A História De Sally Jackson escrita por Kori Hime


Capítulo 26
Capítulo 26 - Os pesadelos de Sally Jackson




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Sally Jackson estava sentada na poltrona, na sacada da mansão litorânea de Poseidon. Seu olhar estava perdido nas ondas que se chocavam com a praia. Sobre seu colo, estava um par de sapatinhos azuis, sua cor favorita. O presente havia sido um mimo do marido naquela manhã, logo quando chegaram a cidade, após deixar Nova Iorque.

Retornar foi difícil, especialmente para Calyce, que já havia tomado sua decisão de voltar para a ilha, aos cuidados de sua mãe. Lembrando-se disso, Sally corou levemente. Pensou como a ex senhora dos Oceanos sentia-se após ser trocada por uma mortal.

Apesar de que Poseidon lhe garantia que já não havia mais amor, ou nunca houve, no casamento entre eles. Mas que mulher, sendo deusa ou não, admitiria o fracasso em seu relacionamento?

Talvez, fosse difícil demais para ela compreender algumas coisas. Sendo mortal, iria envelhecer, seu bebê crescer e talvez se tornar um herói, como já explicaram. Sally não sabia se seria forte o suficiente para deixá-lo partir para aventuras perigosas. Mesmo sabendo que havia um deus responsável pelo acampamento. Embora sentisse que estavam omitindo o real motivo de um deus ter sido designado para ser diretor de um acampamento de meio-sangue.

Tudo isso girava na cabeça de Sally, que já estava cansada. Ela dormiu ali mesmo, e algumas horas depois foi despertada por um cheirinho agradável. A mesa na sacada estava decorada com frutas e comidas saldáveis. Poseidon estava de pé, ao lado da mesa, passando manteiga em um pão e colocando suco no copo. Ele virou-se e sorriu, seu sorriso sedutor. Sally fechou os olhos por um minuto, imaginando que fosse um doce sonho. Mas não, era melhor que isso, a realidade que lhe batia no rosto como uma brisa noturna.

— Vamos, dorminhoca. Está na hora de comer alguma coisa. Passou a viagem sem se alimentar. — Ele aproximou-se, com o copo de suco na mão e a entregou.

— Onde está Calyce? Gostaria de falar com ela, sabe... dar minhas condolências corretamente.

Poseidon a olhou carinhosamente, sentando-se ao lado dela, em outra poltrona, acariciou a barriga da mulher.

— Você é tão gentil, meu amor. — Ele suspirou, falando em grego, depois traduziu a frase, como sendo algum tipo de lição. — Calyce está trancada no quarto. Acho que o melhor seria deixá-la descansar.

Sally concordou e com um incentivo de Poseidon, ela decidiu comer.


***

Ela sabia que estava dormindo, sabia porque seu sonho era surreal demais para ser verdade. Estava com um bebê no colo, na praia, e uma onda gigantesca os cobriu. O bebê soltou-se dos braços dela e Sally tentou gritar desesperada, mas ela afundava numa espécie de redemoinho, enquanto o bebê nadava, Sally afogava-se sem chance de escapar, o mar a puxava para o lado mais escuro.

Sally despertou desesperada, buscando por ar, ofegante e o suor lhe escorrendo na testa.

— Querida. — Poseidon tentou tranquilizá-la, mas era quase que impossível. Ele pegou um copo de água sobre a mesa da cabeceira e a entregou. Sally não queria beber água, ela não queria sequer sentir o gosto da água em sua garganta. — Foi um pesadelo? Me conte.

— Novamente, o mesmo pesadelo. — Ela tentou explicar, mas sua voz estava trêmula, desesperada. Poseidon então pediu para que Sally não pensasse mais naquilo, a abraçou, tomando cuidado para não machucar sua barriga de sete meses.

Já fazia algumas semanas que ela vinha tendo pesadelos referente não somente a água, mas as vezes ela sonhava que voava e despencava de uma nuvem, ou que um cavalo alado a levava para bem longe e a atirava num vulcão.

Em todos os sonhos, nada ruim acontecia ao bebê, mas de fato, aquelas tristes imagens de Sally machucando-se deixava-o em pânico. Pensou em levá-la para o fundo do mar. Quem sabe um castelo especial para ela. Mas Sally era irredutível, não queria deixar a terra, não queria ir para o fundo do mar. Só de pensar nisso ela sentia calafrios. Então não havia muito o que ser feito.

Naquela manhã, Dalila foi visitá-la. Ela estava passando alguns dias no acampamento meio-sangue, para conhecer as atividades locais, os responsáveis e as crianças, incluindo suas irmãs nereidas.

Sally estava ansiosa por notícias, afinal, se Dalila trabalhasse no acampamento, seria menos difícil deixar que seu bebê fosse para lá, quando a idade chegasse, para passar o verão. Mas sabia que não era assim simples. Sabia que haveria perigo até chegar lá, porém, principalmente, ela soube da profecia, ou pelo menos parte dela. Na verdade, apenas um detalhe.

— O que isso significa? — Sally não pode deixar de sentir uma tontura.

— Não podemos ter certeza, já que eu não a ouvi completamente. O fato é, os três grandes não podem ter filhos. Eles fizeram um pacto. — Dalila disse baixinho, olhando para os lados, verificando se estavam realmente sozinhas.

Sally acariciou a barriga, sentindo um movimento lateral. O bebê se mexia.

— O que mais há nesse lugar? Quem você viu? Existem outras crianças?

Dalila não teve a chance de responder porque Poseidon entrou na sala. Ele estava fora o dia inteiro e não contou a Sally onde iria, ela tinha certeza que deveria ser algo importante. Talvez referente a Calyce que havia ido embora há algumas semanas atrás.

Ele as convidou para jantar fora, haviam novidades que queria compartilhar. Sally foi tomar um banho e se arrumar, enquanto deixou os dois na sala.

Poseidon preparava um drink no bar, para Dalila fez um coquetel leve. Ele a chamou para se juntar ali no balcão de madeira escurecida, com tantas garrafas de líquidos coloridos.

— Como está Dionísio? — ele perguntou, sacudindo a coqueteleira rapidamente e depois despejando o conteúdo numa taça e adicionando um guarda chuvinha de brinde.

— Não sei muito bem se aquele é seu estado de espirito natural, mas se for, me parece bem.

— Então a recebeu bem?

— Se é que aquilo pode se chamar de bem, sim. — Ela bebericou o coquetel e aprovou.

Poseidon riu, divertindo-se com o relato de Dalila, mas em seguida, quando o assunto mudou, a sobriedade lhe tomou a face.

— Pode ser pedir demais para você, já que é amiga da minha mulher, mas eu queria que não comentasse com ela assuntos mais delicados.

Dalila arqueou a sobrancelha, não imaginava que o deus dos mares iria pedir para ela omitir fatos importantes.

— O mundo será perigoso para ela se não souber a verdade.

— O mundo sempre foi perigoso, querida Dali. — Ele vinha tendo essa mania de contrair o nome de Dalila, mas ela não podia negar que era uma forma interessante de saber como ele se senta por ela. Ou era pura preguiça de falar o nome completo. — E sempre será. Seria mais fácil caso Sally não soubesse nada disso, mas ela vê através da névoa, o que podemos fazer quanto a isso? Senão protegê-la de seus medos.

— Podemos? Você pode protegê-la? Pode violar esse tal procedimento padrão de não se intrometer na vida dos humanos?

— Mais ou menos. — Poseidon sorriu, mexendo nos cabelos negros. — Vamos dizer que eu posso dar um empurrãozinho.

— Prometa que nada ruim acontecerá a eles. — Dalila o olhou séria, esperando que o deus fizesse o mesmo, mas a única coisa que viu, foi a cara de bobo apaixonado quando viu Sally descer as escadas, para se juntar a eles.

O jantar foi tranquilo e não houve conversa sobre deuses, acampamento, pesadelos ou morte. Principalmente morte. Sally estava feliz pelo retorno de Dalila, e não sabia que ela voltaria para o acampamento mais cedo do que havia dito. Faltava pouco para o apartamento em Nova Iorque ficar pronto, mas ela decidiu ter o bebê ali. Sentia-se mais confiável e segura naquela região, sabia que poderia ser uma bobagem, mas era o que sentia. A grande novidade de Poseidon era a que ele poderia ficar mais tempo com Sally, mas não contou mais nada sobre o assunto.

No final da noite, Sally despediu-se de Dalila e subiu para o quarto, estava cansada, sonolenta. Ela não conseguiu sequer tirar as roupas, caindo na cama e dormindo um sono profundo. Seu medo se sonhar foi vencido pelo cansaço. Mas isso não significa que ela estava livre de fato daquelas imagens horríveis. Naquela noite, Sally sentiu que seu sonho era mais do que isso, como se visse o futuro refletido na água. Flash de imagens pipocavam a sua frente, uma pequena criança empunhando espada e lutando. Havia dor, sangue e medo nos olhos dela. Todos os medos de Sally se refletiam naquelas imagens, e quando ela acordou, Poseidon não estava ao seu lado.

Ouvi um barulho vir do andar de baixo, o som de piano sendo tocado. Ela costumava ouvir sempre a mesma melodia, mas nunca descia para vê-lo tocar. Dessa vez ela desceu, amarrando o laço do robe em volta da cintura. Ela aproximou-se do piano e sentiu um alivio preencher seu corpo, apenas por vê-lo sentado ali, distraído. Ele não notou sua presença, e por isso, quando Sally viu uma imagem estranha formar no meio da sala, ela escondeu-se atrás de uma estátua de bronze ao lado da escada. Abaixou-se no chão, ouvindo as teclas do piano desafinarem com as mãos de Poseidon espalhando-as.

A conversa não durou muito. Sally ouviu Poseidon chamar a pessoa que apareceu ali de Hermes. Algo mais ele disse referente a Zeus, Hera e os demais deuses. Uma reunião. E então, Sally não ouviu mais nada. Ela se levantou, e a sala estava vazia. Poseidon havia ido embora e Sally sentiu-se solitária.


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Notas finais do capítulo

Beijos amore, nos falamos nos comentários ;D



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