Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 9
Romeu e Julieta


Notas iniciais do capítulo

Oi gente ♥ tudo bem?
Quero agradecer a JéssicayVolturi Ma por recomendar a fic! Muito obrigada, linda *-*
Também quero agradecer as meninas que adicionaram a fic nos favoritos, mas bem que vocês podiam comentar também, né? :P rs
Boa leitura!



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Fico sozinha em meu quarto

Cada momento passando tão rápido

Assistindo as velas queimarem durante a noite

Caio em um sonho

Acordo e é tudo a mesma coisa

Segundos mais velha, mas sozinha como uma criança.

                                  See a Litlle light – Belinda

Acordei, mas não tinha a menor vontade de me levantar.  As lembranças do dia anterior se infiltraram na minha mente se misturando com minha terrível dor de cabeça. Essa era a pior parte de chorar até dormir: a dor de cabeça horrível que me acompanharia pelas primeiras horas do dia.

Respirei fundo e logo me arrependi de ter feito isso, pois um ferimento em meu abdômen latejou. Charlie tinha chutado aquele mesmo lugar mais de quatro vezes. Eu fiquei impressionada por não ter quebrado nenhuma costela.

Sentei-me na cama criando coragem para descer e comer alguma coisa. Ontem a única coisa que coloquei na boca foi um pedaço pequeno de lasanha e um copo de água na hora que fui tomar o comprimido para dor. Mas mesmo assim eu não sentia tanta fome.

Tomei coragem e levantei. Caminhei lentamente pelo corredor, meu corpo doía a cada movimento e eu queria minimizar isso ao máximo. Parei ao ver a porta do banheiro aberta, a luz da janela refletia no espelho e por algum motivo eu queria ir até ele.

Entrei no banheiro trancando a porta atrás de mim. Eu não sabia se Charlie estava em casa ou não e não queria correr o risco de ele entrar no banheiro enquanto eu estivesse lá.

Parei em frente ao espelho de corpo inteiro e arfei com o que vi ali. Eu sei que eu não sou bonita. Eu sempre soube disso. Mas agora eu parecia terrível. Meu rosto parecia o de um cadáver. Minha pele estava seca e pálida com círculos roxos abaixo dos olhos.

Parecia que eu estava em transe. Não pensava em nada, eu estava no automático. Tirei minha roupa, peça por peça, tomando cuidado para que o tecido não se arrastasse com força sobre minhas contusões e cortes.

Nua, de frente ao espelho eu pude ver cada detalhe de meu corpo. Cada imperfeição. É exatamente isso que sou, um conjunto de imperfeições.

As lágrimas caiam descontroladamente por minha face. Senti a dor em meu peito se renovando e com isso mais lágrimas caíram. Um soluço torturado saiu de mim.

Caí contra a porcelana fria do chão do banheiro e me perguntei o porquê. Por que eu era assim tão diferente das outras pessoas? Por que eu não poderia ser igual a todo mundo? Por que eu não sou normal? Ser normal é tudo o que eu mais queria no mundo!

Eu nunca entendi o problema do mundo comigo, até perceber que o problema não é o mundo. O problema sou eu! Eu sou diferente dos outros, eu sou a esquisita que as pessoas não querem nem mesmo chegar perto. E isso dói. Por mais que ninguém veja, isso dói muito.

Hoje é quarta. Havia quase uma semana desde a visita de Edward. Eu passei quase uma semana somente me perguntando por que ele tinha vindo aqui realmente.

Era para fazer mais uma piadinha? Para rir de mim por ser uma completa desastrada? Foi a única coisa plausível que eu poderia pensar. Mas se ele veio aqui para isso, porque simplesmente não o fez? E porque se incomodou em me trazer a matéria de biologia que eu tinha perdido?

Era tantas perguntas sem respostas que só faziam minha cabeça latejar ainda mais. Levantei minha cabeça do piso de porcelana e levantei-me dali. Gemi com a dor em meus membros e comecei a fazer movimentos brutos com os dedos dos pés que estavam dormentes.

Tomei uma ducha quente. Cada gotícula de água que caia queimava meus cortes, mas eu não me importei. Eu queria que queimassem e que quando o fogo fosse embora ele levasse as horríveis cicatrizes junto. Mas eu sabia que isso nunca aconteceria.

Meu primeiro corte não foi tão fundo e nem tão superficial, mas foi o suficiente para estragar uma camiseta. Não saiu tanto sangue quanto os cortes de hoje em dia, mas eu quase desmaiei ao ver aquele liquido vermelho saindo de meu braço. Eu ria disso agora, mas era bem sério naquela época.

Doeu muito. Eu não sabia o que estava fazendo, só sabia que tinha que fazer. Eu pensei que morreria. Mas eu não morri.

Eu perdi a conta de quantas vezes eu me encontrei caindo na inconsciência cercada de sangue e pensando que eu morreria, mas isso nunca aconteceu. É claro que não. Eu continuava aqui. Só não sabia até quando.

Meus olhos foram para meus pulsos e me peguei tentando contar as cicatrizes, mas eram muitas e minha cabeça doía, então logo desisti. Passei meus dedos pelos cortes mais recentes, os mais grossos, os mais fundos.

Eu não queria isso. Não queria! Eu queria ser capaz de parar, mas eu sabia que eu não era. 

Desci as escadas secando as lágrimas de meus olhos que ainda não tinham parado de descer.

Tinha ido até meu quarto e colocado uma de minhas roupas novas, que eu nunca tinha usado. Era bonita eu não vou mentir, mas não combinava comigo. Era uma blusa de mangas compridas cinza e calça jeans escura. Eu não gostava de usá-las porque eram muito justas e assim todos podiam ver minha forma magra e horrível. 

Meu cabelo estava limpo e penteado, o cheiro do meu shampoo de morangos me agradava. Deixei-os soltos para que secassem mais rápido.

Vasculhei a geladeira a procura de algo, mas não tinha nada que me agradasse. Acabei pegando uma garrafa de coca-cola e colocando no balcão da cozinha. Fui até os armários e abri a porta onde eu sabia que encontraria pipoca. Coloquei no microondas e esperei que ficasse pronta.

 Dois minutos depois coloquei a pipoca em uma bacia, peguei um copo para encher de coca, mas acabei levando a garrafa inteira para a sala.

Olhei para as prateleiras na estante da sala, ao redor da TV de tela plana e procurei por um filme. Não tinha praticamente nada de bom ali, somente documentários sobre espécies em extinção ou jogos clássicos de beisebol que Charlie havia gravado em DVD. Meus dedos tocaram em cada um dos DVDs até que pararam em um de meus filmes favoritos.

Romeu e Julieta.

Coloquei o disco no leitor. Virei-me e quando eu ia começar a caminhar na direção do sofá a campainha toca.

- Droga! – sussurrei pondo a mão em meu coração acelerado.

Ninguém nos visitava e Charlie sempre tinha sua chave em mãos, então eu sempre me assustava quando escutava o som estridente da campainha.

Abri a porta e como na semana passada minha boca se abriu em choque formando um “o” quando o vi parado ali.

- Oi. – ele sorriu.

- Oi. – eu disse ainda surpresa. – O que faz aqui? – perguntei no tom mais agradável que consegui. Eu não queria parecer rude como quando o mandei embora semana passada.

- Eu disse que voltaria! E vim trazer matéria de prova de biologia, ah, e Alice mandou algumas de inglês também, só as mais importantes. – ele continuou sorrindo. Eu conhecia sorrisos falsos e esse não era um. O que exatamente estava acontecendo com ele?

- Ah, obrigada! Você não precisava se incomodar. – falei olhando para baixo.

Ele estava me olhando fixamente desde que chegou. Ele estaria vendo exatamente o que eu vi lá em cima no espelho do banheiro? Será que ele está rindo por dentro? 

"Horrível.a voz em minha cabeça sussurrou. 

- Não foi nada! Eu tinha mesmo que... – ele parou de falar e franziu a testa. – Você estava chorando?

Eu vacilei por um momento, mas logo limpei completamente meu rosto de qualquer expressão. Temi que ele tivesse visto algum rastro de tristeza ali. Passei a mão por minhas bochechas temendo que tivesse alguma lágrima ali, mas não tinha.

- Não, eu não estava! – falei rindo nervosamente tentando disfarçar meu desconforto.

- Seus olhos estão vermelhos e inchados, Bella. – ele falou baixinho.

- É só sono. – sussurrei.

Ele me olhou por alguns segundos e em seguida balançou a cabeça torcendo os lábios em uma careta. Ele não acreditou.

Desviei o olhar desconfortável. Edward olhou por cima de meu ombro e depois voltou seu olhar para mim.

- Você está com alguém? – ele perguntou abruptamente. O rosto tomando uma expressão que parecia quase raivosa.

Franzi a testa confusa com a reação dele.

- Não, por quê? – eu quis saber.

- Você está arrumada e... – ele parecia não saber como completar a frase.

- Eu só ia assistir um filme. – expliquei.

- Ah, ok. – Ele estava envergonhado. Eu sabia disso pela tonalidade rosa que suas bochechas adquiriram. Era fofo. – Então, acho que eu vou embora agora. – ele trocou de pé. – Tchau, Bella.

Edward deu meia volta e começou a descer as escadas da varanda, indo em direção à seu volvo.

- Edward, espere!

Só depois que as palavras saíram de minha boca eu percebi o que tinha feito e agora não tinha mais volta. Edward já estava segurando a porta de seu carro aberta quando me ouviu. Ele virou-se e ergueu uma sobrancelha.

- Sim? – ele disse com expectativa.

Pensei por um momento no que diria. Não tinha absolutamente nada a dizer. Eu só não queria que ele fosse embora.

- Por que não fica?

Não precisei falar duas vezes. Edward fechou a porta do carro e refez seu caminho pelas escadas. Abri espaço para ele passar. Edward sentou-se no sofá e eu disse para ele se sentir a vontade.

Fui até a cozinha, peguei um copo para ele e voltei.

- Então, o que vamos assistir? – ele perguntou se encostando ao sofá. Sentei-me ao lado dele e coloquei o copo na mesinha ao lado da garrafa de refrigerante.

- Eu ia ver Romeu e Julieta, mas podemos ver outra coisa se quiser. – falei tirando uma mecha de cabelo que insistia em cair por cima de meu olho.

Edward não respondeu, ele continuou me olhando, os olhos brilhando e um sorriso fantasma, quase inexistente nos lábios.

- Edward? – falei para chamar sua atenção.

Ele piscou umas três vezes e só assim ele pareceu voltar à realidade. Mas ele parecia confuso mesmo assim.

- O que?

Eu soltei uma risadinha.

- Eu disse que ia ver Romeu e Julieta, mas podemos ver outro filme se quiser. – repeti.

Ele torceu os lábios por um segundo enquanto pensava.

- Não, Romeu e Julieta está ótimo. – ele sorriu e se arrastou no sofá para ficar mais próximo a mim. Bem mais próximo, tão próximo que nossas pernas se tocavam levemente sobre o tecido de nossas calças.

Peguei o controle remoto e dei play. Encostei-me no sofá e coloquei meus pés para cima sentando-me sobre minhas pernas.

- Você vai chorar? – ele perguntou com um sorriso divertido.

- Eu sempre choro. – murmurei.

Não tive a intenção de dizer aquilo, somente saiu. Felizmente Edward pareceu não captar o sentido completo de minhas palavras.

Ele derramou refrigerante nos dois copos e me entregou um. Segurei o balde pipoca e esperamos o filme começar.

Eu nunca poderia imaginar essa cena em toda minha vida. Nunca! Porque, afinal, em que universo paralelo Edward Cullen bateria em minha porta e agiria como se fossemos velhos amigos? E o que deu em mim para convidá-lo? 

Isso continuava estranho, mas ao mesmo tempo era bom. A presença dele era reconfortante, mesmo sabendo que essa atitude amigável dele acabaria logo e ele se revelaria.

Era tão triste pensar assim, mas o que eu poderia fazer? Essa era a mais pura verdade.

O tempo passou rápido e logo notei que o filme estava em seus últimos minutos e eu não tinha prestado atenção na maioria das cenas. Também, como eu poderia com Edward tão próximo a mim?

Em algum momento seu braço acabou em meu ombro e minha cabeça no dele, e quando percebi a posição em que estávamos não fiz nenhum movimento para sair. Estava frio, mas eu não sentia isso no calor dos braços dele.

Logo os créditos estavam rolando junto com minhas lágrimas. Essa historia era tão triste, tão trágica. E mesmo assim, algumas vezes eu invejava o final de Julieta. Ela foi corajosa e acabou com tudo tão rápido...

Eu fiz um movimento para me levantar, mas o braço de Edward me apertou mais contra ele.

Edward virou-se para mim e sorriu.

- Não pensei que choraria de verdade. – ele falou.

- Eu choro por qualquer coisa e às vezes por nada. – murmurei passando a mão em uma de minhas bochechas para secar as lágrimas, mas não adiantava porque elas continuavam caindo.

Edward segurou minha mão quando eu insisti em limpar as lágrimas. Ele continuou com minha mão presa na sua e estendeu a outra. A mão esquerda de Edward subiu até minha bochecha e ele passou a ponta do polegar ali secando minhas lágrimas.

Fechei meus olhos e me concentrei para que elas parassem de descer. E com alguns segundos funcionou. Abri meus olhos e assim que o fiz me deparei com o par de olhos verdes mais lindos que eu já vi.

Edward me olhava sério. A diversão tinha desaparecido completamente de seus olhos. Os olhos dele me olhavam com tanta intensidade que tive vontade de desviar o olhar, mas não o fiz, não o fiz simplesmente porque não conseguia. Eu estava perdida ali.

- Vai ficar tudo bem. – ele sussurrou.

- Edward, eu sei que não é real. – soltei uma risada nervosa.

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro e fechou os olhos por apenas um segundo.

- Eu sei que não é  isso. – ele sussurrou.

Pensei no que Edward disse e me perguntei mentalmente oque exatamente ele sabia. 


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Notas finais do capítulo

Oi de novo! :D E aí, gostaram do capítulo? Não esqueçam de cometar!
Recomendações e reviews são super bem vindos, ok? ;D
Se tiver algum erro ou alguma parte meio sem noção me avisem.
Beijos ♥