-Ketlin, por que está lavando essa louça? – pergunta Tereza – deixe que esse menino preguiçoso lave! – ela olha para Jason – seu irmão está ajudando a secar a louça, por que não é que nem ele? – reclama Tereza. Jason levanta-se, por um momento Marcio achou que ele ia quebrar a tia a pau, mas ele anda até a porta.

-vou dar uma volta – diz Jason

-está me pedindo ou me avisando? – pergunta Marcio irônico

-eu posso? – pergunta Jason, ciente de que não podia vacilar com o pai.

-aonde vai? – pergunta Marcio

-no parque ou sei lá – ele olha para a tia e depois para o pai de novo – só quero sair um pouco... Volto em uma ou duas horas no máximo...

-tudo bem, pode ir... – diz Marcio. Jason sai.

-não acredito que deixou esse fedelho sair, devia mandar ele para um colégio interno, isso sim – Jason ouviu a tia falando. Ele põe o fone, liga um Matanza no máximo e vai em direção à escola, para aquele lado tinham muitas meninas “gostosas”, ele podia ser um antissocial, mas ainda era um garoto...

Ele estava andando de cabeça baixa, de repente se bate em alguém sem querer...

-Jason! – era Sam, ela tinha caído no chão. Ele rapidamente ajuda ela a se levantar e tira o fone – me desculpe eu não te vi...

-por que está se desculpando, foi você quem caiu... – diz Jason

-então se desculpe você! – diz Sam cruzando os braços e fazendo biquinho. Jason ri.

-desculpa, Sam – diz Jason

-tá desculpado! –diz ela sorrindo – mas e aí, tá indo aonde?

-só dar uma volta, sem rumo... E você? – pergunta Jason

-ia fazer uma visita para o Eric e depois tomar um sorvete, quer vim junto? – convida

-ahnn... Tudo bem... – diz Jason e eles vão ao hospital. Mais uma vez, Jason espera do lado de fora, em cerca de 30 minutos Sam sai de lá.

-você tá bem? – pergunta Jason, já estavam fora do hospital.

-sim, quer dizer, mais ou menos... Jason, você acha que o Eric vai ficar bem? – pergunta Sam – me responda sinceramente...

-espero que sim... Os médicos já sabem o que aconteceu com ele? – pergunta Jason

-parece que ele bateu a cabeça bem forte... – diz Sam – ontem falei com o doutor Robert, ele disse que não pode definir nada muito bem ainda, mas que é provável que ele acorde logo, mas se memória... Quer dizer, ele vai saber falar, e praticamente tudo que ele já aprendeu, mas, talvez, não se lembre das pessoas, nem dos lugares... – diz Sam, cabisbaixa.

-teme que ele não se lembre de você? – pergunta Jason. Sam balança a cabeça “sim” – vai ficar tudo bem, pequena... – diz Jason pondo a mão no seu ombro.

-gostaria de acreditar nisso... – um minuto de silencio – espera, você me chamou de quê? – pergunta Sam

-que? Como assim? – pergunta Jason – eu chamei você de alguma coisa?

-acho que sim, mas... Ah, deixa pra lá... – diz Sam – vamos pegar o sorvete?

-vamos – diz Jason. Eles vão até a avenida principal, onde tinham as melhores sorveterias da cidade – vai querer do que?

-creme e chocolate – diz Sam

-ok, me dá dois – diz Jason ao homem no balcão.

-dois de chocolate e creme saindo – diz ele e vai até a máquina.

-podem até dizer que pote é melhor, mas nada supera o sorvete de casquinha – diz Sam ansiosa olhando o homem preparar. Jason sorri.

-eu concordo – diz ele

-deu quatro reais – diz o homem, Jason entrega o dinheiro – obrigado! Voltem sempre!

-quer ir aonde agora? – pergunta Jason

-vamos ir andando pra casa? Quer dizer, dão uns 30 minutos até lá e nesse tempo dá para terminarmos de tomar sorvete... – diz ela

-tudo bem – diz Jason e eles vão.

-to cansada – diz Sam na metade do caminho e senta num banco.

-mas já? – pergunta Jason e se senta ao lado dela.

-é... Estranho, por que geralmente eu era acostumada a caminhar bastante... – diz ela

-acontece... – diz Jason olhando para o céu – aquela nuvem parece uma bunda – ele diz apontando para uma nuvem. Sam olha para cima.

-é mesmo... E aquela um pinico... – diz Sam

-um pinico? – pergunta Jason rindo, Sam ri também.

-é... – diz Sam. De repente eles começam a ouvir vozes distantes, que vinham se aproximando e ficando cada vez mais altas, e também latidos e algo semelhante a um cão chorando – ta ouvindo isso? – pergunta Sam

-sim, mas... O que é isso? – pergunta Jason, eles olham para a rua por alguns instantes, um cachorro passa correndo meio manco, uma pedra passa ao seu lado, atrás do cão vinham cinco garotos com aproximadamente 10 anos.

-acerta ele – grita um ruivo. O loiro com um estilingue atira mais uma pedra, essa passa mais perto ainda, os garotos continuam a perseguir o cachorro, era um filhote de pastor alemão. Jason se levanta e entra na frente do caminho dos meninos.

-ei! O que estão fazendo?! – grita Jason

-sai da frente ou vai levar pedrada – diz o loiro mirando nele. Jason olha para o chão, tinham algumas tábuas de madeira com pregos, ele pega uma delas.

-ei – diz outro loiro recuando um pouco – não queremos confusão...

-por que estão perseguindo o cachorro? – pergunta Jason

-porque é divertido – diz o moreno mais baixo.

-divertido é o cacete, sumam daqui! – grita ele. Os meninos resolvem sair antes que Jason os obrigasse a isso. Ele olha para o cão – amiguinho, vem cá – ele bate no chão. O cão se aproxima lentamente. Jason passa a mão na cabeça dele – aqueles meninos maus não vão mais te incomodar... – diz ele, o cão lambe sua mão.

-o que foi isso? – pergunta Sam se aproximando meio irritada

-o que? – pergunta Jason, ainda passando a mão no cachorro.

-podia ter levado uma pedrada no meio da fuça! – diz ela – foi uma atitude mal pensada, fofa, mas muito mal pensada... – diz Sam

-e daí? – pergunta Jason sorrindo – eu to bem, e agora, o cachorrinho também!

-você é estranho... – diz Sam

-eu não gosto de ver cães nessas situações, sempre gostei muito de cachorros e só de ver alguns deitados na calçada já fico meio... Sei lá... Não gosto dessas injustiças...

-e parece que eles gostam de você também, bom, esse gostou... – Sam observa um pouco Jason passar a mão no cão – vai ficar com ele? – pergunta Sam

-gostaria, mas não sei se vou poder... – diz Jason – a Ketlin não gosta muito de cães...

-quem? – pergunta Sam

-minha madrasta... – diz Jason

-ah... Mas tenta convencer ela... – diz Sam

-vou tentar... – diz Jason

-mas tenta mesmo, ele é muito bonitinho... Bom, eu tenho que ir... – ela dá um abraço em Jason – a gente se vê segunda na escola, tchau...

-sim, tchau... – diz Jason e começa a caminhar

Chegando em casa, ele chama seu pai lá fora para conversar.

-o que foi? – pergunta Marcio saindo da casa.

-posso ter um cachorro? – pergunta Jason apontando para o filhote.

-dês de que você compre ração, cuide dele e ensine ele, tudo bem... Mas fale com a Ketlin antes... – diz Marcio

-pode chamar ela lá pra mim? – pede Jason

-claro – diz Marcio e volta para dentro, Ketlin sai uns dois minutos depois.

-o que você quer? – pergunta Ketlin

-posso ter um cachorro? – pergunta, apontando para o cão

-não – diz ela

-por favor, eu cuido dele, ensino, compro ração, dou banho, pago as vacinas...

-estranho... – diz Ketlin

-o que? – pergunta Jason

-“por favor”... – diz ela – com quem estava?

-Sam... Posso ou não?

-pode, dês de que cumpra o que disse e cuide dele mesmo – diz Ketlin – ah, e convide a Sam para vir aqui um dia desses, eu quero conhecê-la...

-ahnn... Tudo bem... – diz ele – e obrigado...

-de nada... – diz Ketlin e entra. Jason pega o cachorro no colo e leva para o quarto.

-não acredito que deixou o moleque ter um cão – Jason ouviu Tereza resmungando – ele não gosta nem de pessoas, vai gostar de animais, de certo...

“aff... Por que ela não vai logo pra casa dela? Animais são bem melhores que pessoas... Eles não guerreiam, eles não matam sem motivo...” – pensa Jason, estava deitado na cama acariciando a cabeça do seu novo amigo, que estava deitado ao seu lado.

-Jason? – Drew abre a porta lentamente.

-que? – pergunta ele sem olhar para o irmão.

-papai me disse que você ganhou um cachorro... Pastor alemão? Que legal... – ele se aproxima da cama.

-sim... – diz Jason

-qual o nome? – pergunta Drew

-não sei... Acho que Jake – disse Jason pensativo

-homenagem à alguém? – pergunta Drew

-mais ou menos, tem um desenho que tem um cachorro chamado Jake... E é um nome legal... – diz Jason

-hora de aventura? – pergunta Drew, Jason assente com a cabeça – ah, o papai mandou avisar que amanhã o tio Joey vem aqui – lembra Drew observando Cliff que já dormia.

-tio Joey? Geralmente só o vejo no fim de ano e meu ou seu aniversário... – diz Jason

-pensei a mesma coisa quando me falaram... – diz Drew – mas ele é legal...

Joey é o único tio que Jason e Drew tinham por parte de mãe, tinham mais um, Kevin, mas ele morreu em um acidente de carro quando eles eram bem pequenos... Se fosse parar para pensar, na verdade, Joey era o único tio que tinha algum respeito de Jason, quer dizer, Jason não xingava nenhum dos tios, mas os outros ele desprezava mentalmente... Talvez gostasse de Joey por que foi ele quem lhe apresentou o rock, talvez por ele ter pagado suas aulas de guitarra quando seus pais estavam sem dinheiro, talvez por ele ser um cara foda que sobreviveu a uma queda de avião e continuou a viajar, talvez por ele ser rico e poder viajar pelo mundo todo, talvez por lhe dar sempre os melhores presentes, talvez por ser, junto com Drew, a pessoa que mais lhe aproxima da mãe, talvez todas essas coisas juntas... Jason não sabia exatamente o porquê, mas Joey tinha seu respeito e era difícil isso mudar.

-ele estava na China – diz Drew fazendo Jason fugir de seus pensamentos

-ahnn? Ah, sim... Legal... – diz Jason