A História De Sally Jackson escrita por Kori Hime


Capítulo 27
Capítulo 27 - A realidade bate na porta


Notas iniciais do capítulo

Hey meus amores, como estão? Pois é, madrugada e eu decidi atualizar a fanfic. Amanha vou responder os comentários deixados no capitulo passado ♥



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Poseidon ainda não havia chegado em casa pela manhã. Sally estava sentada no sofá desde então aguardando seu retorno. Ela não conseguiu dormir, passou a noite criando milhões de cenários em que o marido estaria. O monte Olimpo. Os deuses, uma reunião com Zeus. Tudo parecia tão louco, embora já tivesse tido diversas provas de que não estava tendo um sonho.

— Sally? — Era Calyce, descendo as escadas. — Onde está meu pai?

Era incomum ouvir Calyce chamar Poseidon de pai, por isso Sally demorou alguns segundos para respondê-la. Embora a presença dela ali fosse mais que uma surpresa.

— Calyce? Você decidiu voltar? — Ela tentou esboçar um sorriso, mas não conseguiu ser muito convincente. — Eu não sei. Quero dizer, sei. — Ela se levantou e foi até a escada. — Ontem a noite um tal Hermes veio buscá-lo para uma reunião com Zeus. Francamente eu não entendi nada, porque estava escondida atrás da escada.

— Uma reunião? Porque ele não me chamou?

— Eu não sei. — Sally seguiu Calyce até a cozinha, ela abriu a geladeira e pegou uma caixa de suco de laranja. Ela usava um longo vestido branco com uma fita dourada acima da barriga, com um lacinho delicado na lateral. Os cabelos loiros caindo sobre os ombros pareciam mais sedosos do que nunca e a tiara de ouro na cabeça deixava seu rosto ainda mais esplêndido. Sally se perguntou porque não era uma grávida tão bonita como Calyce. — Mas acho que ele não queria incomodar você.

— O meu trabalho é estar ao lado dele. Mesmo não morando sob o mesmo teto.

Sally estendeu sua mão e tocou os ombros dela.

— Você está passando por um momento difícil. Eu posso entender, já passei por isso. Perdi pessoas importantes na minha vida e ainda não superei.

Calyce virou, afastando-se de Sally. Ela prendeu a respiração e deixou o copo vazio sobre a bancada da cozinha. O vestido moveu-se graciosamente conforme ela andava.

— Não, não é a mesma coisa. Estou há tanto tempo no mundo que às vezes tenho a impressão de que algumas lembranças são apagadas para outras serem acrescentadas. Não podemos nos abater por todas as perdas.

— Falando assim até parece que você não o amava. — Sally sentiu o ar congelar. — Desculpe. Não sou eu quem deve dizer essas coisas.

Calyce abaixou a cabeça e sorriu.

— Claro que eu o amava. Mas nunca daria certo. Eu já sabia que não seria como um amor mortal. Unidos até que a morte nos separe. Isso não aconteceria conosco. Foi bom o tempo que durou. Sinto muito pela morte dele ter sido tão precoce. E também por minha filha. — Ela acariciou a barriga. — Eu desejava que ela fosse criada pelo pai. Tenho certeza de que ele iria ensinar coisas boas para ela.

— Se o que você diz for verdade, então Poseidon e eu não teremos um futuro juntos?

— O que? — Calyce pareceu confusa.

— Se você pensa que não teria um futuro junto com o pai de sua filha, então isso se enquadra também na minha situação.

— Não foi o que eu disse. São situações completamente diferentes. — Calyce tentou escapar, mas Sally a bloqueou antes que ela deixasse a cozinha.

— Seja sincera comigo, por favor. — Ela exigiu, contraindo as sobrancelhas. — Quais as chances desse casamento seguir a diante?
Calyce recordou-se da profecia de Cassandra. Ela prometeu a Dalila que não contaria nada. E não iria fazer, mas não julgava Sally uma tola. Tinha certeza de que ela havia percebido que uma hora o conto de fadas poderia ruir como um grande muro em uma guerra.

— Poseidon sabe o que faz. Confie nele.

— Eu quero confiar. Quero acreditar que tudo ficará bem. Mas algo me diz que não será tão fácil. Me diga quantos deuses já se casaram com mortais? — Calyce não respondeu a pergunta — Veja, eu entendo que é um fardo ser imortal. Eu vejo isso dessa forma. De que adianta viver para sempre se é para perder quem amamos?

Calyce desviou de Sally e subiu as escadas, enquanto era interrogada pela “madrasta”. Pelo menos até fechar a porta de seu quarto. Ela pegou um dracma de ouro da bolsa e jogou na fonte que Poseidon havia lhe dado de presente.

— Aceite minha oferenda, Deusa Iris... mamãe. — Ela sussurrou, mas não houve resposta. Calyce então chamou por Dalila. A imagem dela surgiu na água e não estava sozinha.

— Ora, ora, se não é a caçula do fundo do mar. — A voz irritante de Dionísio fez Calyce quase desistir daquela conversa. — Soube que em breve termos a presença de uma criança nova no acampamento. Sinceramente, vocês deveriam ter mais cautela ao colocar esses jovens no mundo. Aliás, você está divinamente bonita em sua gestação.

— Não foi seu nome que eu solicitei, ou isso é uma chamada cruzada?

Tsc tsc. — Dionísio balançou a cabeça. — Rebelde como sempre.

Ele se afastou e então Calyce pode ver Dalila sentada na cadeira atrás da mesa, com várias pastas que quase a cobria por completo.

— Aconteceu alguma coisa? — Não era a primeira vez que elas conversavam daquela maneira. Dalila já estava familiarizada com muitas coisas em pouco tempo. — Sally está bem?

— Não houve nada grave. Mas soube que está acontecendo uma reunião. Poseidon não me disse nada. Você esta sabendo de alguma coisa?

Calyce ouviu a risada debochada de Dionísio, mandando ele calar-se.

— Você já foi mais bem-humorada, menina. — Apareceu somente a cabeça dele na imagem e depois Dalila o empurrou.

— Recebi uma mensagem sim, mas não fui convidada a participar. Apenas pediu para que eu fique de olho em tudo.

— Não sei se desse acampamento você vai conseguir ver alguma coisa.

— Calyce pediu desculpas, estava exausta. De tudo. No fundo Sally tinha razão, a imortalidade era um fardo a ser carregado. — Eu preciso ir.

A mensagem se desfez e Calyce decidiu que era hora de partir de uma vez.

Uma semana. Foi esse o tempo em que Sally esperou para ter notícias de Poseidon. Após os sete dias, cansada de sofrer pela demora, Sally decidiu que o deus dos mares não desejava que ela soubesse seu paradeiro.

Não sabia como entrar em contato com o Monte Olimpo, havia até feito uma oração em nome a Poseidon. Não existia um meio de comunicação seguro. Sequer Dalila entrava em contato, além de Calyce ter sumido, deixando uma mensagem de despedida e um envelope com dinheiro.

Sally sentiu-se insultada, e só não deixou a mansão no mesmo minuto, porque pensou no bebê. Uma empregada costumava vê-la no quarto, perguntando se desejaria alguma coisa. Sally tentou, inutilmente, fazer a mulher falar o que estava acontecendo. Mas aquela era somente uma senhora que por acaso estava trabalhando para um deus. E não sabia nada sobre o que se passava naquele lugar.

Sally arrumou algumas roupas em uma mala. Durante as semanas em que viveu seu casamento de ouro, o guarda roupa cresceu e as joias também. A vida parecia ser igual aquelas estampadas nas páginas de uma revista. Mas a realidade era muito diferente.

Ela desceu as escadas carregando a mala. Outras coisas pretendia buscar depois, quando tivesse com a cabeça no lugar. Sally deixou a mansão sem olhar para trás e seguiu até a avenida mais próxima. Um táxi parou.

Estava quente e ela só desejava deixar aquele lugar, antes que alguém aparecesse.

O taxista perguntou para onde ela desejava ir.

— Para um hotel ou uma pensão. A mais simples que tiver.

O lugar mais simples era um quarto de frente ao mar. Embora a vista fosse perfeita, o local não era muito agradável. Ela sentia um cheiro forte de comida engordurada, açúcar queimado e charuto. O dono do lugar levou a mala de Sally até o quarto, pedindo a diária adiantada. Lá entregou uma nota de dez dólares e o homem saiu. O cheiro dele ficou grudado no ar, como Sally jamais imaginou que poderia acontecer. Ela se sentiu nauseada e correu para o banheiro.

Mais tarde, conseguiu dormir um pouco e teve outro pesadelo, dessa vez era o próprio Poseidon que a atirava num buraco escuro no fundo do mar. Sally acordou assustada, sentindo o coração bater tão rápido no peito que chegava a doer.

Ela se levantou e olhou pela janela. Talvez ainda estivesse dormindo e aquilo fosse um sonho, ou seus olhos lhe pregavam uma peça. Mas na areia da praia, haviam alguns monstros, em especial uma com cabelos feito de serpentes e dentes em garras afiadas. Somente ela virou-se na direção de Sally, enquanto os outros seguiam para o outro lado.

De repente o coração de Sally pareceu parar. Ela afastou-se da janela e sentiu um calafrio por todo seu corpo. Olhou ao redor, procurando algo que pudesse usar como proteção, mas era uma ideia estúpida imaginar que iria conseguir escapar de algum ataque contra aquele monstro.

Ela trancou a porta do quarto e empurrou a cama para impedir a passagem. Poderia ser pouco, mas era a única coisa que ela tinha em mente.

Ouviu um barulho do lado de fora e abaixou-se com as mãos tampando os ouvidos. O bebê movia-se dentro de sua barriga, como se ele pressentisse o perigo próximo. Sally desejou que Poseidon estivesse ao seu lado, mas a tal realidade vinha nos piores momentos.

A maçaneta da porta girou várias vezes e o som de serpentes era aterrorizante. Mas logo depois, tudo ficou em silêncio. Sally levantou-se e olhou pela janela, não havia mais nada ali fora. Ela temeu estar ficando louca, vendo coisas que não existia. Sentiu um cheiro de tabaco e depois alguém bateu na porta do quarto.

— Está tudo bem aí dentro dona? — Era a voz de um homem. Sally empurrou a cama para o mesmo lugar, inventando uma desculpa qualquer pelo barulho.

Ela abriu a porta e o homem que estava lá vestia uma camisa xadrez, usava boné de um time de basquete famoso, além de soltar baforadas do charuto. Ele parecia com o dono do hotel que a atendeu mais cedo, embora fosse uma versão mais jovem e muito mais fedorenta.

— Sinto muito pelo barulho.

Ele a observou e depois apontou para a barriga dela.

— É para quando o bebê?

— Em breve. — Ela respondeu, olhando novamente para a janela, sentindo um alívio por não estar ficando louca, porque havia sim um monstro na praia, só que não estava vindo em sua direção.

— Se precisar de algo pode me chamar. Meu nome é Gabe Ugliano, eu trabalhando aqui com meu pai por enquanto. Mas pretendo voltar para Nova Iorque assim que o verão acabar.

— Obrigada Gabe, se eu precisar de você, vou chamar sim. — Ela fechou a porta.


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Notas finais do capítulo

Opsss acho que esse final vai deixar muita gente bravo =X