- Acorda, bela adormecida. – Minha mãe berrou no quarto e me deu um tapa na bunda depois. Que jeito meigo de acordar alguém.

- Não to afim de ir hoje.

- Você tem que entrar pro grupo. Esqueceu? – Fiz bico. – E você leu o começo do livro? – Olhei pra ela. – O do teatro.

- Ah, ainda não. Leio na aula. – Disse me levantando. – Ele chegou já? To atrasada? – Ela sorriu.

- Não e não. Pode se arrumar com calma. – Assenti e fui pro banheiro. Tomei banho, me arrumei, arrumei minha bolsa e desci.

- To com fome. – Disse entrando na cozinha. Me deparei com o Robert cozinhando e minha mãe sentada a mesa. Arqueei uma sobrancelha.

- Bom dia, gente.

- Bom dia. – Eles responderam em coro. Olhei pra minha mãe e ela deu de ombros.

- Robert tá fazendo ovos com bacon. Vai querer?

- Só o ovo. Mãe?

- Eu...

- Vai me ajudar né?

- Ajudar em que?

- Como “em que”? No troço do teatro.

- Ah. Tá. Depois a gente vê isso.

- Eu sou péssima. – Disse apoiando os cotovelos na mesa e colocando as mãos na cabeça. Juro que to quase desesperada.

- Bem feito. Ninguém mandou ser burra. – Robert riu fraco e eu olhei pra ela com os olhos semicerrados.

- Eu tava sobre pressão! Não dava pra pensar. – A campainha tocou. – Ninguém mais fala sobre esse assunto aqui ok? – Disse e eles deram de ombros. Fui abrir a porta. – Oi. – Disse sorrindo e ele sorriu de volta.

- Oi. – Ele disse me deu um selinho.

- Entra. – Disse puxando ele pega mão até a cozinha. – Já comeu?

- Já sim. Ér... Oi. – Ele disse.

- Oi querido.

- Oi garoto. Tá pronto o seu, Jenny. – Robert disse me entregando os ovos. Comi, escovei e dentes e fomos.

- Ér... Depois você me mostra quem é aquela tua amiga? - Disse já dentro do carro.

- Que amiga?

- A do teatro.

- Ah, sim... Ela já deve ter chego no colégio. Quando a gente chegar, te levo pra falar com ela, ok? – Assenti e ele me beijou minha mão.

(...)

- Mary. – Ele chamou a garota quando entramos numa sala. Ela olhou pra gente. Era uma menina ruiva, um pouco mais alta que eu e bonita. Muito bonita. Hm. – Essa é a Jenny. Ela quer entrar pro grupo de teatro.

- Oi Jenny. Sou a Mary. – Ela disse sorrindo pra mim. Sorri de volta. – É só preencher a ficha.

- E depois? – Perguntei.

- Só vim pros ensaios. Na verdade, a gente ainda tá escolhendo o elenco. Ahn... Os testes pros personagens principais são hoje. Se quiser ser, eu te entrego as falas agora.

- Ah, não. Vou começar com algo mais simples. – Ela deu de ombros e me deu um papel.

- Vou falar com os meninos, tudo bem? – Jason me perguntou e eu assenti. Ele me deu um selinho e saiu. Comecei a preencher o troço.

- Vocês tão namorando?

- Não.

- Você não é a Jennifer Porter? – Olhei pra ela.

- Sou.

- Ah é! Sabia que te conhecia. Você é aquela menina que quase todo dia saia no tapa com ele. – Ri fraco.

- Pois é.

- Sabia que vocês iam se beijar algum dia. – Fiz cara de confusa.

- Por que?

- Vocês se odiavam demais. E quem muito odeia... – Ri fraco de novo voltando a preencher a ficha. Um tempo depois cheguei na pergunta que eu não sabia como responder. “Por que escolheu o teatro?”. Hm. Digamos que eu escolhi porque to ficando com dois garotos aos mesmo tempo e não sei qual escolher. Aí a desculpa pela minha demora foi eu querer entrar pro teatro. Óbvio que não vou poder responder isso. Depois de uns 5 minutos pensando, coloquei que escolhi porque acho incrível essa arte. Dei de ombros terminando de preencher o resto e depois entreguei a ficha pra ela.

- Jenny, tem certeza que quer fazer teatro? – Ela me perguntou e eu arqueei uma sobrancelha.

- Tenho, por que?

- Nada não. – Ela disse e sorriu. – Ah, os testes começam segunda que vem. Aqui as falas.

- Obrigada. – Ela sorriu e eu saí. Já tinha tocado o sinal. Fui correndo pegar minhas coisas no armário e corri pra sala. Consegui chegar a tempo. Alias, cheguei até antes. Jason teria essa aula comigo e já tava lá. Dei um selinho nele e me sentei do seu lado.

- O que é isso? – Ele perguntou apontando pros papeis.

- Tenho que treinar pra conseguir pegar algum papel.

- Quer ajuda pra decorar?

- Eu ia adorar. – Ele sorriu. Aproveitamos que não tinha quase ninguém na sala e ele me beijou. Percebi que ele sorriu entre o beijo, o que me fez sorrir de volta. Ai. Meu. Deus. Eu to iludindo o menino! Eu preciso de uma ajuda da minha vó. Falar com a minha mãe não tá resolvendo.

(...)

“Mãe, vou pra casa da vó hoje. Passa lá pra me buscar depois?”

Mandei pra minha mãe na ultima aula. Jason ia me dar carona de qualquer jeito. Guardei meu celular dentro da bolsa e fui pra quadra fazer educação física. O foda da educação física aqui é que só tem patricinha mimada. Tipo, as meninas legais costumam não jogar. E eu gosto de jogar. Enfim...

- Hey, Jenny. Vai jogar o que? – Um menino chegou do meu lado me perguntando. Arqueei uma sobrancelha.

- Ahn... Não sei ainda. Acho que não vou jogar.

- Ah, sou o Lucas, irmão da Mary. Falo com o Jason as vezes também.

- Ah... Você não é do time, é?

- Era ano passado. Tive que sair.

- Por que?

- Problemas com... garotas. – Ele disse e sorriu amarelo. Ri fraco.

- Que tipo de problemas? – Perguntei e ele olhou pra mim. – Ah, foi mal. Sei que sou curiosa demais.

- Não, sem problemas. Eu só... – Ele pigarreou. – Eu tava saindo com duas ao mesmo tempo. Sabe, aproveitei a “fama” que o time dá. E por causa disso acabei ficando com nota baixa e fui obrigado a sair do time. – Engoli em seco.

- Ah... E o que aconteceu com as garotas?

- Não olham na minha cara. – Arregalei os olhos. – Você tá bem?

- Ah... to sim. Só to meio indisposta hoje. – Disse e sorri fraco. – Vou ficar sentada. – Disse e ele assentiu. Tá, se o encontro com o Will for razoável ou até bom, eu não fico mais com ele. Só falta o encontro com os dois serem perfeitos.