Saí do Restó alguns minutos depois. Não estava muito bem para ficar em locais públicos e não aguentava mais ver Tomás com a expressão de um cachorrinho que fora abandonado na mudança.

— Ainda está irritado? — perguntei para León.

Ele tinha ficado um tanto irritado com a minha conversa com Tomás e com toda a razão. 

Agora estávamos em minha casa, León ficaria para o jantar. Por sorte, papai e Angie iriam chegar tarde, então, nada de discursos constrangedores e protetores vindos de meu pai. 

— Não. — respondeu indiferente.

— Está sim, sei que está. — afirmei, insistindo.

— Não estou irritado com você. 

— E com quem, então?

— Com o Tommy — Ele deu ênfase no "Tommy", imitando a voz de Ludmila. Lembrei-me de todas as vezes que ela chamou-o dessa forma e tive vontade de rir. 

— Amor... — Comecei, dando o máximo de mim pra não rir.

— Por que ele não entende de uma vez por todas? — perguntou, dessa vez olhando nos meus olhos. — Já está me dando nos nervos. 

— Ele vai entender. — disse-lhe afagando seu ombro.

— Espero que sim... Porque se não, não respondo por mim. — Cerrou as mãos em punhos.

— Como é que é? — questionei. — Não vai fazer nada, está me ouvindo? — Lancei meu olhar mais repreendedor. 

— Só estou avisando. — disse, erguendo as mãos para o alto. 

Antes que eu pudesse falar ao a mais, Olga saiu da cozinha e começou a servir nossos pratos. Após isso, ele começou a comer sem dar mais nenhuma palavra.

Sentia-me mal por estar um tanto distante dele, principalmente quando a culpa era do Tomás. 

— Vai continuar me tratando assim? — perguntei em uma voz fininha. 

Ele suspirou e olhou para mim de uma forma serena. 

— Tudo bem, eu não devia estar agindo assim... Desculpa.

— Estamos bem? — Fiquei mais animada. 

— Estamos. — Aquele sorriso que eu tanto amava ficou estampado em seu rosto. 

O abracei com força e dei inúmeros beijos em seu rosto. Depois voltamos a comer. 

— Não é estranho seu pai e Angie não terem chegado até agora? — perguntou assim que terminamos o nosso jantar. 

— É um pouco, mas tenho certeza que daqui a pouco ele chega... — comentei pouco preocupada com aquilo, embora realmente fosse estranho. 

Olga retirou os pratos e fomos assistir TV. Estava tudo bastante tranquilo e isso me agradava. Há tempos as coisas não ficavam tão pacíficas assim.

Estava em uma completa paz. Abraçada com meu namorado assistindo um programa qualquer. Não poderia ser melhor. 

Nem percebemos o tempo passar. Quando olhei no relógio em meu celular, já passava um pouco da meia noite. Espera aí... Meia noite e meu pai ainda não havia chegado? Nem Angie? Dessa eu realmente ficara preocupada.

— Vilu, eu tenho que ir. Já está de madrugada. — León comentou levantando-se do sofá.

— León, espera... — Levantei-me também e me apoiei no sofá, para que não caísse. — Meu pai ainda não chegou. 

— É mesmo. — Ele pareceu pensar um pouco sobre isso. — Quer ligar do meu celular para ele?

Assenti e ele retirou o celular do bolso. Disquei o número rapidamente e apertei no botão verde. Caiu na caixa postal. Tentei mais duas vezes, porém, continuava da mesma forma.

Olhei aflita para ele. 

— Talvez deva ligar para Angie, podem estar juntos. — sugeriu e abanei a cabeça positivamente.

Disquei o número da Angie e este estava desligado. 

— O que foi? — León perguntou.

— Está desligado. — sussurrei.

— O Ramalho pode saber onde estão.

— Tem razão! — exclamei. — OLGA, CADÊ O RAMALHO? — gritei em direção à cozinha.

— Ele saiu com seu pai, querida. — respondeu saindo da cozinha, já com pijama. 

— Olga, estou preocupada. 

León me abraçou com força e deitei a cabeça em seu ombro.

— Por que, querida? 

— Você já viu que horas são?

Ela olhou no relógio da parede e assentiu, ficando aflita também.

— Ai meu Deus, o que será que aconteceu com o meu Ramalho? — Pôs a mãos na cabeça, em desespero. — Bem, tenho certeza que eles estarão de volta logo, agora vá dormir, vai ficar tudo bem. 

Tinha absoluta certeza de que não conseguiria dormir com aquela preocupação.

León se ofereceu para dormir aqui, já que eu estava tão aflita e preocupada e isso me deixou um pouco mais tranquila. Ficar ao lado dele sempre me deixava tranquila.

Sentamos novamente no sofá e acabei pegando no sono em seus braços. Acordei com um estrondo alto. Parecia a porta sendo batida com força na parede. Abri os olhos vagarosamente e bocejei.

León ainda dormia tranquilamente. Olhei para trás e vi meu pai dando voltas na sala e Ramalho observando tudo com um semblante preocupado. Ótimo, pelo menos eles estavam de volta.

— O que houve? — perguntei, aliviada por estarem em casa mas preocupada com aquele comportamento. 

Ele parecia bastante preocupado e temeroso. Apenas lançou para mim um olhar de martírio e entrou em seu escritório, fechando a porta com força. 

Levantei-me e fui até Ramalho, me apoiando nos móveis pois não sabia onde estavam minhas muletas.

— O que houve? — perguntei mais uma vez. 

Ramalho coçou a cabeça e deu um sorriso nervoso, mas seus olhos não enganavam: Estavam preocupados. 

— Violetta, eu vou te contar, mas quero que você fique calma, ok? — perguntou e segurou meu ombros. 

— O que aconteceu, Ramalho? 

— A Angie desapareceu.

Aquelas três palavras ecoaram na minha cabeça e me deixaram tonta. Meus olhos ficaram marejados no mesmo instante.