Outsider - A Estrangeira escrita por Bruna Guissi


Capítulo 6
O Que Se Passa


Notas iniciais do capítulo

Pessoas!
Em uma das cenas, uma pessoinha muito nervosa me ajudou a desenrolar os acontecimentos seguintes, sem nem mesmo saber o que estava fazendo.
Entããão, eu mando m obrigada para a moça Barbara que vem lendo essa bagaça com tanto entusiasmo!
Beijundas, minha gente!
Aproveitem.



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Andando pelos corredores, mesmo aqueles que não o conheciam podiam notar a mudança repentina em suas ações. Seu andar que costumava ser confiante e distraído agora fora substituído por uma solidão quase tangível.

Scorpius se esquecera de como era a solidão. Agora tinha de lidar com ela, que parecia debochar de sua tola esperança de lidar com alguém genuinamente bom.

Por que nunca perguntara nada, ele não sabia. Talvez porque estivesse tão preocupado que ela cumprisse suas expectativas e se tornasse o que ele mais odiava, que nunca lhe passou pela cabeça que ela não fazia ideia do significado de carregar esse nome.

Sonserina. Seu fardo mais que pesado. Já bastava ter sua família com esse rótulo infeliz, a única pessoa que não o julgara por seu nome também o carregava.

E fora olhando para o nada que acabara por esbarrar em alguém. Quando olhara para cima, a cabeleira ruiva o tirou de seus devaneios. “Rose Weasley”, pensou.

A menina pareceu parar para avalia-lo quando notou quem era.

–Olá. – disse simplesmente. Ela parecia segurar alguma coisa na garganta; esperava pelo momento para soltá-la.

Olá. – respondeu.

A menina suspirou, e percebeu que não haveria um momento mais adequado para tocar no assunto. Resolveu ir devagar.

–O que anda acontecendo, Malfoy?

O garoto levantou as sobrancelhas ao ouvir seu sobrenome saindo de um jeito tão suave. Não era o preconceito com que se habituara. Era só seu nome saindo daquela boca.

–Nada. – respondera, dando de ombros.

–Então é melhor que esse seu “nada” tenha um bom motivo para estar sendo um grande otário. – respondeu ela, parecendo esvaziar um pouco aquela bolha presa na garganta. Aquilo era só o começo para ela – Ela está mal, sabe. Por sua causa. E desse seu maldito motivozinho que você insiste em não explicar.

–Você não compreende... – tentou ele.

–Não importa se eu compreendo ou não. – cortou ela – O que importa é se ela compreende.

Rose respirou fundo. Estava decidida a não se estressar com ele.

–E eu pensando que você era diferente, sabe? – comentou ela, colocando os livros no parapeito da janela – Que você não a julgaria.

Eu não julguei... – mas fora cortado.

–Eu me enganei, Scorpius. – disse ela, olhando para o céu que se mostrava de um azul intenso pela janela – Eu achei que antes de qualquer coisa, você iria querer conhecê-la. Mas me enganei. O sangue trouxa dela parece ser um fardo...

–Não tem nada a ver com o sangue dela! – interrompeu ele dessa vez – Eu sempre soube que ela era trouxa.

–Então por quê? – perguntou a menina, mais disposta a ouvir.

É complicado.

Rose bufou para ele.

–Então se faça entender. – disse ela por fim. Pegou seus livros, e se preparou para sair – Malfoy, se isso for intolerável, por favor, não a machuque mais.

E partiu.

A única coisa intolerável para ele era aquela solidão idiota que insistia em ficar.

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–Trato de Criaturas Mágicas... – murmurava a menina, tentando se lembrar de como chegar à cabana – devia ter ficado com o papel dos horários.

Annita andava vagarosamente até sua primeira aula da semana. Não tinha pressa, não estava atrasada e tinha que por a cabeça no lugar de qualquer jeito. Suas reflexões não duraram muito; uma pessoa chamou sua atenção ao seu lado.

–Olá. – disse Alyann.

–Olá.

–Se importa se formos juntas para a aula? – perguntou a loira, suavemente.

–Na verdade, seria uma boa ideia.

Caminhando em direção da agora visível cabana, Alyann parecia refletir fortemente sobre como começar um assunto com a misteriosa estrangeira ao seu lado.

–Annita. – chamou ela, fazendo a outra virar para encará-la curiosamente – Tem um assunto que eu gostaria de tratar com você.

–Ah, claro, o que seria? – perguntou confusa.

–É um assunto delicado na verdade. – disse fazendo uma pausa para colocar a mecha que caía atrás da orelha – Annita, Malfoy é meu primo.

A menina pareceu surpresa com o assunto repentino no qual a colega tocava, mas não a impediu de continuar.

–E como família, nos conhecemos relativamente bem. Irei direto ao ponto, porque não sou boa com esse tipo de assunto; Annita, para o seu bem e do meu primo, por favor, não tente fazer as pazes com ele.

Annita pareceu não entender o que a garota queria dizer com aquilo. “O que ela tem de relação com um assunto tão pessoal como esse?”.

–Eu sei que pode parecer intrusão, mas em algum momento você parou para pensar o que significa para ele essa casa na qual você caiu? – perguntou ela, encarando a menina que já estava começando a se irritar – Annita, Sonserina é o pior pesadelo de Scorpius. Para ele, já é suficientemente complicado ter suas primas nessa casa. Ele não quer ter que lidar com a vergonha que esse nome trás para ele. Você entende isso?

Annita deu alguns passos para trás, atordoada. “Ele tem vergonha de mim?”, pensou ofendida. Ela teve de conter sua voz quando respondeu a garota:

Sim, eu entendo. – disse virando as costas para a menina – Me desculpe, Alyann, mas eu não estou me sentindo bem. Será que pode avisar o professor de que eu me senti indisposta para ir para a aula?

–Claro que digo. – respondeu docemente a outra – Você não tem algum feitiço que faça esse tipo de mal estar passar, tem? – adicionou. Virou as costas e foi embora.

Annita ficou parada por alguns instantes, somente respirando.

–Infelizmente, não. – murmurou. A menina não conseguiu conter as lágrimas que brotaram em seus olhos.

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–Alicia, por favor. Uma pessoa tão bruta como você não pode ter nojo de um animalzinho desses. – disse Narriet debochando da garota.

–Diga o que quiser, meu forte é ser ruim com humanos, não com animais. Por isso ainda está viva, se quer saber. – debochou em resposta – E eu não tenho nojo de um simples “bandinho”.

–Diga o que quiser, eu tenho nojo. – Narriet deu de ombros.

Mona, que estava alheia à conversa, notou Alyann se aproximando da cabana, notavelmente satisfeita.

–Olá. – disse quando se aproximou do grupo.

–Olá, Alyann. Você não costuma se atrasar. – observou Mona. A colega dera de ombros.

–Há uma primeira vez para tudo. – respondera – Mais uma coisa; preciso avisar ao Meio-gigante que a novata não virá para aula.

–Por quê? – quis saber a menina.

–Ela estava se sentindo indisposta. – deu de ombros – Acho que foi até a enfermaria.

–Se você diz.

A aula se passou calmamente, sem muitos acidentes na verdade. Somente Narriet tivera problemas quando se aproximara demais do pequeno inseto; acabara levando um jato que o animal secretou, fazendo um buraco em suas vestes.

Caminhando em direção ao castelo para sua próxima aula, Alyann sentiu seu bolso esquentar; sua carta-instantânea recebera uma mensagem. Discretamente afastou-se das demais meninas e desdobrou o que parecia ser uma pequena moeda. Era uma mensagem de seu primo.

“Onde você está?”

Alyann respondera, com um leve sorriso no rosto. As coisas pareciam estar se encaminhando de uma maneira bem positiva para ela, pensava.

A menina já estava esperando à cerca de cinco minutos quando o garoto chegou.

–Alyann. – disse ele levemente ofegante – Oi.

–Olá. – respondeu sorrindo – Me diga, o que você quer?

–Eu irei direto ao ponto então. É sobre Annita. – a menina franziu de leve a testa, sem entender por que ele ainda estava tocando nesse assunto.

–O que tem ela?

–Você se lembra da última carta que me mandou? – perguntou ele, parando para receber um aceno de sua prima – Então, havia um equívoco nela. Annita é uma nascida trouxa.

Aquilo não fazia a menor diferença para Alyann. Annita continuava sendo o tipo de bruxa que não traria estabilidade para o mundo. Era até pior.

–E aonde você quer chegar com isso? – perguntou finalmente.

–O que quero dizer é que não faz diferença. Ela não é nada do que a Sonserina representa. – agora Alyann parecia entender; e mesmo antes de Scorpius terminar de falar, já estava discordando de suas palavras com a cabeça – Eu estava errado. Vou me desculpar com ela.

–Não está certo. – disse ela – Ela não tem nada a ver com você, Scorpius! Você não entende?

–Você é que não entende, prima! – respondeu ele – Nunca fez diferença! Eu só estava receoso de que ela não fosse... Ela.

–Mas e tudo o que a Sonserina representa? Isso não te incomoda nela? – perguntou a menina, agora num tom de voz mais alto.

–Não tem nada nela que me incomode. Vai ver, foi por isso que me afastei. Eu vou falar com ela. – e o garoto saiu, sem deixar chances para sua prima rebater suas palavras.

Não te incomoda...?

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A menina acabara caindo no sono, deitada ao pé da árvore próxima ao lago. Aquele lugar havia se tornado um de seus preferidos desde que chegara naquela escola. E também o que a mais fazia pensar.

Talvez Alyann não compreendesse de verdade seu primo. Mas talvez compreendesse muito bem. A menina só teria certeza do que estava acontecendo se conseguisse falar com o garoto, agora uma amigo que se fazia distante.

Fora boba de chorar, pensava ela. Não tinha motivos para se sentir tão infeliz; aquelas palavras tinham de sair da boca de Malfoy, não de outra pessoa.

No meio de seus devaneios, deitada de olhos fechados, sentiu a sombra de alguém sobre si. Não quis abrir os olhos. Queria ignorar qualquer um naquele momento. Fingiu dormir.

–Está dormindo... – disse a voz dele. “Ah, sim. Você.”, pensou Annita. Então abriu os olhos e confirmou suas expectativas.

–Alvo. – disse sorrindo – Olá. Como é que você sempre me acha?

O menino sentou-se perto de sua cabeça, dando de ombros. Annita suspirou.

–Queria que as coisas fossem bem simples. – disse ela, olhando para o céu novamente.

–Todos querem. Mas ai nada seria simples de verdade. – respondeu ele, olhando para os olhos inchados da garota – Você chorou. – adicionou.

–Isso não é uma pergunta.

–E não é mesmo. – respondeu – Não chora.

Annita sorriu para ele. Fez menção de levantar, mas o garoto fez com que ela apoiasse a cabeça em seu colo. A menina suspirou.

–Obrigada. – disse, fechando os olhos. A sensação era boa.

–De nada.

Ficaram assim em silêncio por vários minutos, cada qual com seus pensamentos turbulentos na cabeça.

–Você não deveria estra na aula? – perguntara a menina, ainda de olhos fechados.

Você não deveria estar na aula? – rebateu ele. A garota deu de ombros. Ele riu de leve, e respondeu à pergunta – Não, não deveria. Eu quero estar aqui, sabe?

Annita abriu os olhos para o garoto que a encarava. As coisas eram fáceis com Alvo. Sem preocupações, sem dúvidas. Elas só aconteciam. Era tão natural quanto respirar, ela pensava.

–Quando nós nos falarmos, eu te conto. – disse ela fechando os olhos que voltavam a arder – Se isso acontecer, claro.

Alvo suspirou ao ver suas preocupações. Fez com que ela se sentasse. Colocou as mãos em suas bochechas, fazendo com que ela expressasse uma careta.

–Não diga isso.

A menina revirou os olhos.

–Nhão é como she eu eshcolhesse isso. – disse emburrada.

Não diga isso. – insistiu ele. Annita revirou os olhos e tentou rebater – Não diga.

Ela não pode evitar rir com o jeito infantil dele.

–Sholta minhas bochechas. – pediu ela, rindo ainda mais com o som com o qual suas palavras saíram.

–Só se me prometer não falar mais nesse assunto.

Ela não respondeu, então ele insistiu.

–Tá bom. – disse ela, tendo suas bochechas soltas – Mais nada de Scorpius. – disse ela em voz alta. Então suspirou e pegou a mão do garoto o qual a fazia companhia.

–Até que as coisas se acertem. – adicionou ele. Então Alvo pareceu refletir, e acabou por corar fortemente, não conseguindo esconder o fato da colega.

–O que foi? – perguntou ela, mais descontraída.

–Nada. – disse ele dando de ombros, encostando-se na árvore. Parecia decidido a esconder seu rosto.

–Hey! – chamou ela, cutucando seu ombro. Como não obteve resultados, engatinhou até a frente dele.

Ele virou os rosto para o lado, fazendo a menina arquear as sobrancelhas.

Hey! – insistiu ela, agora cutucando seu peito. Ele se retraiu, mas não virou o rosto. Annita segurou seus braços que estava no ar para que ela não visse seu rosto e os puxou. –Alvo!

Então ele escondeu o rosto novamente, puxando os braços com força, fazendo a menina cair em seu colo.

Annita! – exclamou ele.

Ai! – respondeu a menina mostrando a língua para o menino.

Seus rostos estavam extremamente próximos um do outro; ambos coraram com a situação, mas não aumentaram a distância.

Na verdade, as mãos apoiadas no chão de Annita pareciam caminhar na direção do garoto, assim como as costas de Alvo pareciam ser atraídas magneticamente até a garota.

Para ela era simples e fácil querer aquilo. Oras! Aquele era o seu amigo que tanto lhe apoiara no final das contas. E aquela sensação, aquela segurança.

Para ele, era algo no qual ele vinha pensando muito. Todo aquele frio na barriga, a vontade de ficar perto dela...

Alvo apoiara o corpo da menina, que ficara surpresa com sua força. Até naquele momento, sua vontade era de dar suporte a ela; vê-la ali, com ele.

E Annita teria mais prazer descrevendo a situação mais tarde, se não tivesse sido surpreendida por uma voz risonha que parecia apreciar a situação.

–Até que em fim, não? – perguntara Rose.

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Scorpius andava furiosamente pelos campos. Poderia ter entendido errado, Annita não estava realmente odiando-o. Só disse que não tocaria mais no assunto. E que esse assunto era ele mesmo.

Scorpius não deixou de bufar. Ele sabia que tinha de se desculpar com a garota, e tinha de ser já.

Mas antes não tivesse virado para fazer tal coisa. Lá na árvore, onde escutara sua única amiga em potencial dizer que não queria mais falar nele, vira algo que se aproximava com um casal.

Se beijando.

–Mas era Alvo que estava... – então ele exalou a última molécula de ar de seu pulmão, compreendendo a situação. Um beijo. Um beijo.

Ele jamais imaginara que se incomodaria com algo tão trivial e comum quanto um beijo. Mas a verdade que ele se recusava a admitir era que aquilo não era só um beijo. Era um beijo de Annita. Ele não queria perder a única coisa boa que tinha lhe acontecido, e ainda mais perder para outra pessoa.

“Não é como se eu gostasse dela. Mas eu gosto dela.”, pensou.

Ele queria sua presença, por mais mínima que fosse.

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“Sr Caderno, se você soubesse o quão constrangedora foi a situação, não iria querer que eu escrevesse aqui. Mas como você é um caderno e não tem o que nós chamamos de mente, não pode dizer nada.

“A verdade é que nada realmente aconteceu. Nós estávamos tocando os lábios para o que seria um beijo, e então Rose apareceu. Nunca quis tanto, desde que cheguei aqui, amaldiçoar alguém. Ainda mais Rose. Eu ainda a amo, mas isso tornou a situação entre mim e Alvo bem desconfortável.

“Passamos minutos (que mais me pareceram milênios) tentado explicar que nada havia acontecido de fato, arrancando um pedido de desculpas dela (ela dizia se desculpar, mas ria horrores, não conseguindo parar vendo nossas caras ridiculamente abaixadas).

“Enfim, fomos para a próxima aula, e nada de mais aconteceu.

“A não ser o fato de quando, andando pelos corredores com os dois grifinórios, Mafoy passou por nós, parecendo extremamente perturbado, mandando-me um ‘oi’ extremamente grosso. Em uma semana sem se falar, a primeira palavra que ele dirige a mim é um ‘oi’ perturbador.

“Mas de longe, isso me parece um progresso. Espero que ele possa se explicar sobre o que sua querida prima quis dizer.

“Outra coisa!; Rose me dera uma espécie de moeda na qual podemos mandar algumas mensagens uns para os outros. Disse que seu tio havia inventado o objeto, e que poderia trocar mensagens com ela e com Alvo, apenas rabiscando a mensagem e me concentrando em para quem mandar.

“Me lembra o funcionamento de um torpedo, na verdade.”

Annita esticou as pernas embaixo da mesa da biblioteca na qual se encontrava rabiscando. Pensar no dia anterior fazia seu rosto corar, e o que ela menos queria era isso.

Era quase estúpido pensar que aquele poderia ser seu primeiro beijo, e ainda mais estúpido que havia sido interrompido.

Annita se levantou e foi em direção à próxima aula, que seria com a turma da Corvinal. Ela sentiu um leve enjoo ao se lembrar das palavras da estranha colega de quarto, mas balançou a cabeça e manteve seu objetivo em mente; “Não perder mais aulas por motivos tolos como aquele.”.

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A aula de transfiguração havia sido tranquila, Scorpius não se encontrava lá, no fim das contas. Sentara com Mona, que costumava ficar só ou matar aquela aula, então ambas apreciaram a companhia.

Mona era uma menina fácil de lidar, na opinião de Annita. Conversando aos poucos descobrira que ela não se dava tão bem com Narriet porque suas famílias se conheciam a muito tempo, e desde pequenas brigavam por tudo. Cair na mesma casa era esperado, mas cair no mesmo quarto fora, na opinião de Mona, “uma sacanagem da velha bruxa”.

No caminho para o refeitório, Annita sentiu aquela moeda que recebera de Rose esquentar no bolso, fascinada com seu funcionamento.

“Hey beijoqueira,

Vamos almoçar juntos hoje? Alvo está tentando me impedir de mandar essa mensagem, mas acho que aquele constrangimento bobo não significa nada.

Vocês podem se beijar quando vocês quiserem, não?

Até logo, Ro.”

Annita revirara os olhos com a mensagem da menina. Queria almoçar com eles, mas também queria que os grifinórios parassem de encará-la com aquela expressão de “outra vez” sempre que almoçava na mesa deles.

“Tudo bem então. Só se for na minha mesa; tem alguém que eu quero que vocês conheçam.

Annita.

PS: Deixa de ser tonta.”

Annita perguntou se estava tudo bem para Mona que grifinórios comessem no mesmo ambiente que sonserinos, sem que houvesse muitas azarações atrapalhando o almoço. Mona deu de ombros.

–Grifinórios são grifinórios, garota. Mas tem um canto da mesa que é mais calmo, se quer mesmo continuar com isso. – disse a colega, tirando um risinho da menina.

–Jura? E qual seria?

–O do quinto e do sétimo ano. Eles têm todas aquelas provas absurdas, então estão sempre estudando. – respondeu a menina.

–Perfeito!

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Alvo não tinha falado com Annita direito desde o ocorrido. Não que ambos tenham se evitado, mas as palavras fugiam quando eles se viam. E esse seria um almoço mais que constrangedor.

Ambos, ele e Rose, esperavam sentados ao pé da escada, com uma Rose risonha, pensando nas mais diversas formas de se entreter com a situação, até que Annita chegara acompanhada por uma garota.

Ela era menor que Annita; tinha o cabelo preto, curto atrás e longo na frente, extremamente repicado e mantinha sua franja curta presa para cima da testa por uma presilha. Dava a ela um ar estranhamente intrigante.

–Olá, vocês. – disse Annita, esperando que ambos se levantassem – Essa é Mona, uma de minhas colegas de quarto. Mona, esses são Rose e Alvo.

–Ah, sim, os Weasley e Potter. – disse ela concordando com a cabeça – É um prazer, na verdade. – e deu de ombros.

–Prazer. – dissera Rose, sorrindo para a menina. Alvo comente acenara com a cabeça, não deixando de sorrir.

–Mona me disse que tem um canto da mesa que é mais tranquilo para gente almoçar. Vamos.

Os quatro seguiram para a mesa da Sonserina, sem chamar muita atenção. Sentaram-se no canto mais próximo à mesa dos professores, servindo-se.

Após alguns minutos de silêncio, para que os grifinórios e a sonserina mais antiga se acostumassem com a situação, Annita iniciou a conversa casualmente.

–Eu realmente estou me divertindo com a situação, sabe? – comentou ela sorrindo para os três que lhe faziam companhia.

–Você pode ser sádica, então. – observou Mona – Finalmente uma qualidade sonserina.

Annita deu de ombros meio que agradecendo. Rose revirou os olhos e riu de leve. Somente Alvo parecia extremamente concentrado em sua comida, o que Mona notou.

–Hey, garoto. Eu sei que comer pode requerer certa atenção, mas estou certa de que você é capaz de falar ao mesmo tempo. – disse Mona, chamando atenção do garoto.

–Ah, não, não é isso, eu só estava pensando, na verdade. – disse ele, sem conseguir evitar um olhar para Annita, fazendo ambos corarem.

–Hmm... Interessante. – disse Mona – Hey Weasley, o que me diz sobre isso?

–Digo que eles têm motivo suficiente para permanecerem de “bocas coladas”, se é que me entende. – disse Rose, fazendo Annita revirar os olhos, corada, e Alvo se enfiar ainda mais em seu prato – A propósito, me chame de Rose.

–Claro. Gostei de você, Rose. – respondeu ela.

O resto do almoço passou com uma leve conversa entre Rose e Mona, na qual as duas aproveitaram o tempo para se conhecer e rir mais um pouco às custas dos outros dois participantes daquele estranho grupo.

–Nós temos o próximo tempo juntos, então? – perguntou Mona, entusiasmada, recebendo um aceno de cabeça de Annita.

A situação era engraçada, Annita gostava daquilo. Para quem via de fora, era muito estranho ver duas sonserinas andando tão abertamente com grifinórios sem que algum deles estivesse com uma varinha levantada.

E foi andando e direção a próxima aula que Annita notou uma movimentação em um canto do corredor. Quando passaram na frente, Annita pôde ser a cabeleira loira inconfundível de Alyann. Curiosa, se afastou do grupo, dizendo que iria ao banheiro, e seguiu em direção à menina.

Algo simplesmente dissera à menina que seria útil ir atrás da colega.

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–Alyann, pare com isso. – pediu Scorpius para a prima, que já perguntava pela terceira vez o que ele tinha de errado.

–Só quando me responder. – disse ela.

A menina notara o garoto andar decidido para a próxima aula dela, mas não conseguiu chegar a entrar na sala ou dizer o que queria.

A verdade era que Scorpius queria miseravelmente fazer as pazes com Annita, mas tinha medo de não se conter e pedir uma satisfação sobre o ocorrido no dia anterior. Estava tentando mesmo se controlar.

Ele suavizou a expressão para a prima. Ela podia se tornar mais determinada que qualquer outro ser no universo se soubesse que não sabia de algo.

–Não é nada, prima. – disse o menino pegando gentilmente na mão de sua prima – De verdade. Obrigado por se preocupar. Preciso ir para aula, e você também, aliás.

Nenhum dos dois sabia que havia um ouvinte para o pequeno diálogo que se passava. Uma ouvinte, na verdade.

Alyann pareceu se aquietar, e seguiu para sua aula, mas não antes de deixar um demorado beijo no rosto do primo. Annita se espremeu junto ao pilar para que a garota não a visse, e seguiu Scorpius, que agora caminha lentamente sem ter realmente um destino.

O garoto parou próximo as masmorras, sem querer continuar a andar. Fora ali, que na semana anterior discutira com ela por um motivo que agora não queria se lembrar.

Apoiou a testa na parede, e suspirou, pensando no assunto.

–Como pude fazer isso? – preguntou a si mesmo – Como pude perdê-la?

Annita sentiu um frio na barriga enquanto ouvia suas confissões para o corredor vazio. A menina sabia que a necessidade de falar com ele venceria seu maior e mais forte bom senso.

–Eu também gostaria de saber. – disse ela, fazendo o garoto virar assustado.

Os dois se encararam por alguns segundos até que ele resolveu tomar a iniciativa. Estava em suas mãos resolver a situação, de qualquer jeito.

–Me desculpe. – começou – Por tudo. Por como venho agindo; ou melhor, não agindo. Eu realmente penso que possa ter me equivocado.

–Se equivocado com o que? – perguntou a menina, esperando. Tinha que saber se o motivo daquela situação tola era mesmo o que Alyann tinha dito. E se fosse, o que faria depois.

–Eu... tinha uma visão de algumas coisas que pode ter sido muito equivocada. Eu pensei que você cumpriria todas as minhas expectativas sobre sua casa; que se tornaria algo que eu...

Tem vergonha. – completou ela, fechando os olhos.

–Sim! Exatamente! Mas acontece que... – o garoto tentou continuar, mas não conseguiu falar. Annita mantinha os olhos bem fechados para que não chorasse, mas sua voz estava fraca.

Ela se sentia machucada. Mais uma vez.

–Bem, então você tem mesmo vergonha. – disse ela, abrindo os olhos – Não posso deixar que você passe por tamanha humilhação, não?

–Espera, Annita, não é isso o que eu quis dizer...

–E o que quis dizer?! – explodiu ela, colocando a mão em sua boca, para conter a raiva – Que me julgou antes mesmo de me conhecer? Que teve vergonha de ter se relacionado comigo? Vergonha de mim?

–Não, Annie, espera! Você não está... – mas a garota virou as costas para ele.

–Não me chame assim. – disse ela baixinho, respirando fundo – Eu vou para aula, Scorpius.

Annita começou a andar depressa, e o garoto ficou desesperado, sem saber o que fazer. Sua única oportunidade fora arruinada porque não era bom o bastante com as palavras.

Ele precisava concertar a situação, e não esperaria mais uma semana.

–Annita! – chamou ele, sem receber uma resposta da garota. Ele correu até ela, e puxou seu braço.

–O que é?! – perguntou ela, com os olhos marejados. Ele não queria que nada disso acontecesse. Em sua cabeça, ambos ririam da estupidez dele de ficar preocupado.

Mas ela estava magoada.

–Quer mais algum rótulo sobre minha pessoa para que possa ter mais motivos para se afastar? – perguntou ela.

–Você não entende! – disse ele, quase que gritando.

–Então me explique! – respondeu ela no mesmo tom.

–Eu nem ligo pra sua casa, pro seu sangue, pra nada! – disse ele, olhando nos olhos da menina – Eu só ligo se um dia você vai me desculpar pelo fato de eu ter tido medo... de você se tornar algo que na verdade você jamais seria.

A garota suspirou, aparentando cansaço. O desgaste emocional era a pior coisa para Annita, e uma simples discussão a deixava cansada.

–E o que seria isso?

–Alguém que eu odeie. – respondeu ele. Annita abaixou a cabeça, confusa . O garoto pegou mais gentilmente nos braços dela e a encostou na parede – Eu jamais odiaria você, Annita. Jamais teria vergonha de você.

A menina olhou para cima, diretamente nos olhos cinzentos do rapaz. Ele estava sendo sincero, mas parecia que suas palavras continham mais do que diziam, assim como as lágrimas que queriam se formar em seus olhos.

Era tudo tão intenso para ela. Não ajudava nada ter treze anos e ser confusa.

O garoto se aproximou mais e mais dela, deixando suas testas se tocarem. Ele fechou os olhos, suspirando.

–Pelo menos... Deixe-me ser seu amigo Annita. Por favor, eu te peço. Você é a primeira pessoa que me tratou como um humano, e não como um Malfoy. Não posso deixar você escapar assim, sem ao menos tentar.

Annita soltou um soluço involuntário, segurando as lágrimas. Já não estava mais chateada com ele. Na verdade sentia empatia pela figura a sua frente. Tudo o que ele tinha naquele momento era medo de ficar só. Assim como ela teve após a morte dos pais. Assim como tem todos os dias.

Sentia-se presa a essas pessoas que se interessavam por ela; ela estava amando outras pessoas, querendo uma nova família. E jamais tinha se permitido isso.

Então, depois de meses negando, Annita admitira para si mesma: estava só.

Só como sempre temeu estar. Naquele instante, Annita prometeu a si mesma que daria seu melhor para que isso jamais acontecesse outra vez. Começando por Scorpius.

A garota soltou seus braços e olhou para o garoto a sua frente, que abriu os olhos.

–Você é um humano. E meu amigo, também.

Scorpius sorriu para ela, de uma maneira genuína, como ela ainda não tinha visto. Nem ela, e nem a espectadora no fim do corredor.

Alyann sentira os músculos da face se retraírem no que seria uma cara feia, se a pessoa não fosse ela. A menina não compreendia o que a trouxa tinha de especial para que Scorpius só se sentisse a vontade perto dela.

Não entendia por que ser sonserina, no caso dela, não fosse um fardo tão grande assim para carregar.

–Você ainda verá como isso está errado, primo. – disse virando as costas para a cena – Eu vou te ajudar a entender.

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Havia um folheto no quadro de avisos no dia seguinte; A primeira saída à Hogsmead seria feita nesse fim de semana.


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Notas finais do capítulo

Minhas gente! ~~
Como de costume, se encontraram algo que não entenderam, algo fora do lugar ou simplesmente tem algo para dizer para mim ou sobre a fic, postem suas reviews!
Eu adoraria saber o que vocês estão achando, então, "Gimme a help, please".
Neijos com N de Nachos pra vocês!
Vlw, até o próximo capítulo :BB
PS: Estou elaborando a capa definitiva, minha gente :DD



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