A Drink To That escrita por PandoraLc


Capítulo 2
Capítulo 2




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A drink to that

(capítulo II)

...

Alguns bons minutos seguiram no mais absoluto silêncio entre o grego e o francês.

Logo, avistaram uma praça vazia, e se dirigiram até lá. Camus bateu a mão em um dos balanços, removendo a fina camada de gelo do metal frio. Sentou-se então no assento, voltando o rosto ao loiro a sua frente.

Milo lhe endereçou um sorriso terno no momento em que teve a atenção do ruivo.

- Acabo de fazer as contas aqui, enquanto a gente caminhava... e foram oito anos sem contato. – disse com certo pesar, desviando os olhos azuis dos dele.

- Eu sei... – replicou em tom levemente sofrível, mas não deixou de encará-lo.

- Sabe Camus, eu estava revirando umas caixas velhas lá em casa, enquanto arrumava minhas malas pra vir pra cá, e por acaso achei uma foto nossa. – riu nostálgico, sentando-se ao lado do ruivo. – Estávamos descabelados, sujos... Eu não me lembro direito qual a ocasião, mas nós devíamos ter mais ou menos treze ou doze anos, na foto. – meneou o rosto, sorrindo.

- Imagino que foi tirada naquele dia em que a gente tentou construir o tal carrinho de rolimã. – comentou pensativo, tentando se recordar do momento da tal foto.

- Eu trouxe ela comigo, depois eu te mostro, está no meu quarto no hotel.

Camus voltou o rosto ao chão, movendo os pés suavemente pela relva molhada pelo sereno.

- O que foi? Camus, desculpa a minha inconveniência... eu sei que nós não nos vemos há muito tempo, mas estou notando que você não está nada bem. Pode parecer pretensão demais da minha parte, mas eu ainda consigo decifrar algumas das suas expressões. – disse com naturalidade, arriscando pousar uma das mãos no joelho esquerdo de Camus.

Camus estremeceu de leve com o toque, disfarçando a reação ao mover o balanço. Não sabia se Milo era alguém apropriado pra desabafar. Isso é, o que o Milo de agora sabia sobre si? Oito anos haviam se passado sem uma carta, um telefonema. Camus esperou pacientemente pelo contato do amigo, mas nenhuma notícia havia chego. Sem saber o novo telefone e endereço do grego, Camus precisou conformar-se com a indiferença do outro, enquanto rezava para que o mesmo estivesse ocupado demais para lhe enviar uma mensagem. E agora, depois de anos em silêncio, lá estava Milo, crescido, formado. O tratando como se fosse o amigo de sempre, como se nenhum dia houvesse se passado. Não podia ser simplesmente normal aquele tipo de atitude, todavia, vindo de Milo, podia-se esperar tudo.

- Milo, de fato não estou bem, e não acho que você seja alguém com quem eu vá me abrir. Nós não passamos de meros conhecidos, e eu não me sinto a vontade.

Milo sentiu algo comprimir em seu peito, após o francês responde-lo. Fingiu a reação forçando um meio sorriso. Ele era bom isso.

- Sabe Camus, eu ficava desolado quando te enviava cartas e você não me respondia. Imaginei que você tivesse ficado magoado comigo, já que eu fui bem frio na nossa despedida. – disse o loiro, um tanto contemplativo. Por estar com a fronte baixa, Milo não pode observar a reação de Camus em resposta ao que ele havia dito.

Camus estava pasmo.

- Cartas? Que cartas? – questionou surpreso. Desde que Milo havia voltado à Grécia, nenhuma mensagem havia chego, nem um telefonema sequer.

- As cartas que eu te mandei depois que cheguei em Atenas. – disse absorto, sem notar o tom diferente empregado por Camus.

- Eu não recebi nenhuma carta sua, Milo. Tem certeza que não se enganou de endereço?

- Certeza absoluta. Só se você se mudou de casa... – Milo ergueu a fronte, tentando encarar os olhos de Camus.

- Não, isso é... me mudei tem alguns meses. – disse o ruivo, um tanto incomodado com aquele assunto.

- Eu esperava suas respostas, ficava ansioso cada vez que o carteiro chegava, mas nunca tinha nada seu. Liguei algumas vezes, mas você nunca podia me atender... e então eu desencanei, pensei que você realmente estivesse ofendido comigo e larguei mão. Primeiro me magoei, mas depois peguei raiva de você. Uma raivinha boba, nada grave, coisa de adolescente. – Milo arqueou os lábios, abatido. Nunca havia entendido a indiferença de Camus consigo.

Camus, por sua vez, encontrava-se irrequieto com aquilo tudo.

Não havia cabimento para aquilo.

- Eu não faço ideia do que dizer, isso é... sempre esperei por algum contato seu, sempre busquei por você, mas nunca conseguia nada. Eu raramente saia de casa, então não procede eu não poder atender todas as suas ligações. – dizia inconformado, para o espanto de Milo.

E então o francês pôs-se a pensar, e constou que as mensagens e recados do grego foram cruelmente abolidos por seus próprios pais. Sempre se orgulharam de suas posições sociais, de seu casamento que era a mais pura fachada, além do sobrenome imponente que possuíam entre a soberba elite francesa. Não seria viável que o filho tivesse um amigo cujo casamento dos pais havia se dissolvido, ademais, Milo nunca fora um francês legítimo, para o injurio do esnobe casal. Faziam jus aquele tipo de atitude mesquinha, combinava perfeitamente com eles. Se haviam, praticamente, expulsado Camus de casa, assim que o mesmo havia decidido largar a faculdade de medicina para seguir a carreira de historiador, quem dirá eliminar cartas e ocultar telefonemas do amiguinho grego?

Camus lembrava-se de quando os havia informado sobre o abandono do curso de medicina, foi como arremessar uma bomba em meio à família. Os pais e os avós indignaram-se, com o que eles chamavam de falta de caráter de Camus, em desistir de seguir a carreira de medicina, assim como o pai, o avô e os tios haviam seguido.

Tornando-se a "ovelha negra" da família, o ruivo fora convidado a sair de casa, e há pouco mais de oito meses, havia comprado um apartamento no subúrbio francês e adotado um gato.

Passara oito anos acreditando que Milo fora um completo cafajeste por ter se esquecido da grande amizade que juntos haviam construído. O amigo sempre fora importante para si. Importante demais, por assim dizer. Desde os quinze anos, Camus nutria um sentimento que ia além da singela amizade por Milo, mas sempre o ocultou, já que ter um filho homossexual, para seus pais seria a morte definitiva. Sem contar que Milo não tinha nada que levasse Camus a acreditar que ele sentia atração por garotos, ao contrário. Amedrontado com a reação dos pais e a do próprio Milo, Camus preferiu guardar o sentimento, até que um dia pudesse expô-lo.

No entanto... oito anos haviam passado...

Oito anos de silêncio. Oito anos em que Camus havia se relacionado com alguns poucos homens e mulheres em busca de um sorriso, um olhar, um gesto similar ao de Milo. Havia se tornado obcecado, certa época, mas havia vencido a doença ao se dar conta de que aqueles não eram e jamais seriam Milo.

E agora a verdade fora-lhe arremessada na face, por ninguém mais, nem menos, que o próprio Milo.

Camus sentiu-se burro, por um momento. Deveria ter desconfiado do silêncio de Milo, deveria ter desconfiado de que cartas podiam estar sendo vetadas, já que os pais nunca pareceram aprovar sua amizade com o grego.

Com a cabeça baixa entre as mãos, o francês deixava todo o ar de seus pulmões verterem por seus lábios entreabertos, fazendo com que uma ligeira fumaça fosse expelida devido à temperatura que insistia em cair cada vez mais.

Não sabia se estava envergonhado ou inconformado. A verdade era que Camus não sabia o que fazer diante de tal descoberta.

E Milo permanecia ali, na mesmíssima posição. Temia tocar o ruivo mais uma vez e ser repelido, já que Camus não parecia estar passando por um bom momento. Também achou estranha a reação adotada por ele, mas não o questionou. Como o próprio Milo havia afirmado, ainda conhecia alguns gestos do amigo.

Alguns instantes de silêncio se passaram, até que Milo sentiu-se incomodado por não fazer nada. Sutilmente, guiou as mãos fortes aos ombros do francês, segurando-o firmemente.

- Eu sei que sou só um colega agora, mas, por favor, poderia me escutar por alguns instantes?

Camus assentiu, mantendo o rosto baixo. As mãos escorregaram de sua face, caindo inertes ao lado das pernas.

Milo molhou os lábios, enquanto observava as ações alheias, buscando palavras para ajuda-lo.

- Eu não sei ao certo o que você está passando, mas queria poder te ajudar. Quero reconquistar a sua amizade, se você permitir. Me desculpa? – pediu um tanto inseguro.

- Te desculpar? – questionou o francês, erguendo o rosto. Milo pode notar um leve lacrimejar nos olhos dele, mas preferiu não tecer nenhum comentário acerca disso. – Se tem alguém aqui que deve desculpas, esse alguém sou eu. – ele continuou, passando uma das mãos no rosto lívido.

- Por que, Camus? O que foi que aconteceu? – questionou o loiro, começando a se incomodar com aquilo tudo. O que havia feito de errado?

- Eu quero conversar contigo, mas não nessa praça, sentindo o vento congelar os nossos ossos. – disse, passando a fitar os olhos grandes e azuis de Milo. – Vamos até o meu apartamento.

Levantou-se após convidá-lo, levando as mãos aos próprios braços, movendo-as com rapidez sobre o tecido grosso do casaco a fim de esquentar-se. Repentinamente, sentiu um dos braços de Milo passar sobre seus ombros, o puxando pra mais perto.

- Vamos, também acho que precisamos conversar. – replicou, com um sorriso iluminador em seus lábios.

...

continua


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