquanto ele dava passos lentos em minha direção. A cada passo que ele dava, eu recuava um. Não hoje, senhor Lobo, não hoje.

Um pouco mais a direita do lobo, algo se mexeu também. O lobo agora se mantinha parado, sem tirar os olhos azuis piscina de mim nem por um segundo. Ao seu lado, surgiu um garoto com um sorriso no rosto. Comecei a apontar para ele, enquanto ele dava alguns tapinhas na roupa para limpá-la de folhas. Logo depois, ele passou uma das mãos pelos cabelos castanhos claros como folhas secas do outono, e voltou a me encarar com seus olhos castanhos esverdeados. Meu coração acelerou, e minhas mãos começaram a tremer intensamente. Eu não estava diante de qualquer garoto, eu estava diante do garoto do meu sonho.

– Quem diabos é você? – Sussurrei mais para mim do que para ele, mas ele ouviu mesmo assim. Deu uma gargalhada baixa que deixou sua face levemente corada, inclinando-se logo depois e colocando um dos braços na frente da barriga, fazendo uma reverência formal.

– Meu nome é Chrono, e, por favor, eu me sentiria mais confortável se você parasse de apontar essa arma para mim, Melany. – Eu sei o que ele está pensando. Ele está pensando que eu vou simplesmente abaixar a arma e agradecer por ele ter supostamente me salvado. Ele está pensando que conseguirá tocar em mim e se transformar em qualquer pessoa que for importante para mim, para então me matar. Ele está pensando que eu sou idiota, mas eu não sou. Atirei. Apertei a trava o mais rápido que pude, e atirei novamente. Atirei duas vezes, ainda. Assim que consegui focar minha visão novamente, ele não estava mais lá. Ouvi um sussurro, mas dessa vez eu sabia que era ele ali do meu lado, perto do meu ouvido, e não longe.

– Eu disse “por favor”. – Então ele tocou meu braço, e uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo, como se eu tivesse acabado de enfiar uma caneta na tomada. Pude sentir cada pelo do meu corpo se arrepiar conforme ele sussurrava no meu ouvido e eu sentia sua respiração quente na minha nuca. – Você nunca aprende, não é? – Parece que aquilo havia sobrecarregado um pouco demais meu sistema nervoso, já que demorei para finalmente me afastar dele, ficando em sua frente e afastada uns cinco passos, porém o lobo estava bem atrás de mim. Ian se mexeu levemente no chão, e eu finalmente me toquei do que havia ocorrido. Metamorfo, certo? E ele me tocou. O lobo provavelmente era algum metamorfo fraco, mas aquele garoto em minha frente com certeza era um forte, e ele havia acabado de me tocar. Eu estava ferrada, no mínimo.

Pude ouvir o lobo se aproximar por trás de mim, o som de suas patas levemente tocando no solo úmido. Imaginei que fosse morrer ali, agora. Imaginei que viraria almoço de metamorfo e nem teria a oportunidade de ter visto Misha Collins pessoalmente. Pude sentir a respiração do lobo na minha perna direita, e o seu focinho úmido tocando levemente na minha canela. Permaneci estática, enquanto o garoto na minha frente parecia observar a cena com bastante interesse.

Depois de alguns segundos, o lobo uivou alto o bastante para fazer meu ouvido doer e seu uivo ecoar por entre as árvores. O garoto soltou um suspiro aliviado, e o sorriso voltou a seu rosto. Eu realmente pensei que isso era um sinal como “Mate-a” ou “Coma ela”, mas o garoto na minha frente apenas se aproximou e me deu um beijo rápido na minha boca, fazendo a mesma eletricidade de antes percorrer pelo meu corpo novamente. Digamos que ser beijada nesse momento não é algo que você espera. Minhas pernas foram ficando cansadas e começaram a tremer, cedendo depois de alguns segundos. Por sorte – ou azar – o garoto me segurou em seus braços, e enquanto eu observava seu rosto se aproximar, sentir novamente o toque quente dos seus lábios contra os meus e meus olhos se fecharam involuntariamente. A última coisa que eu ouvi foi outro uivo, enquanto Chrono sussurrava calmamente “Finalmente eu te achei”.

**************

Eu estava no mesmo local escuro e Ian estava na minha frente, com uma expressão decepcionada no rosto. Sua roupa estava suja de terra e com folhas grudadas nela, e ele parecia bastante cansado. “Melany, eu disse para você correr”. Eu queria me desculpar com ele, realmente queria. Queria dizer que mesmo depois de tudo, ele continuava sendo o meu único e melhor amigo, por isso não suportei nem pensar em perdê-lo. Queria dizer que eu arranjaria um jeito de consertar as coisas, que eu não deixaria ele morrer. Abri a boca, mas nenhuma palavra saia. Eu não conseguia falar. “Melany, me desculpe”. Ele usava um tom de voz calmo e baixo, como se tivesse medo de me magoar, apesar de aparentemente, eu ter magoado ele. “Eu fui incapaz de te proteger”, ele disse, enquanto sua imagem lentamente foi ficando transparente. Ele estendeu a sua mão esquerda para mim, assim como no outro sonho, mas eu também não conseguia me mexer. Observei ele sumir lentamente, até eu estar envolta apenas de escuridão. Percebi que aquele não era apenas um sonho comum, ele refletia exatamente o que estava acontecendo e como eu me sentia em relação àquilo. Sem o Ian, eu estava perdida. Sem o Ian, eu estava em total escuridão.

**************

Acordei e me deparei com um teto abobadado e branco. Minha cabeça parecia que ia explodir, e meu corpo inteiro estava formigando. Apenas o esforço de tentar me levantar me fez perceber que os meus sentidos não estavam funcionando direito. Ou eu me mexia, ou eu enxergava, ou eu tentava falar, mas os três de vez era impossível. Fiz o máximo de esforço para me levantar e sentar na cama, observando ao meu redor, porém minha visão estava turva o bastante para eu não conseguir enxergar quase nada. Aparentemente, eu estava deitada numa cama que mais parecia uma maca alta o bastante para eu sentar e não conseguir colocar os meus pés no chão. Levantei lentamente, me concentrando nas minhas pernas para que eu não caísse, então senti a grama levemente úmida nos meus pés.

Olhei em volta novamente, tentando agora me concentrar na minha visão, que melhorava gradativamente. Pude perceber que não havia mais nada na sala além da maca e de um armário provavelmente feito de metal e cinza, encostado em uma das paredes. Fui andando lentamente até a porta, que percebi ao chegar nela que não se tratava de uma porta, mais sim de uma cortina preta. Ao passá-la, não sei se aquela visão foi a mais horrível que tive na minha vida, ou a mais linda.

No começo, tudo era um monte de borrões e continuou assim até meus olhos se acostumarem com a luz do sol intenso. Haviam várias casas, uma ao lado da outra, formando um círculo completo, deixando apenas um espaço vago para algumas pessoas transitarem. Todas as estruturas eram semelhantes e de mesma cor – pareciam ocas, porém muito maiores das que eu já vi nos livros, e de cor marrom. No centro do círculo e a alguns metros de mim, haviam pedaços de madeira empilhados, o que eu deduzi que seria uma fogueira, provavelmente quando anoitecesse. Apesar de todo o aspecto de ano 1500, todas as pessoas que iam para lá e para cá (que não eram muitas) estavam com roupas normais – calças jeans, blusas regatas e tênis. Ninguém parecia perceber minha presença, ou pelo menos fingiam que não estavam percebendo. Ao longe, pude perceber um rosto conhecido. Ele estava a alguns metros de distância, de frente para mim, mas toda sua atenção parecia estar voltada ao lobo em sua frente. Apesar de, obviamente, o lobo não falar nada, Chrono continuava a falar e gesticular com o mesmo, enquanto a criatura permanecia estática, olhando-o.

Não demorou muito até que o lobo virasse seu rosto em minha direção, e acenasse com a cabeça para mim. Logo depois desse ato, ele andou lentamente até minha frente, com o garoto logo atrás. Ao parar na minha frente, a sensação de que ele não era apenas um lobo comum tomou conta de mim. Metamorfos fracos viram lobos, mas este parecia ser um lobo todo o tempo, ou apenas se transformava quando ia me ver. Me peguei imaginando como seria sua versão humana. Enquanto eu encarava seus olhos azuis piscina e quase me afogava neles, Chrono começou a falar.

– Melany, espero que você não tenha se sentido desconfortável na nossa enfermaria. As camas não são tão confortáveis lá, porém nos quartos normais são bastante bons. – Desviei o olhar do lobo e voltei minha atenção para o garoto que falava, percebendo que ele mantinha o leve sorriso no rosto. Talvez escolhe-lo ao invés do Ian no sonho não tenha sido uma boa ideia, afinal. Aquele sorriso chegava a ser assustador de tão artificial que era. Ou esse garoto estava escondendo algo o tempo todo, ou ele era realmente estranho. De qualquer modo, eu tinha que arranjar um jeito de sair daqui e...

– Onde está o Ian? – Perguntei, ignorando toda a situação esquisita que tinha acabado de acontecer, ou eu achava que tinha acabado de acontecer. Afinal, porque esses caras adoram me fazer desmaiar? O lobo não desviava o olhar de mim nem por um segundo, e toda sua atenção em mim estava começando a me deixar desconfortável.

– Ele está no mesmo lugar desde a última vez que você o viu, provavelmente. – Ele olhou para o céu por algum tempo, como se calculasse algo. – Na verdade, o efeito já teve ter acabado, então ou ele está te procurando ou voltou para casa. – Ele voltou seu olhar para mim, alternando-o entre eu e o lobo.

– Quem é... – Comecei a pergunta, mas a expressão de Chrono se tornou séria de repente, o que me fez parar sem nem completar a pergunta. Ele olhou fixadamente para o lobo por algum tempo, até olhar novamente para mim.

– Ah, Melany, certo. Esse é o Acaiah, nosso... Como posso dizer? Acho que “xamã” seria a palavra certa. Ele nos guia, no sentido espiritual. – Logo depois, ele apontou para o lobo. – Ele nos avisou que você seria a escolhida, e confirmou isso hoje, quando te encontrou. – Tudo bem, talvez seja informação demais em pouco tempo para mim.

Você pode achar que toda essa coisa seja excitantemente boa, mas não é. Você pode achar que cada escolha que você fizer não vai alterar em nada seu futuro, e que se você parar para amarrar o cadarço agora ou daqui a 10 passos não vai mudar em nada sua vida, mas você está errado. Até mesmo não fazer nenhuma escolha é fazer uma escolha. Sua vida é feita de escolhas, e se você fizer a escolha errada, talvez você arruíne tudo. Não dá para viver pensando nas possibilidades, porém é bom pensar nisso de vez em quando. É bom pensar em algo como “Ah, acho que se eu fizer isso, talvez meu mundo vire de cabeça para baixo”. Mas ninguém nunca pensa nisso. Então, nessa exata situação, me pego pensando que eu realmente deveria ter feito escolhas melhores.

– Escolhida para... O que?- O lobo fez algo que soou como um suspiro, que me faria rir se eu estivesse assistindo Supernatural e ele estivesse no episódio, mas na realidade isso não é nada legal. Chrono deu uma gargalhada baixa, como se a resposta da pergunta fosse óbvia, coisa que eu tenho certeza que não era.

– Mel, você é a escolhida para nos salvar. – E como se tudo se embolasse mais ainda na minha cabeça, minhas pernas fraquejaram e eu sentei com tudo no chão. Acaiah se aproximou de mim e sentou na minha frente, olhando nos meus olhos. Seus olhos azuis, era como se eles pudessem ver minha alma, e ler todos meus pensamentos confusos, e de algum modo organizá-los para que ele pudesse interpretá-los e entendê-los. Ele se aproximou mais um pouco e roçou seu focinho úmido na ponta do meu nariz, como se falasse algo como “Obrigada por existir, não desista agora porque eu sempre estarei aqui”, e tudo que eu consegui fazer naquele momento foi chorar.


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Notas finais do capítulo

That's it, folk! O capítulo seguinte talvez demore um pouco mais para sair, já que estou nas últimas semanas do colégio e preciso me concentrar nas provas e tal, mas nas férias com certeza essa e todas as outras histórias vão decolar o/
Espero que tenham gostado ~



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