Edward POV

- Eu não acredito que você fez isso! – sussurrei acelerando o passo e deixando minha irmã para trás.

- Eu precisava fazer alguma coisa. Você fica bancando o babaca em vez de ir falar com ela, me poupe Edward. Sua atitude é ridícula! – ela falou também apertando o passo para ficar lado a lado a mim.

- Você não tem que se meter nisso. – falei duramente para ela – Vá arrumar o que fazer, Alice!

Eu sabia que ela estava certa, mas não queria admitir isso. Eu sabia que eu era um idiota e o que eu fazia com ela era imperdoável, mas eu não via nenhuma outra maneira de fazê-la me notar.

Suspirei pesadamente e parei encostado a uma porta que dava acesso aos fundos da escola, era onde ficavam as mesas de piquenique, era onde ela ficava.

Bella estava sentada na mesma mesa de sempre, era a única que ficava em uma área coberta, protegida da chuva. Ela segurava sua edição surrada de O morro dos ventos uivantes e o lia com concentração. Ela já havia lido esse mesmo livro centenas de vezes. Na verdade, ela lia o mesmo livro, no mesmo lugar há dois anos. Eu sabia que era o livro favorito dela.

Ela estava linda hoje, na verdade ela sempre estava linda, mas hoje, com aquela blusa de mangas compridas azul escuro, ela estava ainda mais. Essa cor realçava ainda mais sua pele pálida, essa cor tinha se tornado minha favorita por que foi com uma blusa dessa mesma cor que eu há vi pela primeira vez. Acho que foi naquele primeiro dia mesmo que eu me apaixonei por ela.

Suspirei pesadamente e abaixei a cabeça. Senti uma mão tocar meu ombro e me virei para olhar Alice.

- Eu sei que você não quer isso, Edward. Sei que gosta dela de verdade, mas por que age desse jeito?

A pergunta me pegou de surpresa, e foi aí que eu notei que eu não tinha a menor idéia de como respondê-la.

Eu me encantei com Bella desde meu primeiro dia em Forks, mas ela mal olhava para mim. Eu tinha somente uma aula com ela, e que compartilhamos até hoje, biologia, e mesmo sentando do meu lado todos os dias ela não me olhava. Eu tentei falar com ela e me apresentar, mas ela continuou com os olhos fixos no caderno e não respondeu. Como se eu fosse invisível! 

Dias depois daquela mesma semana eu vi Mike encostado em seu carro no estacionamento da escola. Fui até ele e notei que ele estava bem perto de onde o carro de Bella estava estacionado, mas ela não estava ali.

- Ei Mike! – falei.

- Edward. – ele deu um tapinha em minhas costas.

Fiquei ali por uns dois minutos até que vi Bella saindo do prédio da escola. A cabeça baixa e os longos cabelos castanhos caindo sob seu rosto. Perfeita! Então, ela tropeçou em seus próprios pés quase caindo, mas conseguiu se equilibrar. Eu soltei uma leve risada, eu já havia notado como ela era desastrada e achava que isso só a deixava mais adorável.

Mike estava rindo também, mas a risada dele não era discreta como a minha, era histérica, alta. Ele gritou o nome dela e disse que ela devia arrumar cadeiras de rodas, elas seriam mais úteis do que as pernas. Meu sorriso morreu e eu me virei para encará-lo, eu ia dizer alguma coisa a ele, mas eu parei assim que ouvi o som mais incrível do mundo.

Bella estava rindo, na verdade quase gargalhando enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Ela passou uma das mãos – que estava escondida por debaixo da manga de sua blusa – pelo cabelo para tirá-lo do rosto, se virou e foi embora ainda rindo.

Eu fiquei confuso. Ela deveria estar chateada pelo que ele disse, mas não, ela estava rindo como se ele tivesse contado a piada mais hilária do mundo.

Eu me lembro da ultima coisa que Mike me disse antes de eu mudar minha atitude. “Tá vendo Edward? Você fica que nem um cachorrinho atrás dela quando na verdade, o que elas querem é alguém assim.” Ele falou apontando pro próprio corpo.

Eu não acreditava que Bella fosse desse tipo. Mas não custava tentar. No dia seguinte eu fiz exatamente o que Mike disse. Eu não ganhei muita coisa, mas foi o único jeito de ouvir a voz dela ou a sua risada. Era bom... até não ser mais!

 Eu tinha 15 anos na época. As coisas que eu - que nós - dizíamos eram bobas e achávamos graça disso. Era engraçado... até não ser mais! Mas com aquela idade nada era levado a sério por nós, por isso que as coisas chegaram até aqui.

Com o tempo, minha paixãozinha por Bella se tornou algo mais forte. Era algo avassalador e que eu não sabia nomear. Me machucava dizer qualquer coisa ofensiva a ela, era como se enfiassem agulhas em meu peito.

- Edward? – a voz de sinos de minha irmã me despertou. Balancei a cabeça para limpar meus pensamentos e respondi a pergunta que Alice tinha feito minutos atrás.

- Era o único jeito, Alice. – sussurrei – Ela nem olhava pra mim. Eu pensei que pudesse fazer algo a respeito.

- Ela ainda não olha pra você, então suponho que seu plano brilhante não tenha dado certo. – ela debochou.

- Não deu. – concordei voltando meu olhar para as mesas de piquenique. - Por isso eu vou parar!

Ela continuava lá, na mesma posição, lendo o mesmo livro. Olhando para ela desse ângulo eu podia sentir o mesmo mistério que me atraiu para ela há dois anos. Eu não sabia o que era, nem se isso era alguma invenção de minha cabeça, mas eu sentia que havia algo de errado com Bella Swan.

Eu a observei demais nesses dois anos que a conheço e assim pude fazer uma lista de varias coisas e manias estranhas que Bella tinha.

Primeira, ela era muito calada. Segunda, ela não tinha amigos. Terceira, ela se afastava das pessoas. E eu não estava só falando de passar à hora do almoço do lado de fora, onde não tinha ninguém. Quarta, ela tinha o hábito de deslizar a mão do pulso até o cotovelo, como se estivesse fazendo uma caricia. Isso poderia não ter significado nenhum, mas havia algo nesse gesto que me dava arrepios.

Ela era uma adolescente de dezessete anos linda e pelas espiadas que eu dava na agenda do professor de biologia, era muito inteligente também, mas havia algo nela que não se encaixava. Eu não sabia se eu só estranhava os fatos de ela não ter nenhum amigo na escola, não conversar com ninguém e procurar se manter o mais afastada possível ou se realmente havia algo muito pior do que uma garota anti-social acontecendo. E eu tinha medo de que houvesse.

O sinal da aula tocou e eu a vi guardar o livro dentro da mochila. Antes que ela pudesse se virar eu saí dali a passos largos para não ser pego. Alice me acompanhou bem de perto, ainda sem falar nada, e isso era bem incomum.

Eu não fui à aula de biologia, eu queria saber o que Alice tinha conversado com Bella e eu sabia que não conseguiria isso quando chegasse em casa. Alice tinha o poder de sumir de vez em quando, e eu é que não iria procurá-la em minha própria casa quando eu sabia que não a encontraria. Pelo tamanho dela, ela devia de esconder em uma das gavetas do guarda roupa.

- Vamos conversar no carro. – chamei Alice. Ela me olhou com os olhos escuros e infantis bem arregalados.

- Mas eu tenho aula agora! – a voz dela subia algumas oitavas e estava vazando medo por ela.

Alice tinha um grande defeito – para ela era uma qualidade, mas isso depende muito do ponto de vista – de sempre querer fazer a coisa certa. Ela nunca faltava aula, nunca desobedecia ninguém e quando tira uma nota baixa – o que é muito raro –, chora o dia inteiro. Então eu deveria supor que ela hesitaria em matar aula comigo.

- Vamos Alice. Faltar aula uma vez na vida não vai te matar. – tentei persuadi-la.

- Não, o que – ou melhor,quem - vai me matar é o papai se ele descobrir isso. – ela levantou a voz.

Suspirei pesadamente e revirei os olhos.

- Pensei que quisesse me ajudar. – falei soando desapontado – Me ajudaria muito se contasse sobre o que você falou com Bella. – terminei fazendo beicinho.

- Isso não vale, você aprendeu a fazer esse beicinho comigo. – ela cruzou os braços sob o peito.

Revirei os olhos novamente. Alice às vezes aparentava ter menos maturidade do que uma garota de dez anos, mas pensando por outro lado, a certa nesse momento era ela. Continuei a encará-la, eu sabia que em algum momento ela cederia. Eu conhecia minha irmã.

- Tudo bem, vamos conversar no carro. Mas pelo amor de Deus, pare de me olhar assim! – ela bufou e saiu andando em direção ao estacionamento. Balancei a cabeça rindo e a segui até meu volvo prata.

- Certo, agora me conte absolutamente tudo, não me esconda nenhum detalhe e não me enrole. – falei não escondendo minha curiosidade e apreensão. A conversa que Alice teve com Bella poderia me ajudar a desvendar o que havia por detrais daquela fachada indiferente ou simplesmente arruinaria qualquer chance que eu tinha de me aproximar dela.

- Tudo bem. Vou te contar absolutamente tudo. Bom...

“Eu entrei na minha aula de inglês e notei que ela já estava sentada no seu lugar habitual, eu já estava louca pra falar com ela há tempos, mas você não deixava e naquela hora eu vi a oportunidade perfeita e não tinha como você me interromper. Então, eu caminhei até ela e me sentei na cadeira ao seu lado, eu sabia que ninguém se sentava ali, então não me importei.

Eu fiz o máximo de ruído que pude ao me sentar, mas mesmo assim ela não levantou o olhar. Eu sabia que ela tinha notado minha presença, por que assim que ouviu o ruído da carteira se arrastando contra o chão, ela ficou imóvel, mas continuou a encarar a carteira a frente dela.

Quando notei que ela iria ignorar minha presença, decidi quebrar o silencio.

- Olá. – falei no tom mais caloroso que consegui.

Ela finalmente olhou para mim e eu pude ver seu rosto de perto pela primeira vez. A pele dela era muito pálida, realmente pálida. E não era uma palidez saudável, parecia que ela estava doente ou algo assim. O cabelo liso um pouco bagunçado caía sobre os ombros. E os olhos dela completamente inexpressivos.

Ela demorou um pouco para responder e por um momento pensei que não o faria, mas então ela me respondeu em uma voz minúscula.

- Oi. – Eu tinha vontade de gritar de felicidade, eu nem acreditava que ela tinha falado comigo de verdade. Controlei minha empolgação e apenas sorri para ela.

- Meu nome é Alice Cullen. Temos essa aula de inglês juntas há dois anos e só agora eu tive coragem de falar com você! Bella, não é? – perguntei tentando puxar assunto.

- É. – foi a curta resposta dela.

Eu estava um pouco decepcionada pelas curtas respostas dela e por um momento me perguntei se eu estava a incomodando e se eu devia dar meia volta e me sentar no meu lugar no fundo da sala, mas eu sabia que não teria outra chance de conversar com ela assim. E foi então que eu me lembrei o porquê de eu estar sentada ali, falando com ela.

- Sabe, eu acho isso muito legal em você! – eu falei a olhando com admiração.

- Isso o que? – ela perguntou entediada. Eu corei intensamente, eu com certeza estava incomodando.

- Isso de você não ligar para as brincadeiras idiotas que fazem com você. Acho que se fosse comigo, eu abandonaria a escola ou ficaria chorando o dia inteiro. – eu disse em um tom divertido, mas eu sabia que era verdade.

Eu tinha visto Lauren e Jessica zombando dela hoje mais cedo e quando eu ia defendê-la, ela abriu um largo sorriso e soltou uma risada incrível. Eu fiquei impressionado com a indiferença dela, você não acha incrível?”

Acenei com a cabeça concordando com Alice e franzi os lábios, pensativo. Eu não sabia que ela tinha sofrido abusos hoje de novo. Isso só serviu para me chatear ainda mais.

- Continue. – pedi a Alice e no mesmo instante ela voltou a tagarelar.

“Algo nela mudou. Eu podia ver, não, eu podia sentir que alguma coisa estava acontecendo ali. Eu podia ver um misto de emoções girando pelos olhos chocolate, os mesmos olhos que geralmente não tem emoção alguma estavam com varias ao mesmo tempo, e eu não sabia nomear nenhuma.

- Bella, você está bem? – perguntei já me preocupando com o silencio dela.

Ela se assustou um pouco ao ouvir minha voz. Ela provavelmente estava viajando em outro mundo. Parecia até que tinha esquecido de minha presença ao seu lado.

- Eu estou bem. – ela sorriu.

O sorriso dela é tão lindo, Edward. É realmente uma pena ela sorrir tão pouco!

Eu ia comentar algo sobre isso, mas nesse exato momento o professor entrou na sala de aula e eu fui para o meu lugar.

Eu não consegui me concentrar direito na aula, fiquei o tempo inteiro repassando nossa conversa em minha cabeça, e ensaiando mentalmente nossa próxima conversa.

Quando a aula acabou, eu arrumei meu material rapidamente e parei atrás de Bella esperando ela terminar de arrumar seu próprio material. Quando ela se virou e me viu parada ali, arfou de susto e se possível, o rosto dela ficou ainda mais branco. Eu não consegui me conter e soltei uma risadinha.

- Me desculpe, eu não queria te assustar. Eu só queria saber se você quer se sentar conosco. – perguntei esperançosa.”

- Você o que, Alice? – eu falei erguendo a voz.

Ela deu de ombros, como se não tivesse feito nada de mais e continuou com sua história.

“- Conosco? – ela perguntou parecendo confusa.

- Sim, comigo e com meus irmãos. – eu estava tão empolgada que comecei a dar pulinhos no chão.

Ela me olhou com a expressão em branco por alguns minutos. Eu me senti um pouco desconfortável diante seu olhar, mas não desviei o meu do dela. Ela parecia estar me analisando, e mesmo sem mostrar nenhuma emoção, eu podia jurar que ela estava desconfiada.

Então, finalmente, ela respondeu.

- Por quê? – ela olhou diretamente nos meus olhos agora e eu retribui o olhar.

Eu podia ver aqueles milhares de sentimentos girarem pelos olhos dela de novo. E um, apenas um, eu consegui identificar. Desconfiança. 

- Eu só queria ser sua amiga! – respondi sinceramente.

Ela ficou em silencio por algum tempo, menos do que da ultima vez. E suas palavras me surpreenderam.

- Não é uma boa idéia! – ela disse e saiu da sala jogando a mochila sobre o ombro.

Eu fiquei parada no mesmo lugar por alguns minutos, quando me recuperei fui para minha próxima aula.”

- Você não tem ideia do quanto eu fiquei magoada. – Alice suspirou tristemente. Eu também estava um pouco decepcionado que o plano dela não tinha dado certo, mas não diria isso a ela.

- Eu faço ideia. 

- Não faz, não! – Alice alterou a voz e se encostou contra meu carro. Imitei seu movimento e coloquei as mãos no bolso de meu casaco. – Isso tudo é culpa sua, sabia? Ela não quis almoçar comigo por que sabia que você estaria lá. Ela provavelmente te odeia!

Abaixei a cabeça sabendo que era verdade. Bella provavelmente me odiava, e com toda razão. De uns tempos pra cá, eu tinha começado a me odiar também.

Antigamente, quando eu tentava chamar a atenção de Bella, eu dizia aquelas idiotices e esperava que um dia ela viesse falar comigo. Eu não ligava se fosse para me ofender também ou para me bater, eu só queria que ela me notasse.

Era egoísta e estúpido, mas com 15 anos eu não tinha a menor idéia do que fazer para que uma garota gostasse de mim. Eu tinha uma forma de pensar diferente da dos outros garotos. Eu acreditava que ser cavalheiro e gentil fosse a melhor forma de conquistar uma garota. Quando isso não deu certo com Bella, eu poderia tentar de tudo se houvesse pelo menos uma chance. Havia uma grande chance de que me tornar um idiota a fizesse gostar de mim. Mas nem sempre as chances estão a nosso favor.

Ela nunca, nenhuma vez, nesses dois anos demonstrou qualquer sinal de que reconhecesse minha presença. Eu acreditava que ela nem ao menos soubesse meu nome. Para ela, eu era invisível! 

No começo, quando eu ainda nem sabia o que dizer para chamar a atenção dela, eu tive medo de que eu a machucasse. Mas parecia que tinha sido o avesso. Cada palavra ruim que eu dizia a ela nem mesmo a afetava, mas afetava a mim. Cada palavra que eu dizia e pensava que, talvez, pudesse machucá-la, machucava a mim.

- Ela está vindo. – Alice anunciou.

Acompanhei o olhar de Alice e vi Bella caminhando entre os carros do estacionamento, de cabeça baixa e andando cuidadosamente, mais devagar que de costume.

Quando ela já estava dentro de seu carro, olhou em volta do estacionamento e parou seu olhar em nós.

- Ela é linda, não é? – Alice falou, mas não a olhei. Eu não conseguia desviar meu olhar de Bella.

- Perfeita. – falei mais para mim do que para ela, mas pelo sorriso de orelha a orelha que Alice exibiu, eu sabia que ela tinha escutado.

- Você vai mesmo parar de agir feito um imbecil, Edward? - Alice perguntou seriamente. Revirei os olhos pela escolha de palavras dela. 

- Sim, Alice. Eu não posso mais fazer isso. - Observei enquanto a picape de Bella deixava o estacionamento. 

- Bom. - ela sorriu e entramos no meu carro.