A Drink To That escrita por PandoraLc


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314155/chapter/1

A drink to that

...

A previsão do tempo nunca fora tão precisa como a daquela noite. Exatos -2 graus afastavam a população francesa das calçadas e galerias, amontoando-a em lojas, bares e restaurantes. No entanto, o contraste entre o movimento diurno e noturno daquele dia em especial, fora notório. Era noite de véspera de Natal, o feriado capitalista mais importante para o comércio mundial. As pessoas que povoaram as ruas durante o dia, agora se recolhiam em suas casas, aguardando a meia noite para devorar a ceia, trocar presentes, e quem sabe... rezar.

Todavia, nem todos possuíam uma casa para visitar com uma família, comida e presentes a espera. E a esses uns, cabia somente o recolhimento em um ambiente público, apinhado de cidadãos na mesmíssima situação. Dependendo do local - e se servisse de consolo, para os mais inconformados - haveria uma arvorezinha barata e chula disposta com alguns pisca-piscas queimados em algum canto do boteco. O subúrbio parisiense possuía alguns desses bares que abriam durante a noite da véspera natalina, a fim de acolher os menos favorecidos.

O sino acobreado, disposto acima da porta principal, havia soado, indicando que mais um infeliz havia se juntado a meia dúzia que jazia no interior do botequim. Tratava-se, desta vez, de um jovem. Diferente dos demais, que aparentavam ter no mínimo trinta e poucos anos, o recém-chegado devia estar na casa dos vinte. Possuía longos cabelos ruivos, em um tom vermelho vinho bastante diferente dos que vemos normalmente pelas ruas, e seus olhos possuíam um tom castanho avermelhado bastante exótico.

"Deve ser um turista" – comentou uma velha senhora com o garçom que a servia de mais uma dose de vinho tinto. Era comum ver jovens turistas solitários na véspera do Natal, já que normalmente vinham sozinhos para a França atrás de estudo ou emprego. Porém, o jovem ruivo não parecia ser um turista. Sua pronúncia francesa fora impecável, assim que o mesmo apanhou o menu e fez seu pedido.

Bebericou do licor de avelã sem muito entusiasmo, enquanto passava os olhos pelo pedaço de papel que segurava entre os dedos finos. Foi quando uma mão pousou em seu ombro, apertando-o ligeiramente. Com a atenção ganha, um rapaz dono de longos cachos louros – devidamente presos em um rabo baixo – pôs-se a falar.

- Hey, por acaso você se chama Camus? – questionou, e pelo seu sotaque carregadíssimo, o ruivo constou de imediato que o rapaz não era francês. O curioso foi que ele parecia já tê-lo visto em algum lugar.

- Sim, me chamo Camus, e você é o...? – replicou, sem tirar os olhos penetrantes e encarnados do rosto do rapaz.

De onde se conheciam mesmo?

- Ah, o meu nome é Milo! Não tá me reconhecendo não? A gente estudou juntos quando éramos crianças! Sempre fazíamos os trabalhos juntos, até que eu voltei pra Grécia, depois da separação dos meus pais, e a gente perdeu o contato. – disse o loiro, numa animação contagiante. – Eu posso me sentar com você?

Camus levou cerca de meio minuto para poder respondê-lo. A expressão analítica que lhe era peculiar fora substituída pelo assombro, assim que pensamentos nostálgicos povoaram sua mente.

- Claro, sente-se. – respondeu Camus, e pelo seu tom, Milo pode constar que o ruivo estava realmente surpreso em vê-lo, pra não dizer atordoado.

Feliz, o loiro sentou-se defronte ao francês, sorrindo aquele sorriso que somente ele sabia esboçar.

Milo Alexis, filho de mãe grega e pai francês. Natural de Atenas, veio para a França quando tinha cerca de dez anos. Matriculou-se na mesma escola de Camus, e ambos estudaram juntos até meados do colegial. Era basicamente isso.

Mas o básico não explicava por si só a reação de Camus ao vê-lo. Era preciso saber dos detalhes. Detalhes, os quais o francês fizera questão de manter fechados a sete chaves ao longo dos anos.

- Camus... tá tudo bem? – questionou Milo, assim que se sentou a mesa. Notou que o francês parecia avoado.

- Oui, estou bem, só estava... pensando. – replicou sincero.

- Pensei que estivesse mesmo. – respondeu com um sorriso – Mas me diz, por que está passando a véspera do Natal aqui nesse bar?

- Porque eu quis. – Camus sempre fora direto em suas respostas. Por vezes curto e grosso.

- E por que não quis ficar com seus pais e parentes? – tornou a questionar, ignorando a forma fria com que o outro lhe havia respondido.

- Porque minha família não costuma comemorar o Natal, Milo.

- Até ai tudo bem, agora, por que justo hoje você veio se enfiar em um boteco como esse? Isso é, você poderia estar em casa dormindo, ou lendo algum daqueles livros que você costumava ler, o tal do Nie...Nit[...]

- Nietzsche?

- Esse ai mesmo! Ô nome complicado, putz! – riu, levando a mão a nuca, num gesto tão típico, mas tão típico, que levou o próprio Camus a dar um meio sorriso nostálgico. Nem parecia que Milo estava ali junto de si novamente.

- Na verdade, meus pais estão viajando com o resto da minha família, e eu preferi ficar por aqui. Não gosto de viajar de navio. E você, o que te traz de volta a França?

- Bem, eu vim aqui ver se meu pai arruma um trampo pra mim. Me formei em direito esse ano. – disse orgulhoso, e Camus sentiu uma pontada de dor em seu cerne.

- Parabéns... – voltou ao seu usual tom frio, abaixando os olhos.

- Obrigado. E você, Camus? Virou cientista maluco? – questionou faceto, recordando-se da pretensão do ruivo quando criança.

- Non, eu virei pesquisador e estou me esforçando pra virar professor titular da Universidade parisiense na minha área, coisa que um "advogado" não entenderia, afinal, vocês que ganham a vida extorquindo as pessoas, não conhecem trabalho árduo e contínuo. – disse ríspido, entornando o restante do licor de uma vez só.

Milo ficou atônito. Não entendeu o que havia feito de errado para estar sendo tratado daquela forma. Ele e Camus sempre foram feito irmãos, quando garotos. Por que esse tipo de tratamento agora? O que tinha feio de errado afinal?

- Camus, aconteceu alguma coisa? Eu te fiz alguma coisa de ruim? – questionou o loiro, empregando um tom cuidadoso e baixo.

Camus meneou o rosto, apertando com força o papel que segurava entre as mãos.

- Não foi nada, Milo. Olha, me desculpa, está bem? – disse mais calmo, tornando a erguer os olhos, encontrando os do amigo de infância – Por que está aqui na véspera do Natal? Cadê seu pai? – disfarçou, lançando a questão a fim de tirar o foco de si. Não podia tratar Milo daquela forma por ter simplesmente seguido sua vida.

- Meu pai tem uma nova família agora, e parece não querer dividi-la com ninguém, nem mesmo comigo, que sou filho do primeiro casamento dele. – disse, arqueando os lábios em um sorriso tristonho. – Você não me parece nada bem, Camus.

- Eu acho que o clima desse bar não está me fazendo muito bem. – disse incomodado, levantando-se da mesa. – Vou pagar a conta e ir embora. A gente se vê por ai, Milo... – despediu-se com um aceno seco, sem sequer lhe dirigir os olhos.

No entanto, Milo levantou-se de prontidão, disposto a acompanhar o ruivo aonde quer que ele fosse.

- Vou junto com você, Camus.- disse o grego, passando a caminhar junto ao ruivo em meio as ruelas gélidas.

- Por que veio atrás de mim? Não sou uma boa companhia pra véspera de Natal, Milo.

- É a companhia perfeita pra mim.

...

continua



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Drink To That" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.