Kane - Os Artefatos Perdidos Do Egito escrita por Black Umbrella


Capítulo 11
Noite de Acampamento


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente linda! Faz tempo que não apareço por aqui, hein? Conversamos mais nas notas finais.
Boa leitura *-*



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Sadie

Acampar numa floresta. O que eu geralmente faria? Gritaria, porque florestas são inúteis. O que eu fiz, de fato?

– Bom, não pode ser pior do que esperar um reboque dentro do carro. – eu disse, abrindo um sorriso relutantemente animado.

– Já que está tão alegre, porque não carrega a própria mala? – Carter diz, e, ao passar por mim, deixa a minha bolsa aos meus pés.

Revirei os olhos.

– Que cavalheiro, hein, Carter? – eu disse. Todos já estavam acabando de juntar suas coisas para procurar um bom lugar para acampar, enquanto papai trabalhava em um feitiço complexo para ocultar o carro de deuses e de humanos.

– Deixe que eu leve para você. – Anúbis diz baixinho, enquanto pega a bolsa. Tenho que admitir que foi muito fofo quando ele colocou a bolsa roxa nas costas e saiu andando. Foi algo tão... doce. Embora eu não saiba explicar exatamente por que.

– Bom, acho que já podemos ir. Vou consertar o carro amanhã de manhã, para que possamos seguir viagem. – disse papai.

– Bom, estão todos prontos? – pergunta mamãe.

– Sim, mas... Hã-hã. Temos coisas para acampar, e tudo o mais que é necessário? – pergunta Zia.

– Claro que sim. Temos uma barraca para cada um, fósforos, marshmellows, e tudo o mais. – disse Carter, o que pareceu tranquilizar Zia.

– Pois bem. Estamos procurando uma clareira com bastante espaço, pra todo mundo manter sua privacidade, e para a fogueira ficar em uma posição favorável para nos manter confortável, e não pode ser muito longe. Vamos nos dividir em duplas, quem achar, dispara esses sinais de luz. – disse papai, e saiu distribuindo mini-sinais de luzes.

Como parecia que ia ser em toda essa viagem, eu fiquei em dupla com Anúbis. Mas, eu tinha que admitir que era o razoável. Zia e Carter eram namorados. Mamãe e papai... bom, casados. Não seria lógico pedir que eles se separassem apenas para que eu não ficasse nervosa com a tensão tangente entre mim e Anúbis.

– Então, vamos andando? – ainda animada, e disfarçando a pressão, eu dei um empurrãozinho em Anúbis.

– Vamos.

Nós seguimos para norte, Carter e Zia para oeste, e mamãe e papai para sul.

– Então... Você não tem me contado muito as novidades. Onde está aquele... Welton? – Anúbis perguntou.

– Walter. – corrigi, automaticamente, e acho que havia um pouco de repreensão na minha voz, porque o rosto dele deu uma caída.

– Esse mesmo. Então, mesmo depois de eu ter saído dele, ele não morreu? – ele perguntou, parecendo ser meio indiferente a vida de um garoto.

– Bom, sim, mesmo sem sua ajuda. – de novo, havia um tom cortante na minha voz.

“Idiota, idiota, estúpida.” – eu falei a mim mesma.

– Ah... Sem ressentimentos sobre isso, eu espero. Eu não podia continuar no corpo daquele menino.

Ele enfatizou a parte de “menino”. Parecia que ele dizia que Walt não era exatamente um homem.

Revirei os olhos.

– “Sem ressentimentos.”. O que você tem contra ele? – eu tinha minhas suspeitas do que poderia ser, mas eu não ia exatamente exprimi-las.

– Nada demais. Mas você não respondeu. Como ele conseguiu sobreviver?

– Com muito esforço por parte de todos os magos que pudemos requisitar. E ele só está... hã... Vivo, temporariamente. Ainda estamos trabalhando no que fazer com ele. – franzi o rosto de preocupação.

– Parece estar muito preocupada com ele. Gosta muito dele, não é? – ele perguntou.

A essa altura, já havíamos andado bastante, e ambos estávamos prestando atenção em achar a tal clareira.

Chutei um tronco fico que estava na nossa frente antes de responder.

– Gosto. Muito. Mas... hum-hum – pigarreei. – Sabe, eu não tenho nenhum interesse além da amizade com ele.

– E ele sabe disso? – Anúbis mandou essa na minha cara, e parecia animado, feliz, mas relutante em acreditar no que eu havia dito. Ele pareceu perceber que foi meio rude e enxerido. – Ah, mas não tem que me falar nada, se não quiser.

– Não, está tudo bem. É só que... Acho que ele confundiu um pouco as coisas. Eu não estou interessada em nada disso... Com ele. – tá, esse “com” foi meio ridículo, mas, depois de dito, só o que eu pude fazer foi chutar folhas e olhar para baixo.

Meu coração palpitava com força. Eu o vi com a minha bolsa, e por motivo que eu não imagino, fiquei ainda mais nervosa.

– Eu... Eu posso dizer que te entendo. Durante esses milhares de anos, nunca houve nenhum humano que me visse sem a cabeça de chacal, até você, e depois, Carter e Zia. Mas, sempre houve deusas (maiores e menores), mostrando certa... Afeição demasiada por mim. Mas, o máximo que eu sentia por elas era pena. Nem essa sua... Amizade, por Welton, eu tive.

Não liguei muito para o fato de ele ter chamado Walt de Welton de novo.

– Sério? Nunca houve... uma garota, ou mulher, que você, sei lá, quisesse? – bom, o uso de “quisesse” foi estranho.

– Nunca. Eu sou das antigas. Podem dizer por aí que sou um cafajeste que acaba com a inocência de meninas inocentes... Mas a verdade é que nunca tive nada com ninguém. Sou muito chato em relação a isso. A garota teria que ser perfeita pra mim.

Eu ia responder, mas, na hora, eu vi que se abriu uma clareira que parecia perfeita para o acampamento. Redonda, chão bastante limpo e plano, grande.

– Parece que encontramos a clareira! – eu disse feliz, a Anúbis. Ele sorriu também, com o rosto inocentemente alegre, mas meio triste também.

– Hora de todo mundo se juntar a nós. - Ele ergueu o sinalizador pequenino e disparou.

Eles dispararam de volta uns segundos depois, mostrando que haviam visto onde estávamos.

– Bom, acho que eles chegam daqui a uns minutos. – eu disse.

– É. Poderíamos ir preparando as barracas antes de eles chegarem. Podemos escolher os melhores lugares pra nós. – Ele piscou pra mim, maliciosamente, e eu retribuí.

Ele começou a tirar tudo que era necessário de uma janela para o Duat aberta naquele instante.

– Sabe, estou sem a maioria dos meus poderes como deuses, então, seus poderes de maga vão ajudar a montar essas barracas.

Eu ri, e comecei a me concentrar. Um minuto depois, as duas barracas que Anúbis havia retirado do Duat estavam prontas, afastadas da fogueira, mas em posição favorável contra chuva, sol, e outras coisas da natureza.

– Ficaram ótimas Sadie, - disse ele, assim que eu terminei.

– Ficaram mesmo. Eu fui escoteira, sabia?

Ele riu.

– Sério? Então gosta de florestas? – perguntou.

– Sim. Impressionante, Sadie gosta de alguma coisa, bláblá. Mas a verdade é que eu sempre gostei delas. Acampar é um dos grandes prazeres da minha vida.

Ele ficou calado, me olhando, como se estivesse refletindo profundamente.

– O que foi? – perguntei, meio sem graça pelo olhar profundo.

–Nada. É só que... Durante meus milhares de anos de vida, acampamento, florestas... Eu sempre amei. O maior dos meus hobbies.

– Sério? Que coincidência.

– Pois é. Sabe... – ele foi interrompido pela chegada do pessoal.

– Timing perfeito, vocês quatro, hein? – eu disse, porque as duas duplas irromperam na clareira ao mesmo tempo, vindas, cada uma, de sua própria direção. –

– É verdade, - riu mamãe. – e vejo que vocês já montaram suas barracas! Podem ir montando a fogueira, então.

– Claro, - murmuramos eu e Anúbis.

Enquanto nós tirávamos grossas madeiras prontas do Duat, Carter e Zia, mamãe e papai, montavam suas barracas.

– Ufa! Montar fogueira não é tão fácil. – disse Anúbis.

– Ah, não seja mole. É a primeira vez que faz isso sem uma mãozinha dos seus poderes de deus, não é? – perguntei a ele. A roupa dele estava meio suada, e grudada nele, o que me fez corar e desviar os olhos rapidamente.

– É sim, e vai ser a primeira vez que acendo sem mágica também. – Me diverti o vendo tentar acender fósforo após fósforo, sem obter êxito.

– Tá, me deixa ajudar com isso. – sem pensar muito no que eu ia fazer, segurei as mãos dele (muito maiores que as minhas), e acendi o fósforo. Como as mãos dele eram deliciosamente macias...

– Sadie, você trouxe o chocolate quente pronto? – Carter me tirou de devaneio de ver a fogueira começar a pegar. Soltei as mãos de Anúbis. Este corou. Nunca pensei que ia viver tempo o suficiente para ver Anúbis corar.

– Trouxe. Está na bolsa. Ei, eu não uso o Duat pra tudo, tá? – eu disse, quando ele me olhou meio descrente.

– Okay, então. Pode me dar? Vou colocar pra ferver. Achamos água em um riacho no meio do caminho até aqui. Vou ferver, e depois coloco a mistura dentro. – disse Zia.

– Claro. Anúbis, pode pegar pra mim? – Ele tinha se sentado no grande pano de piquenique que era suporte do acampamento, e encarava a fogueira distraidamente. No entanto, minha bolsa estava do lado dele.

– Ah... Sim, claro. – enquanto ele tirava o chocolate da bolsa, eu vigiei, para que ele não mexesse em algo não da conta dele.

Mamãe e papai haviam acabado de terminar a barraca deles. Como era a maior, e eles já estavam organizando ela por dentro, demorou.

– Bom, parece que temos quase tudo pronto! Posso colocar os marshmellows para assar agora mesmo, e podemos ver umas histórias de terror, quem sabe. – disse papai.

Eu ri.

– O que vocês sabem sobre histórias de terror? – perguntei.

– Eu sou o deus dos mortos. Sei uma ou outra. – disse Anúbis. – mas vou levar na esportiva, e dizer só umas leves.

– Muito bem, as barracas de todo mundo já estão prontas? – perguntou mamãe.

– Ah, quase. – eu disse, e entrei na minha barraca para organizá-la por dentro. Passei por Anúbis no caminho, que, disfarçadamente, passou a mão na minha perna.

Eu fiquei realmente pasma. Sério que ele havia feito isso? O que eu deveria fazer? Gritar que não podia fazer isso? Ah, eu não queria dizer que ele não podia fazer isso.

Me sentei, meio tonta, no chão da barraca, pensando. Não achei que, se acontecesse alguma coisa entre nós, fosse ser tão rápido.

“Talvez tenha sido sem querer”. Foi com esse pensamento que me acalmei.

Terminei de arrumar minha barraca. Era bastante grande. Aposto que era barraca para duas pessoas.

Quando saí, todo mundo já estava ao redor da fogueira. Todos sentados em frente as suas respectivas barracas, Carter e Zia abraçados, mamãe e papai também. A de Anúbis era bem do meu lado, e ele estendeu a mão para me ajudar a sentar. Eu, no entanto, por puro instinto ignorei e me sentei.

– Essa é a Sadie que eu conheço – riu ele, mas parecia satisfeito.

– Quem quer contar a história? – perguntou papai.

– Posso começar? – perguntou Carter.

– Pelo amor dos deuses, não, Carter. Ninguém precisa ouvir sobre como você tem medo de palhaços.

Todos riram, e Carter escondeu a cabeça no colo de Zia, algo que, pra mim, pareceu bem íntimo.

– Eu começo então. – disse Anúbis.

Aninhei-me com meu travesseiro, já que não era namorada/esposa de ninguém.

E ele começou a contar a história, num tom baixo de veludo.

Era um dia comum no Duat. Eu estava tranquilo em meu castelo. Isso foi há milhares de anos. Nessa época, os deuses eram conhecidos por todos, de modo que meu castelo era visto do mundo humano também. Era como se estivesse em ambos os lados. Uma mulher bateu em minha porta. Eu estava muito surpreso que alguém do mundo humano tivesse coragem de bater na porta do deus da morte. Era um dia sombrio. Um dos dias do Demônio. Ao abrir a porta, eu a vi. Ela tinha longos cabelos negros, e era muito bela. E sombria. Disse que sabia que seria a próxima alma a ser ceifada por mim, e queria saber se havia algo que pudesse fazer-me desistir de matá-la. Eu disse que não havia chances. Ela me ofereceu tudo que se possa imaginar. Mais riqueza, mais poder... Tudo. Até que percebi quem era. Era a princesa Arélia, filha do Faraó. Eu disse a ela que não havia nada mundano que pudesse suprimir a morte. Era chegada a vez dela. Voltei para meu sombrio descanso, deixando-a na minha porta. Comecei a ouvir ruídos, então. Estava tudo muito escuro, e eu não via muita coisa. Havia um bilhete sobre o espelho. “Cuidado com o que despreza”. Quando ergui os olhos, a mulher estava lá. Friamente pálida, com o corpo em frangalhos. Coberta de sangue. Eu me adiantei, prestes a matá-la de vez. Mas, quando minha adaga chegou a ela... Transpassou. Ela já era um espírito. Um espírito de morte. Ela riu, de um modo que fez meus cabelos se eriçarem. E disse que, dali em diante, assombraria as pessoas nos Dias Escuros. E que todos deviam temer o escuro, por que era nele, em todo ele, que ela se escondia. E desapareceu. Mas a áurea dela continuou comigo. Anos depois, descobri que era ela, a deusa da Tormenta da Noite. Até hoje, aqui, e agora, os humanos devem temê-la. Ela está em tudo no escuro. Você não pode ver ela. Mas ela vê você.

– Tá, não foi tão assustadora assim. Meio boba, na verdade. – disse Zia.

– Até seria boba. Se não fosse verdade. – disse Anúbis. Isso fez com que todos ficassem com medo. Menos mamãe e papai.

– É fato que a Tormenta da Noite existe. Mas ela só lhe fará mal se você a temer. – disse papai.

– Bom, deu de histórias de terror por esta noite! Todos se recolhendo, queridos. – disse mamãe. – qualquer coisa, todos estaremos aqui.

Zia e Carter foram até uma sombra, e se agarraram um pouquinho. Desviei os olhos, rindo. Anúbis estava me olhando.

– O que foi? – perguntei a ele.

– Nada... É só que, você parece ter inveja de Carter. Pelo relacionamento dele.

Resolvi ignorar.

– Boa noite, e desejo isso mesmo sabendo que a Tormenta da Noite está aqui. – a história tinha me dado arrepios, e eu estava mais que pronta para entrar na barraca, e não sair mais.

Quando fechei o zíper, a última coisa que vi foram as costas de Anúbis. Ele ainda contemplava o fogo.


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Notas finais do capítulo

Bem, pessoal que eu amo. Por causa de uns imprevistos ligados a estudo, não tive tempo de escrever muito. Mas, agora que voltei, vou fazer o máximo possível para estar publicando capítulos, pelo menos, uma vez por semana. Lamento o transtorno, peço desculpas, e peço aos meus amados leitores que não me abandonem. Que comente, recomendem, favoritem, e me façam querer dedicar-me ainda mais a essa história. Me perdoem.

PÉSSIMO- quando estiver traumatizante de tão ruim. Indique o que está tão podre.

RUIM - se vocês acharem que o capítulo ficou fraco e precisa melhorar. Indique o que precisa melhorar.

REGULAR - se ficou mais ou menos. Não ficou ruim, nem bom. Comente o que precisa melhorar.

BOM - se estiver bonzinho, e você gostar. Comente o que precisa de um retoque, o que está bom...

ÓTIMO - se estiver bem legal, e você gostar do enredo. Comente sua opinião, e o que mais achar necessário.

MARAVILHOSO - se estiver perfeito, e fizer você rir, chorar, e você amar o capítulo. Comente o que mais amou.

Lembrem-se que amo vocês *o*