Viagem Ao Centro De Clara escrita por Chona


Capítulo 4
Capítulo 4: Caverna do veneno


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, digo esse capítulo é meio sombrio haha bom não por completo só.. em algumas partes.
Eu queria pedir desculpas pela demora mas é que eu estava sem inspiração, e foi bom eu ter esperado ao invés de escrever qualquer coisa.
Escrevi até um "texto" da Clara kkkkk ( que já digo que pra alguns não vai ter sentido mas, pra ela faz)
Aproveitem... Au revoir!



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   Os meses que se seguirem desde o acidente foram os piores meses da minha vida. Sem sombra de dúvida não existiria tempos piores que esses. Em casa o inferno era feito por minha mãe. A única coisa que ela era capaz de fazer além de me ignorar,era ficar jogando na minha cara o tempo todo, bom pelo menos o pedaço de tempo em que passava comigo, que eu era uma assassina, uma menina sem coração, barrigada perdida, até de vadia ela me chama. Na vizinhança todos me olham torto. Na escola me tratam pior do que seu tivesse algum tipo de doença altamente contagiosa e mortal.  Até os professores me evitam. Meus “amigos” fingem que não me vê. É frustrante. A parte boa é que eu tenho meu pai e.. bom só ele mesmo. O único que ficou do meu lado e viu que eu não precisava de alguém me punindo, nem me tratando mal, porque eu já fazia isso.

   Não me entendam mal, eu sei que eu o matei. Eu sei que eu sou a culpada. E isso não melhora em nada, mas eu me arrependo e sinto muito. Oh droga, eu sinto pra caralho. Não tem uma noite sequer que eu me sinto culpada.

   A culpa só não é maior que a saudade que tenho do Caio. Nós nunca namoramos nem algo do tipo, só umas ficadas e tal, mas ele sempre foi tão...ele. Eu lembro do dia em que nos conhecemos, a empatia foi tão forte, que quem nos observasse de fora acharia que éramos amigos à séculos.  Ele sempre foi tão engraçado, sempre fazendo uma piada ou tirando sarro de alguma coisa ou alguém.

   - Ah conta logo Caio! Para de ficar dando voltas merda! – eu disse sentada na carteira dele.  Ele estava em pé na minha frente, a sala estava vazia, era intervalo. O filho da puta me tirou do intervalo pra contar alguma coisa e fica enrolando.

    - É que é importante pra mim. -  ele disse meio cabisbaixo.

     - Então fala de uma vez. – “isso é tu..isso é tu.tu.tu”. Ele chegou mais perto de mim, e colocou as duas mãos no meu ombro.

     - Sabe, eu sempre achei que nós fossemos só amigos, mas eu tenho que admitir que já faz um tempo que eu queria te contar isso. Eu..sou apaixonado por você Clara. Eu sempre fui, até mesmo antes da gente começar a conversar. – eu sorri internamente. Coitadinho se ele acha que eu vou cair nessa. – Só que eu sempre tive medo de te contar isso e perder nossa amizade.

     - Sério? – entrei na brincadeira. Sorri pra ele. – Ah você realmente acha que me engana com esse papinho furado Caio? Vá tomar banho moleque!

     - Você acha que eu estou brincando?

     - Acho. Acho não, tenho certeza.

      - Clara... – ele abaixou a cabeça e chegou mais perto de mim. Quando seus olhos me encararam novamente, estavam mareados. – Eu não estou brincando tampinha. Eu estou apaixonado por você. – ele me encarou por segundos a fio, e eu juro que por um segundo, um segundinho eu quase acreditei. Mas ainda bem que não me manifestei porque segundos depois os amigos de Caio entraram fazendo baderna.

    - Ae hein Caio! Conseguiu cara! Olha a carinha dela! Mano, você merece os 15 engradados de cerveja.

     Talvez se fosse outra menina ficaria chateada, mas era só o Caio fazendo as apostas dele pra ganhar bebida de graça.  Na época eu pensava que ele só iria parar quando os amigos idiotas dele fizessem uma aposta, estilo aquela de filmes americanos. Em que o cara aposta que consegue transar com uma menina e depois se apaixona. É escroto, mas eu tinha quase certeza que isso iria acontecer. Bom, talvez até tivesse acontecido se eu não o tivesse matado.

    - Filha para de chorar. Você vai murchar assim. – mais uma vez eu tinha sido tomava pela saudade e não conseguia parar de chorar. Isso já fazia duas horas. – Já se passaram 8 meses.

    -  Isso deveria significar alguma coisa?

    - Recomeço. Isso que deve significar. Você não pode ficar assim pra sempre. Precisa reagir.

    - Você não entende!! – eu aumentei o volume da voz mas não conseguia me controlar. – Você não matou alguém! Eu matei! Eu sou a monstra que a mamãe diz! Eu sou uma assassina. Você não! Você não sabe o que é deitar a noite e colocar a cabeça no travesseiro e pensar que você interrompeu a vida de alguém. Você não sabe o que é ver todos, até mesmo sua mãe, virar a cara pra você.

    - Todo mundo erra filha. Você errou, pronto.  Isso só prova que você é humana. E é uma questão de perdão.. – interrompi.

     -E você acha que eu mereço perdão? Eu sou a pior pessoa do universo. Deveria existir pena de morte aqui no Brasil. Eu pediria, eu pediria pra me matarem. Pelo menos assim isso tudo ia embora.

      - Nunca mais repita uma porcaria dessas, ouviu bem Clara? – ele estava com um semblante preocupado, mas definitivamente não me importo com isso agora. – Filha, olha pra mim. – assim que o fiz ele se sentou na cama ao meu lado. – Você errou, sim errou, mas isso não pode te atrapalhar a viver o resto da sua vida? Você não pode ficar se culpando desse jeito, não vai te fazer bem, muito pelo contrário, só vai te fazer piorar. Todas as pessoas que te olham torto é porque não esqueceram ainda, e você parece que faz questão de lembra-las a todo instante. Toda vez que você abaixa a cabeça pra algum comentário ofensivo, ou fica isolada de todo mundo, tudo isso só reforça o que esses cretinos pensam.

     - Acha que a mamãe é uma cretina também?

     - Nesse momento ela é a maior cretina de todas. Mas ela também se sente mal, filha. Você sabe muito bem como sua mãe preza a imagem,  e ter uma filha envolvida em algum acidente de carro não é algo que ela vá se vangloriar. Isso não justifica o que ela faz com você, mas é só você ignorar.

     - Como você acha que eu vo ignorar  minha mãe me chamando de vadia e barrigada perdida? Acha que é fácil?

   - Claro que eu não acho fácil Clara. Que pergunta idiota. Mas você precisa aprender a passar por cima dessas coisas. Você liga muito para o que as pessoas estão dizendo ou fazendo. Manda elas se ferrarem. Pra merda todos eles. Pense em você, se conheça, se sinta bem consigo mesmo. E o mais importante de todos:  se perdoe. Depois que você se perdoar, vai ver como as coisas vão melhorar.

    Essa conversa com o meu pai me deu muito o que pensar. Eu pensei na atitude da minha mãe, dos meus amigos, minha. Mas a que eu mais me importava era com a do Caio. Eu sei que ele está morto mas eu me sinto tão mal. Tão mal. É uma dor dilacerante, eu achei que morreria antes de sentir algo tão forte. Como as pessoas sobrevivem com uma dor dessa dentro de si? Não sobrevivem. Deve ser por isso que as pessoas se matam. Uma dor tão forte e permanente que você não vê outra alternativa se não a morte.

   Eu não vou me matar. Já tenho que lidar com o assassinato de uma pessoa, duas não acho que me deixaria melhor. Apesar de que eu já estaria morta, mas em todo caso, vou ter que aprender a  conviver com a dor.

    Peguei meu caderno e uma caneta e me pus a escrever.

                                            Caverna do veneno

  As gotas de chuva escorrendo no vidro da janela me entristece. Uma gota passou por tanta coisa, desde sua formação até tua transformação, sua viagem e sua duração, pra simplesmente depois disso tudo morrer na janela de um quarto escuro.

Eu me sinto como uma morta abandonada em um cemitério gélido e deserto.  Só que esse é o menor dos meus problemas.  Eu sou o meu problema. O meu problema sou eu. Como me ajudarei a curar a mim mesma?

Sem pensar no frio que consome meus dias. Eu sempre gostei tanto do frio. Frio,cobertor quente e eu. Mas agora eu não me tenho mais. Eu não tenho mais controle sobre mim. Porque eu não sou mais aquilo que eu era. Agora sou o que eu não sou.

Só espero pelo amanhã, pra me mostrar o que serei.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.. comentem e divulguem :DD até logo!