Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 6
Época feliz


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, como estão?
Peço desculpas pela demora, o capítulo já estava pronto há um tempo, só faltava revisar, mas muitas pessoas deixaram de comentar, então eu decidi torturar vocês :P KKK'
Perdoem meus erros de português, ok? rs
Espero que gostem do capítulo...



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Alice e Edward falavam um com o outro, mas olhando para mim. Nenhum deles parecia ter raiva, na verdade, eu notei um pouco de decepção em seus olhos, mas não sabia se era real ou somente coisa da minha cabeça.

E assim, fui para casa, satisfeita pelo dia não ter sido tão ruim quanto eu pensei que seria.

Cheguei em casa e respirei aliviada por não ver a viatura de Charlie estacionada do lado de fora. Entrei e apreciei o silêncio que estava lá dentro. Hoje o dia não havia sido tão ruim, mas então por que essa sensação ruim não saía de meu peito?

Eu já devia estar acostumada com sensações ruins, afinal, elas estavam presentes em todos os momentos. Mas agora, a sensação era diferente, não era algo que eu estava sentindo, era algo que – de alguma forma – eu sabia que iria acontecer.

Sentei-me em minha cama, já havia se passado uma hora e meia desde que cheguei da escola e nada de Charlie. O atraso dele era uma coisa boa para mim, eu já havia feito o jantar e arrumado a cozinha e a sala. Charlie me surpreendeu nos últimos dias em que ele havia chegado em casa sóbrio, mas eu não sabia o que esperar dele hoje. E eu tinha um mau – péssimo – pressentimento sobre isso.

Ouvi um som no andar de baixo, segundos depois eu soube que era Charlie, pois a porta da sala foi fechada com força. Eu estava com medo do que encontraria lá em baixo, mas reuni um pouco de coragem e desci as escadas.

No momento em que o avistei tive uma vontade tremenda de correr de volta para o meu quarto e me trancar, mas não o fiz. Eu estava paralisada, somente o observando ainda do alto da escada.

Charlie estava com seu uniforme de policia, a arma não estava com ele pelo que eu podia ver e fiquei aliviada por isso. Mas a posição em que Charlie estava me chocou um pouco.

Seu corpo estava inclinado, como se uma dor o dilacerasse. Ele segurava algo em seu peito com força e tremia tanto que por um momento pensei que estava tendo uma convulsão. Desci mais alguns degraus e então notei o porquê Charlie estava naquela posição. Ele estava chorando.

Os soluços rasgavam sua garganta, ele abraçou o objeto entre seus braços com força. Parecia que aquele objeto era a sua única razão de continuar vivo.

Minhas pernas deram mais alguns passos sem a minha permissão, quando notei, eu estava no fim da escada, faltava apenas um degrau para que meus pés chegassem a superfície plana.

Charlie continuava a soluçar e a se abraçar, eu continuei em completo silêncio, sem querer interrompê-lo e com medo de que se eu interrompesse, ele fizesse algo comigo. Mas em algum momento eu devo ter feito algum ruído, pois abruptamente Charlie se virou para me encarar.

Meus olhos se abriram em espanto ao perceber o quão abalado meu pai estava. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, grossas lágrimas escorriam por sua bochecha e eu me sentia aflita por não saber o motivo de toda aquela agonia. O olhar de Charlie se suavizou conforme ele olhava para mim. Ele deu alguns passos em minha direção sem nunca desviar o olhar. Quando ele estava bem próximo a mim, ele fez algo que eu pensei que nunca teria de Charlie.

Ele soltou uma das mãos do objeto que segurava contra o peito e a esticou em minha direção. A mão dele se movia tão lentamente em minha direção que parecia que ele estava lidando com um animal assustado e não com uma pessoa, mas pensando bem, nesse momento, eu me sentia mesmo como um bichinho assustado, eu estava tão assustada que não conseguia olhar para longe de sua mão.

A mão de Charlie encontrou minha bochecha e permaneceu lá por alguns segundos. Eu continuei olhando para baixo, eu tinha medo do que encontraria nos olhos de Charlie quando olhasse para cima. De repente a mão dele deslizou até meu queixo, ele o segurou me fazendo olhar para cima.

Se eu estava surpresa antes, agora eu estava atônita.

O modo como ele me olhava estava me assustando, mas não era um olhar assustador que eu via ali. Não, de modo algum aquele olhar poderia ser considerado assustador. Mas mesmo assim, ele me assustava.

Ali, a minha frente estava meu pai. Não era o Charlie, aquele bêbado que chegava em casa todos os dias disposto a me bater. Aquele era meu pai, o homem que dizia me amar mais do que tudo no mundo, o homem que dizia que atiraria no cara que fizesse sua filhinha chorar.

Nesse momento, eu me perguntei o que o “meu pai” pensaria se visse o que Charlie fez comigo. Será que aprovaria, ou ficaria horrorizado? Eu não tinha idéia do que ele sentiria, e agora, olhando para “meu pai” eu mal podia me lembrar de minha cruel realidade.

Por um segundo eu me permiti voltar ao passado, voltar aos velhos tempos em que eu era feliz. O tempo em que eu tinha amigos e que acreditava que as pessoas podiam realmente amar umas as outras.

O tempo em que eu sonhava em ter um futuro brilhante, como uma princesa ou uma estrela do rock, mas na época, eu não me importava se esses sonhos não se realizassem, porque eu tinha uma família perfeita.

Meu pai era um dos policias mais respeitados de Forks e minha mãe ficava em casa comigo. Eu pensava que eles eram os melhores pais do mundo. Minha mãe era linda, loira e possuía os olhos verdes mais brilhantes e infantis que eu já vi.

Eu me lembro de todos os dias, assim que os ponteiros marcassem 6:00 horas, eu esperaria por meu pai na varanda de casa. Minha mãe dizia que eu poderia pegar um resfriado, mas eu não me importava, ela se preocupava demais.

Charlie chegava, eu pulava em seus braços e ele me girava pela varanda. Renée ficava somente observando a cena com um olhar distante no canto da sala, eu era jovem demais para notar que alguma coisa estava errada.

Conforme as lembranças boas vieram, as ruins também. E então, aquele dia começou a passar em minha cabeça como um filme.

Renée estava na sala comigo, eu notei que ela estava estranha, ela parecia triste e isso era muito incomum para Renée. Ela estava sempre tão feliz. Ela passou o dia inteiro agitada, ela mexeu no guarda roupas e colocou a maioria de suas coisas dentro de uma mala e as levou pro andar de baixo.

Quando Charlie chegou, minha mãe ficou pior do que antes, eu sabia que alguma coisa aconteceria, mas nunca poderia ter imaginado que minha vida mudaria tanto depois daquele dia.

Eu não tinha idéia de quando ou como começou, mas quando percebi os dois estavam gritando. Charlie segurava o braço de Renée com força e com a outra mão tentava arrancar a mala dela.

“Porque está fazendo isso agora? Você tem uma filha! Como pode ser tão egoísta? Não pensa no que isso pode fazer com ela?” Charlie gritou soltando Renée e jogando os dois braços pro ar.

“Sim, eu penso. E quer saber? Eu não ligo! Ela vai crescer e ter um bom futuro, mas e eu? Eu já tenho 25 anos, tenho que correr atrás de meus sonhos enquanto ainda dá tempo, Charlie. Eu ainda posso ser feliz!”

Minha mãe disse as ultimas palavras em sussurros enquanto lágrimas caiam de seus olhos. Por um momento pensei que ela estivesse triste e por isso chorava, mas um sorriso aliviado se abriu em seus lábios.

“E você precisa destruir sua família para ser feliz?” Charlie rugiu. Renée olhou para ele quase que com pena.

“Entenda Charlie, eu sou jovem demais pra ter tantas responsabilidades. Eu não quero desistir de tudo o que sonhei, não quero perder a chance de sair daqui. Eu odeio Forks! Não quero passar o resto de minha vida em uma casa minúscula, em uma cidade minúscula e com um homem com uma mente minúscula!”

Lembro-me de ficar parada no canto da sala assustada com a frieza na voz de minha mãe. Meu pai parecia estar tão assustado quanto eu, pois ficou parado no mesmo lugar apenas olhando para minha mãe com uma expressão chocada.

Renée não deixou Charlie se recuperar, ela pegou suas malas e foi embora sem ao menos olhar para mim.

Quando a porta da frente bateu fechada, Charlie piscou e seus olhos pararam diretamente em mim. Eu podia ver as lágrimas se juntando em seus olhos, e foi aí que eu soube. Renée havia ido embora, e ela não iria mais voltar. Aquela foi a única vez que vi meu pai chorar. Até agora.

Voltei à realidade quando Charlie começou a afagar meu rosto com tanto carinho que pensei que ele tinha medo de que eu fosse quebrar. Eu não sabia o que estava acontecendo aqui, não sabia o que ele estava fazendo. Eu esperava outra reação dele quando chegasse e eu nunca imaginaria que algum dia Charlie estaria acariciando meu rosto. Algo estava muito errado com essa cena.

Porque primeiro, Charlie nunca me tratava com carinho. Quando estava sóbrio ele até me tratava bem. Ele fingia que não me odiava e que estava tudo bem entre a gente, mas ele NUNCA me tratava com carinho.

Segundo, eu tinha certeza que ele estava bêbado. Seus movimentos eram estranhos e seus olhos estavam vermelhos. Ele não estava em seu estado “normal”. Ou estava... Isso depende muito.

Eu estava confusa pelo motivo dele não estar me batendo, mas ao mesmo tempo eu estava agradecida. E mesmo sabendo que era errado e arriscado, por um segundo apenas, eu pensei que as coisas poderiam mudar.

- Renée. – meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu em choque. Ele pensava que eu era ela?

- Charlie, eu... – não tive tempo de terminar, ele me pegou em um abraço apertado e recomeçou a soluçar em meu cabelo.

Senti o objeto que Charlie segurava entre nós dois. Hesitante, ergui uma das mãos e retirei o objeto lentamente de sua mão. Era um porta retrato. Ali tinha uma foto em que estávamos nós três, Charlie, Renée e eu. Juntos e “felizes”.

Era estranho olhar para aquela foto. Eu nem me lembrava mais do rosto de Renée, Charlie havia escondido todas as fotos dela e realmente, nos últimos tempos eu não me importava em saber como ela era. Meus olhos passaram de Renée para mim, eu devia ter seis anos naquela foto, era uma época feliz, sem preocupações. Eu sorria e abraçava Angela, minha boneca. Eu me lembro de colocar o nome da boneca de Angela por causa de minha melhor amiga. Meu coração doeu ao me lembrar dela.

Charlie me afastou e começou a observar meu rosto. Me Senti desconfortável sob seu olhar. Aos poucos eu pude notar que os olhos de Charlie estavam mudando, endurecendo.

No segundo seguinte eu estava no chão. Fiquei confusa e assustada, não tinha nenhuma idéia de como fui parar lá, até sentir o ardor em minha bochecha. Olhei para cima e encontrei os cruéis olhos castanhos tão parecidos com os meus, mas ao mesmo tempo tão diferentes me encarando. Eu sabia que algo estava errado, e parecia que as coisas já estavam voltando ao “normal”. Charlie havia acabado de me dar um tapa.

- Você não é a Renée! – ele sussurrou ameaçadoramente se aproximando de meu corpo caído no chão.

- Charlie... – seu nome saiu estrangulado pelos meus lábios.

Charlie estava diferente que das outras vezes que ele bebia, dessa vez ele parecia mais agressivo, mais assustador. Ele parecia um assassino. Eu quase ri com esse pensamento. Quase, pois antes que eu pudesse fazer qualquer coisa eu estava sendo atingida por socos e chutes de Charlie.

- Sua... É tudo culpa sua! – gritou em meu rosto e me acertando outro tapa no rosto. – Ela foi embora por sua causa, se você não tivesse nascido ela ainda estaria aqui comigo!

Ele continuou a me bater por um longo tempo. Chegou um momento que eu pensei que ele não fosse parar até me matar, mas ele parou. E eu fiquei ali no chão da sala, sozinha, com uma poça de sangue ao meu redor.

Meu corpo tremia com meus soluços e isso era ruim por causa da dor. Meu corpo doía tanto que eu nem conseguia me mover, mas algo me motivou.

Senti algo embaixo de minha mão, olhei para baixo e notei que era o porta retrato que eu estava segurando. Chorei ainda mais forte. Agora, não havia mais nada! Minhas memórias daquele tempo já haviam se apagado e agora, a única foto que eu tinha da época em que eu era feliz estava manchada de sangue. Do mesmo jeito que minha vida atualmente.  

Movi minha mão lentamente para evitar sentir mais dor, mesmo que inutilmente. Peguei um pequeno pedaço de vidro do porta-retrato quebrado, o segurei em meus dedos e o arrastei em minha pele rasgando-a.

E aconteceu mais uma vez, aquele torpor me cobriu de novo e de repente, eu não podia sentir mais nada. Naquele momento eu não podia pensar em mais nada a não ser que eu não imaginava mais a minha vida sem os cortes. E isso me assustou.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Não se esqueçam de comentar!
Ah, e uma recomendação não faz mal, né? rs
Beijos