Eram 13h30min quando Marcio deixou Jason na frente do orfanato.

-comporte-se! – disse ele. Jason fica em silencio – entendeu?

-entendi, pai – diz ele e entra no orfanato. Marcio vai embora. Assim que entra uma mulher gordinha lhe chama.

-posso ajudar? – Jason se vira

-ah, sim, eu vim buscar a Sam para ir ver o irmão dela no hospital...

-ah, sim, a Samantha me avisou, você deve ser o Jason, certo?

-sim – responde ele. A mulher vai chamar Sam.

-Jason! – Sam o abraça – ahnn... Você quer ir agora ou quer esperar um pouco?

-pode ser agora, vamos andando? – pergunta Jason

-sim, não é tão longe – diz Sam. Eram quase dois quilômetros, mas Sam já estava acostumada a andar a pé e achava meio perto...

-tudo bem... – diz Jason

-tchau Taís! – diz Sam e vai saindo

-tchau! Não volte muito tarde! – grita a mulher

-pode deixar! – grita Sam já do lado de fora. Eles caminham um pouco em silencio – ah, o silencio é entediante – diz Sam

-já me acostumei com ele... – diz Jason

-então, como encontrou o Eric? – pergunta Sam

-não fui eu – diz Jason – o pessoal do hospital me pediu seus documentos quando levei você lá, então eu voltei para a sua casa e peguei sua identidade, certidão de nascimento, CPF, e mais umas coisas que achei numa caixa lá, a identidade do Eric tava junto e acabei levando-a também, poucos minutos depois que eu voltei, um homem chegou sendo carregado na maca, segundo os médicos, em estado grave, e como eu tava com a identidade dele o reconheci e fui falar com os médicos, falei que ele era seu irmão e tals... – explica ele

-e como você foi “descoberto”? – pergunta Sam

-uma das enfermeiras é amiga da minha madrasta e me reconheceu – diz ele

-e ligou para ela?

-isso... – diz Jason

-por que fez isso? – pergunta Sam

-fiz o que?

-você sabia que seria reconhecido se fosse ao hospital, sabia que seus pais o achariam e o mandariam para um colégio militar, mas mesmo assim, me levou lá, uma pessoa que você tinha conhecido não fazia dois dias...

-uma hora eu seria pego mesmo – Jason deu ombros – e você é... Diferente...

-como assim diferente?

-não sei, só é... – diz Jason – “realmente, eu ajo muito diferente com a Sam do que com os outros... Não consigo ser duro com ela. Eu só não sei por que... Será que estou mudando? Não, não sou menos severo com ninguém mais... Não é por pena dela, eu odeio esse sentimento, pena, tanto quando sentem de mim, quando eu sinto de alguém... É, parece que a Sam conseguiu de mim algo que as pessoas não conseguem há muito tempo, minha amizade...” – pensa Jason

-Jason! – grita Sam o tirando de seus pensamentos – você ta me ouvindo?

-ahnn? O que foi? Eu tava viajando... – diz Jason

-percebi – diz Sam rindo – eu perguntei se esse seu “diferente” – falou fazendo sinal de aspas com os dedos – é bom ou ruim...

-ahnn... É bom, eu acho... – diz Jason. Sam sorri.

-agora me conta uma coisa... Tem um garoto no orfanato que estuda com o seu irmão e quando eu perguntei pra ele se ele te conhecia ele disse que você era bem conhecido por ser um encrenqueiro, depois falei com uma garota da minha sala, ela me disse que você se meteu em duas brigas em dois dias de aula e que tinha boatos de que na verdade foram três, mas uma delas fora da escola... É verdade?

-sim... – diz Jason olhando para baixo – e esse boato também é verdade...

-sério?! – pergunta Sam surpresa – mas você é tão quieto...

-sim, não sou eu que começo as brigas, mas naquele colégio tem muita gente que se acha superior e tenta demonstrar isso tentando me bater... As vezes que briguei na escola foram para me defender, a fora da escola, para defender a mim e uma menina...

-sua namorada? – pergunta Sam. Jason balança a cabeça.

-uma conhecida... – diz Jason – o ex dela chegou querendo tirar satisfação, eu falei pra ele ficar frio e ele me atacou... – conta Jason

-você ganhou a luta? – pergunta Sam

-não... – confessa ele rindo de si mesmo. Sam ri.

-ta, mas o cara era do seu tamanho?

-É... Ele era só uns 40 centímetros mais alto e com uns 30 quilos a mais que eu – diz ele rindo. Sam também ri.

-e você não pensou antes de querer brigar com ele?

-Sam, eu não fujo das brigas – diz ele – você não tem noção de quantas vezes já apanhei e bati em alguns caras...

-e você briga bem? – pergunta Sam

-sei lá... Médio, eu acho...

-e as outras vezes? – pergunta Sam

-resumindo... Eu discuti com a Kim e ela chamou umas meninas do segundo ano para me bater, mas eu só desviava e elas que se batiam, só que no final só ficou eu e mais uma menina e não tinha ninguém pra bater nela, então eu acabei levando... Depois um garoto da 7ª ou 8ª série me desafiou, eu contra ele e dois amigos, eu só acertei um soco no moleque e ele caiu no chão sangrando, daí eu fui pra detenção e ganhei a fama por ter duas brigas num dia, “não respeitar os professores” o que é mentira, por que eu só respondo quando eles merecem, e não sei como eles descobriram do cara que eu bati fora da escola...

-Jason... – diz Sam e para de andar. Jason da mais dois passos, para e olha para ela com cara de “ahnn?” – você. É. Foda! – Sam falou, pausadamente. Jason sorri.

-cara, minha vida é uma loucura, sempre dá nessas coincidências malucas – diz Jason olhando para o outro lado da rua.

-o que foi?

-sabe a garota que eu disse que saí e daí o ex dela apareceu e tals?

-sim, o que foi? – pergunta Sam seguindo o olhar de Jason

-é ela – diz. Marcela o vê, sorri, acena e atravessa a rua para falar com ele.

-oi Jason! – diz ela sorrindo, depois olha para Sam – você é a garota nova, Sam né?

-isso – diz Sam – o Jason tava me falando de você agora mesmo...

-verdade? – ela esfrega a mão no braço de Jason sorrindo maliciosamente e mordendo o lábio inferior olhando para ele, que apenas observa-a – e o que ele disse?

-só sobre um encontro e seu ex-namorado – diz Sam, vendo a cara de “me tirem daqui” de Jason – mas da pra você soltar ele?! – diz Sam com “voz brava” e puxa Jason pelo braço, fazendo Marcela soltá-lo, Sam pega a mão dele.

-Jason, já arranjou uma namoradinha? – diz ela – bom, Saaam – falou com voz de nojo – cuida bem do seu deus grego que eu to de olho nele e, lindo desse jeito, eu não devo ser a única – ela vira as costas e volta a andar – tchau Jason... – depois que ela some de vista Sam solta a mão de Jason.

-valeu – diz ele

-deus grego? Porra... – diz Sam

-vai entender... – Jason dá ombros e eles voltam a andar, agora, em silêncio.