Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 2
Motivo de piada


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninas. Algumas de vocês me perguntaram se eu tenho dias certos para postar e não, eu não tenho dias certos. Tudo depende de minha linda criatividade. Eu tenho três capítulos prontos aqui, mas estou sem internet, então vou depender da boa vontade dos meus primos para postar! rs
Espero que gostem do capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/313516/chapter/2

Ninguém pode livrar os homens da dor, mas será bendito aquele que fizer renascer neles a coragem para suportá-la.

- Você não serve para nada mesmo, sua imunda! – ele gritou enquanto socava meu estomago.

Eu tentei gritar, mas nada saia de minha boca. Meu corpo inteiro doía, eu não conseguia nem mesmo respirar sem sentir dor.

- Onde você estava até essa hora? – Charlie gritou enquanto me dava outro tapa no rosto.

As lágrimas turvavam minha visão, eu não conseguia ver seu rosto transformado pelo ódio direito com elas em meus olhos, mas elas se recusavam a cair.

- Eu estava na escola. – sussurrei.

Ele me deu outro tapa antes de me soltar. Eu caí mole no chão como uma boneca de pano. Tentei me levantar, mas meu corpo doía demais. Tudo doía.

As lágrimas caiam livremente de meus olhos agora. Eu não entendia direito o que estava acontecendo, não entendia por que ele estava me batendo dessa vez, mas não estava surpresa. Ele sempre me batia, quando não tinha motivos, ele inventava.

Charlie tinha o prazer de me machucar quando estava bêbado. Seja com palavras ou com socos, ele sempre me machucava.

Mas ele nem sempre foi assim. Charlie já foi um bom pai. Eu já até cheguei a pensar que ele me amava, mas não era verdade. Ele não me amava, ele amava a minha mãe.

Quando ela foi embora, eu tinha seis anos, ela alegou que odiava Forks e que não queria passar a vida em uma casa minúscula, em uma cidade minúscula com um homem com uma mente minúscula. Eu não sei o que fez Charlie explodir. Não sei se foi sua saída repentina ou suas palavras duras, mas ele nunca foi o mesmo homem depois disso.

Ele começou a beber, quase todos os dias chegava em casa embriagado, com uma garrafa de cerveja na mão e disposto a acertar a primeira coisa que aparecesse em sua frente. Eu era seu alvo na maioria das vezes. Hoje era uma delas.

- Cadê o meu jantar? – ele gritou.

Tentei acalmar minha respiração antes de falar, mas parecia que ia demorar um século antes que eu conseguisse, e não era uma boa idéia deixar Charlie esperando uma resposta.

- Eu não tive tempo de fazer. – respirei profundamente. Não foi uma boa idéia, isso pareceu intensificar a dor em meu estomago.

- E por que não? – ele chutou meu estomago outra vez. Urrei de dor. – Com quem você estava gastando seu tempo, sua vadia?

Os soluços saiam estrangulados por minha garganta. Eu abri a boca para falar algo, mas nada saía. Fechei meus olhos com força esperando – desejando – que isso ajudasse em alguma coisa, mas eu sabia que não faria diferença alguma.

- Eu não estava com ninguém! – sussurrei em meio aos soluços – Eu estava na escola!

Minha voz parecia estrangulada, parecia que eu estava morrendo. E era como eu me sentia por dentro. Eu sentia que a qualquer momento meu corpo cairia na inconsciência e não voltaria jamais, por que minha alma já estava acabada. Afinal, quanta dor um ser humano pode carregar consigo e ainda continuar vivo? Eu não sabia a resposta.

- Mentirosa! – ele segurou a gola de minha camisa, levantando-me até ficar cara a cara com ele e depois me jogou com toda força no chão.

Minha cabeça bateu com muita força contra o piso de madeira da cozinha. Senti algo molhado em meu cabelo, não demorou muito para eu sentir o cheiro do sangue. Em outra época o cheiro me incomodaria, mas ele não me incomodava mais. Eu já estava mais do que acostumava com o cheiro do sangue, agora era até reconfortante para mim.

Pontos pretos nublaram minha visão e logo me senti caindo na inconsciência.

*~*

Acordei com o barulho do despertador soando pelo meu quarto. Fechei meus olhos com força, eu não queria levantar da cama. Eu não queria acordar.

 Minha cabeça doía assim como o resto de meu corpo, mas a dor física não era maior do que a emocional. Mas não era por causa da dor que eu não queria levantar, e sim por que hoje eu teria que ir a escola.

Para quem leva uma vida como a minha, sendo espancada pelo seu pai em sua própria casa, a escola devia ser um refúgio. Não para mim.

Eu odiava ir para a escola, por que nem lá eu tinha paz. Todos naquela escola me odiavam. Eles me chamavam de nomes que eu prefiro nem pensar. Mas eu tinha que ir. Charlie provavelmente não ficaria nada feliz se soubesse que estou faltando aula, então me levantei e andei bem devagar para o banheiro.

Há essa hora Charlie já devia ter saído para trabalhar, então eu estava sozinha em casa, mas mesmo assim tranquei a porta do banheiro atrás de mim quando entrei. Tirei minhas roupas lentamente para que elas não arrastassem em minhas contusões e nem em meus cortes.

A ultima vez que Charlie me bateu foi na sexta-feira quando cheguei da escola, hoje era segunda, meus machucados estavam um pouco melhores, ainda doíam muito, mas a dor era suportável. Eu já estava acostumada a ela.  

Tomei um banho morno apreciando a temperatura da água, e sentindo-a relaxar meus músculos. Os cortes mais recentes em meu braço esquerdo queimaram um pouco, mas ignorei isso.

Parei de frente ao espelho grande que tinha no banheiro e observei meu corpo nu com desgosto. Havia hematomas e contusões em cada parte de meu corpo. Não havia um centímetro se quer que Charlie não tenha marcado e mesmo se meu corpo não estivesse completamente roxo, eu sabia que ele era horrível. Eu era horrível. Olhei para o meu rosto dessa vez e senti as lágrimas invadirem meus olhos. Eu sou horrível.

Peguei o corretivo que estava guardado no armário do banheiro e passei na marca que a mão de Charlie deixou em meu rosto. Ele sempre era muito cuidadoso com os locais onde ele me batia, ele nunca deixava marcas em um lugar visível. Somente quando estava completamente fora de controle.

Saí do banheiro enrolada em uma toalha e voltei ao meu quarto para procurar uma roupa para eu ir à escola. Abri meu guarda roupa e o revirei até achar algo decente para vestir e que cobrisse todos os machucados de meu corpo. De todos eles, o que eu mais me preocupava em esconder eram os cortes em meu pulso que eu mesma fazia. Eu já podia imaginar o que diriam na escola se soubessem que eu cortava meus pulsos. Se alguém descobrisse, eu não seria só a esquisita, eu seria a emo suicida também. Então todos os dias eu escolhia uma blusa de mangas compridas. Era bom que Forks fizesse frio o ano inteiro.

Quando acabei de me arrumar saí de casa e entrei na picape sem tomar café da manhã. Eu quase nunca comia de manhã, na verdade, eu quase não comia, nunca. Mesmo com o estomago vazio eu não sentia vontade de comer nada, e quando sentia não descia muito pela minha garganta.

Quando estacionei o carro na escola, fechei meus olhos e suspirei pesadamente. Antes de sair eu tinha tomado um tylenol, mas a dor continuava a me incomodar, principalmente no meu estomago e nas minhas pernas.

Saí do carro e abaixei a cabeça quando notei que os garotos do time de futebol já estavam me olhando e rindo. Eu me sentia muito autoconsciente quando alguém me olhava, principalmente quando eu sabia que eles estavam rindo de mim. Senti meu rosto queimar de vergonha, apertei o passo para chegar mais rápido ao prédio da escola, mas quando o fiz, uma das feridas em minha perna latejou e eu tropecei quase caindo, mas consegui me equilibrar.

Eles riram ainda mais alto.

- Ei, Swan! Você podia jogar suas pernas fora, já que elas não funcionam direito! – Senti as lágrimas se juntarem em meus olhos, mas as segurei. Eu não choraria aqui onde todos podiam ver.

Como se não bastasse eu não conseguir andar sem tropeçar, minha falta de jeito era motivo de piadas aqui na Forks High. Eu sabia que era idiota me entristecer por causa desse tipo de brincadeira, mas me machucava muito.

Eu sabia quem tinha dito aquilo. O nome dele é Edward Cullen, filho do melhor médico da cidade. Eu não sabia quando essa implicância comigo começou, ele nem sempre me ofendeu assim, no começo ele era até legal comigo, mas eu o ignorava. Talvez por isso ele tenha raiva de mim, por que eu o ignorava quando ele falava comigo, mas não era minha intenção. Eu queria falar com ele, mas eu não podia. Eu simplesmente não queria fazer nenhum tipo de amizades, seja na escola ou onde for. Eu sabia que se deixasse alguém entrar em minha vida, eu acabaria me machucando depois. Machucando-me ainda mais, eu me corrigi.  

Caminhei até minha primeira aula sem incidentes. Eu pude ouvir alguém rir por causa do jeito que eu andava, mas ignorei. Minha perna doía muito e isso me fazia tropeçar mais do que o normal. Além de que eu notei que estava mancando também.

As aulas passaram rapidamente, eu não sei se era por que eu não estava prestando total atenção ao que acontecia ao meu redor ou se o tempo realmente estava a meu favor. Logo a hora do almoço chegou e eu fui até o lado de fora, sentei-me em uma das mesas de piquenique e abri meu livro favorito, o morro dos ventos uivantes.

Eu não me sentava na cafeteria com os outros alunos. Eu evitava ao máximo ficar próxima de outras pessoas, principalmente se eu sabia que corria o risco sofrer mais humilhações.

A chuva caia fortemente ao meu redor. Isso me trouxe uma onda de melancolia. Coloquei meu livro em meu colo e estendi as mangas de minha blusa. Olhei para meus pulsos completamente marcados e não pude conter as lágrimas de caírem de meus olhos.

Essas marcas eram a prova de quão fraca eu era. Eu me lembrava muito bem da primeira vez que fiz os cortes. Da sensação de alivio misturada com a dor, e logo depois o desespero ao sentir que desmaiaria ao sentir o cheiro do sangue. Ri com a lembrança. Os cortes que eu fiz naquele dia não eram fundos, mas mesmo assim eu pensei que morreria. Passei o dedo indicador no local em que eu me lembrava ter feito o primeiro corte. Já fazia tantos anos que vários outros cortes foram feitos por cima.  

Tive a sensação de estar sendo observada e rapidamente abaixei minhas mangas. Olhei ao redor, mas não vi ninguém. Quando eu ia desistir de procurar eu o vi.

Parado, encostado a porta que dava acesso ao refeitório estava Edward. Ele me olhava intensamente, nem mesmo piscava. Eu pensei que quando ele notasse que eu o peguei me olhando ele se viraria e ia embora, mas não. Ele segurou meu olhar, mas eu desviei meus olhos dos seus e corei.

Eu pensei que ele viria aqui me dizer algo ofensivo como ele sempre fazia, mas ele não fez. Ele continuou ali parado, me observando. Virei-me em meu lugar e abri meu livro novamente. Eu sabia que ele não tinha ido embora, mas não me virei para ver.

Fiquei ali até o sinal do fim do almoço soar, guardei meu livro em minha mochila ainda sentindo os olhos de Edward em mim. Eu queria ir até ele e perguntar qual era o problema dele e o que ele queria, mas eu era covarde demais para isso. E também, eu sabia que se falasse algo com ele, ele me chamaria de algum dos apelidos que ele e seus amigos haviam me dado, e a vontade de me cortar voltaria. Eu não poderia correr o risco.

 Quando me virei para sair dali, Edward já não estava mais lá. Agradeci internamente por isso, mas aí me lembrei que agora era aula de biologia e ele era meu parceiro de laboratório. Tudo bem, só uma hora e eu iria para casa.

Caminhei lentamente até biologia, não tinha nenhuma pressa de chegar até lá. A dor em minha perna era tolerável, mas meu estomago doía ainda mais agora e eu não havia trago o remédio para dor comigo.

Cheguei à sala de aula e notei que Edward já estava sentado em seu lugar. Sentei-me em minha carteira que era ao seu lado e abri meu caderno. O professor não tinha chegado ainda, então fiquei desenhando desenhos aleatórios na ultima folha de meu caderno.

Senti os olhos de meu parceiro de laboratório em mim, mas não me virei para olhá-lo. Logo o professor entrou na sala, mas eu ainda senti os olhos de Edward em mim durante a aula inteira.

Quando acabou, eu saí às pressas daquela sala. Era a ultima aula e eu estava mais do que ansiosa para voltar para casa.

No estacionamento eu quase corri em direção a minha picape. Eu sabia que Charlie chegaria tarde em casa, então eu teria pelo menos duas horas de paz antes que ele chegasse.

Quando avistei minha picape parei estarrecida em meu lugar. Tyler e Mike estavam encostados no meu carro olhando em minha direção. Quando perceberam que eu os olhava Tyler acenou para eu ir até eles. Ponderei se eu devia. Uma voz no fundo de minha cabeça me disse para me virar e ir embora, para não me aproximar, mas eu não a ouvi e avancei o passo. Eu tinha que chegar a minha picape para chegar em casa de qualquer maneira.

Quando eu estava de frente para eles, Mike se desencostou de meu carro e começou a falar.

- Oi, Bella. Ficamos sabendo do seu novo emprego e o Tyler aqui – Mike apontou para o amigo que estava tentando conter o riso – queria ser um cliente.

- Meu novo emprego? – perguntei franzindo a testa.

- Não precisa esconder de nós. – Tyler riu – Já sabemos de seu emprego em Port Angeles.

- Eu não sei do que estão falando. – tentei passar por eles, mas Mike se postou a minha frente, impedindo minha passagem. Mike tirou o celular do bolso e clicou algumas vezes antes de voltar a falar.

- Não esconde o jogo, Bella! A gente já sabe... Todo mundo sabe! – e então ele estendeu o celular para que eu pudesse visualizar a tela.

Minha respiração ficou presa em minha garganta. Eu me senti doente e enjoada. À vontade me cortar veio com toda força dessa vez, eu me sentia desesperada para fazer pelo menos um corte em minha pele e quase me bati por não trazer uma lâmina comigo.

No celular tinha uma foto minha. Não era realmente eu, somente o rosto. Era uma prostituta em uma das ruas de Port Angeles, mas tinha uma foto de meu rosto em vez do dela. Olhei ao redor e vi um grupo de garotos nos olhando. Todos estavam olhando para os próprios celulares e rindo, exceto um deles. Edward!

Meu cérebro ficou entorpecido. Eu não conseguia falar, nem me mover. A dor em meus membros desapareceu, eu não conseguia sentir mais nada! Olhei para os garotos na minha frente com a expressão vazia, mas por dentro eu estava sangrando. De novo!

Quando recuperei meus sentidos, corri para a picape, nenhum deles tentou me impedir dessa vez. Eles estavam quase se desequilibrando de tanto que riam.

Entrei na picape. Meu cérebro ainda em branco. Eu não me lembro de dirigir até em casa, nem de abrir a porta da frente ou de subir as escadas até meu quarto. A única coisa de que me lembro é de pegar minha lâmina mais afiada na escrivaninha, arregaçar as mangas de minha blusa e revezar os cortes em meus braços antes de cair na inconsciência. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam do capítulo. Se gostaram, não gostaram, o que preciso retirar, acrescentar... O que for! Não se esqueça de mandar um review :)
Beijos e até o próximo *-*