--> Dez anos atrás.

- Davin, Richard. – Chamou papai com uma cara séria. – Vocês terão uma irmãzinha.

- O quê? – Perguntou Richard indignado correndo para seu quarto sem nem aguardar a resposta. Nosso pai ia se casar novamente, e teríamos uma irmãzinha. Richard ainda não entendia, mas aquele gesto teria muito impacto em nossas vidas.

- Papai, - Chamei por ele. – posso ver uma foto da menina?

- Sim. – Meu pai sorriu feliz, por minhas ações não serem semelhantes às de meu irmão. Ele me entregou uma foto de uma menina sorridente, que não teria mais que cinco anos. Ela era tão fofa. – Seu nome é Lucy. E foi ela quem escolhi. – Ele sorriu novamente, deixando as últimas palavras pairando no ar.

- Ela? - Indaguei analisando mais atentamente a foto. - Obrigado. – Assenti segurando forte a foto e correndo para o meu quarto. Fiquei o resto daquele dia apreciando-a. Aquela menina, Lucy, com aquele olhar, tão meigo, me fazia querer cuidar dela. Como um verdadeiro irmão mais velho, mas eu não seria só isso. Um dia, teria que casar com ela, será que ela me perdoaria?

--> Dias atuais.

- Acorda pirralha. – Gritei para Lucy, que ergueu a cabeça ainda com olhar de sono. Ela sorriu, com o mesmo olhar que tinha desde os cinco anos.

- Já vai seu chato. – Ela grunhiu, não parecendo tão feliz quanto seu sorriso apresentava.

Como sempre não fiquei mais que meia-hora em casa. A única vez que podia vê-la era de manhã, para acordá-la. Como era ruim às vezes não estar mais no colegial. Eu pensava solenemente abrindo a carteira, onde sua foto com cinco anos estava colada. – Você é tão fofa, você irá me perdoar? – Sussurrei para a foto já na rua.

- Apresente-se – Parou-me um dos guardas do consulado.

- Fala sério. Sou eu, Davin. – Assenti entediado. O guarda perdeu um pouco sua compostura, e permitiu que eu entrasse. Como eu detesto a França... Pensei caminhando pelo jardim recém-decorado até a porta principal.

- Davin! – Assentiu Pria com um sorriso. – Onde está seu irmão? -  Disse totalmente desolada. Afinal, eles eram “noivos” por assim dizer.

- Ele não vem Pria, já disse, ele te odeia. – Eu continuava entediado. Como era chato trabalhar aqui. Pria estava brava, mas já se acostumara com ser a segunda opção. Richard jamais gostou dela, mas uma hora teria que aparecer. Ela sabia disso.

- Delfim Davin! – Chamou Elizete. Nossa, detestava esse título. Como queria poder renunciar.

- Sim Elizete. – Forcei um sorriso. – O que quer? – Disse ficando novamente sério.

- Sou sua secretária, ajudante, e... professora. Temos muito que fazer hoje, não use esse tom comigo. – Ela assentia, imperando para mim, -embora tivéssemos quase a mesma idade- empurrando-me até a sala de aula para revermos alguns negócios com os outros países. – Temos que escolher sua noiva. – Ela disse novamente como um raio, evitando que eu entendesse e apenas concordasse.

- Não. – Respondi sério. Soltando a bebida após quase cuspir tudo nela. – Você sabe que papai já escolheu alguém para mim, faz muito tempo.

- A Rainha deve aprovar. – Ela assentiu, sorrindo para mim.

- Só tem um probleminha... – Sussurrei para ela, tentando fazer com que não me entendesse.

- O quê? – Ela perguntou ficando irada. Ela não é bem paciente.

- Richard. – Disse por fim, me referindo ao segundo Delfim na linha de sucessão. Mais conhecido como meu irmão.

- Aquele moleque. – Elizete estava irada, realmente, Richard jamais aparecia para suas tarefas, ele sempre culpava à escola. – Tudo bem. Veremos isso depois. – Elizete fingiu não se importar... muito...

O resto do dia como sempre foi um horror. Nem acredito que sobrevivo a tudo isso. Só quero voltar para casa e olhar aquele rostinho de anjo antes de dormir. Mas realmente temos um problema. Pensei comigo mesmo na esquina de casa. Se papai souber, o que fará com Richard. E pior, como Lucy se sentirá?...

Cheguei em casa, e silenciosamente caminhei até o quarto de Lucy, cheguei ao seu lado e toquei sua bochecha coberta por seu cabelo. Ela sorriu. Abriu um pouco os olhos e sussurrou.

- Olá... Davin? – Ela perguntou ainda meio sonâmbula. – Você realmente trabalha, então? – Ela ainda dúvida!?! Não dá para acreditar!!! Eu estava quase rindo em sua face. Ela não tinha nem ideia, de que era também algo muito importante no meu trabalho?... Sai de seu quarto antes que eu fizesse algo que não deveria, como contar toda verdade, ou beijá-la. E segui para o meu. Meu pai estava sentado em minha cama, normalmente desarrumada.

- Filho, tem algo errado? – Ele assentiu sério, novamente demonstrando que se importava mais com seu país do que conosco.

- Não pai. – Respondi tentando evitar contato visual, ainda não era hora de revelar aquilo. Ainda não. As imagens de Richard e Lucy passaram pela minha mente rapidamente. Desgraçado. Pensei sério.

- Lembre-se que sua noiva é Lucy, quer você queira ou não. – Papai assentiu levantando-se. Quase retruquei dizendo que o problema não era eu. Mas sim... Richard.

- Papai. Pria estava lá novamente. – Assenti com dó da garota, que gostava tanto de Richard.

- Sim... Seu irmão terá que tomar uma atitude, cedo ou tarde. – Ele saiu do quarto ainda sério, pensando no que ocorreria se nossos casamentos não fossem bem-sucedidos.

É... No final das contas, Lucy só é mais uma das peças, no jogo de xadrez de meu pai. O que vai acontecer daqui para frente? Pensei preocupado, colocando a cabeça em meu travesseiro. Adormecendo, preocupado com Lucy e seus sentimentos.