- Eu não entendo por que sempre você coloca a Sarah no meio. - Jason disse sentado na minha frente na minha cama.

- Foi só um exemplo. Não sei pra que esse ataque todo.

- Parece até que você fez de propósito pra culpa cair em cima de mim. Não fui eu quem foi pra uma boate.

- Chega desse assunto, pelo amor de Deus! E minha mãe pode ser louca, doida, fora do juízo, mas ela nunca deixaria eu fazer qualquer coisa que afetasse realmente nosso namoro. Ou até o noivado dela! - Ele não falou nada. - Você tá realmente muito puto por isso?

- O assunto só envolve eu e você, Jenny.

- Olha, se for pra falar da Sarah de novo, eu vou te expulsar daqui! - Isso já tá me irritando. - Eu sei que eu não deveria ter ido, mas esse ataque todo é desnecessário. E eu sei muito bem que você não tá irritadinho assim porque eu fui no clube. - Ele riu irônico. Se ele soubesse o quanto isso me irrita, pensaria duas vezes. Minha vontade era de atacar uma cadeira naquela cabeça gigante dele!

- Agora para e pensa: e se fosse eu quem tivesse ido a uma boate?

- Eu beijei alguém, por acaso?

- Eu te fiz uma pergunta.

- Eu ficaria brava, mas não assim.

- Como se você fosse calma...

- Isso tá me cansando, Jason.

- É lógico que tá te cansando. A errada é você! - Bufei e me joguei, deitando na cama. Escutei uma batida na porta.

- Que é? - Minha mãe colocou a cabeça pra dentro da porta com a maior cara de coitada.

- Jason, posso falar com você? - Arqueei uma sobrancelha, assim como ele. Ele se levantou e os dois saíram. Continuei acariciando a Lola.

- Só você que nunca briga comigo. - Ela virou a cabeça e olhou pra mim. - Por isso te amo. - Ela se ajeitou toda metida e eu beijei o topo da cabeça dela.

(...)

Já fazia uns 20 minutos desde que a minha mãe chamou o Jason. Eu estava curiosa e ansiosa. Eles poderiam ser mais rápidos. Levantei e fui até o corredor que dá pra escada. Cheguei até a beirada e olhei pra baixo. Ainda só tinha o Tyler na sala. Fui até o quarto da minha mãe e a porta estava fechada. Encostei o ouvido e pude ouvir a voz do Jason, mas não dava pra entender o que ele falava. Ouvi um "não tem necessidade" e "não precisa" vindo do Jason, e depois um "eu sei" da escandalosa da minha mãe.

Fui na cozinha e vi o que tinha na geladeira. Fiquei lá comendo já que eles resolveram ter uma conversa. Coisa rara.

- Ué, cadê o Jason?

- Tá falando com a minha mãe.

- Treta?

- Não te interessa, Tyler.

- Ele ficou puto por que você foi no clube de mulheres?

- Por que todo mundo tá sabendo dessa porra?

- Calma, estressadinha. - Ele disse colocando o refrigerante no copo e eu bufei. - Só to perguntando. E eu tava aqui quando meu pai contou pra ele. Sua mãe conseguiu um milagre. Nem eu pude entrar na boate com o meu pai.

- Minha mãe conhece a dona. Uma coisa assim.

- Ah! Lógico que sua mãe conhece, porque né...

- "Porque né" o que?!

- Quer um calmante, Jenny? - Mostrei o dedo do meio pra ele. Ouvi a porta da sala se fechar e minha mãe surgiu na cozinha.

- Mais tarde vocês conversam. - Ela disse pra mim.

- Ele foi embora sem me dar tchau?! - Perguntei indignada. Isso já é abuso, Jason Turner!

- Fui eu quem disse pra ele falar com você depois. Ele ainda tá puto da vida. - Ah... Tá perdoado. - Disse pra ele que eu quase obriguei você a ir. Ele tá mais tranquilo agora.

- Eu disse que você ficou brava porque ele se chateou por causa do encosto lá. - Ela não disse "Sarah" talvez pelo Tyler ainda estar na cozinha.

- E ele?

- Disse que foi sem necessidade. E que você não deve por o encosto em toda discussão de vocês. Olha, eu concordo com ele.

- Você falando "encosto" parece coisa de macumba. - Disse ignorando o último comentário dela.

- É a galinha preta. - Gargalhei com o trocadilho. Galinha igual a vadia... Sarah... Tyler arregalou os olhos e até saiu da cozinha.

(...)

- Eu sabia que não daria certo eu ir lá. - Disse pro Jason no telefone depois de todos os "oi", "tudo bem?", que estavam um pouco constrangedores.

- Pelo menos você me disse que não fez nada.

- Hey! Eu realmente não fiz nada! - Ele tá desconfiando de mim? MASOQ.

- Eu sei que não. - Ele não disse nada e eu também não. - Jenny?

- Desculpa ter falado da Sarah.

- Por mim... tudo bem.

- Eu sei que você não gosta.

- É que... É estranho. Não sei explicar.

- Imagino... - Respirei fundo.

- Eu vou te ver amanhã?

- Não sei. Eu tenho cabelo e unha pra fazer. Sem contar que vou ter que ir pro restaurante em algum intervalo de tempo que nem sei se vou ter, pra ver se tá tudo certo com a decoração, com os docinhos e tenho que receber o bolo. Ah! E eu ainda tenho que ir na casa da minha vó pegar meu vestido e o da minha mãe. Mas acho que vai sobrar um tempo pra gente.

- "Sobrar um tempo pra gente". Só não me sinto trocado porque é o casamento da sua mãe.

- Deixa de ser idiota. - Disse rindo e revirando os olhos. Ele soltou um risinho.

- Quer que eu vá pegar o bolo?

- Eles vão levar lá.

- Quer que eu pegue o vestido então? - Ouvi um barulho.

- Te agradeço pra sempre. O que foi isso?

- Minha vó tá em casa.

- Ela tá quebrando tudo?! - Perguntei assustada e ele riu.

- Não. Ou, pelo menos, acho que não.

- Ela e sua mãe brigaram?

- Não. Minha vó não discuti pra poder sair como vítima. - Ele riu se lembrando de algo. - Ela disse que você não é menina pra mim.

- Nem ligo! - Velha maldita.

- Minha mãe te defendeu.

- Ai que linda! - Ele riu. Escutei um barulho no andar de baixo e fui até o topo da escada. - Robert chegou.

- Desacordado?

- Credo, Jason. Não.

- Se ele estiver bêbado, é bem possível.

- Ele tá um porre. Minha mãe não tá nem ligando. Quem tá cuidando dele lá na sala é o Tyler. Minha mãe tá no quarto. Meu senhor... Ele tá pedindo pelas stripers de novo. Minha mãe vai matá-lo. Ele tá cantando ainda. A situação tá deplorável. - Jason riu.

- Ela tá brava por ele ter ido?

- Não. Sabe como minha mãe é né... Acho que vou ter que comprar todas as aspirinas da farmácia.

- Vai tá todo mundo bem ok amanhã. - Ele disse irônico e eu ri fraco.

- Eles vão pro Caribe.

- Deixa um estoque de aspirina aí pra quando eles voltarem.

- Aqui em casa sempre vai ter que ter. Vai trazer sua malinha amanhã?

- Que mala?

- Pra passar a semana aqui ué! Não quero ficar sozinha. Já viu o tamanho da casa?

- Não é tão maior que a sua antiga.

- Mas é maior! - Disse choramingando. - Eu vou ficar com frio.

- Tem a Lola.

- E se chover?

- Não chove dentro de casa. - Jason quer que eu mande ele ir pra merda.

- Ai que horror! Para de ser ruim! - Ele riu.

- To louco pra passar a semana aí. - Ele disse com uma voz rouca e sexy e eu mordi os lábios sorrindo.

- Não quer vim hoje?

- Nem se eu quisesse ia poder ir.

- Me diz: tua vó vai filar boia amanhã?

- Que maldade, Jenny. Lógico que não.

- Não sei né. Vai que brota lá.

- Pensando bem, é capaz. - Tenho quase certeza. Do jeito que é esfomeada...

(...)

- Ai meu Deus! - Minha mãe berrou pela vigésima vez.

- Para de gritar, pelo amor de Santo Cristo. - Disse massageando as têmporas.

- Come logo! Estamos atrasadas! - Olhei no relógio do microondas.

- Mãe, temos que chegar lá as 11h00. Ainda são 09h30.

- Eu to morrendo de dor de cabeça ainda. E olha que eu já tomei a aspirina.

- Bem feito.

- Eu ainda tenho que...

- Tem que fazer nada. Hoje é o seu dia. Eu me viro com as outras coisas. Sossega.

- Nem vi o Robert hoje. - Ela disse com bico.

- Dá azar. Eu que disse pra ele sair mais cedo de casa.

- E pra onde ele foi?

- Pra casa da mãe dele ué.

- Ai, Jenny... As fotos vão ficar tão feias com aquela velha nelas. - Ri.

- O seu brilho vai ofuscá-la da foto. - Disse empurrando ela pro andar de cima. - Vai se trocar.

(...)

- Tá. Já fiz a unha e peguei o vestido da minha mãe e o meu. Agora temos que passar no restaurante. - Disse pro Jason já dentro do carro revisando a listinha de coisas que fiz ontem a noite pra hoje.

- Eu já decorei essa sua lista.

- Shiu! Enquanto eu espero chegar o bolo, eu vejo quantos garçons tem lá. Tem que ter 20 na contagem. Tenho que olhar os nomes nas mesas, ver como está as comidas com o chef...

- Que horas você tem que voltar no salão?

- As 16h30. Minha mãe tá na massagista agora. Depois ela vai fazer a unha do pé e da mão. Olha como ficou! - Disse botando a minha mão na frente dele pra ele ver.

- Ficou bonita.

- Você nem olhou.

- Eu to dirigindo. Péra. - Ele parou o carro no sinal e pegou minha mão.

- Gostei. Ficou bem em você.

- Adoro esmalte vermelho!

- Você fica linda de qualquer jeito. - Ele disse acariciando minha coxa.

- Mentiroso. - Jason riu fraco, grudando a mãe dele na minha.