Eram umas 7 da manhã quando meu pai me acordou com o mau humor de sempre:

 - Kaya, você vai se atrasar pra pegar o voo. Já arrumou suas coisas né? Ótimo.

 - Bom dia pra você também. - Ele virou as costas e saiu batendo a porta.

 Forcei meu corpo a se levantar. Não estava nem um pouco animada com a ideia de me mudar para Los Angeles. Sabe, minha vida em Denver, Colorado já era bem satisfatória, não via o porquê de me mudar pra uma cidade como Los Angeles, onde não conhecia ninguém. Quer dizer, ninguém tirando uma tia excêntrica que estava na rehab.

 Após inúmeras tentativas (fracassadas) de convencer meu pai de que meu lugar era em Denver, de que podia cursar a DU (Denver University), reconheci minha derrota. Meu pai é um ser meio impassível, então chegou uma hora em que eu simplesmente desisti de tentar persuadi-lo e me contentei em aproveitar meus últimos dias de paz antes de me mudar. Eu sabia que ele não estava preocupado com a minha formação, e sim em me manter afastada da família dele pelo menos por um tempo. Minha mãe morreu me dando a luz, talvez por isso ele não gostasse muito de mim, devia me culpar. Ele se casou de novo quando eu tinha 10 anos, e nunca considerei minha madrasta como minha mãe. Na verdade, nós nos odiávamos. E isso de certa forma ajudou meu pai a tomar a decisão de me mandar para outro estado. Estava indo estudar Arquitetura e Urbanismo na UCLA, e iria morar num apartamento que meu pai comprara há alguns anos.

 Peguei minha roupa que estava em cima da escrivaninha, e enquanto me vestia observava meu quarto estranhamente limpo. Eu não era uma pessoa organizada, então aquela visão me era uma novidade. Desci as escadas rapidamente para tomar café. O silêncio habitual na mesa foi quebrado apenas por um dos empregados levando minha mala para a sala de estar. Tentei não parecer insegura ou nervosa, mas os talheres chegavam a tremer na minha mão só de pensar no que teria de enfrentar futuramente. Felizmente minha madrasta não percebeu, e assim me livrei de suas piadinhas incovenientes após o café.

 Fui de táxi até o aeroporto, sem me despedir direito pois já estava atrasada. Quase perdi o voo, passei um sufoco, mas consegui. Quando o avião decolou, olhei pela última vez o lugar de onde nunca queria ter saído.