Edward caminhou por uma espécie de campo à céu aberto pelo que lhe pareceu horas, ainda amaldiçoando seu diminuto tamanho, xingando aquele maldito vestido que só Deus sabe como tinha ido parar nele, e se perguntando que raio de lugar era aquele afinal. Estava começando a achar que tinha se perdido quando voltou a ouvir a voz de Al gritando "estou atrasado, estou atrasado!" ao longe, e apertou o passo, tentando alcançar o irmão, muito embora não pudesse vê-lo, quando escutou outra voz familiar chamando por ele:

– Procurando por alguém, baixinho de aço?
– Ou será que deveria dizer "baixinha"? Hahahahaha!

Ed teve certeza de quem era antes mesmo de se virar para olhar. Conhecia muito bem aquela voz irritante, isso sem falar que apenas uma pessoa o chamava assim. Ou melhor, não era uma pessoa. Um Homúnculos.

– Quem você pensa que tá chamando de surfista de privada hein Envy??? - Ed berrou, exagerando como sempre, mas acertando sua adivinhação. Virou-se de costas e deu de cara com um Homúnculos de cabelos negros e compridos, com as mechas esvoaçando para frente, para trás e para todos os lados, usando uma camiseta apertada que deixava seu abdômen à mostra e um short preto aparentemente de lycra por baixo de uma espécie de saia aberta dos dois lados nas pernas, e tinha uma marca de Ouroboros tatuada em vermelho em uma das coxas
– Uepa! Eu não disse nada disso, baixinho de aço! - Envy exclamou, recuando alguns passos, mas ainda rindo do loiro
– Não, eu ainda acho que "baixinha" de aço combina mais agora - uma voz idêntica à de Envy falou e, Ed se virou novamente, dando de cara com outro Homúnculos que representava a inveja, idêntico ao primeiro, olhando para ele com a mão no queixo como se estivesse analisando com cuidado uma questão importantíssima. Ed surpreendeu-se tanto em ver dois Envys que até esqueceu da provocação
– Quê?! Mas que droga é essa agora?? Tem dois Envys... não me diga que além de copiar a aparência dos outros você também pode se multiplicar agora?! - o menor exclamou, completamente estupefato, apontando de um Homúnculo para o outro
– Não diga besteiras, é claro que não, baixinha de aço! - o segundo Envy respondeu
– Quem você pensa que tá chamando de noiva do Pequeno Polegar?! Você não pode falar nada, também está usando saia!! - o loiro gritou, mais enfurecido do que antes, apontando para as roupas do mais alto
– Mas eu estou usando shorte por baixo, e você não! - o primeiro Envy defendeu-se, levantando a própria saia e mostrando o shorte que havia por baixo dela - Além do mais, não posso fazer nada se você não tem senso de moda. Mas isso não vem ao caso - ele desconversou - Afinal, você não veio até aqui só pra receber uma lição sobre moda, embora eu ache que você bem que anda precisando de uma, não é, baixinho?
– Claro que ele não veio - o outro Homúnculos respondeu por Ed - Ele veio até aqui por que estava me procurando, não é, Nii-san? - ele acrescentou, usando a voz de Alphonse dessa vez, e assumindo a aparência do mesmo, tornando-se uma réplica perfeita do irmão de Edward
– Ou será que estava procurando à mim? - o primeiro completou, transformando-se também no Elric mais novo, só que, ao contrário do outro, ele assumiu a aparência do Alphonse de armadura. Agora haviam dois Alphonses Elric ao lado de Ed... e para a infelicidade do menor, nenhum deles era o verdadeiro
– Quer parar de imitar o meu irmão, Envy?! - Ed exclamou, sua irritação crescendo ainda mais ao ver as réplicas perfeitas de Al
– Ah, entendi! Você estava procurando à mim então! - o Envy que imitava a versão humana de Al tranformou-se na versão coelho do mesmo, e sorriu docemente para Ed, de um jeito puro e completamente inocente, como apenas Alphonse fazia
– Estou procurando pelo verdadeiro Al! Não por uma imitação barata! - Edward gritou, e os dois Alphonses falsos bufaram ao mesmo tempo, desfazendo a transformação e voltando à assumir a aparência de antes. Ed suspirou cansado, e um tanto aliviado que o Homúnculos tivesse finalmente parado com as brincadeiras - Envy... aonde é que nós estamos afinal? Isso não é mais uma armação de vocês Homúnculos, é? Eu vi a Sloth quando cheguei aqui, e...
– Armação? Claro que não! - os dois Homúnculos idênticos exclamaram ao mesmo tempo - Nós não seríamos capazes disso. Apenas "aquela pessoa"... tem poder para isso
– Aquela pessoa? - Ed reptiu - De quem está falando??
– Isso não interessa. Você precisa procurar o seu adorado irmãozinho primeiro, e não desvendar planos malignos, não é? - o primeiro Envy desconversou
– Não, não! Ele veio aqui atrás do Coelho Branco! - o segundo corrigiu
– Ahh droga, vocês estão me deixando louco! Um Envy já era irritante o suficiente, mas dois já é demais!! - Ed berrou, bagunçando seus cabelos loiros com as mãos de tanta frustração - Escutem aqui, vocês sabem aonde o Al... o Coelho Branco foi ou não sabem??
– Claro que sabemos! Ele foi por ali! - os dois Homúnculos falaram ao mesmo tempo novamente, só que cada um apontou para uma direção diferente. Ed os encarou irritado com uma gota na cabeça, perguntando-se se eles estavam fazendo aquilo de propósito
– Esquece, seus imbecis, eu me viro sozinho - ele bufou feito um gato raivoso, e seguiu em frente, não tomando nenhuma das duas direções indicadas
– Ei, espere, baixinho de aço! É por aqui!! - os dois gritaram em uníssono, apontando com ainda mais ênfase, cada um para uma direção diferente - Não vá por aí! É aqui que "ela" mora! Ei, baixinho de açooo!! - eles chamaram, mas foi em vão, pois Ed usou todas as forças de seu corpo para ignorar a vontade gigantesca de socar aqueles dois por chamá-lo de baixinho e contiuar seguindo em frente.

Edward continuou caminhando, pisando com força por causa da irritação, até que o campo à ceu aberto foi ganhando algumas árvores folhudas para se misturar ao cenário e aos poucos foi se transformando em um bosque. As árvores foram crescendo cada vez mais juntas, e quando já estava ficando difícil de caminhar, ele deparou-se om uma casa grande, mas ao mesmo tempo de aparência simples, parecendo uma casa de campo. Berros incessantes vinham de dentro dela, e também um choro que parecia ficar cada vez mais alto. Ed pensou seriamente em desistir da idéia de parar ali e pedir informação, quando reconheceu a dona da voz que gritava tão alto. Isso porque aquela mesma voz já tinha girtado várias vezes com ele, lhe dando bronca e o repreendendo, até lhe ofendendo, mas também, cheia de preocupação para com ele. Ed engoliu em seco e, tomando coragem e abrindo a porta da casa de uma só vez, deparou-se com sua amiga de infância Winry Rockbell, trajando um vestido longo todo rosa com vários babados, de mangas curtas e bufantes e com longas luvas indo até os cotovelos, os cabelos loiros esvoaçando ao vento, gritando de raiva mais uma vez, e dando bronca, só que dessa vez com uma figura minúscula em um berço, que Ed só podia considerar como sendo um bebê.

Depois de vários segundos para assimilar que Winry também estava ali, com aquela aparência, e agora estava gritando com um bebê que chorava cada vez mais alto, Ed adentrou a casa, e puxou a garota pelo braço, atraindo sua atenção:

– Winry! O que está fazendo aqui?! Você precisa sair desse lugar de doidos, é perigoso, e só tem Homúnculos aqui! Também veio atrás do Al?
– Homúnculos? Al? Mas o que raios você está dizendo?! Por acaso sabe com quem está falando garoto?? - ela exclamou de volta, puxando o braço de volta e se desvencilhando dele
– Mas é claro que sei! Com a minha mecânica, e minha amiga de infância, Winry Rockbell! Você é que parece não saber de nada! - ele exclamou, surpreso com a reação da garota - Por que estava gritando com aquele bebê? Ou melhor, que raio de bebê é esse afinal?!
– Rockbell? Há! Não me trate como uma mera camponesa, seu pigmeu desinformado! - a garota exclamou, parecendo ofendida
– QUEM VOCÊ PENSA QU TÁ CHAMANDO DE MICRÓB...
– Eu sou a Duquesa! - a loira exclamou, interrompendo-o - E aliás... foi bom mesmo você ter aparecido. Agora que finalmente deu as caras, pode me ajudar a cuidar desse bebê, que também é seu afinal!!!
– O QUE?????!!! - Ed berrou, engasgando-se com as palavras e sentindo que poderia infartar a qualquer momento. Ele teria ouvido direito?! - C-C-Como a-assim... m-m-m-me-meu?! - ele gaguejou com a voz rouca, seu rosto atingindo mil tons de vermelho
– Ora, não vai me dizer que não se lembra? Renegando seu próprio filho, que vergonha... isso é bem coisa dos Elric mesmo... e depois ainda fala mal do seu pai - Winry censurou, com ar de reprovação. Aquilo atingiu Ed em cheio. Não que ele se lembrasse de algum dia ter feito qualquer coisa com Winry ou com qualquer outra garota que resultasse em um bebê, mas a mágoa que sentia pelo pai falou mais alto dessa vez
– Não me compare com ele!! Eu não sou como aquele velho imbecil sem coração, não mesmo!!! - o loiro berrou, colocando-se na ponta dos pés para poder encará-la nos olhos - Além do mais, eu não entendo do que você está falando! Eu nunca... nunca f-fiz nada com v-você que pudesse... dar em uma c-c-criança... você ficou louca de vez Winry?! - ele usou novamente a irritação para disfarçar o embaraço, tentando ignorar o quanto seu rosto havia esquentado com o rumo daquela conversa
– Não estou louca, e você vai me ajudar a cuidar do seu filho! Agora! - ela berrou, empurrando o bebê chorão para os braços de Ed, que por pouco não o deixou cair. A única experiência que já teve com bebês foi quando ajudou a cuidar uma vez da filha do Tenente-Coronel Hughes, o que não era lá de muita ajuda. Além do mais, quem gostava de coisas fofas e pequenas como bebês e animais era Alphonse, e não ele. Sim, isso mesmo... ele tinha vindo até aquele lugar para procurar por Alphonse, e não para cuidar de bebês que nem eram dele, simplesmente não podia ser!!! - É mesmo, Winry! Antes que eu me esqueça, por acaso você viu o Al? - ele perguntou, enquanto balançava o bebê de um lado para o outro, tentando fazê-lo se acalmar. O bebê podia não ser dele, mas aquele choro realmente acabava com a paciência de qualquer um
– Al? Que Al? Do que está falando?
– Você sabe, o Alphonse, meu irmão!
– Você tem um irmão? - ela indagou, parecendo reamente não saber do que ele estava falando
– Argh droga, assim não dá... etto... você viu um garoto loiro parecido comigo, só que de cabelos curtos, e... ah, já sei, usando roupas de coelho, passando por aqui?
– Ah! Se está falando do Coelho Branco, ele veio aqui agora a pouco, perguntou que horas eram, depois saiu pela porta dos fundos e foi embora
– Por que ele viria aqui perguntar as horas se ele tinha aquele relógio gigante com ele...? - Ed indagou com uma gota na cabeça - Ah bem, não importa. Valeu Winry, eu tenho que ir agora - ele empurrou o bebê de volta para os braços dela, ignorando os protestos e reclamações da garota. Já ia sair correndo pela porta dos fundos, quando parou no meio do caminho, e acrescentou - E Winry... eu não sei de onde esse bebê veio e ele realmente não é meu, mas... algum dia...
– Algum dia o que?
– N-Não é nada, esquece! Fui! - ele exclamou, corando furiosamente outra vez. E, antes que dissesse algo realmente comprometedor, saiu correndo para fora da casa, à procura de seu irmão.

*** Próximo Capítulo: The Caterpillar ***