Viagem Ao Centro De Clara escrita por Chona


Capítulo 7
Capítulo 7: Mudando os planos.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei a postar de novo, mas voltei. Enfim, agora a história começa de verdade. Vamos conhecer quem é Clara bem no seu centro. hahaha.
Boa leitura.



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Eu já estava á umas duas horas e quarenta e cinco minutos na estrada quando aconteceu. Um carro igual ao meu estava parado no encostamento da rua. E a placa era nada mais nada menos que KJL-5278. O capô estava levantado e saia uma fumaça branca de lá. Fui diminuindo a velocidade até que estacionei em frente ao carro. Saí e parei ao lado do homem que estava com a cara enfiada na fumaça.

– Veja se não é o carinha do carro igual ao meu. – disse assim que cheguei perto. Olhei pro dele que continuava soltando a fumaça. – Bom talvez nem tão igual assim né?! Afinal o meu funciona. – dei o sorriso mais irônico que pude. Ele levantou o rosto e... ual! Só... ual!

Por que diabos eu não reparei o quão bonito esse cara é antes? Acho que eu estou ficando míope, porque caralho! Ele parecia que tinha saído daqueles comerciais de TV. Ele era alto e musculoso, mas não do tipo brutamontes era do tamanho ideal – pra que eu não sei. Mentira, eu sei exatamente pra que. – Seu rosto era meio... quadrangular arredondado, se é que existe algo assim, tinha os traços da face bem marcados. O nariz fino e comprido, e parecia torto em cima do ossinho, olhando daqui. Os olhos eram de um lindo tom esverdeado e a boca era delicada, mas não de um jeito feminino. Tinha uma cor avermelhada como se ele ficasse o tempo todo mordendo os lábios. Ou ele tinha passado batom né, vai saber. O cabelo era preto e liso, com o comprimento razoavelmente grande comparado ao que é padrão. A cor do cabelo entrava em contraste com o tom da sua pele, que era tão branco que me perguntei se ele realmente tinha passado algum tempo no Brasil. Não sei se era por causa do suor que fazia com que alguns fios do cabelo grudassem em sua testa ou se era pela blusa azul aberta mostrando a sua – permita-me dizer – espetacular barriga, que somado ao restante do pacote, eu vergonhosamente admito ter secado ele.

O filho da mãe tinha um sorriso sacana porque sabia que eu estava secando-o.

- Passei?

- Em que? – eu me surpreendi por minha voz ter saído tão indiferente.

- Em sua inspeção. - sorriu novamente.

- Não sei do que você está falando. – virei o rosto olhando pra estrada. Nenhum carro tinha passado até agora. – Sabe o que aconteceu com o carro? – parei ao seu lado olhando aonde vinha a fumaça. Pude sentir seus olhos em mim. Falar de carro era o meu modo de mudar de assunto. – Você ouviu o que eu perguntei?

- Eu não entendo muito de carros além do convencional. E não acredito que você entenda. – sorri pra ele debochadamente.

- Tem ao menos uma maleta de ferramentas no carro? Ou isso é além do convencional?  - ele rolou os olhos e foi até o porta-malas, voltando com uma caixa azul na mão.

- Está ai. – Colocou a maleta em cima do motor, bem ao meu lado. – Você sabe mexer nisso?

 Não respondi. Chequei tudo e vi que o problema estava no motor. Procurei a ferramenta na maleta e comecei a mexer. Não sei o porquê comecei a ajudar, mas não tinha nada pra fazer mesmo. E juro que não tem nada a ver com o fato dele ser lindo nível master.

- Você sabe o que está fazendo? – ele perguntou enfiando a cara no lugar onde eu mexia.

- Eu fiz curso de mecânica. E fui a melhor aluna da turma. – disse estufando o peito – ou o que eu considerava peito – e com a voz cheia de orgulho.

- Bom que sorte a minha né. – ele disse, mais pra si mesmo, mas acabei ouvindo. Rolei os olhos. Continuei mexendo e vi que não teria jeito.

- Cara, você ferrou com seu carro. Provavelmente deve ter ficado igual a um idiota forçando o motor que já estava fervendo e agora vai precisar trocar. Não tem nada que eu possa fazer. Ele não vai funcionar sem que você troque essa peça aqui. – apontei pra peça.

Coloquei a ferramenta de volta na caixa e encostei-me no carro.

- E agora? Eu faço o que com ele? – encolhi os ombros. – Droga! – ele chutou uma pedrinha que estava no chão e foi andando pro meio da rua. – É algum tipo de intervenção divina? – falou olhando pro céu. – Vocês querem que eu continue ferrado, é isso? Seus merdas!

- Você espera que alguém responda? – ele voltou os olhos com indignação pra mim. – Porque do jeito que você fala acho que vão te deixar falando sozinho. – disse irônica. -

- Olha, agradeço pela ajuda, mas não preciso de você mais.

- Jura? – levantei uma sobrancelha. – E como pretende sair daqui então?  - ele pensou.

- Eu não posso deixar meu carro por aqui assim. Sozinho. Vão roubar ele. – ele parecia triste. Também não era pra menos. Depois que meu carro foi para o conserto, após o acidente, eu fiquei bem triste.

- Sinto muito então. – Caminhei de volta até meu carro e estava quase entrando, parando pra gritar, ainda de costas. – Boa sorte.

Quando já estava engatando a marcha pra dar partida, a porta de trás de abriu.  Ele jogou uma mochila e uma mala no banco, e depois de fechar uma porta e abrir a outra, se sentou no banco ao meu lado. Sem dizer nada dei partida no carro.  

Como já estava começando a escurecer liguei os faróis, e aproveitei pra ligar o rádio. Selecionei a pasta do mp3 e deixei a música se espalhar pelo interior do carro, até então silencioso. Eu não sabia pra onde ele estava indo, pra falar a verdade nem pra onde eu estava indo, mas ele não parecia se importar com qualquer lugar então segui a estrada.

- Pra onde você está indo? – perguntou depois de uns quinze minutos. Olhei de relance pra ele, e o vi com o cenho franzido. –

- Agora eu estou indo pra Jundiaí. – disse dando seta pra entrar na direção que uma placa indicava ser caminho para tal cidade. – Depois vou seguir pra São Paulo, e depois não sei. – falei sincera.

- E isso é uma viagem de que? De estudos, trabalho, mudanças..?

- Pode ser considerado de mudanças. – não me aprofundei no assunto. – E a tua?

- Eu estou fugindo. – arregalei os olhos.

- Ah, por Deus. Você não é nenhum criminoso não, é? Porque se você for eu estou muito encrencada agora, e tudo que eu não quero é encrenca. – suspirei. – De verdade, se você roubou, ou até mesmo matou alguém, eu não ligo, só desce do carro.  Eu não me importo mesmo, eu já até roubei um pacote de biscoito no supermercado uma vez.

- Eu não sou nenhum bandido não. – ele disse com um sorriso leve. Passou a mão nos cabelos que caiam em seu olho. – E por que roubou um biscoito? Você não parece ser tão pobre a ponto de fazer isso.

- Foi uma fase em que eu estava um pouco revoltada com a vida, mas que não vem ao caso. – desconversei. – Você não é criminoso, mas está fugindo. De quê?

- De quem é a pergunta certa. – ele olhou pra paisagem que passava na janela como se fosse um show de strip tease da Megan Fox.

- Não precisa responder se não quiser, a não ser que seja da polícia. Aí você responde. – ele riu e balançou a cabeça negativamente.

- Eu realmente não sou nenhum criminoso, na verdade quem tem alguma passagem na polícia aqui é você. – rolei os olhos pela implicação, mas não disse nada. Eu estava curiosa pra saber de quem ele estava fugindo. – Tente adivinhar de quem eu estou fugindo. – divertimento estava fortemente presente em sua voz.

- É pouco provável que eu acerte isso. É mais fácil você dizer.

- Mas não é divertido.

- Não é pra ser divertido, é pra me responder. - disse rude.

- Ah qual é! Só chuta. Eu sei que você tem uma boa imaginação. – suspirei exageradamente, ele riu baixo.

- Você fugiu da polícia porque anda vendendo órgãos de meninas inocentes no mercado negro asiático. – ele levantou a sobrancelha. – Essa foi sua última chance de assumir qualquer crime. - pensei um pouco e a resposta veio óbvia na minha cabeça. – Já sei! Você está fugindo de uma noiva, que você abandonou no altar e que deve está nesse exato momento chorando rios de lágrimas porque foi deixada no altar humilhada na frente de todos. E você só fez isso porque percebeu que ela era uma vadia de marca maior. – parei pra respirar. Nossa, eu tenho uma mente estranha.

- Meu Deus! Você pensou nisso tudo agora? – ele riu. – Caramba. Na verdade eu estou fugindo do meu tio. Ele é um coroa que não tem o que fazer com o trabalho nem com o dinheiro que tem e quer jogar tudo pra cima de mim. Bom ele já jogou, e eu fugi. Covarde eu sei, ele estava me perseguindo á uns cinco meses! Eu não sabia mais o que fazer, então comecei a ignorar, mas quando eu fui pegar um dinheiro no banco e vi meu novo saldo fiquei meio neurótico.

- Qual o seu problema? O negócio dele é por acaso algo ilegal? Ele tá te dando dinheiro atoa!

- Não. Eu não tenho nenhum tipo de envolvimento com o crime, ta bem?

- Então por que droga você não aceitou? Eu aposto que tua conta bancária tem boas vírgulas.

- Tem, mas isso não é legal. Eu quero ter as minhas coisas. Quero conquistar cada uma delas, e não simplesmente tê-las de mão beijada por um tio caduca.

- Entendi. – limpei a garganta e prestei atenção na estrada. Além de bonito ainda era independente. Isso foi um pensamento aleatório, é claro.

- Você é de Franca mesmo? – ele puxou assunto, já que eu sou uma negação pra isso.

- Nascida e criada. – comecei a ri feito uma retardada. Ele me olhava estranho, mas tinha um sorriso fraco no rosto. – Eu sempre quis responder isso. – ri mais um pouquinho. – Ai ai. – segurei pra não começar a rir de novo. - E você é de lá? Eu acho que não.

- Por que não?

- Você é muito branco. Não pode um brasileiro ser tão branco, a não ser que seja uma doença. Ai meu Deus, você é doente? Eu não devia ter falado nada assim né? Desculpa, eu falo mais que a boca algumas raras vezes.

- Tá tudo bem. Eu não tenho doença nenhuma não. E eu realmente não sou daqui. Eu nasci em Porto, uma cidade de Portugal. Vim pra cá com os meus 19 anos. E trabalhei no sotaque.

- E você tem quantos anos agora?

- 23, faço 24 daqui a trinta dias, não que eu esteja contando, porque isso seria meio gay.

- Qual o problema com gays?

- An..nenhum. Me desculpa, se você é, eu não..

- Não! Eu não sou gay não. – ri fraco pra ele. – Só acho ridículo o preconceito.

 Ele acenou e eu continuei focada na estrada, o assunto morrendo de novo.

- Você vai querer que eu te deixe aonde? – perguntei quando faltava uns trinta minutos pra chegarmos ao nosso destino.

- Ér... bom não sei. – ele suspirou e passou a mão fortemente pelos cabelos. – Na verdade, eu queria saber se eu não posso passar uns dias da viagem com você..? Eu não tenho lugar pra ir, nem nada e você também não. Por que a gente não vai pra lugar nenhum juntos?

- Isso foi uma cantada? – eu ri.

- Não. – rolou os olhos. –

- Olha não esta nos meus planos ter companhia, isso era pra ser uma viagem de recomeço pra mim. – pensei durante um tempo. Ele parecia ter entendido que eu iria negar a ele o pedido. – Mas acho que vai ser legal ter um colega de viagem.

- Vai ser o máximo! – ele parecia um menino que tinha acabado de ganhar um jogo novo. Os olhos dele até brilhavam.

- Chegamos. – a placa de “ Seja bem-vindo á Jundiaí” apareceu no canto da estrada alguns minutos depois.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. E esse foi a última coisa que escrevi, tenho que escrever os próximos capítulos.
Comentem..até mais!