Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 8
VIII


Notas iniciais do capítulo

Lembram-se do pesadelo do último capítulo? Se a resposta é positiva, ainda bem! Vão precisar de ter o sonho bem memorizado para este capítulo.
Boa leitura.



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Eram sete horas da noite. A noite iria começar. Com alguma pressa, encaminhei-me para o dormitório da noite, onde realizar-se-ia o baile desta noite.

*Ayame Pov-On*

– Penso que te tinha dito que não iria usar uma saia!- resmunguei para Aidou, que tão generosamente me tinha comprado um conjunto completo.

– Não, não o disseste!- respondeu-me, não me deixando interrompe-lo.- O que referiste foi “Não vou usar um vestido!”. Bem, isto não pode ser considerado um vestido.

Praguejei baixinho. Olhei novamente para a roupa. Era verdade que eu não gostava de expor as minhas pernas, mas tinha de admitir que ele tinha bom gosto.

– Vamos ver se tenho lingerie que combine.- disse-lhe, desesperançada.

*Ayame Pov-Off”

Antes de abrir as portas do dormitório, rezei baixinho:

– Por favor, não me deixe fazer uma figura de parva.- acrescentei.- Nem me deixe cair destes inconfortáveis saltos altos.

Voltei a verificar se realmente estava completamente vestida (nunca se sabe quando podemos nos esquecer de algo importante, tipo as calças). Olhei novamente para a minha saia mullet de renda preta. Cumpôs o meu top branco (que tinha umas letras garrafais douradas a dizer: “ Don’t Like?… F*ck off”).

Abri as portas. Tive certas dúvidas de estar no pavilhão correto. Voltei a sair para olhar o nome do edifício. Não me tinha enganado, mas como poderia este ser o mesmo edifício? Tudo tinha mudado. Tudo parecia vir de um filme de terror, na cena do baile em que anda um assassino à solta… Respirei fundo. “Acalma-te, Ayame”, pensei.

A sala antes silenciosa, fria e branca tinha-se tornado num tumulto de agitação, calor e cor. Uma sala de baile vinda dos sonhos de qualquer rapariga. Distanciei-me das pessoas que ou comiam ou falavam das vidas alheias.

Tentei passar despercebida. Mas, por acaso, não foi a minha roupa que chamou a atenção sobre mim. Foi, sim, o meu cheiro.

– Que cheiro maravilhoso.- disse uma vampira de vestido vermelho.

– Será que podemos mordê-la?- disse um vampiro de smoking preto.

– Que lindíssima humana.- disse outra.

– Comportem-se. Isto é um baile de negócios e não um restaurante.- disse um. Acalmei-me. Afinal há monstros simpáticos.

Vindo de algum lugar, um braço agarrou o meu puxando-me para fora da “zona alimentar”.

– Zero!- exclamei ao vê-lo. – O que fazes aqui?

– Soube que estarias por aqui, e sabendo como arranjas problemas em todo o lado decidi acompanhar-te.- percebi que ele estava a esconder-me algo.

– E…- encorajei-o.

– E vim como caçador de vampiros.- confessou.

De repente, algo dentro de mim mexeu-se, contorceu-se e fez-me sentir que não era a primeira vez que tinha ouvido aquela palavra- “caçador de vampiros”. Zero percebeu que algo se passava comigo.

– Na verdade, eu e o professor de matemática viemos apenas por prevenção. Como tu era a única humana por aqui e tal…

– O professor de matemática também é um…- não consegui dizer a palavra. Zero não notou a minha hesitação.

– Sim, foi ele que me ensinou tudo o que sei sobre eles.- disse, olhando para a população agregada na sala.

Um vampiro já idoso (ou pelo menos mais velho que os outros, dar-lhe-ia trinta anos), encaminhou-se na minha direcção, com uma expressão de desconfiança e confusão. Zero colocou-se logo numa posição defensiva.

– Para!- disse-lhe- Não sabes o que ele quer.

– Peço imensa desculpa,- interrompeu o vampiro- Mas já nos conhecemos?

Olhei mais uma vez para a face do ser imortal.

– Acho que não.- confessei-lhe.

– Mas a menina é tão parecida com ela.- disse-me.- Sabe havia uma rapariga, da nossa espécie, com cerca de dez anos que era bastante parecida consigo…- hesitou.

– O que é que lhe aconteceu?- perguntei.

– Faleceu.

Um arrepio subiu-me dos pés à cabeça.

– Aí estás tu, Ayame!- gritou Aidou, puxando-me para longe do homem (e de Zero).

– Vai começar a dança.- exclamou ele.- Queres dançar?

A pergunta trouxe-me de novo à realidade, tinha de deixar de pensar no vampiro.

– Claro que sim.- respondi-lhe.

A música “Cause to love you” dos Fingertips começou a tocar. Os casais começaram a formar-se e a alinharem-se na pista de dança. Aidou colocou a sua mão no ar, à espera da minha. Entrelacei a minha na sua, estremeci ao sentir o toque frio dos seus dedos.

Dirigimo-nos para a pista de dança, quando eu retirei a minha mão da dele, rapidamente.

– Ayame?- disse Aidou.

– Desculpa, não sei o que está a passar comigo hoje.- levantei a mão para voltar a entrelaçar na dele, quando ela fica no ar, estética, sem eu a conseguir mexer.

– O quê…?- murmurei.

Não conseguia mexer o braço. As minhas pernas começaram a encaminhar-se para longe de Aidou e de todos os convidados, sem o meu consentimento. Como se não fosse eu que controlasse o meu corpo…

– Não to vou permitir, Ayame!- gritou uma voz masculina. Procurei o homem que me interpelara, mas não encontrei ninguém a dirigir-se a mim.- São todos uns monstros. Sai daqui!

Depois reconheci a voz. Mas a descoberta não me aliviou nem acalmou. Ainda fez com que me sentisse pior. Enjoada é o termo certo.

– O que se passa Ayame?- perguntou Zero, elevando a mão para me confortar. Contorci-me para fugir do contacto da mão dele. Parece que ele, aquele que me controlava, sentia mais nojo de Zero do que de Aidou.

– Ayame?!- chamou-me Aidou, abanando-me os ombros.

Queria esconder-me. Queria desaparecer.

Encontrei as minhas forças, e dei utilidade às minhas pernas, fugindo daquele local.

Não sabia para onde deveria ir. Ele perseguia-me sempre e sempre iria-me perseguir. A sua memória assombrava-me. Como é que poderia fugir da memória do meu próprio irmão? Como poderia fugir da voz dele?

Tropecei nas minhas próprias pernas ao chegar à fonte da escola.

– O que queres de mim?- gritei para o escuro da noite.

Não houve resposta.

Os meus olhos não aguentaram mais. As lágrimas começaram a tomar conta de mim.

Finalmente, quando o meu reservatório de água esvaziou-se, as lágrimas cessaram. A única coisa que não permanecia calada, era o som da água que saía da fonte. O som era harmonioso, quase imperceptível, uma melodia de embalar. Esta teve o seu efeito…





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Notas finais do capítulo

Gostaram? Quero saber tudo o que acharam da história até aqui, ok? Vocês são a minha inspiração!