–Clarice? - Dan falou estático.

Ethan sussurrou alguma coisa para Dan.

–Com licença - Dan se levantou e foi até a garota.

Ela notou a presença dele e ficou o encarando. Ele a puxou pelo braço e eles saíram de lá.

Espera, quem é essa garota?

É o dia conseguiu ficar pior, e sim, acho que não sou a unica que está fugindo do ex.

(...)

P.O.V Charlie

–Quem é ela? - Foi a única coisa que consegui perguntar a Blake. Minha garganta estava seca, e meus punhos fechados.

– Não se preocupe Chars – ele disfarçou e voltou a comer.

– Charlie, eu tenho algo a dizer – Hanna falou, tentando me acalmar. – eu passei.

– Passo pra onde? Do que você está falando? – Perguntei confusa, mas na verdade já sabia o rumo da conversa.

– Você nunca me deu a oportunidade de falar, mas eu prestei vestibular de musica, para a UCLA. E passei. - Eu acabei cuspindo toda minha esfirra na cara de Blake.

Só eu sei o quanto ela se esforçou, mas não estava surpresa, confesso. Hanna merece mais do que ninguém essa vaga.

– Hanna, parabéns, você merece. Por que nunca me disse que queria fazer musica? - Perguntei com uma pontinha de ciumes. Até Blake sabia, mas eu não.

– Você estava sempre muito ocupada com o Dan e tudo mais. Não estava mais se importando comigo. - Senti uma pontinha de ciumes dela.

– Han, me desculpa, não foi minha intenção. - Ela estava certa. Parece que um certo garoto está ocupando demais minha cabeça.

– Ela sabe – Blake disse segurando sua mão.

– Alias, quando isso começou?! - Perguntei apontando para as mãos entrelaçadas.

– Há exatamente um mês – Blake disse - sorrindo.

– Você lembra? – Pareceu estar surpresa.

– E como eu esqueceria? – E ambos sorriram.

Eles se beijaram ali mesmo. Era visível que eles se gostavam demais, quem sabe isso não é amor?

– Vocês ficam lindos juntos - Falei os observando.

Tudo parecia tão fácil para eles, era tão natural. Diferente de nós - eu e Dan.

– Obrigada – Falaram sorrindo.

– Vou deixar você um pouco sozinhos – Disse me levantando. Eles mereciam esse tempinho de casal. - Tchau casal - Sorri e me afastei.

Procurei vovó, mas não a encontrei. Sai de lá e comecei a andar sem rumo. Quando eu vi aquela garota ruiva, já não fui com a cara dela. É coisa de mulher, é um jeito que você se retrai quando vê alguém mais bonita e se sente ameaçada. O jeito que Dan olhou para ela, eu não gostei. Eles se conhecem, e se ela for uma ex namorada? Para onde eles foram? Meu ódio subiu a cabeça quando pensei o que eles podiam estar fazendo.

Mas porque diabos eu estava me sentindo desse jeito? Eu não sou nada dele e ele não é nada meu. Deus, como esse garoto idiota mexe comigo. Eu nunca senti isso por ninguém, Michael, Blake, Finn.. Nenhum. Dan consegue vencer todos eles, em disparada. Minha vontade agora era de chorar. Aquela garota ruiva escrota levou ele de mim, e eu sempre quis ser ruiva. Que raiva.

Cheguei em casa e ninguém estava lá, como sempre. Senti um perfume no ar, era Dan. Era o cheiro dele. Subi as escadas e a porta do quarto dele estava aberta, assim como o guarda roupa. Estava vazio, não tinha nada dele ali. Um aperto no meu peito me fez cair no chão. A sensação de ter sido deixada, dele ter ido embora, foi a mesma de quando perdi Luke.

Vasculhei tudo no quarto e não tinha mais nada dele, era como se Dan fosse um fantasma. Nada que lembrasse da sua existência existia, apenas na minha cabeça que me fazia acreditar que tudo isso tinha sido real. Meus olhos já estavam em lágrimas, e meu coração em pedaços. Só conseguia xingar mentalmente aquele idiota.

Sai de casa, só de saber que ele não estava mais ali me fez estremecer. Uma música martelava em minha cabeça.

I walked across an empty land

I knew the pathway like the back of my hand

I felt the earth beneath my feet

Sat by the river and it made me complete

Oh, Simple thing where have you gone

I'm getting old and I need something to rely on

So tell me when you're gonna let me in

I'm getting tired and I need somewhere to begin...

Porque diabos eu estava assim? Ele não é nada meu, nós não tivemos nada além de um beijo e muito drama.

And If you have a minute why don't we go

Talking about that somewhere only we know?

This could be the end of everything

So why don't we go,

Somewhere only we know?

Eu sei qual o lugar em que não apenas nós sabemos, mas que foi o começo de tudo isso.

Fui até o galpão. Fazia algum tempo que coordenava tudo pelo telefone, minha mãe e minha prima estavam me ajudam e como tudo na minha vida estava uma bagunça - Dan - elas estavam ajudando. Faltava pouco para data da feira, e eu não posso negar que estava ansiosa. Meu pai falou que já tinha uma banda que ia se apresentar, mas que era surpresa.

Chegando lá avistei vários voluntários, e muitos agricultores da região. Observei atentamente todos os detalhes de toda decoração. O esquema já estava montado, tudo estava finalizado. Daqui a quatro semanas, quatro semanas para o aniversário dele. Ele ficaria orgulhoso, tenho certeza.

Ficaria mais ou menos assim: O campo de exposições da cidade já esta reservado, o parque de diversões já estava confirmado, assim como os artistas locais. Os expositores eram todos da região e teríamos de tudo, artesanato até produtos coloniais. O dinheiro seria revertido para o hospital, e o das vendas para a associação de moradores. Luke tinha deixado tudo ali, só faltava um empurrãozinho. Sorri ao ver tudo assim, do jeito que ele queria. Não tinha mais nada a ser feito, e nada que me impedia de ir para a faculdade mais cedo.

Já estava anoitecendo, me perdi no tempo vendo todos os detalhes com o pessoal. No caminho encontrei a pessoa a qual venho fugindo há tempos.

–Charlie - Michael disse se aproximando.

–Pra você é Charlotte - Ri sozinha lembrando de quando falava isso para Dan.

–Tudo bem, eu sei que vai demorar pra você me perdoar, mas acima de tudo nós sempre fomos amigos - Ele sorriu. Estava com as mãos no bolso do moletom.

–É, você tem razão - Sorri sincera.

–Posso te acompanhar até em casa? Eu prometo ficar quieto - Olhei para ele e assenti.

Eu já não tinha mais problema em falar com Michael, ficar perto dele ou até mesmo pensar nele. Eu já não sentia mais nada. Tive certeza disso no momento em que ele me chamou, minutos atrás e esperei que fosse outra pessoa. Eu não gostava mais dele, não sentia mais nada. Meu coração já pertencia a outro. Sorri sozinha, mas esse sorriso desapareceu assim que cheguei em casa. Ele não estava mais ali, ele foi embora.

–Charlie - Me virei o encarando - Obrigada pela nova chance - e beijou minha bochecha.

–Tchau, Michael - Abri a porta de casa e entrei.

Não, sem esse papo sentimental de novo. Amigos, só amigos.

–Charlie? - Minha mãe estava sentada no sofá deu um pulo -

Voce recém sai do hospital e já saiu de casa? Voce se acha o Batman? Voce tem que se cuidar menina - Ela bufou -O que aconteceu? Porque você está com essa cara?

–Nada, mãe.

–Charlie, é o Dan não é? - Ela se aproximou.

–O que tem ele, puff.., obvio que não é ele - Menti para ela, mas não consegui enganar me enganar.

–Eu gosto dele, Chars. E acho que ele sente o mesmo por você -

Ela sorriu.

–Ah, sim, claro. Quem gosta vai embora, quem gosta não fala o que sente, quem gosta faz coisas idiotas. Sim, mãe. Você tá super certa - Falei irônica subindo as escadas.

–Mas, Charlie o Dan.. - Eu já tinha subido.

Fechei a porta do meu quarto e me joguei na cama. Esse sentimento de bosta que está me fazendo enlouquecer. Eu preciso me livrar disso, me livrar dele. Fechei os olhos imaginando um lugar melhor, um lugar sem ele. Acordei com o celular vibrando na minha cara. Uma mensagem nova de Hanna. Olhei a hora já eram 3 da manhã. Hora das bruxas, ri sozinha. Fui responder a mensagem no whats, mas infelizmente a bateria acabou. Droga, eu visualizei mas não respondi. Hanna odeia isso, ela vai me matar. Abri a janela e encarei o horizonte, estava tudo escuro e a noite estava fria. Fui até o telhado e me sentei lá, tinha perdido o sono.

Seria tudo mais fácil se Luke não tivesse morrido, se eu não tivesse conhecido Dan. Se tudo não passasse de um sonho. Olhei para as estrelas, todas lindas e brilhantes. Milhões de cantadas sendo ditas nesse momento para garotas e eu aqui, sozinha, como sempre. Fechei os olhos e acabei me desequilibrando e caindo. A casa tem dois andares, eu sempre imaginei que quando caísse eu me mataria. Não foi o que aconteceu, apenas bati o meu braço e senti uma dor imensa na costela.

E ali estava eu, parada as 3 da manhã na frente da minha casa após um tombo. Eu não tinha chave, meus pais estavam dormindo. Só me resta esperar meu pai sair para o plantão, logo depois. Me sentei nas escadas, fiquei parada encarando o nada. Esperando o nada, porque eu tenho certeza de que ele não vai mais voltar, ele não vai mais voltar pra mim.

Me assustei com um barulho, um carro parou em frente a minha casa. Era um táxi. Tentei ver quem estava chegando, mas não consegui. Estava muito escuro e distante. Só escutei passos e de repente os olhos verdes marcantes saíram do escuro. Dan estava ali, ele estava parado me encarando. Tentei falar, mas não saia nada. Ele foi se aproximando lentamente e cada vez foi ficando mais perto. Colocou as mãos em minha cintura, bem onde estava doendo. Mas não doeu, o calor de suas mãos fez com que parasse. Eu me sentia segura.

–Charlie, antes que você me bata - Sua você estava tensa e rouca, o que me fez estremecer - você já sabe o que eu vou fazer.

E me beijou.

Foi diferente de todos os nossos beijos, teve paixão. Eu consegui sentir o quanto ele estava esperando por isso, o quanto ele gostava de mim. Milhões de coisas se passaram em minha cabeça, eu só conseguia pensar nele. O quanto ele significava pra mim, como ele me tinha nas mãos. Em como eu virei pó quando ele foi embora, quando ele se foi..

O afastei bruscamente, os olhos verdes brilhando.

–É tão bom ser deixada, ainda mais sem um adeus decente. É tão legal você nem conseguir se despedir da pessoa quando ela vai embora - Foi exatamente o que eu senti quando Luke se foi.

–Charlie, eu sinto muito - Falou sincero olhando em meus olhos.

–Sente muito? Você sai do café com uma ruiva qualquer e não volta mais para dar explicação. Eu chego em casa e adivinha? Você não está. E ainda por cima levou todas as suas coisas e some. Não avisa, não deixa um bilhete. Só vai. - Meus olhos já estavam encharcados.

–Eu tive problemas com a minha família, eu não consegui ligar, nem nada do tipo - Tentou se explicar.

–Eu achei que você tivesse ido embora, que talvez a culpa fosse minha.

–Charlie, eu nunca vou te deixar - Ele passou a mão em meu rosto.

–Será? - O encarei - Será que você não vai me deixar? Será que você não vai me magoar?

–Charlie, eu gosto de você. Não vou fazer isso.

–Viu! É isso! Você diz que gosta de mim, mas depois me trata mal e some, mas depois é querido e engraçado. Eu to cansada disso Dan! To cansada! Isso me mata aos poucos, eu não to preparada pra isso.

–Eu sei que nós somos complicados, todo mundo é assim.

–E se você quebrar meu coração? - Falei com lágrimas nos olhos.

–Charlie, isso só o tempo vai dizer - Ele segurou minhas mãos - Eu não sou o babaca do Michael, eu não vou magoar você - Sua voz estava firme.

–Eu não ligo mais para o que o Michael fez - Falei dando de ombros. Foda se o Michael.

–Aé, porque não? Você ainda ama ele? Charlie, você ama ele?- Ele estava com ciumes?

–Não como eu amo você - Minha boca me traiu e falou primeiro.

–O que disse? - Perguntou novamente.

–Eu amo você, Dan - Falei convicta. Nunca senti minha voz tão verdadeira assim.

–Não como eu amo você, Charlie - Ele sorriu e me beijou de novo. Não sei quantas vezes meus dedos desmancharam aqueles cachos, mas era uma coisa que sempre quis fazer.

Tudo era perfeito, nós nos encaixávamos.

Só paramos quando o ar foi necessário. Ele pegou em minhas mãos e me olhou fundo nos olhos, estava sério dessa vez.

–Charlie, eu preciso falar com você - Ele estava sério.

–Pode falar, Dan - Sorri para ele.

–Charlie, eu..

–Acho que já está na hora de vocês entrarem.

Ah, pai.

Você tinha que chegar bem na hora?

*****

Dear Life,

Eu não sei como eu vim parar aqui. Como eu acabei desse jeito? Eu pensei que todos nós tivéssemos direito a um tribunal na hora do juízo final. Por que eu tenho que viver assim? Presa nessa situação? Porque justo ele? Eu pensei que quando me mudasse todos os meus problemas ficariam, mas não. Eles vieram juntos e também muito piores. Eu preciso de ajuda, e ele não pode me deixar. Se ele me esquecer, eu deixo de existir. Eu preciso literalmente dele para viver.