O Monge escrita por slytherina


Capítulo 2
"Suas mãos e pés podem ser armas mortais."


Notas iniciais do capítulo

"Atingir um alvo... é exercitar a força interior. Ainda que haja dois tipos de força. A força exterior é óbvia: ela se desmancha com a idade e sucumbe com a doença. E há o ch'i, a força interior. Todo mundo a possui também. Mas isso é muito mais difícil de desenvolver. A força interior dura através de cada quentura e cada frieza. Através da velhice e além". Mestre Kan.



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Kam Yuen ficou muito emocionado de ter um monge hospedado em sua casa, ainda que não pudesse oferecer do bom e do melhor, mas ele demonstrava o quanto se sentia honrado, e isso tornava sua acolhida muito calorosa. Sua esposa estranhou sua amabilidade, e ele explicou a situação.

_O que há de tão especial em ser um monge?

_Ele é um monge do templo Shaolin. Um monge shaolin pode andar através de paredes. É dito que escutado, não pode ser ouvido; olhado, não pode ser visto; sentido, não pode ser tocado.

_Você fala como se ele fosse um semideus.

_Não um semideus, mas alguém treinado para ser especial.

Caine continuou fazendo o trabalho na pequena mercearia. Ele não se acanhava em fazer trabalhos humildes, pois sabia que a grandeza de um homem não está em posses e ostentação, mas na sua evolução moral. Ele procurava ser um com a natureza, dedicando-se ao trabalho exaustivo que executava, enquanto refletia.

Então um grupo de vaqueiros entrou na pequena mercearia. O Senhor Yuen ficou muito apreensivo. Olhou passivamente os vaqueiros mexerem em suas mercadorias e estragarem alguns produtos. Eles pareciam agir em provocação. Caine observou Yuen, que parecia um menino assustado, com medo do castigo do mestre. Percebeu que os vaqueiros com aquele comportamento pareciam dizer: "Nós mandamos aqui." Caine resolveu não intervir, mas tentar compreender o tipo de convivência que existia ali.

Um dos vaqueiros notou Caine. Ele aproximou-se e tocou nas roupas de Caine. Parecia inspecionar um menino traquinas, que estivera se sujando enquanto se divertia. Caine sabia que era uma provocação. Lembrou-se do que lhe dissera seu Mestre Kan: "Siga o modo da natureza e nenhuma força humana poderá feri-lo. Não vá contra uma onda, evite-a. Você não tem que parar a força, é mais fácil redirecioná-la. Aprenda mais a preservar do que destruir. Evitar do que confrontar. Confrontar do que ferir. Ferir do que mutilar. Mutilar do que matar. Porque toda vida é preciosa, nenhuma pode ser substituída". Caine resolveu não reagir à provocação. O vaqueiro então pegou um dos potes de condimentos que estavam à venda e o despejou na cabeça de Caine. Os outros riram da pilhéria.

Kam Yuen fez uma careta de desagrado, aquilo lhe doeu fundo, pois era uma afronta à sua religião. Então a porta se abriu e a jovem mulher de Yuen entrou. Ao ver a situação que seu marido enfrentava, resolveu sair dali e refugiar-se em sua casa. Kam Yuen temeu por ela. Um dos vaqueiros foi atrás dela. O senhor Yuen resolveu reagir e correu atrás do vaqueiro, mas outro daqueles arruaceiros o agarrou pelo cangote, suspendendo-o do chão, fazendo-o parecer uma marionete mexendo os bracinhos e as perninhas. O vaqueiro que havia saído atrás da esposa do comerciante, retornou arrastando-a pelos cabelos, agora soltos e embaraçados nas mãos daquele facínora. Para Caine aquilo já fora longe demais.

Ele primeiro afastou-se do vaqueiro que jogara os condimentos em sua cabeça. Quando o homem tentou agarrá-lo pelo cangote também, Caine enroscou o próprio braço no do oponente e acertou-lhe um golpe no queixo com a base da mão aberta. Isso fez o vaqueiro cair ao chão. Então ele foi até o vaqueiro que segurava Kam Yuen. Elevou sua perna em um ângulo obtuso e acertou o rosto do vaqueiro com a parte lateral do calcanhar. O homem perdeu o equilíbrio e teve que dar vários passos para trás, para não cair. Nesse processo ele soltou Kam Yuen, que correu para sua esposa, mas foi nocauteado com um soco desferido pelo vaqueiro que segurava sua mulher.

Caine avançou para este vaqueiro que nocauteou seu anfitrião, mas já o segundo vaqueiro alcançou-o e segurou-o com força no ombro. Caine aproveitou o impulso de seu oponente, para forçá-lo a ir para frente, torcendo seu braço, a ponto do outro homem não ter escolha, a não ser cair no chão em uma cambalhota desajeitada, para não ter o braço quebrado. Caine então chegou bem próximo ao vaqueiro que segurava a esposa de Yuen pelos cabelos. O monge não se moveu, apenas encarou o homem seriamente. Este como se adivinhando o que o outro pensava, largou a mulher e o encarou de volta. Ergueu os punhos e tentou socar Caine, mas este bloqueou seu soco, e segurou seu punho torcendo-o. O vaqueiro tentou contra-atacar, mas já Caine deu-lhe um golpe nas pernas fazendo-o perder o equilíbrio e cair ao chão, enquanto seu punho ainda estava seguro por Caine, com isso quebrando-o.

Um dos outros vaqueiros levantou-se e sacou sua arma. Caine pegou uma das vasilhas da mercearia e atirou-a contra o homem, atingindo sua mão e fazendo sua arma cair. Caine aproximou-se dele. O homem até pensou em reagir, mas recebeu uma sucessão de golpes com o punho, a quina da mão e o cotovelo, que desabou no chão sem resistência. O outro vaqueiro procurou pela porta da saída, e tratou de fugir rapidamente daquele chinês briguento.

A notícia de que um chinês havia reagido a uma provocação, e contra-atacado alguns dos vaqueiros da cidade, espalhou-se como rastilho de pólvora. Todos só comentavam isso. Na casa de Kam Yuen, sua esposa não estava satisfeita.

_Esse monge ainda vai nos trazer desgraça.

_Ele nos ajudou e nos protegeu. Você deveria ser mais grata.

_O que você pensa que os americanos irão fazer conosco?

_Irão... tentar se desforrar, infelizmente.

_Então? Eles só queriam se divertir um pouco, quebrar algumas coisas. Agora é possível que queiram queimar nossa casa, ou até mesmo fazer conosco o que fazem com os negros que os desafiam, enforcar-nos.

_Talvez você tenha razão, esposa, mas aquele vaqueiro colocou as mãos em você. Quem sabe até que ponto ele iria na humilhação, que eles gostam de nos fazer passar?

Caine estava arrumando a bagunça e o estrago feito na mercearia de Kam Yuen. Ele havia puxado os vaqueiros feridos para fora. Eles trataram de ir embora, jurando mentalmente dar cabo daquele chinês atrevido. Kwai Chang Caine já havia passado por situação semelhante no passado, quando seu mestre Po fora assassinado.

Início de Flashback:

_Por favor, levante-se. Por que você voltou? - Mestre Kan perguntou para Caine, que havia retornado para o templo, após a morte de Mestre Po.

_Para confessar minha desvalia, honrado senhor. Eu desgracei meus professores e envergonhei este lugar santo. - Caine falou, ainda ajoelhado de cabeça baixa, perante Mestre Kan, porém este o levantou puxando-o pelo ombro.

_Conte-me como.

_Eu friamente tirei uma vida.

_Você fala do sobrinho do imperador. Foi ele, não foi? Quem tirou a vida de Mestre Po? Quando você deu o golpe fatal, Mestre Po ainda estava vivo, não estava?

_Sim, estava.

_Você desejaria abandonar Mestre Po, enquanto ele vivia?

_Eu não poderia fazê-lo, honrado senhor.

_O pecado seria ter abandonado Mestre Po, ou permanecer, friamente aceitar sua própria morte. A morte não honra ninguém. A vergonha da morte dele não cai sobre você, mas no sobrinho do imperador. E isso ficará gravado na eternidade. Agora vá, pois você não pode mais permanecer aqui.

Fim do Flashback.

James Butler Hickock, xerife de Kilgore, segurava em suas mãos, um cartaz de procura-se. Ele tinha o desenho de um homem chinês careca, no centro e nos lados, os desenhos das tatuagens daquele assassino: um tigre e um dragão. O texto era o seguinte: "Procurado por assassinato. Kwai Chang Caine. $ 10,000 vivo. $5,000 morto. Notifique a delegação chinesa em São Francisco. O sujeito está desarmado, mas é extremamente perigoso. Suas mãos e pés podem ser considerados armas mortais. Procure nos antebraços pelas tatuagens acima." Aquele cartaz de recompensa, coincidentemente, chegara na hora em que os rumores de que um chinês lutador havia enfrentado os irmãos Boyd, conhecidos vaqueiros encrenqueiros. O xerife Hickock resolveu fazer uma visita a Kam Yuen.



Fim do Capítulo

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Notas finais do capítulo

Minha maior dificuldade ao escrever essa fic são as seqüências de luta, pois eu não sei quase nada de artes marciais. Minha fonte de pesquisa sobre o seriado é a página: www.kungfu-guide.com/guide.html



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