Angel escrita por Ayame


Capítulo 3
A noite e as cerejeiras




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Capítulo 3 – A noite e as cerejeiras.


Naquela noite Byakuya passou grande parte de seu tempo analisando alguns papeis que havia recebido. Já eram duas horas da madrugada e a única luz acesa naquele esquadrão provinha de sua sala. Não era nada de grande urgência, porém Kuchiki Byakuya não era o tipo de homem que gostava de acumular trabalho. Ele preferia estar sempre em dia com seus relatórios do que arriscar deixá-lo para o dia seguinte. Assim que terminou aquele de analisar os relatorios de seus subordinado passou para a ultima pilha de papel, porém não menos importante, que restara em sua mesa. Aqueles papeis eram os pedidos de admissão de recém formados da academia que pretendiam entrar no sexto esquadrão. Ele deu uma olhada superficial nos papeis. Ao todo eram apenas quatro pessoas que desejavam a admissão em seu esquadrão e mesmo não tendo gostado muito de algumas fichas, o capitão resolveu aceitar todos. Não havia nada de ruim em aceitar aqueles garotos, no pior dos casos eles acabariam mortos em suas primeiras missões, e mesmo que aquilo parecesse algo ruim, Byakuya não se importava muito com tal coisa.

Mesmo que não desejasse, ao colocar o carimbo de aceitação nas fichas daqueles recém-formados, Byakuya lembrou-se imediatamente de Natsume Rie, a pequena menina que salvara a tempos atrás e que mais cedo havia visitado aquele lugar, pedindo sua aceitação no 6o batalhão. Perguntava-se se ela realmente levaria á sério aquilo. Se ela conseguiria alcançar a shinkai e se por acaso não, em quanto tempo desistiria. Quando ela saíra daquela sala, estava tão determinada, tão entusiasmada e esperançosa.... Ele estava curioso para saber se aquilo era apenas fachada, ou se ela estava realmente disposta a fazer tudo para se tornar uma subordinada dele.


O sorriso dela ainda estava fresco em sua memória. Era tão alegre e verdadeiro. E a felicidade dela quando ele disse que iria pensar no assunto se ela alcançasse o shinkai foi tão grande que Byakuya poderia jurar que ela havia entendido errado. Deixou um sorriso escapar dos lábios, quase sem perceber. Mesmo que não fosse admitir isso em voz alta, aquela pequena menina havia lhe dado certo orgulho. Se tudo o que ela dissera naquela tarde fosse verdadeiro, ele ficaria realmente feliz. Pois para alguém querer tanto ser de seu esquadrão, era o maior sinal de que ele estava fazendo um bom trabalho como capitão. E isso, lhe trazia orgulho.

Se levantou calmamente. Não havia mais trabalho á ser feito, era hora de se retirar. Observou ao canto da sala Renji. Ele dormia sentado, segurando alguns papeis em suas mãos. Provavelmente caira no sono durante a leitura de algum relatório pouco interessante. Devia estar exausto. Byakuya respirou fundo e seguiu seu caminho para fora do cômodo, e ao passar por seu tenente falou em seu cotidiano tom de voz, calmo e sem demonstrar muitas emoções.

- Eu acabei meu trabalho por hoje, e estou me retirando. Acho que você deveria fazer o mesmo, já está tarde.

Renji pulou em um susto, acordando de seu sono com rapidez e logo se recompondo e reverenciando seu capitão.

- Sim, Capitão. Boa noite!

Byakuya não respondeu, apenas se retirou para seus aposentos, deixando seu tenente sozinho. O moreno caminho pela varanda com passos lentos. Não estava com sono e muito menos com pressa. Parou um momento na parte da frente do esquadrão e observou o céu. A lua estava cheia, e seu brilho estava tão forte que mesmo sendo a única fonte de luz do local era capaz de iluminar com perfeição o ambiente. Um vento soou mais forte e com ele algumas pétalas de cerejeira se desprenderam das arvores á volta e dançaram de forma magnífica ao som do vento. Byakuya fechou os olhos, aproveitando a brisa gelada e o aroma que vinha com ela. Aquelas arvores pareciam saber quando ele estava por perto.
Abriu os olhos e deu alguns passos para fora de casa. A noite estava bonita demais para dormir e ele resolveu tirar vantagem de sua falta de sono para aproveitá-la. Resolveu passear, não muito longe, apenas pela redondeza. Gostava de fazer tal coisa, mesmo que não fosse muito habitual de sua parte. Andou por algum tempo sem rumo até que sentiu uma energia espiritual diferente. Movido por uma estranha curiosidade, seguiu na direção daquela energia, agitada demais para ser de algum shinigami que estivesse entregue aos sonhos. Parou.
Abaixo dele seguia um extenso campo de solo rebaixado com um pequeno lago ao centro e algumas árvores o rodeando. Era um local que costumava ser usado para passeios ou treinamentos espirituais. Ele cerrou os olhos forçando a visão. Havia alguém lá embaixo. Foi quando reconheceu os fios loiros daquela menina. Era ela, Natsume Rie. Byakuya desviou o olhar para a lua e fez uma rápida leitura aproximada de que horas seriam. Devia ser quase três horas da manhã. O que aquela garota fazia acordada?

Ele saltou para o galho de uma das cerejeiras que cercavam o rio e observou dali a loira. Ela segurava sua zanpakutou a frente do rosto e mantinha ambos os olhos fechados. Parecia estar desempenhando uma força descomunal com aquele movimento, pois seu nariz estava franzido e seus dentes estavam encravados sobre seus finos lábios em uma expressão de dor e exaustão. Ele apenas a observou. Ela devia estar ali desde a hora em que saíra de seu batalhão, pois seu estado estava deplorável. O cabelo estava desorganizado e os braços já tremiam de tanto permanecerem esticados á frente do corpo. Byakuya balançou a cabeça negativamente. Ela estava fazendo tudo errado. Não era daquele jeito que ela conseguiria se comunicar com sua zanpakutou. Os joelhos dela tremeram, ela devia estar realmente cansada. Byakuya ia sair dali e deixar a garota sozinha, porém ao olhar novamente para aquela pobre menina ele não foi capaz de virar as costas. Ela parecia estar se esforçando verdadeiramente para alcançar sua shinkai.

Byakuya avançou, pulando da árvore para próximo da garota com toda a sua suavidade caracteristica. Colocou uma das mãos sobre o braço dela e falou de seu cotidiano tom jeito sereno.

- Você acha que vai conseguir algo desse jeito?
- Byakuya-taichou...?

Ela abriu os olhos surpresa e pareceu sofrer uma leve vertigem, pois balançou levemente a cabeça piscando diversas vezes os olhos, enquanto tombava o corpo involuntariamente para o lado. O capitão limitou-se a encostar sua outra mão sobre o ombro delicado dela, dando-lhe o apoio necessário para não cair. Ele esperou que ela se recuperasse e então indagou tentando parecer o mais desinteressado possível.

- Há quanto tempo está aqui?
- Bya-chan!! Você veio me ver! – Ela exclamou, mudando completamente e agarrando-o pela cintura em uma abraço apertado que fez Byakuya se surpreender.
- Eu não vim te ver. – Ele tentou falar com o máximo de calma que pode. – Estava apenas passando por aqui. E não me chame desse jeito!
- Como? De Bya-chan? - Ela indagou em um sorriso, encostando o queixo sobre o peito dele, sem desarrochar o abraço.
- Exato.
- Então posso te chamar de Bya-Bya?
- Bya-Bya...? – Ele indagou retoricamente, não acreditando que ela havia perguntado tal absurdo. – Solte-me, imediatamente. – Ele ordenou, dessa vez muito mais severo do que anteriormente.
- NÃO! NÃO VÁ EMBORA! – Ela disse quase em desespero apertando mais o abraço.
- Apenas..me solte, por favor. - Byakuya suspirou e a afastou de si, desvencilhando-se do abraço forçadamente. – Eu lhe fiz uma pergunta. Responda.
- Ah.. – Ela pareceu meio sem jeito. – Bem.. Eu não tenho certeza....
- Não vai adiantar nada ficar desse jeito. Você precisa se concentrar em sua zanpakutou e esquecer de todo o resto. E não vai ajudar em nada você ficar e pé, forçando o seu corpo a toa. Se quer obter algum resultado precisa do seu corpo e da sua mente sãos. Você precisa sim exercitar o seu corpo, mas não precisa se torturar como está fazendo. Com o corpo cansado, jamais conseguira alguma coisa. Não desse jeito. Treine primeiro seu corpo e sua mente separadamente, só depois junte-os. Se não, vai acabar se matando em vão.
A garota ouviu aquilo tudo como tanta atenção que Byakuya até sentiu-se um pouco incomodado. Ela não piscava e possuía um olhar tão penetrante e diferente que era quase intimidador. Havia tanta admiração e gratidão naqueles obres verdes e aquele sorriso era tão largo e esperançoso. Ela ficou em silencio por alguns momento apos ouvi-lo, apenas sorrindo para ele. Por um momento Byakuya sentiu-se desorientado. Não sabia o que fazer perante ela e antes que pudesse pensar em algo, ela veio novamente com outra de suas atitudes descontraídas e imprevisíveis. Ela o abraçou novamente, porém desta vez com mais carinho e cuidado.
- Obrigada Byakuya-taichou! Eu vou fazer tudo o que você mandou! Juro que vou!
- ...Eu..não mandei fazer nada. – Byakuya desviou o olhar para o lado, tentando ocultar o fato de estar novamente com as bochechas vermelhas. Detestava a capacidade que ela tinha de fazê-lo ficar daquele jeito. – Foi apenas.. um conselho. Agora.. Me solte. Está tarde, vou me retirar. E você devia fazer o mesmo.
- Siiim, Taichoou! – Ela disse batendo continência e sorrindo como uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo.

Byakuya apenas se virou e deixou-a ali sozinha, voltando a caminhar em direção á seus aposentos. Aquele dia havia sido longo demais para seu gosto.


“Eu jamais poderia ter imaginado encontrar Bya-chan naquela noite, e certamente, se tivesse imaginado não seria tão perfeito quanto foi. A presença dele era tudo o que eu precisava para continuar lutando por meus objetivos, porque ele era o meu objetivo. Eu não sabia como seria o dia seguinte mas eu sabia que não iria desperdiçar aqueles conselhos que meu futuro Taichou deu e também sabia que eu não desistiria até alcançar a minha meta... E foi por isso, e apenas por isso, que eu comecei a treinar para valer. Todos os dias, todas as noites, eu me esforçava o maximo para me tornar digna de pertencer ao sexto batalhão.. E sempre que eu me sentia fraca eu lembrava do rosto de Kuchiki Byakuya e ganhava novas energias para continuar lutando.”

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