Piratas Do Caribe: Um Novo Horizonte escrita por Tenebris


Capítulo 9
Capítulo 9: Impasse




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Elizabeth ainda não havia acordado. Podia sentir seus membros ainda doloridos e pouco recuperados. Não se lembrava de muita coisa, apenas que ela falhara.

        Falhara terrivelmente.

        Contudo, lembrava-se de ter tentado, de ter lutado até o fim, antes de desmaiar e se dar conta de que havia sido raptada por membros da Companhia das Índias Orientais. E, até aquele momento, ela não sabia o que eles estavam procurando, nem o que queriam com ela. Mas tinha o mau pressentimento de que tinha algo a ver com Will. E com o Baú da Morte.

        Ela abriu os olhos lentamente. A atmosfera do lugar onde estava não era nada agradável. Ela estava em um brigue, uma cela para prisioneiros dentro do porão de algum Navio. Provavelmente, o Navio que atracara na Bahia Naufrágio para seqüestrá-la. Ela levantou-se de súbito, correndo para as grades da cela. Ela empurrou-as e chacoalhou-as, fazendo um imenso esforço sem conseguir nenhum resultado.

        Foi interrompida pela risada aguda e ácida de um homem.

        - Não vai adiantar.

        - O que quer comigo? – Perguntou ela, sentindo de repente que as armas que havia trazido consigo haviam sumido. A exceção de uma faca que estava embainhada sob seu casaco. Pequena demais para um ataque surpresa.

        - Sou eu quem faz as perguntas, Senhorita Swann. Ou devo dizer, Senhora... Turner?

        O homem disse “Turner” com tal desagrado que fez Elizabeth cerrar as mãos em punhos.

        - Sou Comodoro Lewis Johansson Evans. Membro da Companhia das Índias Orientais.

        - Não sou eu quem faz as perguntas. – Retorquiu Elizabeth irritada. – Portanto, não perguntei quem você é.

        - Você não precisa saber de nada. – Continuou ele. – Na hora certa, saberá.

        E tendo suas piores suspeitas confirmadas, Elizabeth viu o homem subir para o convés principal. Tudo que estava acontecendo girava em torno de Will e do Baú. Ela precisava protegê-los. E assim, sentiu o Navio navegar até o luar cintilar no céu depois de um dia difícil.

        - Assuma o timão, Senhor Turner.

        Will estava dirigindo o Navio, entretanto, um pressentimento o assombrou. Sentiu que seria melhor mandar seu pai, Bootstrap Bill Turner, assumir o timão para que ele pudesse pensar melhor sobre o assunto.

        - Claro, Capitão. – Disse Bootstrap. – Alguém se aproxima, não é mesmo? Todos os tripulantes a bordo conseguem sentir.

        - Sim. Mas não é só isso que me preocupa. É o que vem depois.

        E com essas palavras, Will se dirigiu para a cabine do Capitão, que ficava atrás do Convés superior. Ele subiu as escadas, abriu a porta e sentou-se na cadeira. Era uma noite fria, o céu estava negro e instável, como se a qualquer momento pudesse cair uma chuva torrencial. Will pensava em Elizabeth. E também em seu recente encontro com Lewis, que queria o Baú. Logicamente, Elizabeth estava ligada diretamente a todos aqueles acontecimentos. E tudo que Will temia era pela segurança dela.

        - Capitão! Navio à vista!

        Os pressentimentos de Will se confirmaram.

        Alguém do convés gritou para ele, o som abafado pelos vidros da Sala do Capitão. Will levantou-se de pronto, desembainhando a espada e irrompendo pelo Convés Superior.

        A tripulação sabia como prosseguir diante daquele encontro.

        Alguns acertaram a vela a todo pano, outros deixaram os canhões preparados e outros ainda se agruparam no Convés Principal, com armas e espadas. Will se juntou a esse grupo, observando o inevitável. O encontro com o Navio da Companhia das Índias Orientais se aproximava. Tão certo como as marés.

        Elizabeth gritou novamente.

        Percebeu com um sobressalto que ela andava fazendo isso com mais freqüência do que gostaria. Um dos guardas que trajavam roupas azuis e vermelhas entrara na cela.

        O homem agarrou-a, colocando uma venda preta em seus olhos.

        - Me largue! – Ela gritou.

        - Lamento, ordens do Capitão. – O homem rosnou.

        Elizabeth se debatia, com as mãos presas por algemas e atrás do corpo. O homem ainda assim segurava as mãos dela firmemente. Então, o homem amordaçou-a, tornando-a ainda mais impotente do que antes. Já era tarde. Elizabeth não via nada além de uma imensidão negra, sem ao menos poder gritar.

        - Olá, Senhor Turner.

        Lewis sorriu maliciosamente e acenou para Will.

        Novamente, os navios estavam alinhados, lado a lado. E Will estava recostado à murada do Holandês para poder falar melhor com Lewis. Se algo desse errado, Will estaria a postos para comandar um ataque.

        - O que você quer? – Will perguntou rispidamente, a espada em suas mãos.

        - Negociar. Ainda pode me levar ao seu Baú. – Lewis se aproximou da murada, ficando quase cara a cara com Will.

        - Eu disse que não haveria negociação. Não sei onde está o Baú. Pode levantar as velas e zarpar daqui.

        - Talvez isso o faça mudar de idéia.

        Lewis fez um gesto com as mãos, chamando um de seus guardas.

E Elizabeth podia sentir que era arrastada à força escada acima, Os degraus de madeira polida batiam contra suas canelas. Alguns segundos se passaram, e ela pôde sentir um vento frio e salgado fustigar seus cabelos. Ela já deveria ter chegado ao convés principal, embora permanecesse obrigatoriamente imóvel ainda presa firme às mãos ásperas do homem.

Will teve um sobressalto.

- Elizabeth! – Ele gritou desesperado.

Então era esse o infalível plano de Lewis. Ele seqüestrara Elizabeth para poder ameaçar Will, para poder controlá-lo. E sem dúvida ele conseguiria. Intimamente, Will temia que Lewis já tivesse machucado Elizabeth, e tudo que queria era reduzir aquele Navio a pó. Entretanto, Elizabeth estava lá, e ele não poderia soltar os canhões.

- Will! – Elizabeth tateava o chão o máximo que conseguia. Depois de ouvir a voz de Will próxima, tudo fez sentido. Então Lewis a seqüestrara para poder ameaçar Will diretamente. E ela sabia que dessa forma, Will faria tudo que Lewis quisesse para não machucá-la.

Will segurou-se em uma corda, ficando de pé na murada para poder observar melhor. Elizabeth parecia extremamente cansada, respirando com dificuldade. E ele não podia fazer nada.

- Pois bem, Senhor Turner. Leve-me para o local onde o Baú está enterrado e terá sua esposa de volta. – Disse Lewis, parecendo entediado.

- Nada feito. – Replicou Will. – Solte Elizabeth e o levo até o local onde o Baú está.

Lewis deu uma risada grave e falou:

- Como posso ter certeza que você vai me levar até o Baú depois que eu soltá-la?

Will olhou fugazmente para Lewis. Sentia-se tonto e perdido, mas tentava aparentar estabilidade.

- Como eu posso ter certeza que você vai soltá-la, caso eu o leve até o Baú?

- Ora, por favor Senhor Turner, o que eu poderia querer com essa garota? – Lewis apontou para Elizabeth, que estava encolhida no chão. Depois que eu tiver o Baú, ela não será mais útil. Dou minha palavra que a libertarei.

- Não acredito em suas palavras. – Will retrucou, seu interior doendo ao ver Elizabeth naquele estado.

        - Senhor Turner. – Disse Lewis com a voz ácida e desdenhosa. – Essa garota é apenas uma moeda de troca de uma barganha entre a Companhia e um Pirata.

Will cerrou a mão livre em punho. Não podia deixar que Elizabeth fosse insultada daquele jeito. Ela era sua vida. O motivo pelo qual Will fazia o que fazia como Capitão do Holandês, para poder vê-la naquele único dia depois de dez anos em mar.

- Vai se arrepender, Evans! Eu juro! – Will pulou do convés, pegou uma faca que estava nas mãos de um tripulante e atirou-a velozmente para o Navio de Lewis.

        A faca atingiu em cheio o peito do homem que segurava Elizabeth.

        Lewis revirou os olhos, como se o que Will tivesse acabado de fazer fosse uma mera birra de criança.

        Só então Elizabeth caiu em si.

        Will já dissera a Lewis que não sabia onde estava o Baú. E isso era a verdade, entretanto, Lewis não acreditou nas palavras dele. E Will não poderia dizer que Elizabeth sabia a localização, pois isso a colocaria mais em risco do que já estava. E inventar uma localização para o Baú parecia a solução mais plausível, mas também a mais arriscada. Principalmente porque ela só seria solta depois que Lewis tivesse o Baú em mãos.

        Elizabeth trocou olhares significativos com Will, depois de conseguir se desvencilhar da venda de alguma forma.

        Era um impasse.

        Todas as alternativas os levariam a um mesmo destino.

        E muitas coisas passavam pela cabeça de Will ao mesmo tempo. Ele não iria, não poderia dizer que Elizabeth sabia a localização. Mas Lewis não acreditara nele quando ele próprio disse a verdade. E inventar um local também parecia arriscado. Will também podia perceber que Elizabeth não iria dizer que sabia o local, pois isso levaria Lewis diretamente para o Baú. E se ele controlasse o Holandês, Elizabeth jamais voltaria a vê-lo.

        Will suspirou. Parecia que havia se passado horas, mas eram segundos.

        Ele resolveu que passaria esses últimos segundos da sua eternidade olhando para o lindo rosto de Elizabeth, era o melhor que ele conseguiria para si.

        Entretanto, Elizabeth percebeu que tinha o apoio de Will, ainda que silencioso. Ela estava com ele. Então, que mais poderiam fazer a ela para feri-la? Sua única preocupação, poder ver Will antes de seu fim, não era mais um fardo. Ele estava lá, amparando-a, sustentando-a pelo olhar.

        E isso lhe dava uma ideia.

        Ela só esperava que Will compreendesse essa ideia.

        Logo, Lewis gritou impacientemente:

        - Vamos logo com isso, Senhor Turner! Diga-me onde está o Baú da Morte. Ou vai se arrepender ainda mais do que posso perceber que já se arrependeu.


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