Foi durante uma das suas viagens no navio que Alice acabou fazendo uma inimizade. Aquela garotinha loira e meiga agora crescera e descobrira que nada era mentira: o País das Maravilhas existia e ela estivera lá. Mas quem se atrevia a acreditar? Ou melhor: como ela se atreveria a contar?

Alice passou a anotar tudo o que acontecia no seu Dário, e o levava para onde quer que fosse. Entre as primeiras páginas, ela contava tudo e mais um pouco sobre suas viagens e quem conhecera. Muitas vezes falava sobre o Chapeleiro Maluco que, por algum motivo muito estranho, não saía da sua cabeça, e era falando dele que ela se lembrava que tinha desistido do seu noivado, pois não queria aquele futuro. Alice acreditava que poderia ser feliz sem precisar de um marido – pelo menos por enquanto.

Alice queria estudar, e foi o que fez. E foi aí que ela conheceu Sarah, uma garota ruiva que se intitulava "a rainha". Quando Alice ouviu esse termo pela primeira vez, acabou tendo um acesso de risos, pois aquela garota lhe lembrava a Rainha Vermelha, e essa foi uma das suas anotações.

- Do que está rindo, sua insolente? – perguntou Sarah, pondo as mãos na cintura, olhando-a de cima. Era incrível a semelhança entre ela e a Rainha Vermelha, isso fazia Alice ter mais vontade de rir, mas ela se controlou.

- É que você me lembra alguém que eu conheço – respondeu, pondo a mão na boca logo em seguida para abafar mais risadas.

- Não sabia que você conhecia pessoas – comentou Sarah –, achei que de onde você veio só tem bicho.

Algumas garotas que estavam por perto riram. Provavelmente eram – ou sonhavam em ser – amigas de Sarah.

Alice parou de rir por alguns segundos e a encarou até notar que Sarah desviara seu olhar para o diário que Alice carregava nas mãos.

- O que é isso? – ela perguntou, apontando para o diário, e fez menção de pegá-lo, mas Alice foi mais rápida e puxou-o mais para si, apertando-o.

- Não é da sua conta – retrucou.

Sarah, deu um passo para frente a ponto de ficar a alguns centímetros de distância de Alice, que sentiu as pernas um pouco bambas.

- Então mantenha essa coisa afastada de mim, porque se isso cair em minhas mãos, pode ter certeza de que nunca mais voltará para você.

Alice nada disse, apenas aguardou a garota de afastar e sumir de vista para poder olhar para o seu diário novamente, apertado contra seu peito, preso por suas mãos. Aquela era sua segunda chave para o país das maravilhas. E se alguém conseguisse essa chave? Seria possível alguém além da própria Alice entrar num mundo que até o momento só pertencia aos sonhos dela? Poderia outra pessoa ter esse mesmo sonho e acabar fazendo outras coisas no mundo de Alice? Essas perguntas martelaram a cabeça da garota até o momento em que foi dormir.

E naquela noite, Alice não sonhou.