Demigoddess escrita por Pacheca


Capítulo 67
Shake That Brass


Notas iniciais do capítulo

Fala, galera ♥ Desculpem a demorinha, mas eu estava com pequenos problemas para conseguir escrever :3 Aproveitem



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O sol ainda estava se levantando quando eu coloquei minha mochila nas costas e peguei a van em direção à Nova York. Abri minha janela e respirei o ar fresco que invadia o carro carregado do perfume de morangos, cada vez mais distante.

Durante o trajeto, conferi tudo para meu plano. O saco mágico que Scirus me deu, os dracmas, o meu relógio e o anel. Aquele sempre estava lá, mas eu ainda checava para ter certeza. Respirei fundo e fechei a mochila.

— Boa sorte, Elgin.

— Ah, valeu. – O barulho da cidade ia me enlouquecer qualquer dia desses. Carros demais, buzinas demais, gente demais. Acho que o tempo no Acampamento tinha me desabituado a tanto fuzuê. Franzi o cenho e fui caminhando na direção do Empire State.

A recepção estava cheia de gente, mas uma mulher em especial chamou minha atenção. Quando apertei bem os olhos, pude ver os pequenos chifres escondidos na cabeleira cacheada e os olhos de pupilas afiladas. Aproximei-me, evitando chamar atenção.

— Hum, com licença.

— Estamos fechados para visitas.

— Hum, não. Eu tenho que encontrar com ele. Hefesto?

Ela finalmente ergueu os olhos de gato e me estudou, antes de apontar para o elevador com sua lixa de unha e falar em voz baixa.

— Último andar, querida.

— Obrigada.

Tive que esperar por um elevador onde eu coubesse e estudar bem os botões. Até tinham alguns andares para baixo do solo, mas nenhum parecia bom o suficiente para abrigar uma fornalha. E ainda assim, eram todos escritórios e armários. Incrível. Apertei o mais baixo e me encolhi entre os homens de paletó.

Ali embaixo era quente, eu sentia o calor tênue sob meus pés, mas não conseguia encontrar uma descida de jeito nenhum. Olhei até dentro de armários de limpeza, sem sucesso.

— Droga. Opa. – Assim que eu falei, ouvi um tremor abaixo de mim. O balde que eu acabara de chutar tremia violentamente, então preguei o ouvido no chão e escutei.

O som era ritmado, quase lerdo, mas com certeza era a origem do tremor. Estudei todo o chão ao meu redor, procurando meu caminho, até finalmente ver algo minúsculo. Estava escrito em grego, logo nada fez sentido, mas era uma pista excelente. Limpei o escrito com a palma da mão, esperando que algo acontecesse.

Nada. Limpei de novo, empurrei, tentei procurar alguma maçaneta, mas nada surtia efeito. Acabei dando um soco no piso e resmungando, tanto pela frustração quanto pela dor nos dedos.

─ Eu só queria entrar. ─ Clic. Uma placa do piso escorregou para o lado, mostrando uma escadaria com um brilho alaranjado. Peguei a mochila de volta e passei a descer os degraus, ouvindo o tilintar firme ressoando ao redor.

Hefesto com certeza era estranho. Ele era imenso de grande, em todas as direções, com um macacão de mecânico cheio de manchas nem tão pequenas de óleo. Pareceu não me notar quando eu entrei, mantendo-se de costas para mim.

─ Licença. ─ Era difícil pensar no que dizer. Por mais que seu rosto deformado e sua concentração o tornassem menos altivo que outros deuses, ele não deixava de ser um também. ─ Hefesto.

─ Oh, eu não tinha a visto ai, pequena. Como entrou?

─ Eu pedi. ─ Apontei para o alto, ao que ele deixou seu martelo pender ao seu lado, quase me acertando, para seguir com os olhos. ─ Hum, sou Elgin.

─ Não se parece com nenhum dos meus filhos, Elgin.

─ É porque eu não sou. Eu fui enviada por Dionísio, senhor, para recuperar bronze. Ele achou melhor que não fosse um campista com relações próximas.

─ Não podemos interferir, sabe? Mas não me custa nada. Venha. ─ Só então eu reparei no lugar como um todo. A tal fornalha se estendia tanto que devia ser da largura do próprio Empire State. Ele soltou seu martelo e foi andando oficina a dentro, com o barulho de seus passos chutando peças metálicas inacabadas e o do crepitar da pequena chama em sua barba.

Segui-o, um tanto impressionada por aquilo tudo. As criações de Hefesto já tinham me dado algum trabalho, mas não deixavam de ser maravilhosas. Ele parou, estudando um canto. Quando ele pegou uma placa de cobre mal recortada, reparei o quão pequena eu estava naquele ambiente.

─ Vocês são quantos?

─ É, eu não sei. Alguns. Muitos. O quanto puder dar é suficiente, senhor. ─ Gaguejei no título, mas ele não reparou. Ao que me parecia, ele não reparava muita coisa que não fosse mecânica.

─ Bom, isso aqui deve dar. Meus filhos não são de desperdiçar material. ─ Ele pegou umas três daquelas placas um tanto grandes e as estendeu para mim. ─ Oh, deixe-me dar um jeito.

Ele juntou as três placas como se fossem folhas de papel e as dobrou com as mãos, formando um cilindro. Estiquei os braços, abraçando tudo. Era como carregar uma cartolina gigante. Gigante e nem tão leve assim.

─ Obrigada, Hefesto. ─ Abaixei um pouco a cabeça, numa reverência, mas mais uma vez ele não reparou muito. Voltamos pelo corredor. Ele retomou seu trabalho forjando nem sei o que e eu subi as escadas todas de volta.

Hefesto parecia um pouco doido, mas muito carinhoso também. Senti um aperto ao me lembrar que ele perdera um filho para aquela guerra e me lembrei do aviso que meu pai me enviara. “Não quer perder mais ninguém”.

Sai do Empire State sob alguns olhares curiosos sobre o rolo bronzeado, mas ninguém prestava atenção por mais que alguns segundos. Vantagens de cidades grandes. Nada é muito relevante naquele tumulto de gente.

Fui andando pelas ruas um tanto familiares, um pouco receosa. Carregar um tanto de bronze deve deixar sua aura mágica bem mais forte. E pelo que eu notara, enfraquecia um pouco da Névoa também. Eu podia ver muito mais pessoas que não pareciam exatamente humanas.

Por outro lado, elas também me viam e não faziam nada. Algumas até ameaçavam se aproximar, mas viam o bronze e desistiam. Tive que andar um bom pedaço daquele jeito, sempre prestando atenção e com o anel quase queimando no meu dedo.

Argo finalmente ressurgiu com a van e abriu a porta para mim. Soltei o bronze no banco e suspirei, sentindo o anel frio de novo. Sem perguntar nada, Argo bateu a porta e arrancou, voltando ao acampamento. Nunca pensei que a parte mais difícil de uma missão seria um ardor no dedo.


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Notas finais do capítulo

Bjs ♥



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