–nossa, olha aquela menina – Laura dizia rindo – acho que deveríamos dar uma aula de moda para ela, as cores nem combinam!

–verdade – concorda Vanessa também rindo – será que ela é pobre ou só relaxada?

–sei lá, mas ela tem um péssimo gosto – diz Laura. Elas riem por um momento. Então olham para Kim, que estava sentada ao seu lado, não estava falando, nem rindo, apenas observando as pessoas passarem.

–aconteceu alguma coisa? – pergunta Vanessa para Kim.

–ahnn? Comigo? Não... – diz Kim – por quê?

–é que nas ultimas semanas, você anda meio estanha – diz Vanessa.

–sim – concorda Laura – pensando bem, já faz alguns dias que não vejo você rir de nenhum pobre ou dar em cima de um gatinho...

Kim grunhiu. Aquela ideia lhe pareceu repugnante. Mas espere, ela fazia isso! E não o fazia há anos atrás, mas há dias, semanas.

–não to no clima... – diz ela

–como assim? Por acaso pirou?! – grita Vanessa

–é que... Por que vocês tem que ser tão patricinhas o tempo todo? – pergunta Kim. Laura e Vanessa se entreolham confusas.

–porque é o que somos. Patricinhas. Esse é o terceiro ano, dês de que começamos com isso, sendo as mais bonitas e invejadas pela escola toda! – diz Laura sorrindo orgulhosa.

–é, eu sei, mas... Vocês ainda não cansaram disso? – pergunta Kim, Laura ergue uma sobrancelha – Vocês sabem, nunca pensaram em ser outra coisa?

–por que pensaríamos? Ser a mais bonita e popular é incrível! – diz Vanessa

Kim pensa um pouco. Até alguns dias atrás não duvidaria disso, porém agora achava que tinha algo errado, que tinha algo faltando. Ela tinha tudo o que sempre teve e mais um pouco, então, o que podia estar faltando?

–Kim, esta dizendo que não quer mais ser uma patricinha? – pergunta Laura cautelosa.

–eu não sei... Talvez... – diz Kim pensativa.

–como assim?! O que você tem na cabeça?! – gritam as duas em uníssono.

Kim não responde, continua a observar as pessoas: em uma mesa estava o time de futebol, Christian, o capitão, estava em cima da mesa contando mais uma de suas histórias; em outra mesa, os skatistas conversavam e riam; em outra, alguns góticos estavam sentados, sérios e em silêncio, tomando café; em outra, Drew e mais um grupo de alunos de sua turma faziam uma mini guerra de bolinhas de papel; em varias outras, jovens conversavam, riam, brincavam e comiam seus lanches.

–eu vou lá fora, preciso tomar um ar – diz Kim finalmente – vejo vocês na sala...

–ahnn... Tudo bem – diz Laura. Kim se levanta e sai do refeitório.

Kim vai até o pátio da escola, que, como sempre, estava bem menos movimentado que o refeitório. Tinham apenas três ou quatro casais e o clube de leitura, que é de oito alunos. Ela caminha até metade do pátio, quando avista Jason, escorado na mesma árvore de sempre. Ela ia se aproximar, quando vê Sam saindo do prédio de cabeça baixa. A menina caminha até Jason e se senta ao seu lado, escorando a cabeça em seu ombro e sussurrando alguma coisa.

“droga, pensei que poderia aproveitar o fato de ele ter me salvado para passar mais tempo com ele, mas... Essa menina...” – pensa Kim, definitivamente morria de ciúmes de Sam.

–oi Kim! – cumprimentam Daiane e George que passam por ela abraçados.

–oi – diz ela. Quando volta o olhar para Jason e Sam, percebe que Jason está olhando para ela. Ficam se encarando por alguns segundos, então Jason volta a olhar para Sam.

“será que se eu o agarrasse... Não, o Jason não é desses, provavelmente é fiel a Sam, e se eu tentasse, ele ia achar que eu sou uma vadia e nunca mais ia olhar na minha cara... Então o que eu faço?” – pensa ela. Então olha para o lado e percebe que não era a única a observar o “casal”. A cerca de três metros, o moreno de olhos verdes olhava fixamente para eles de um jeito bizarro enquanto bebia uma latinha de Pepsi.

O homem percebe o olhar de Kim e a olha com o canto dos olhos rapidamente, o que faz Kim se arrepiar. Ele abre um sorriso exagerado e se vira para ela.

–Kimberly – diz ele, amassa a latinha com a mão direita e a arremessa, acertando-a na lixeira a cerca de dois metros de onde ele estava – como vai?

O garoto era mais medonho ainda de frente, a pele era bronzeada, os cabelos negros quase na altura dos ombros e olhos verdes arregalados, tinha uma cicatriz abaixo do olho esquerdo, como se tivesse sido cortado com algo pontudo. O sorriso era exageradamente grande, os dentes eram brancos e perfeitos. Ele era magro e alto.

–oi... – diz ela – te conheço?

–não, acho que você ainda não teve esse prazer... – diz ele se aproximando – meu nome é Nicolas, os mais chegados me chamam de Nick, mas você pode me chamar de Nicolas mesmo... – diz ele – deve conhecer meu irmão mais novo, Thomas Housenburg...

“irmão do Thomas? Tinha que ser... É igualmente irritante” – pensa Kim – e então? O que faz aqui? – pergunta ela – quer dizer... Não tem cara de um colegial...

–não sou mesmo, já terminei há três anos, mas meu irmão pediu uma pequena ajuda...

–para o que? – pergunta Kim. Nicolas olha para Jason.

–ele acha que o moleque vai causar problemas... – diz Nicolas

–o Jason? – pergunta ela

–o conhece? Ótimo, então o avisa que é bom não se meter com meu irmão... A menos que ele goste de apanhar... – diz Nicolas rindo – bom, eu vou indo...

–tchau – diz Kim. Nicolas sai e pula o portão de saída numa velocidade surpreendente. Kim precisou de uns minutos para compreender totalmente o que tinha acontecido ali. Então se liga que tinha que avisar Jason. Ela caminha em direção a ele, mas quando estava quase lá, o sinal toca e Kim resolve falar com ele na sala.

“Tem uma coisa que você precisa saber” – escreve Kim num pedaço de papel e joga na mesa de Jason, a sua direita.

“O quê?” – responde Jason.

“Acho que o Thomas está aprontando alguma coisa... Antes vi o irmão dele e ele disse que era melhor você não se meter com o Thomas” – escreve Kim.

Jason lê o papel e escreve alguma coisa, mas quando ia passar para Kim, o professor pega o papel e o guarda no bolso da jaqueta.

–agora não é hora – diz ele sério. Kim baixa a cabeça para o livro tentando disfarçar e Jason fica encarando o professor até ele se virar e sair de sua frente.

–vai fazer o quê? – sussurra Kim

–nada – diz Jason sem olhar para ela.