Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 4
IV




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A noite não teve um minuto de descanso. Parece que tudo aquilo que sempre acreditei que seria fictício, afinal existia. O mundo que eu conhecia estava a desabar demasiado rápido, eu não conseguia acompanhar tanta mudança.

Escondi as olheiras que se destacavam por baixo dos meus olhos verdes com um pouco de base. O meu cabelo despenteado pedia-me desesperadamente, por atenção. Não tinha o tempo necessário para o desembaraçar, logo fiz um rabo de cabalo. Não estava perfeita, mas teria que sobreviver.

Dirigi-me à sala de aula, acompanhada por Yori que, mesmo que eu não lhe prestasse atenção, não permanecia calada.

Ao sentar-me no meu lugar, senti que algo estava diferente- a atmosfera sentia-se esquisita, demasiado calma. Olhei para trás e ali estava ele, olhando para o vazio sem prestar a mínima atenção à aula que já tinha começado. Zero não sentiu o meu olhar, ou se sentiu não mo retribuiu.

Não contive o sorriso. Estava aliviada. Tinha medo que algo lhe tivesse acontecido, ou, que ele tivesse feito algo. Mais uma vez, não anotei a aula- mas desta vez a culpa foi da presença dele bem perto de mim (apenas a umas duas carteiras de distância).

No final das aulas, encaminhei-me para os corredores. Apenas percebi que Zero me seguia quando ele encostou-me a uma parede e colocou cada uma das suas mãos em cada lado da minha face, aprisionando-me.

– Olá para ti também, Zero.- disse, sorrindo.

Ele ignorou a minha tentativa de distracção.

– O que estás a fazer?- perguntou-me ele.

– Neste momento, estou encurralada.

Ele baixou as mãos.

– Porque é que não contaste a ninguém?- questionou ele.

– Porque é o teu segredo. Eu não tenho o direito de contar nada que não me pertence.

– Porque é que ainda não fugiste?

Esta pergunta apanhou-me de surpresa.

– Não te estou a perceber, Zero.- confessei.

– Qualquer pessoa minimamente inteligente, depois de ter visto aquilo, teria fugido ou ido ao psiquiatra.- começou- Acho que tu não fizeste nenhum dos dois.

– Isso é porque eu não sou inteligente.- sorri.

Estava pronta para me ir embora, quando ele me interpelou:

– Não te interessa saber como eu me alimento?- outra pergunta que me deixou boquiaberta.

Respirei duas vezes antes de responder. Durante os ciclos respiratórios, pensei numa resposta melhor que “Sangue, não?”.

– Eu sei o que estás a tentar fazer.- disse-lhe, com a expressão mais séria possível.- Não vais conseguir. Eu não tenho medo de ti!

Ele hesitou na resposta:

– Talvez devesses ter.

Com uma força que eu não considerava possível, voltou-me a fixar à parede. Tirou os meus cabelos que estavam no seu caminho e encontrou o meu pescoço.

Devagar e com um carinho que não estava expresso na face, Zero começou a acariciar-me o pescoço. As suas mãos macias percorriam a minha garganta para cima e para baixo, vezes sem conta. Fiquei petrificada.

Lentamente, aproximou a cara e lambeu-me o pescoço. A língua era quente em contraste com a minha pele. Era uma sensação agradável, até demasiado. Eu poderia ter aproveitado aqueles momentos, não fosse o receio do que viria a seguir. Sendo Zero um vampiro, não ficaria satisfeito apenas com aquilo. Só o meu sangue, que neste momento estaria a correr a maratona, o levaria ao êxtase.

De repente, parou. Ele distanciou-se de mim e disse:

– Talvez devesses ter.- e desapareceu.

Caí sobre o meu próprio peso. “Ele sabe o que faz”, pensei e, estranhamente, ri.

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– AH!- acordei com um grito, percebendo que era meu.

Yori, sobressaltada, perguntou:

– O que se passa?

– Apenas um sonho mau.

Dizer “apenas um sonho mau” era muito vago. Foi um horrível pesadelo. Faz uma semana que ando com pesadelos e todos são iguais: começa com a tranquila paisagem da cidade, porém algo muda. As casas tornam-se, nada mais, nada menos, que manchas vermelhas de sangue. As pessoas estão reunidas nas ruas a chorar perto de um agregado significativo de corpos. Porém, as pessoas que choram vão desaparecendo, juntando-se ao monte de cadáveres. O assassino costuma estar de costas para mim, ignorando-me, mas esta noite vi-lhe o rosto- era a criatura de olhos vermelhos espelhada na face de Zero. Ele coloca-se numa posição de ataque. E ataca-me. Não sei se sobrevivi ou não, pois acordei com os seus dentes cravados na minha pele.

Durante toda a manhã, tentei esquecer o pesadelo. Revelou-se uma tarefa difícil, já que Zero, como de costume, não estava nas aulas. Isto levou-me a pensar se seria apenas coincidência se…

Levantei-me.

– O que foi, Ayame?- perguntou Yori, trincando a sua sandes.

Comecei a correr.

– Vou dar uma volta. Não esperes por mim!- gritei-lhe.

Continuei o meu raciocínio- Seria apenas uma coincidência se Zero se encontrasse na cidade?

Caminhava pelas ruas do meu pesadelo. As únicas diferenças que existiam entre a realidade e o meu sonho eram a falta de sangue, de cadáveres e de lágrimas.

Talvez me tenha precipitado um pouco na decisão de vir até aqui. Nada indicava que Zero pudesse aqui estar. Pensei em voltar para a academia mas, depois de olhar as horas, percebi que já deveria ter começado a aula de matemática. Só tive de lembrar-me do sermão do professor que iria receber, para mudar de opinião. Um dia de férias não faria mal, certo?

Comecei a descobrir todos os pontos da cidade. Estava à procura de uma loja de roupa masculina- o meu pai andava com falta de gravatas. Depois de encontrada, achei melhor regressar à academia- mesmo que ainda faltasse uma hora para as vinte.

Pensava que ainda me lembrava do caminho de regresso para a escola, mas fui ter a uma rua desconhecida. Devia ter cortado mal em alguma avenida, ou algo do género. Voltei atrás.

Depois de conferir o caminho umas doze vezes, um gato aproximou-se de mim. Algo nele era-me familiar- era da cor negra tal como o Tareco que tinha em casa. Tentei pegar-lhe mas ele protestou e arranhou-me.

–Auch!- gritei de dor. O desgraçado do gato tinha-me arranhado desde o polegar até ao mindinho. Agora, tinha três mãos. Tentei concentrar-me em não vomitar.

– O teu sangue tem um cheiro maravilhoso.- disse uma voz.

Encarei a pessoa que me tinha falado. Arrependi-me de o ter feito. Um homem alto de olhos vermelhos e de caninos anormalmente grandes e pontiagudos, aproximou-se de mim.

– Dás-me a honra de o provar?- perguntou-me.

Afinal Zero tinha razão. Eu tinha medo!

Ele deu mais um passo. “É o meu fim”, pensei.



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Notas finais do capítulo

Como prometido, mais ação.
Agora, com as aulas a retomarem ao seu funcionamente normal, temo que o próximo capítulio não venha antes de sábado.
Tudo depende dos comentários que receber (mazinha).
PS GOSTAVA DE SABER SE ACHAM QUE EU DEVIA COLOCAR A HISTORIA PARA MAIORES DE 16. Este capítulo tem cenas que as pessoas podem relacionar com o impróprio, mas não o fiz de propósito.
À espera de recomendações,
Para sempre agradecida