Faz 6 meses desde o dia em que cheguei em Los Angeles. As aulas na faculdade já começaram há um tempo, e como eu previa, não estou gostando nada delas. Meu apartamento era pequeno, porém bem confortável. Estava tudo em perfeito estado, a não ser pela porta do único quarto, que rangia toda vez em que era aberta ou fechada.

 Bem, a maioria das pessoas na faculdade eram metidas, então meus únicos amigos eram a sra. Skeeter, uma velhinha costureira que morava no andar de cima, Emily, que estudava teatro na UCLA, e era minha vizinha de porta, Sam, namorado da Emily, e Alex, melhor amigo do Sam.

 Saíamos sempre juntos (tirando a sra. Skeeter, claro). O Sam morava em Los Angeles há 5 anos, conhecia a cidade inteira, e consequentemente os melhores lugares para sair.

 Em mais um desses fins de semana em que eu deveria estar estudando, Sam me ligou:

 – E aí Kaya, estudando muito? – Ele vivia me zoando por ser caloura na faculdade, e ele estar no último ano.

 – Hahaha – ri falsamente. – Algum lugar pra gente sair?

 – Pô cara, semana passada descobri um bar em Beverly Hills, a Emily e o Alex vão. Topa?

 – Claro, que horas?

 – 8 horas na casa da Emily, ok?

 – ok.

 Desliguei o telefone e olhei as horas pelo relógio da cozinha. Eram 5:30, tinha algum tempo para terminar os deveres.

 7:00 larguei os cadernos e fui me arrumar. Tomei banho, pus minha calça jeans rasgada, blusa larga preta, e coturnos. Sequei meu cabelo, deixando-o solto. Escovei os dentes, me olhei no espelho, peguei meu iphone e saí.

 Eu e Emily ficamos esperando um pouco Sam e Alex chegarem. Ela, como sempre, estava linda. Usava um vestido azul, salto alto, e seus cabelos ruivos soltos. Antes deles chegarem, Emily disse:

 – Você notou que o Alex tem olhado muito pra você ultimamente? To achando meio estranho...

 – Sério? Nunca reparei nisso – eu disse, agora rindo. Nunca pensei em ter nada com o Alex além de amizade.

 – Talvez ele queira ter algo com você hein – Emily me encarou com um olhar perverso, e ao mesmo tempo divertido.

 – Ah, nem rola.- Eu disse, desviando o olhar.

 – Mas porq...

 3 batidas na porta. Estava salva.

 – Desculpem o atraso meninas, o trânsito estava horrível. – Disse Sam, entrando e dando um beijo rápido em Emily. Nos cumprimentamos com beijos no rosto, o mesmo aconteceu com Alex. Percebi que ele realmente estava me olhando mais, e sempre que isso acontecia, desviava o olhar. Não queria magoá-lo, muito menos iludi-lo.

 Depois de pegarmos um engarrafamento monstruoso, finalmente chegamos no bar. Emily e Sam foram dançar, enquanto eu e Alex ficamos na mesa nos encarando.

 – Ah, c-como vão as aulas na faculdade? – disse ele, corando.

 – Entediantes, como sempre.

 – A-acho que depois de um t-tempo melhoram.

 – Acho que não. – Nós dois rimos. Ele inclinou a cabeça na minha direção, nos deixando bem próximos um do outro.

 – Acho que vou beber alguma coisa. – Eu disse, me afastando para ir em direção a bancada com as bebidas.

 – Eu vou junto. – ele se levantou rapidamente.

 – Não, fica aí. - E, tentando não parecer muito grossa, me retirei da mesa e fui para a bancada.

 Pedi uma dose de whisky, duas, três, quatro, cinco. Já deviam ter passado uma hora desde que deixei a mesa, mas eu não me importava. Não ia voltar pra lá, não mesmo. Seis, sete, oito...

 De repente, percebi que alguém me encarava. “Que não seja algum deles, que não seja o Alex”, eu pensava. Mas depois de alguns minutos tentando focalizar minha visão turva no indivíduo, percebi que não era nenhum deles. Era um homem, tinha a impressão de já tê-lo visto em algum lugar. “Deve ser efeito da bebida Kaya, você não conhece ninguém aqui”, pensava, enquanto sustentava o olhar do desconhecido. Ele arqueou a sobrancelha direita. Sorri. Ele vinha vindo na minha direção. Desviei o olhar para pedir outra dose de whisky para o garçom. Ele se sentou do meu lado na bancada, pediu uma dose de tequila, e finalmente falou:

 – Você não acha que é um pouco nova demais pra ficar se embebedando por aí?

 – E você não acha que deveria cuidar da sua vida?

 Ele riu. Agora que estava mais perto, percebia que tinha várias tatuagens, olhos verdes, cabelo preto e barba por fazer. E cada vez mais a suspeita de conhecê-lo de outro lugar tornava-se certeza. Ele apoiou a cabeça em uma das mãos, me encarou e disse:

 – Bem, vejo que sua mãe não lhe deu educação.

 – Claro que não, ela morreu quando eu nasci. Agora, se você me der licença, eu vou terminar de beber em outro lugar. - Eu me levantei, mas ele me puxou pelo braço e me encarou. Senti uma pontada de arrependimento em seu olhar. Bem, isso não importava, eu estava morta de raiva.

 – Desculpe, eu não, eu não sabia...

 – Claro que não sabia, você nem me conhece! É um estranho que veio criticar o fato de uma garota de 20 anos estar bebendo!!! Agora, se você puder soltar meu braço...- Ele o apertou ainda mais. Quando pensei que ia arrancá-lo fora, ele finalmente o soltou, e disse:

 – Ok, você ganhou. Eu sou um estúpido, não ligue. Adam Brooks, prazer. - Me cumprimentou, como se fosse a primeira vez em que nos falávamos. Senti minha raiva se esvair quando ele sorriu. Mas que sorriso. De repente, como se uma luz se acendesse na minha cabeça, me lembrei. Só podia ser ele...

 – Adam Brooks?! O vocalista do...

 – Kara's Flowers, sim. Até que demorou a perceber. Você ainda não me disse seu nome... - Disse, se jogando na cadeira, pedindo mais uma dose de tequila e uma de whisky.

 Ficamos conversando durante muito tempo, completamente bêbados. Eu havia me esquecido de meus amigos, tinha desligado o iphone. A última coisa de que me lembro foi de termos ficado no bar até o dono nos expulsar para fechá-lo, pegarmos um táxi e ele parar na porta do meu apartamento.