__ Não olha assim para a minha cara como se eu fosse louca de ter contado tudo aquilo para o idiota do Rafael, mas é que você só me entenderia tendo passado também por essa situação: é algo desesperador, a única coisa que você deseja é uma saída para tanto sofrimento.   

__ Não, eu jamais pensaria que você era louca por ter contado isso para alguém.. _ argumentou Tomás 

Eu queria contar toda a história, mas a parte de que eu me cortava,simplesmente, não queria sair, eu não estava preparada para contar sobre isso para alguém, não queria que ninguém soubesse dessa parte. 

__ Olha, Carla, eu sinto muito por você, mesmo ! Toda a sua adolescência foi sofrida e.... Puxa, eu nem sei o que dizer. 

__ Obrigada, Tomás ! 

__ Se precisar, sem brincadeira eu vou estar do seu lado, sempre ok ? Precisando só chamar.

 Sei lá porque, talvez porque só estava acostumada com as minhas amigas estando sempre em minha disposição, que eu senti meus olhos encherem-se de lágrimas, e não pude segurar dessa vez.

__ O que foi, Carla ?  

__ Nada, nada não . _ respondi enxugando as lágrimas do rosto. 

__ Já que você diz, né ? 

__ É, eu digo! Puxa vida, cadê esses meninos que foram na cozinha fazer uma coisinha para comermos ? Tão fazendo o que ? Credo ! ALICEE ...

__ Que que é, neném ? _ disse Alice, na soleira da porta 

__ Que demora, eu tô com fome, sabia ?

__ Não vai demorar muito não, eu prometo.

__ Deve ter umas meia hora que não ia demorar.  

__ Carlinha, sabe o que você quer ? Você quer é que sua amiga linda e maravilhosa fique aí com você, não precisa ter ciúmes de mim não, sua fofa. 

__ Nossa Alice, você é muito modesta ! 

__ Eu sei, eu sei, sem fotos por favor. Celebridade passando! (risos)

Quando ela chegou perto de mim, se jogou no sofá. 

Enquanto esperávamos, contamos piadas, histórias, vimos alguns desenhos, e nada do Pedro, da Roberta e do Diego.  Ficamos sem fazer nada até o Pedro sair da cozinha. 

__ Uai, muleque, voltou porque ?_ perguntou Tomás 

__ Cansei de ficar em pé. Preciso sentar. 

Assim que Pedro saiu da cozinha, tudo lá ficou em um silêncio mais do que absoluto, se passasse um mosquito por lá, seria ouvido com atenção.

__ Não tem nem lógica, eles estarem fazendo alguma coisa. Vamos lá ver o que  ? 

Sem esperar pela resposta de alguém, se levantou já me puxando junto, quando chegamos na cozinha Roberta e Diego se agarravam como se suas vidas dependessem disso, se beijavam apressadamente, e com toda a certeza do mundo só se separariam quando faltasse o ar. 

Assim que vi aquela cena, senti algo em mim desmoronar e a única saída para mim, foi dar as costas e subir as escadas correndo. 

__ O que foi ? _ perguntou Tomás, mas quando percebeu que eu não responderia se levantou e veio atrás de mim .

Aumentei os passos para conseguir chegar ao meu destino sem ser interrompida por ninguém. O quarto nunca me pareceu assim tão distante, parecia que quanto mais eu andava, mais longe ele estava. Finalmente consegui alcançar a maçaneta e me lancei lá pra dentro empurrando a porta em seguida.

Chorar ? Não, eu não ia chorar. Chorar não ia resolver nada na minha vida agora. A única coisa que eu queria era pegar a minha mochila e voltar para a minha casa, sabia que nunca deveria ter saído de lá.  

Saí do quarto já decidida pelo que eu queria. Tomás, parado na porta, arredou para o canto ao perceber que eu estava saindo.

__ Aonde você vai com essa mochila ?

Mais uma pergunta que iria pairar no ar. Depois de acabar de descer todas as escadas, avistei "todos" sentados no sofá, rindo e parabenizando Roberta e Diego, pelo namoro. Namoro ? Pera aí, quando foi que eles começaram a namorar ? Ela nem me contou que estava se quer gostando dele.

Decidi passar por eles sem fazer barulho  para não ser notada. Minha tarefa foi cumprida com êxito sair de dentro daquele lugar.