Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 16
A Coisa


Notas iniciais do capítulo

haaai



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Ao contrário de como fazia no passado, Irina não chorou, não tremeu e não tropeçou nas palavras. Apenas se limitou a olhar para o chão, com os olhos banhados de lágrimas que brilhavam aos raios do sol que atravessavam pelas copas das árvores e com a voz tão controlada quanto um cavalo selvagem a mercê de cinquenta cavaleiros. Lúcia não disse nada durante as palavras da loira. Quando ela parou de falar, a pequena não sabia o que dizer. Não havia se preparado para aquele relato. Não imaginou que fosse algo tão sério. Percebeu que tinha os pelos da nuca arrepiados. A loira parecia imersa em pensamentos tão longínquos quanto o lugar que os narnianos estavam indo.

—-Foi dois dias antes de Helena sumir novamente. No terceiro dia, ela foi buscar água no riacho. Parecia que tudo estava bem. Eu estava de cama ainda. Por causa da...perna.- ela voltou a dizer com a voz monótona, mas era transparente que tentava de tudo para não chorar.

—-Ele quebrou sua perna?

—-Não, por sorte. Mas os dentes foram bem fundo na carne. Doía muito naqueles dias. Fiquei de cama por semanas. Agora, só ficaram as cicatrizes.

—-Cica...

—-Outra hora eu lhe mostro.- disse encerrando o assunto.

—-Claro...- murmurou a pequena.

Passaram o resto da caminhada em um poço de silêncio tão profundo, que as duas duvidavam que iriam sair tão cedo. Irina não queria falar ou ouvir coisa alguma. Só queria ficar imersa nas lembranças dos dentes amarelados sujos de sangue e saliva.

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—-Irina!- era a primeira vez que ela ouvia seu nome após a conversa com a pequena e mais duas horas de caminhada.

—-Sim?- ela perguntou levantando a cabeça e viu o rosto sorridente de Lúcia.

—-Chegamos!- ela disse e se afastou pulando alegremente.

Irina suspirou e abaixou o olhar mais uma vez. Agradeceu pelo o quer que fosse que deixou a pequena tão alegre. Ao menos, alguém estava feliz. Os narnianos passaram a sua frente e ela decidiu ficar um pouco mais atrás. Murmúrios e passos passaram pelos seus ouvidos, mas logo eram jorrados para fora sem qualquer atenção dada pela loira.

—-Irina?- esta voz sim, lhe chamou a atenção.

Levantou o olhar e encontrou duas orbes castanhas a examinando atentamente. Tentou o seu melhor sorriso, mas há anos não sorria verdadeiramente e aquele não foi um dos melhores.

—-Edmundo.

—-Está tudo bem?- ele perguntou cauteloso.

—-Claro. Pelo visto, já chegamos.- ela disse observando os narnianos apressados passando por eles, como se eles fossem reles ilusões da paisagem.

—-Sim. Já chegamos.- ele estendeu a mão.- Venha. Acho que vai gostar.

 Por um momento, ela pensou em recusar e continuar o caminho sozinha. Mas já tinha percorrido uma estrada tão longa e tão vazia e tão sozinha, que não suportava mais a ideia de continuar no escuro de seu passado e pesadelos. Olhando mais uma vez para as duas bolas castanhas que a fitavam intensamente, mesmo ruborizada, aceitou sua mão e deixou que ele a guiasse para frente de todos os outros. Sentia olhares sobre si, enquanto ela e ele passavam entre os narnianos que davam espaço para sua majestade, O Justo. Não sabia dizer se eram olhares reprovadores ou acusadores como os que estava acostumada na antiga vila afastada da grande cidade de Londres e não se atreveu a olhar para ter certeza. Mas no mínimo eram curiosos. Curiosos sobre a relação de sua majestade com a plebeia loira.

Quando chegaram a linha da frente, tiveram uma visão muito mais clara da construção que havia alguns quilômetros de onde estavam. Na verdade, não se podia dizer que era uma construção. De longe, mais parecia uma montanha. Dentre as pedras da construção, entre suas rachaduras saia raízes e a hera cobria tudo. Não era grandioso, mas conseguiu chamar a atenção da loira com sua simplicidade e a pergunta de “o que havia dentro daquela coisa?”.  Os Pevensies se faziam a mesma pergunta. Pedro virou-se para o irmão e abaixou o olhar para as mãos entrelaçadas de Edmundo e Irina. Quando voltou o olhar para o moreno, este o encarava desafiador. Como se esperasse qualquer comentário sarcástico vindo do loiro, mas estava disposto a revidar. Seu irmão, limitou-se a balançar a cabeça negativamente e continuar o caminho.

Edmundo apenas suspirou agradecido e com um aperto na pequena mão da loira, continuaram o caminho até a coisa.

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Na porta de entrada, os centauros se posicionaram lado a lado do caminho que levava para dentro da coisa. Retiraram suas espadas com a facilidade de longos anos de uso e com elas formaram um arco em sinal de respeito. Suas majestades que estavam a frente (e uma intrusa), encararam gratos por aquele gesto e cada vez mais curiosos sobre o que havia lá dentro. Então, deram um passo a frente. Exceto o príncipe e a intrusa. Irina deixou que sua mão escorregasse da mão de Edmundo propositalmente e ficasse para trás. Aquilo era especialmente para Os Grandes Reis e Rainhas de Nárnia. Não para ela. Ela nem deveria estar ali. Ele não parou, mas sabia que ela não o acompanharia. Não sentia mais o frio de sua mão em contato com seu calor. Apertou os lábios, levantou a cabeça e continuou junto com as irmãs e irmão. Tinha que mostrar ser forte naquele momento.

O príncipe apenas abaixou a cabeça constrangido e sem mover um músculo até os outros se afastarem. Se sentia como um peixe fora d’água. Percebeu, pelo canto do olho, que havia mais um peixe perdido.

—-Acho que estamos meio perdidos, não?- ele comentou ironicamente olhando para a loira de lado.

Ela desviou o olhar do moreno que se afastava e virou-se para observar por rápidos segundos, um segundo moreno com cabelos mais longos, olhos tão escuros que mais pareciam duas bolas negras sem pupilas, um nariz reto e pontudo, um queixo quadrado e a transparência da insegurança estampada em seu rosto. Mostrando que estava tão nervoso quanto a loira. Ela apenas assentiu deixando um leve sorriso escapar. Meio? Estou completamente perdida já faz tempo, ela pensou consigo mesma e mandando seus pés automaticamente entrarem na coisa.

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Barulhos de ferro contra ferro, faunos e anões andando de um lado para o outro, batendo com martelos e outros instrumentos, deixando machados, espadas e facas com a lâmina mais afiada possível. O lugar era apertado e quente. Tochas acendidas com o fogo dançando estavam penduradas nas paredes, fornecendo pouco de luz que era possível naquele lugar.

—-Pode não ser o que esperava, mas é necessário.- disse o príncipe para os reis.

Não era fácil explicar a expressão do loiro.

—-Pedro.- chamou a rainha mais velha de um canto.- É melhor ver isso.

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Nas paredes grotescas e frias do corredor escuro, iluminado por poucas tochas com o fogo quase extinto, havia gravuras desenhadas com, supostamente, facas e pintadas delicadamente com pincéis. Havia vários desenhos. Um era de duas meninas em cima de um leão e o outro de dois meninos e duas meninas ao lado de quatro tronos com coroas.

—-Somos nós...- disse Susana um pouco assustada.

Estavam atônitos. Não imaginavam que após tanto tempo, após 1.300 anos, sua história ainda iria permanecer viva de alguma forma para ser lembrada. Mesmo que fosse esculpida drasticamente nas paredes de um corredor úmido e escuro.

—-Que lugar é esse?- perguntou por fim Lúcia.

—-Vocês não sabem?- perguntou o príncipe surpreso.

Pegou a tocha que estava pendurada ao seu lado e foi à frente de todos, ao lado do Rei Pedro. Irina, esteve junto o tempo inteiro, sem ter outra escolha, afinal não sabia o que faria se ficasse sozinha ao redor de criaturas magníficas, porém intimidadoras. Ficou para trás. Com curiosidade e com algo gelado e desconfortável se remoendo em seu estomago, observava uma gravura simples, entretanto valiosa para suas perguntas sem resposta. Um lampião. Um fauno com um cachecol vermelho e um guarda chuva.  Duas meninas. Uma tinha os cabelos cacheados e negros. A outra cabelos castanhos escuros, curtos e lisos. Uma delas, era Helena.

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Quando Irina voltou a seguir o rastro dos outros, parou na entrada de um cômodo circular. Aos pés das paredes, um baixo muro circulava o cômodo, onde dentro dele havia o fogo que iluminava a sala. Mais a frente, uma gravura imensa de um leão esculpido na parede. Aos seus pés, no centro da sala, uma mesa de pedra quebrada em dois. Deixou os olhos correrem rapidamente por cada um. Lúcia estava perto da mesa de pedra de costas e Irina não pode ver sua expressão. Susana estava de costas, ao lado da irmã, mas tinha a cabeça levantada em direção à gravura. Caspian estava mais afastado do centro, alimentando tochas penduradas que há anos não sentiam o fogo em si. Pedro e Edmundo conversavam aos cochichos. Logo seu olhar foi de encontra a gravura. Não era a mesma coisa que o verdadeiro leão. Mas fixando seu olhar no olhar do leão da gravura, sentiu um leve arrepio pelos braços. De repente, algo dentro de si brotou tão rápido quanto um botão de rosa. Quis acreditar que o leão iria sair daquela gravura, para ajuda-los, resgatá-los, o que quer que fosse. Mas só queria vê-lo mais uma vez. Queria sentir aquela sensação de proteção e força que a presença daquele animal transmitia. E reencontrar nos olhos dele, a esperança que ela sentia se esvair da sua alma mais rápida do que quando deixamos o nosso corpo secar após uma ducha.

—-Irina.

—-Sim?- ela disse sem se virar para vê-lo. 

—-Vamos lá para fora?

—-Claro. Por que não?- ela disse com a voz baixinha, tão baixinha quanto os cantos dos pássaros pela manhã.

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—-Então... o que sua majestade Pedro disse?- ela perguntou com olhos baixos e braços cruzados.

Talvez fosse se arrepender da pergunta, mas sabia que o moreno estava a levando para fora somente porque o irmão tinha pedido. Ele a olhou questionador.

—-Bom- ela encolheu os ombros-, você só pode ter me trazido para cá... por ordem dele, não?

Ele sentiu as bochechas corarem e ela se perguntou se por vergonha ou por raiva.

—-Digamos que sim.- ele disse com as mãos para trás das costas.- Ele precisa de tempo para se organizar.

—-Mas você também não é um rei?

—-Sim, eu sou.- ele disse vermelho e mais vermelho.- Pedro irá reunir todos os narnianos amanhã ou depois. Enquanto isso- ele tirou a espada da bainha-, Pedro me pediu outro favor.

Ele estendeu a espada para ela.

—-Segure.- ele mandou.

—-O que eu vou fazer com isso?

—-Primeiro, segure.- ele repetiu.

Ela suspirou, já tendo em mente o desastre que seria. Pegou a espada pelo cabo que estava revestido de couro. No início pareceu leve, mas quando ele soltou a espada, a lâmina caiu um pouco para baixo e Irina teve que usar duas mãos para controlar o equilíbrio. A lâmina não era grande e não era pesada, mas era bastante comprida. Era necessário força e equilíbrio nas mãos. Irina não estava acostumada a segurar espadas.

—-Muito bem. Agora, levante a espada, mas...- ela levantou com um pouco de dificuldade e a lâmina quase encostou no rosto do moreno.- com calma!

—-Desculpe!- ela disse corada e abaixando a espada.- Edmundo, por que isso agora?

—-Porque uma guerra se aproxima Irina. E muito rápido. Você tem que saber se defender, caso seja necessário.- ele disse firme e direto.

Foi como se um peso maior recaísse sobre seus ombros. Uma guerra. Mais uma. E agora, ela estava no meio. E não havia para onde fugir, não podia recorrer a saia da mãe e se esconderem no porão. Teria que encarar de frente. Ou se não, morreria. A ideia de morrer, sem ter realmente sentido a vida, lhe pareceu uma ideia assustadora, mas ao mesmo tempo parecia um calmante. Seria um calmante eterno. Talvez nunca conseguiria fazer tudo o que desejava, mas não morreria com o peso do mundo sobre as costas. Seria apenas uma morte. Menos uma pessoa em dois mundos. Apenas isso. Ela suspirou.

—-Mas eu não sou boa com espadas.- ela disse com um suspiro.- Helena que era boa. Deve estar se confundindo. O que havia em Helena, não há em mim.

—-Ei, tudo bem.- ele disse se aproximando e levantou o rosto da loira pelo queixo.- Tudo bem. Sei que você não pode ser idêntica a ela e não me importo. Mas a questão é que isso é para o seu bem. Para sua proteção. Por mais que eu e Pedro não queremos ver você, nem Lúcia, nem mesmo Susana em uma guerra.

—-Pedro?- ela perguntou curiosa.

—-Ele não é tão ruim quanto parece.- ele disse sorrindo fracamente.- Agora, vamos ver se você consegue ter um pouco de controle sobre a espada.

—-Ainda estou segurando ela. Acho que já consegui o bastante.- ela disse entre dentes.

Ele riu e soltou o rosto dela. Pegou as duas mãos da loira e ajudou ela levantar a espada. Quando a lâmina apontava para o céu e os alguns raios do sol que conseguiam escapar por entre brechas das nuvens iluminavam a mesma, ele se colocou em sua frente.

—-Me ataque.

—-O quê?!

—-Me ataque.

—-Não vou fazer isso!

—-Faça Irina.

—-Por quê?

—-Somente faça.- ele ordenou.

—-Não quero lhe machucar.- ela advertiu.

—-Tudo bem, vou ficar ótimo. Acredite.- ele disse divertido.

Então, ela abaixou a espada e a ponta da mesma foi ao chão. Ele estava do lado dela, a observando risonho. Ela mordeu o lábio e ela levantou a espada para ela em sentido horizontal. Rapidamente, ele se agachou, a espada escapou de suas mãos e perdendo o equilíbrio, caiu de joelhos ao chão. Sentiu as bochechas corarem de raiva e frustração.

—-Eu não disse que ia ficar bem?- ele perguntou passando por ela e ficando a sua frente.

—-Como eu disse, sou um desastre!- ela disse jogando as mãos para o alto e revirando os olhos.

—-Acalme-se. Nem tudo está perdido.- ele disse risonho.- Você só precisa de prática. Vou lhe ensinar o que sei pelos próximos dias e veremos como vai se sair.- ele estendeu as duas mãos para ajudá-la.

—-E se não for bom?- ela perguntou pondo as suas mãos nas dele.

Ele rapidamente a levantou, ela tropeçou na bainha do vestido e caiu por cima dele. Ela passou os braços em seu pescoço para se apoiar. Ele passou as mãos para sua cintura e mesmo que tivesse conseguido continuar em pé, perdeu-se nos olhos claros e verde água da garota que tinha os seus olhos perdidos em seus lábios e as sardas salpicadas nas maçãs. Suas respirações se misturaram. Ela não teve coragem de olhar em seus olhos. Lentamente, soltou seu pescoço e passou suas mãos para os ombros do garoto.

—-Tem o arco e flecha.- ele disse e soltou a cintura dela.

—-E se eu não for boa no arco e flecha?- ela disse se virando para voltar a coisa.

—-Você vai ter que ser boa.- ele disse a acompanhando.- Não tem escolha.- suas risadas ecoaram no terreno vazio e frio a frente da coisa.

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Notas finais do capítulo

realmente, este foi um cap. que eu menos gostei .-. e com razões. mas isto foi o que eu pude escrever no tempo vago que tive .-. é que 'to meio, digamos, focada nas provas e blá blá. fiquei em recuperação :'( no próx. cap. as coisas vão melhorar. não, msm sem comentários, não vou desistir da fic.
beijos e abraços apertados da Loren



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