Agora a única preocupação de Alice era manter seu diário o mais longe possível de Sarah. Não podia imaginar qual seria o resultado se aquela garota descobrisse seu mundo. Ninguém poderia saber do País das Maravilhas. Ninguém acreditaria.

Alice começou, então, a imaginar o que poderia estar acontecendo naquele exato momento no País das Maravilhas. Será que alguém sentia sua falta? Será que estava tudo bem? Uma súbita vontade de estar naquele lugar tomou conta da garota, mas ela não sabia como voltar. Se a entrada fosse sempre a mesma, ela estaria perdida, pois teria de voltar àquela árvore e cair pelo buraco que parecia não ter fim. Sim, ela teria coragem de enfrentar tudo novamente para estar lá, mas estava muito distante. Tinha de encontrar outra forma de voltar.

- Sonhando acordada de novo? – soou uma voz distante, então Alice notou que estava sentada no chão, encostada numa árvore, enquanto Sarah ria da sua cara com suas amigas. – Não consegue fazer isso enquanto dorme, garota?

- O sonho é meu e eu sonho quando quiser – retrucou. Logo em seguida achou que não foi uma boa ideia, pois os olhos de Sarah pareceram faiscar e num movimento rápido, arrancou o diário das mãos de Alice e tomou distância.

- Mais um passo e eu juro que jogo essa porcaria no lixo – alertou, apontando um dedo para Alice.

Sarah, então, abriu o diário e começou a folheá-lo, abafando risadas e arregalando os olhos de vez em quando. Com certeza estava achando tudo o que estava ali muito louco.

- Será que dá pra me devolver? – insistiu Alice, aumentando o tom da voz.

- Quer saber – começou Sarah, fechado o diário. – Acho que vou ficar com isto aqui. Vou fazer uma vistoria e se eu notar que não tem nada que me envolva, eu penso na possibilidade de lhe devolver, mas enquanto isso... – deu dois passos para frente, encarando Alice – fique bem longe de mim.

Alice não conseguiu pensar em outra coisa a não ser correr, ir embora, fugir daquele lugar. Precisava ficar sozinha e pensar em como recuperaria seu diário. E se ela não conseguisse? E se Sarah resolvesse ficar com o diário só para ela ou jogá-lo fora? Ela agora estava na posse de tudo que era de Alice e isso era o que mais a preocupava.

Quando deu por si, Alice estava dentro do banheiro feminino, que por sinal estava vazio naquele momento, exceto por ela. Entre as duas pias do meio o espelho se estendia até o chão, deixando Alice com uma visão de todo o seu corpo. Preciso ir ao País das Maravilhas, pensou e repetiu esse pensamento, andando de um lado para o outro. Sarah não pode chegar lá.

Alice, então, parou onde estava e se olhou no espelho. Havia algo de familiar nele – não que já tivesse estado ali antes, mas algo parecia estar atraindo-a até ele.

Ela caminhou lentamente, imaginando como seria se estivesse do outro lado. Alice esticou um braço desejando atravessar aquele véu e descobrir um novo mundo. E como se fosse a coisa mais fácil do mundo, ela passou. De repente o espelho não era nada mais que uma cortina fina e transparente.

Estava em outro mundo. Estava novamente no mundo através do espelho.