Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 7
Antes mal acompanhada do que só.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :)
Viram como eu postei rapidinho! haha
GEENTE, eu tô muito feliz... Muito feliz mesmo! A fic ganhou 2 recomendações essa semana *-*
Obrigada à Ninatwilight e Liane Cullen. Esse capítulo é pra vocês, suas lindas :D

Se alguém quiser me dar um "Oi" me adc lá no facebook: https://www.facebook.com/karyna.psl?ref=tn_tnmn



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/313516/chapter/7

Um mês. Esse foi o tempo em que fiquei trancada em meu quarto sentindo dor. Um mês desde que levei a maior surra de minha vida, e por algum motivo eu acredito que daqui por diante só vá piorar.

Um dos braços deslocado, um ferimento em meu abdômen e hematomas em todos os lugares de meu corpo. Essas foram as únicas marcas que restaram da surra que levei de Charlie. Ainda hoje, um mês depois daquele dia horrível, eu ainda podia ouvir sua voz gritando em meu rosto.

Eu ainda podia ouvir, como se ele estivesse bem a minha frente, sua voz me chamando de vadia e dizendo que a culpa de Renée ir embora era toda minha.

Eu não tirava a razão de Charlie me odiar, ele me odiou quase que minha vida inteira, e eu já estava acostumada com esse tipo de tratamento. Mas eu realmente não entendia como alguém... Não, eu não entendia como um pai pode odiar tanto sua própria filha.

Eu refleti muito durante esse mês. Deitada em minha cama, olhando para o teto branco de meu quarto, eu podia visualizar cada momento de minha vida como se estivesse passando em cima de minha cabeça.

Nesse mês eu pude ver tudo o que eu nunca consegui ver antes. Eu podia ouvir os garotos da minha escola rindo e apontando em minha direção. Eu podia ouvir a voz de Charlie. Eu quase podia sentir sua mão estapear meu rosto de tão presa em meus pensamentos que eu estava. Eu podia ver tudo. Relembrar tudo... E com cada palavra, vinha uma dor excruciante que esmagava meu coração.

Vadia... Feia... Nojenta... Esquisita... Desengonçada... Estúpida... Porca... Ela foi embora por sua culpa... Nem sua mãe te quis... Você ficaria melhor morta!

Um gemido estrangulado escapou de meus lábios ao relembrar de tudo o que já ouvi... De meus colegas, de meu pai...

A dor era enorme, eu não conseguia controlar as lágrimas. Parecia que havia algo preso dentro de mim, algo que precisava urgentemente sair. Algo que eu precisava tirar.

Peguei a gilete escondida em baixo de meu travesseiro e comecei meu famoso “ritual”.

Era estranho como as coisas haviam mudado nesse mês, eu jamais poderia acreditar que as coisas poderiam mudar tão rápido. Mas mudaram.

Se alguém estivesse ouvindo o que eu estava pensando me perguntaria do que eu estava falando, pois aparentemente tudo estava normal. Mas realmente? Não estava.

Eu me sentia piorando. A cada dia eu me sentia mais perdida, mas presa em minha própria dor. E não via de maneira alguma uma saída, ou simplesmente um refugio. Os cortes estavam ajudando no começo, mas agora parecia que estavam perdendo o efeito aos poucos. A cada corte eu tinha vontade de fazer mais um, e mais um, e mais um, e mais um. E assim que o torpor, o alivio momentâneo passava, a dor voltava.

A dor sempre voltava, não importa quantos cortes eu fizesse. Não importa a profundidade deles, a dor voltava. Que ela voltava não era segredo, mas por que agora ela parecia tão mais intensa? Por que agora eu sentia como se minha vida não valesse mais a pena? Por que logo agora eu estava cogitando a hipótese de suicídio?

Eu me corto desde os treze anos. Já são quatro anos que minha dor é tão grande que preciso me machucar por fora para apaziguá-la, e nesses quatro anos eu nunca sequer pensei em tirar minha própria vida. Até agora.

A verdade é que eu não aguento mais! Eu realmente queria continuar a ter fé de que um dia eu conseguiria parar. Eu queria ter esperança de que algum dia eu seria forte o suficiente para não precisar de uma lâmina pra me sentir bem. Mas eu realmente sinto que não consigo mais!

- Bella? – me assustei ao ouvir aquela voz masculina na porta de meu quarto. Não deu tempo de esconder a lâmina e nem meu braço que escorria sangue dos novos cortes que eu havia acabado de fazer, pois ele entrou no quarto antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

- Ah, que bom que está acordada... – ele parou olhando para mim, suspirou e continuou a falar. – Se cortando de novo?

- O que você quer James? – perguntei duramente e estiquei o braço para pegar minha toalha nova. Pressionei-a em meu braço para estancar o sangue.

- Seu pai me ligou para eu vir te verificar. – ele revirou os olhos – Então, como está se sentindo?

- Me deixa em paz!

James era médico. Bem, ele não era médico de verdade. James havia começado a faculdade de medicina na Califórnia, mas largou tudo para fugir com sua namorada Victoria. O melhor amigo de James, Laurent, morava em Seattle e disse que eles podiam viver no apartamento dele até que arrumassem um para eles. No final da história, Victória largou James e ficou com Laurent. E então, James ficou sem faculdade, sem casa, sem namorada e sem melhor amigo.

Eu não tenho idéia de como o caminho de James e de Charlie se cruzaram, mas há alguns meses James vinha quando Charlie “exagerava”.

James suspirou e se sentou na beirada de minha cama.

- Olha Bella, eu realmente não posso fazer nada se você me atacar desse jeito e eu quero ir embora daqui... Seu quarto me lembra o cenário de um filme de terror, sério! – ele disse fazendo careta. Revirei os olhos. – Então, colabore. Está sentindo dores?

- Sim. – apontei para meu estomago e ele me olhou, pedindo permissão para levantar minha blusa. Acenei para que ele entendesse que podia ir em frente.

- É, parece que está bem melhor. Seu braço está bom?

- Sim, tudo bem.

Ele me olhou por alguns instantes e balançou a cabeça lentamente.

- Não parece estar tudo bem. – ele falou parando seu olhar em minhas cicatrizes.

Retirei a toalha que eu tinha amarrado em meu braço e abaixei as mangas do casaco. Eu me sentia muito exposta quando alguém olhava para meus braços. Até mesmo quando eu estava com os cortes escondidos, quando alguém olhava para o local onde eles estavam eu sentia que eles podiam ver mesmo com o tecido os cobrindo.

- Eu estou bem. – menti.

- Me conta como se sente, pode se sentir melhor se o fizer. – ele tentou me persuadir. Olhei em seus olhos azuis tentando encontrar algo que me dissesse que eu podia cofiar nele. E mesmo não gostando de James, eu queria desesperadamente encontrar esse “algo”.

E foi só nesse momento que eu percebi o quão desesperada por alguém eu estava. Eu mal podia acreditar que sequer pensei em desabafar com James. Eu só podia estar louca mesmo. Recriminei esse pensamento no mesmo instante que o processei. Eu não estava louca. Eu não sou louca.

- Você se importa? – perguntei em um tom irônico e arqueei uma de minhas sobrancelhas. Qualquer um que me visse perguntando diria que eu não me importava com a resposta. E é claro, eles estariam errados.

- Não realmente. – ele soltou uma risada leve.

 Deixei meu rosto em branco, eu não queria que ele visse como sua resposta me afetava. Mas eu fiquei triste ao saber que a única pessoa que eu podia desabafar não se importava com o que eu iria dizer.

Eu não gostava de James, isso era um fato. Eu não sou do tipo de julgar as pessoas sem conhecer, mas no minuto que olhei para James não fui com a cara dele. Ele era arrogante, cada palavra que ele pronunciava deixava claro que ele pensava ser superior à qualquer um. Mas apesar da arrogância, James não era uma pessoa ruim.

Ele olhou para meu colo e pegou uma de minhas mãos, ele ergueu a manga de meu casaco e ficou um bom tempo olhando para minhas cicatrizes.

Eu me lembro como se fosse hoje do dia que James apareceu pela primeira vez. Eu tinha acabado de acordar e me sentia completamente dolorida. Tive uma sensação estranha, como se eu estivesse sendo observada. Abri meus olhos e vi um cara com o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo e um sorriso irônico nos lábios. Eu estava descoberta e estava usando uma camiseta sem mangas, meus braços estavam completamente descobertos e meus cortes expostos. Me lembro do horror e da vergonha que senti por saber que ele já tinha visto. Pensei que ele fosse fazer um comentário maldoso ou perguntar algo sobre aquilo, mas não. Ele se apresentou como meu novo médico e não falou absolutamente nada do que tinha visto.

Essa era uma coisa boa sobre James, embora eu saiba que ele me achava uma mimada louca por atenção, ele não me julgava. Talvez porque ele seja mimado e louco por atenção também.

Ele limpou meus cortes e depois pegou esparadrapos e começou a enrolá-los no meu pulso. O modo como James fazia isso me fez soltar uma leve risada, ele estava tão concentrado que parecia até um profissional.

- Você até parece um médico de verdade assim. – debochei, o sorriso irônico voltou aos seus lábios, mas ele não desviou os olhos do que estava fazendo.

- Eu faço o que posso. – quando terminou pegou uma cartela de comprimidos e me entregou, depois seus olhos se voltaram novamente para meus pulsos cobertos pelo esparadrapo. – Isso é para a dor no seu corpo e... eu recomendo que vá ao hospital levar alguns pontos, pode infectar.

- Não vai. – falei com convicção e balancei a cabeça.

- Faça o que quiser, eu vou embora! Conheci uma gata ontem, vou ver se consigo me divertir um pouco.

Eu não me importava nem um pouco com as aventuras de James. As coisas que ele achava que eram as mais importantes da vida dele eram fúteis e sem importância pra mim, mas eu sempre o deixava falar. Eu gostava de ouvi-lo falando comigo. Só assim eu podia fingir que eu era normal, que eu tinha alguém.

Pode parecer estranho eu gostar de conversar com alguém que eu não me dava bem, mas ele era a única pessoa próxima a mim, e mesmo que ele não goste de mim e nem eu goste dele, ele era a única pessoa que eu tinha. Algumas pessoas prefeririam ficar sozinhas ao invés de aturar uma pessoa desagradável, mas ninguém sabe o quanto eu desejei ter alguém que só me dissesse “oi”. James podia não ser a melhor pessoa do mundo, mas ele era o único que cuidava de mim. E eu era grata por isso mesmo sabendo que ele só o fazia por interesse próprio.

"Antes mal acompanhada do que só." eu pensei.

- Bem, já estou indo. – James falou se levantando de minha cama.

- Mas já?

Eu me sentia um pouco sufocada com a idéia de ficar sozinha novamente. Pois, eu sabia que no momento em que eu ficasse sozinha, eu me lembraria. E lembranças só me traziam mais dor.

Assim que James foi embora, eu me levantei da cama e desci até o andar de baixo. Fui até a cozinha procurar algo para comer e realmente não encontrei nada que eu quisesse, mas como eu estava realmente com fome, forcei uma fatia de pizza fria em minha boca.

Meu corpo dolorido me impedia de me mover normalmente, o que significa que eu estava andando ainda mais cuidadosamente e mais devagar do que o normal. Sentei-me em uma das cadeiras da pequena mesa da cozinha e fiquei um bom tempo ali, só sentada, olhando pela janela e pensando em como seria a vida lá fora. Tudo o que eu queria era saber como era a vida fora dessa casa com tantas magoas e dores.

Arfei de susto pelo barulho agudo que soou pela casa inteira. A campainha. Me levantei abruptamente e me arrependi logo depois quando meu corpo inteiro protestou pela dor. Sufoquei um gemido e caminhei lentamente até a sala.

Abri a porta e estaquei em meu lugar ao ver quem estava ali. Meu coração batia tão forte que eu pensei que a qualquer momento ele fosse estourar dentro de mim. Abri minha boca tentando encontrar algo para dizer.

Ele me olhou com uma expressão indecifrável e então quebrou o tenso silencio entre nós.

- Oi Bella.

- Edward? 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, curtiram o capítulo? Espero que sim *-*
Não esqueçam de comentar... E podem recomendar também! haha
Beijos :D
Facebook: https://www.facebook.com/karyna.psl?ref=tn_tnmn