-ei Jason! – Joey bate na porta de seu quarto, já eram quase 18h. Jason estava deitado na cama atirando uma bolinha de tênis na parede vendo Jake correr de atrás enlouquecido.

-pode entrar – diz Jason segurando a bolinha. Joey entra e fecha a porta.

-podemos conversar? – pergunta ele. Jason larga a bolinha no chão e Jake começa a mordê-la como se estivesse irritado com ela.

-o que é? – pergunta Jason

-seus pais me contaram sobre sua fuga... – diz Joey sentando-se na cama ao lado de Jason que também havia sentado.

-não vai começar com “e se” né? – pergunta Jason

-não sou seu pai... – diz ele rindo um pouco. Joey já se metera com uns caras barra pesada quando era mais jovem e Marcio começou com o “e se você tivesse morrido”, era engraçado se lembrar da época. – enfim... Tem uma garota, acho que o nome é Sam, ele me falou, mas eu não lembro direito, mas acho que era isso sim... – diz Joey

-e? – pergunta Jason

-e o que? – pergunta Joey, com certeza era o cara mais desligado do mundo.

-o que tem a Sam? – pergunta Jason

-ah, ele falou pra eu ser discreto, mas enfim, vocês tão saindo? – pergunta Joey

-nossa que discreto... – diz Jason rindo – não, somos só amigos...

-aham... Sei... Amigos... – diz Joey

-ta... Era só isso? – pergunta Jason

-acho que sim... Ah, ele falou pra te perguntar também... – ele olha para o chão – Jack!

-é Jake... E o que você ia perguntar? – pergunta Jason

 -hã? – pergunta ele voltando-se para Jason – ah, sim, era sobre o porquê de você ser assim... Quer dizer, tão “frio”? – pergunta ele

-não sei – mente Jason

-tudo bem, se quiser deixar por isso, eu não vou insistir... – diz Joey se levantando

-espera... Você sabe né? – pergunta Jason

-sei o que? Ah, sobre você ser tão frio? Tenho uma ideia, mas posso estar errado...

-tem uma ideia? O que você acha? – pergunta Jason chutando a bolinha de Jake na parede para ver se o cão iria de atrás.

-sua mãe... Bom, que eu me lembre, você ficou “assim” uns dois anos depois que ela... Bem... Você sabe... Tentei seguir o mesmo caminho que você... Quer dizer, essa “lei” de “ou você intimida o mundo, ou o mundo intimida você”. Bom, não consegui por muito tempo, acho que por uns dez meses no máximo. Depois resolvi que essa era uma ideia boba...

-por que uma ideia boba? – pergunta Jason

-por que todos vão morrer um dia e agindo dessa maneira, eu estava perdendo muito tempo, a vida dela chegou ao fim, mas a minha não, quer dizer, sinto muito, mas não podia ficar num luto eterno... Sabe, você também não devia, eu já tinha 21 anos na época, mas você, cara, você já perdeu quase metade do que já viveu sendo assim... – Jason não sabia o que dizer, Joey estava completamente certo, ele não podia ficar num luto eterno – e então? Estou certo, Jason? É esse o motivo?

-sim... Meu pai falou pra você fazer minha cabeça ou você tenta por conta própria?

-não quero fazer sua cabeça, Jason, só lhe contei uma experiência minha... Se quiser mudar, você pode, mas se não quiser tudo bem, é uma escolha sua... – ele se levanta e vai até a porta – e, Jason, lembre-se de uma coisa, mais do que seu tio, eu sou seu amigo. Entendo o porquê de nunca ter comentado essas coisas com seu pai e, fica tranquilo, não vou falar nada pra ele – ele da uma piscadela e sai do quarto.

Jason pega a bolinha e volta a jogar para Jake, pensando nas palavras do tio. Joey era incrível, por mais desligado que fosse para algumas coisas, foi o primeiro a perceber o que se passava na cabeça de Jason.

“será que eu devia mudar? Ele está certo, minha vida ainda não acabou, tenho só 16 anos... Mas não posso simplesmente começar a ser legal com as pessoas, isso seria estranho demais, até pra mim... Ah, o que eu faço?”

Ele olha para as guitarras na parede, lembrando-se da ultima vez que tocou e da vez que conversou com Kim sobre a banda. Agora, associando as situações ele se sentia um idiota, ainda poderia estar com a banda se não fosse assim, quer dizer, Fernando, o baixista, havia se mudado, mas isso havia sido depois que Jason saiu da banda...

Modo flashback on...

Estavam tocando na pizzaria dos tios do baterista, Marcos, já tinham tocado nove musicas de diversas bandas e iriam tocar sua ultima agora. Kevin, o vocalista e segundo guitarrista, os chamou atrás do palco para perguntar o que eles queriam tocar para encerrar.

-vamos tocar alguma coisa do Guns N’ Roses? Não tocamos nada deles hoje... – sugeriu Marcos animado – e meu tio é bem fã, quem sabe ele não nos chama pra tocar outra vez se tocarmos alguma, tipo Welcome to the Jungle ou Paradise City...

-por mim tudo bem – diz Kevin – Jason, Fernando, o que vocês acham?

-legal – diz Fernando. Jason apenas assente com a cabeça.

-então vamos de que? Eu queria Sweet Child O’ Mine – diz Kevin

-tem certeza? – pergunta Marcos – quer dizer, eu já sei tocar faz tempo, mas acho que o Jason e o Fernando não estão muito preparados...

-fale por si mesmo, Marcos! – gritou Fernando um pouco irritado – Jason, você não se irrita com ele que se acha o fodão só por que toca bateria fazem quatro anos? – pergunta ele

-cara, eu não me importo... – diz Jason calmamente

-eu não me acho o fodão, no máximo, o Jason que se acha com esse jeito de “não to nem aí pra nada” – grita Marcos – faz isso só pra aparecer né?

-não... – diz Jason sem alterar o tom de voz.

-ah! Qual é? Não vão começar com isso agora né? – diz Kevin, que sempre tinha que acalmar as discussões entre a banda – então, vamos de Sweet Child O’ Mine ou o que?

-vamos! E vamos mostrar para esse pirralho metido que sabemos tocar! – grita Fernando e eles voltam ao palco.

Jason começa a fazer a Intro na guitarra, depois Marcos começa na bateria e Kevin e Fernando na guitarra (base) e baixo, respectivamente. Três minutos e meio depois, poucos segundos antes do solo de Jason, uma das baquetas escapa da mão de Marcos e acerta a cabeça de Fernando que estava pouco a sua frente, com isso Kevin se assusta e solta um grito um tanto agudo involuntariamente, Jason continua o solo, apenas olha para Marcos com um olhar de reprovação e balança a cabeça “não”. Jason e Kevin terminaram a música, mas sem o som da bateria e do baixo não era a mesma coisa...

Depois eles saem do palco. A baqueta não tinha batido tão forte na cabeça de Fernando, mas machucou um pouco. Kevin estava sentado em um amplificador de cabeça baixa, ouvindo Fernando e Marcos discutir.

-você tava se achando e acabou estragando a musica! Ainda que o Jason conseguiu disfarçar um pouco com o solo... – grita Fernando

-o que?! A baqueta não bateu tão forte, você podia ter continuado tocando! – retruca Marcos irritado, ele olha para Jason, que apenas observava a discussão, sério – e você? Ta olhando o que? Você também errou!

-errou nada! – levanta Kevin farto de tanta discussão – o Jason foi o único que não errou nada! Ele é o único que ainda não errou nada em nenhuma música que já apresentamos! Marcos, não é por que você é ruim que tem que ficar jogando a culpa pra cima dos outros!

-ruim?! Eu?! E aquele gritinho que você deu lá?! – grita Marcos

-foi por que você jogou uma baqueta na minha direção! – grita Kevin

-mas nem acertou você! – reclama Fernando

-ta do lado dele agora?! – grita Kevin, ele se volta para Jason que continuava em silencio – e você? Por que não fala nada?! Nunca opina, nunca discute, qual é o seu problema?! Olhe quantas vezes esse baterista idiota já zoou você e você nem falou nada!

-verdade, babaca! Pode ser foda na guitarra, mas continua um babaca como pessoa! – diz Fernando – fala alguma coisa!

-tudo bem – diz Jason calmamente, ele pega a guitarra – eu to fora...

-o que?! – gritam os três

-o que vocês ouviram... To fora, achem outro guitarrista...

-você não pode sair! – grita Kevin.

-por que não? – pergunta ele

-por que... Por que... – Kevin não sabia o que falar

-é... – diz Jason e dá as costas aos (ex) companheiros de banda.

-não! – grita Fernando – se alguém tem que sair tem que ser o Marcos!

-não, tem que sair você, baixista gay!

-querem um conselho? – pergunta Jason, eles ficam em silencio – Marcos, você é um idiota exibido, eu toco tem quase dez anos, você não é nada, devia ser menos metido e ajudar quem ainda está começando. Fernando, você poderia dar um ótimo baixista, mas falta experiência, talvez por que você tem só 12 anos ou toca há apenas um ano, sério, não ligue pras idiotices dos outros, dedique-se ao seu trabalho. E Kevin, cara, você é um ótimo vocalista e guitarrista, não se estresse por causa de discussões idiotas, isso só atrapalha você...

-o que?! Eu não sou... – Marcos ia gritar, mas é interrompido.

-ah, mais uma coisa pra você – apontou para Marcos – comece a aceitar criticas de forma mais civilizada, você parece um daqueles monstros descontrolados do cinema... – diz Jason. Marcos fica quieto – então é isso... Quem sabe um dia eu veja vocês de novo, falou... – Jason foi embora.

Modo flashback off.

Depois daquele diz Jason não conversou com nenhum deles, Fernando chamou algumas vezes no chat do Facebook, mas Jason sempre ignorou, então ele parou de chamar. Soube também, por Drew, que Fernando tinha se mudado para Portugal dois meses depois. E já fazia quase sete meses dês de a briga...

“bom, talvez a culpa não seja totalmente minha... Marcos era um idiota que só sabia provocar e Fernando um pivete que respondia às provocações, mas bem que eu podia ter ajudado Kevin a separar algumas brigas. Não o culpo de ter ficado puto comigo, acho que em seu lugar eu também ficaria, ele sempre tinha que aturar aqueles dois e eu só ficava quieto como se não houvesse problema algum... Acho que deveria ligar para o Kevin... Ou não” – pensa Jason.

-conversou com o Jason? – pergunta Marcio

-sim – diz Joey pegando um pote de iogurte na geladeira

-e...? – pergunta Marcio

-e o que? – pergunta Joey

-o que ele disse? – pergunta Marcio

-ah, ele e a menina não estão namorando... – diz Joey

-e o que mais? – pergunta Marcio

-tinha mais alguma coisa? – pergunta Joey – ah, sim, sobre ele ser “assim”, bom, eu não sei, ele não quis me contar...

-se ele não contou nem pra você, então não vamos descobrir...

-não sei... – diz Joey – agora, se me derem licença, já começou Dragon Ball – diz e vai para a sala ver televisão.

-tem algo estranho nisso – diz Marcio

-no que? – pergunta Ketlin

-em Jason e Joey – diz Marcio. Ketlin dá de ombros.

-dois esquisitos – diz ela e começa a preparar a janta.

O resto do dia foi normal, Jason ouviu musica e brincou com Jake, Drew assistiu televisão e usou o computador, Joey e Marcio saíram para jogar futebol e Ketlin assistiu novela e foi dormir cedo.