A senhora Turner disse que o jantar não era nada formal. "Aquela velha não merece que você se arrume". Ok né. Então, coloquei um shorts, all star e uma blusa básica. Jason ainda não chegou pra me buscar.

– Vai voltar tarde? - Minha mãe perguntou se jogando na minha cama comendo uva.

– Acho que não. E tá se achando uma deusa do olimpo, né? - Ela deu de ombros.

– Robert disse que não aguenta mais ouvir a mãe dele falando no Jason.

– Sério, mãe, ela é muito tarada. Imagina se ela agarrar o Jason?

– Duvido nada. - Arregalei os olhos. - Ela não vai fazer isso com o marido dela perto. Isso é certeza.

– Ela é uma pedófila. - Choraminguei e minha mãe riu.

– Pelo menos ela nunca atacou alguém menor de idade. Que eu saiba. - Bufei.

– Oi. - Jason disse fazendo nós duas olharmos pra ele.

– Oi. - Disse e ele me selou.

– Aquela velha tarada amou a sua sessão de fotos. - Minha mãe disse e eu bufei de novo.

– Espero que isso seja bom. - Ele disse rindo.

– Só se for pra você ganhar mais dinheiro. - Disse.

– É lógico. Sem ser dinheiro, ia ser bom pra que?

– As fotos vão sair no catálogo amanhã.

– Mas já? - Perguntei.

– Eu disse que ela amou. E ela manda naquela empresa. E sinto muito informar, bonitinho, mas vai ter fotos no outdoor. - Jason arregalou os olhos.

– Eu vou ser motivo de piada no time!

– Pensa pelo lado positivo: Você ganhou quase dez mil dólares pra ficar fazendo pose. - Disse e ele bufou. - Então, vamos?

– Vamos. - Nos despedimos da minha mãe, peguei uma uva e descemos.

(...)

– Meu amor! - Ouvimos assim que abrimos a porta de casa. Era uma voz estranha. E quando olhei pra frente, posso jurar que eu estava vendo um poodle. - Você ficou tão lindo nas fotos! - O poodle disse sorrindo. Jason sorriu também.

– Jenny, essa é minha vó. - Ah... O poodle é a vó do Jason.

– Olá.

– Ah... Oi. - Ela disse com um "ar de desprezo" e vi a senhora Turner revirar os olhos lá no fundo da sala. - Vem aqui matar a saudade da sua vó. - Ela puxou o Jason pra ela e eu continuei parada na porta.

– Jenny, vem beber alguma coisa, querida. - A mãe dele disse e eu a segui até a cozinha.

– Acho que ela não gostou de mim. - Disse quando chegamos na cozinha.

– Ela não gosta de ninguém. - Senhora Turner disse abrindo a geladeira. - Só gosta do Jason porque é neto dela. E claro, do meu marido também.

– E o que ela falou das fotos?

– Reclamou das modelos né. Ela age como se o Jason tivesse 07 anos de idade. Capaz de ela achar que ele é virgem ainda. - Senti como se todo o meu sangue tivesse ido parar na minha bochecha. - Se soubesse, já ia achar que vai ser bisavó!

– Pelo amor de Deus, senhora Turner, só de ouvir isso já me dá dor de cabeça.

– Imagino. Mas vocês se cuidam né?

– Lógico. - Pigarreei. - Minha mãe disse que as fotos saem no catálogo amanhã. - Resolvi mudar de assunto. Estava uma coisa constrangedora. Não pra ela. Pra mim.

– Ficaram bonitas as fotos né?

– Tirando as modelos, tá tudo perfeito. - Disse sorrindo e ela riu.

– Ele me disse que te expulsaram da sala. Achei um absurdo.

– Também achei, senhora Turner. Também achei!

(...)

– A quanto tempo vocês estão juntos? - A poodle perguntou quando já estávamos jantando.

– Juntando tudo dá um pouco mais de 6 meses? - Jason me perguntou e eu afirmei com a cabeça.

– Como assim "juntando tudo"?!

– Ah, vó... Não começamos a namorar "do nada". - Ela me encarou.

– Não é nada bonito pra uma moça ficar se agarrando por aí. Ainda mais sem compromisso.

– Eu não ficava e nem fico me agarrando com o Jason por aí. E me desculpe, mas a senhora é de que século? - Vimos a senhora Turner se levantar e ir quase correndo pro banheiro.

– Ora! Nunca te ensinaram a ter respeito com os mais velhos? - Ouvimos uma gargalhada vindo do banheiro e eu e o Jason no entreolhamos.

– Mas eu tive respeito ué. - Nunca tive problema com sogra. Ainda mais com a senhora Turner. Agora vou ter problema com um poodle? Joguei pedra na cruz!

Depois daquilo, a velha não olhou mais pra minha cara. Quando ela soube que eu iria ficar até mais tarde e depois que também ouviu as gargalhadas da senhora Turner, ela disse que não é bem vinda aqui e foi pra um hotel. Já vai tarde!

Antes da velha ir embora, ela deixou uma caixa com uns 10 novos jogos pro Jason. Nem preciso dizer que ele amou. Interesseiro. Passamos o restinho da noite testando os jogos.

(...)

– Eu te disse que ela era chata. - Jason disse quando estávamos indo pro colégio.

– Eu nem sei o que eu fiz pra ela!

– Me namorar já é o suficiente.

– As velhinhas te adoram, pelo amor...

– Hey! Ela é minha vó! - Ele disse fazendo uma careta e eu ri. Ele parou na frente do estacionamento e quando fui descer do carro gargalhei. Tinha um outdoor bem na frente do colégio.

– Tenho vergonha de falar que sou seu melhor amigo! - Charles berrou e eu ainda ria.

– O que eu fiz? - Tadinho.

– Ainda bem que você namora a Jenny. Se não, era capaz de algum otário do outro time te chamar de gay. Não tem nem uma garota na foto! - Um garoto do time disse e o Jason bufou vendo o outdoor.

– Tem sim. Tem três. E pelo menos eu ganhei bem pra isso.

– Seu gay! - Cody disse.

– Ele é melhor que todos vocês! - Disse abraçando o Jason, que sorriu e me deu um selinho. Ouvimos os meninos resmungar e rimos, nos beijando em seguida.

– Olhem a pornografia! Estamos num lugar de estudos! - Ouvimos alguém berrar.

– Tem crianças aqui! - Paramos o beijo e olhamos em volta. As criancinhas de 10 anos estavam olhando. Senti minhas bochechas esquentarem. Depois relaxei.

– Duvido que elas nunca beijaram, Charles! - Disse e ele riu.

– Eu não tinha dado nem um selinho nessa idade. - Ele disse com uma careta.

– Jura? - Perguntei surpresa, já que ele é a versão masculina da minha mãe.

– Dei com 11.

– Nossa. Quanta diferença. - Ironizei. Ainda tinha um grupinho de meninas de 10 anos olhando pra gente. Uma delas deu "tchauzinho" pro Jason e eu arqueei uma sobrancelha. Ele deu o "tchauzinho" de volta.

– É feio iludir pirralha. - Ele riu.

(...)

– E aqui na frente? - Minha mãe perguntou me fazendo segui-la com o olhar. Estávamos vendo onde ficaria a mesa de doces, a mesa do bolo, a mesa do casal e todas essas coisas do casamento no restaurante, já que a festa ia ser lá.

– Os doces vão ficar escondidos aí.

– Na frente daquele mato todo vai ficar a mesa do bolo, então não dá.

– Não é mato. É decoração.

– Dá no mesmo. Aqui ó. Tudo bem que é na lateral, mas fica bom, não acha?

– Fica sim. Sabe, eu tinha pensado em colocar alguns enfeites na mesa.

– Nem te conto o que aquela velha quis colocar no meio do salão! - Ela respirou fundo. - Ela quis colocar uma escultura de gelo!

– Que horror!

– Pois é... Ah! Já arrumou todas as suas coisas né?

– Arrumei ontem.

– E as coisas da gata?

– Só não posso colocar a coitada dentro da caixa né. - Disse e sorri irônica. - A gente se muda amanhã pra casa do Robert?

– É. E você vai ficar bem na lua de mel né?

– O que eu tenho a ver com a lua de mel? - Espero que nada.

– Vou te deixar sozinha em casa ué.

– Ah... Isso eu sabia. Pra onde vocês vão?

– Caribe. Deve ser tão lindo, luxuoso e...

– E excitante. É bem a cara de vocês.

– Também achei. - Ela disse pensativa. - Eu pensei que iriamos pra Las Vegas, mas não é um lugar pra quem acabou de casar né.

– Mãe, vocês não são o casal mais tradicional. Alias, estão longe disso.

– Jason tem razão. Tenho que comprar chocolate pra você ficar mais calma.

– Não acredito que ele falou isso! - Disse choramingando.

– Tá, tá. Mas isso não tem importância. - Sua sem coração!– Na entrada a gente pode colocar... - Passamos o resto da tarde de segunda - aproveitando que o restaurante não abre nesse dia - vendo onde íamos colocar o que da festa.