-Lily, vem conhecer a mãe da Marlene - disse Dorcas me puxando para uma loja toda rosa. – Ela é a cara da nossa amiga.

Dorcas me pôs na frente de uma mulher que era a cara de Marlene, mas os peitos eram tão inflados que pensei que fosse explodir a qualquer momento. Por essa razão, dei um passo para traz caso aconteça. Fiquei imaginando a cena. Talvez nem saísse sangue, já que aquilo era puro silicone.

-Matando aula? Danadinhas! –disse ela acariciando minha cabeça como se eu fosse um cachorro - Vocês me fazem me sentir tão jovem! Contem tudo! Quem é a ruiva? Esse cabelo é natural?

-Eu sou a Lily - eu disse tentando não parecer assustada com a quantidade de plásticas na cara dela.

-Tchau mãe - disse Marlene ignorando ela e nos puxando para fora da loja – Mulher chata.

Marlene era sem-limites. Disso ninguém pode negar. Eu até que conseguia a compreender, a mãe dela era uma maníaca por silicone e fazia tudo o que a filha pedia.

***

Eu estava tendo bons sonhos com James, eu merecia isso, depois de um longo dia de vida dupla (estava começando a gostar daquilo), quando Marlene e Dorcas me cutucaram levemente para que eu fosse até o salão comunal com elas.

-Advinha o que achamos? –disse Marlene falando baixinho ao descer as escadas – O livro da vergonha!

“O livro da vergonha”, como ela falava aquelas palavras com tanta felicidade e orgulho? De vez em quando eu acreditava que aquelas garotas eram boas, apenas mal compreendidas, mas depois retorno a minha consciência e lembro que elas são perversas.

Dorcas pegou o livro da mão de Marlene rapidamente. Ela o abriu na primeira página e deu uma gargalhada tão alta que devia ter acordado todos.

-Dorcas! – Marlene falou empurrando ela para o lado, fazendo com que ela cambaleasse, mas não acabou não caindo – Olha, deixe eu lhe explicar: Esse livro, é uma comédia, o criamos escrevendo umas verdades no anuário escolar, que customizamos, é claro.

Peguei o livro na mão. Era tão pesado que fui com tudo ao chão. O que provocou risos em todas nós. Mas como era muito tarde (para mim era ok?) eu estava naquele efeito “Mas que porra está acontecendo”, o que me lembrou de Frank.

Elas se sentaram em volta de mim, cada uma de um lado. Eu estava gostando daquilo, parecia que realmente éramos melhores amigas. Abri em uma página aleatória e talvez tenha sido o destino, era a foto de Alice.

“Ridícula seja Alice Sapata

Não é pirata, nem diplomata

Não usa gravata e fala como batata

Sortuda seja a Alice Sapata

Pois para ser homem uma coisa falta:

O exame de próstata”

Aquilo havia sido a coisa mais cruel que eu já li em toda minha vida. Elas fizeram um poema falando de de como ela “sapata”, o que não era verdade! Ela tinha uma queda (ou melhor, um penhasco) pelo Frank a cinco anos. Pronto. Falei.

-Gostou? Eu que escolhi a “fala como batata” e a parte do pirata, meio que eu me inspirei em “Toy Story” e em “Piratas do Peru” –Dorcas disse tentando se gabar, “Piratas do Peru”? Não seria do Caribe? – O resto foi totalmente a Marlene.

-Não é peru! É Caribe. Pelo amor de Merlim. – Marlene disse revirando os olhos – Peru me faz lembrar a aula de Educação Sexual.

Flashback on

-NÃO FAÇAM SEXO! – o professor de educação sexual gritava – Nem na sala, nem no quarto, muito menos no beco ou no carro!

-Ah, eu sou sinistro. – disse Sirius – Melhor que teu...

-Essa música está passada, idiota - disse Marlene

-Calma aí gatinha... –disse o mesmo tentando jogar um charme, mexendo no cabelo como se fosse comercial de shampoo masculino.

Enquanto isso o professor apenas assistia. Ele era um homem que não estava no peso ideal, definitivamente, era estranho e nunca mandava os alunos calarem a boca. Até porque, a maioria dos alunos adorava a aula dele. Tarados.

-Se pode referir “peru” como o bagulhinho do homem? – perguntou Dorcas para o professor.

-Bagulhinho? Tipo isso é uma espécie de gíria nova para dizer o “pau”? –disse Frank acordando do seu sono profundo.

Alice bufou e deu laçou um olhar para Frank como se dissesse “Cala a boca”. As aulas de educação sexual eram sempre as mais engraçadas, e as idiotas.

Flashback off

As fitei surpresa. Elas continuavam com orgulho. Talvez elas fossem totalmente maléficas. Um sentimento de pena bateu no meu peito tão forte que pensei que meu coração iria sair pela boca.

-Plá-Plásticas! –disse uma garota gordinha vindo na nossa direção e se sentando com a gente – Nunca esqueci quando Marlene me deu um soco.

UM SOCO? Aquela garota tinha levado um soco dela e continuava sentada com a gente. Fodeu. Ela queria vingança, e era mais forte que todas nós, juntas.

-Podem me dar um autógrafo? – O QUÊ? Eu desisto de entender essas pessoas – Ou me dar outro soco?

-Eu te conheço? Espera... – Dorcas fez uma pausa dramática, o que fez ela parecer mais com a Marlene do que com si própria –Eu não me importo.

–Cai fora, esquisita-Marlene disse olhando torto para a garota que tinha acabado de sentar, enquanto Dorcas dava risadinhas – Anda logo, saí daqui aberração.

***

–Livro da Vergonha? Eu estou nele? – Alice perguntou enfurecida.

E agora? O que eu falo para ela? Pensa Lily. Não posso contar a verdade, vai machucar ela, e principalmente porque estávamos bem na frente de Frank. Contar como havia sido humilhada com um poema na frente do garoto que ela gostava, definitivamente não era o sonho de qualquer garota.

–Não se preocupe, você nem está nele –disse meio insegura, talvez tenha feito o certo mentindo.

Alice desanimou, mas pude ver em seus olhos a raiva, quase pude ver a baba de raiva em sua boca, como a de um cachorro enfurecido. Tinha mentido e piorado toda situação. Ela não estar no livro era como se ela não tivesse nem importância suficiente para ser motivo de piada.