Kiss Of Blood escrita por Jhiovan


Capítulo 15
Sinceridade




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Emily acha que nunca correu tanto em sua vida. Após quilômetros correndo, o corpo suado, sua pele antes branca, vermelhada, ela cansa-se e chama um taxi que a leva para Old Town. Na verdade, o taxista preferiu parar antes de chegar a casa dela, pois não pareceu gostar muito daquele lugar. Graças a Deus, ela chegou sã e salva em casa. Nenhum vampiro atrapalhou seu trajeto no caminho a pé.

Eu nunca vi o Willian furioso daquele jeito antes. Se ele já é perigoso calmo imagina assim... Ah meu Deus! E a Lyla? Será que ela está bem? Claro que sim! Ela sabe se virar...

No entanto Emily começou a ter um mau pressentimento. Um sentimento de que algo horrível iria acontecer. Era uma sensação familiar. Assim como ela tivera no passado. Alguém vai se machucar, tenho certeza!, pensava. Um calafrio percorreu seu corpo. Ela resolveu que seria melhor descansar, já que nada dali poderia fazer. Deitou-se em sua cama, todavia não conseguia dormir.

Já era de manhã quando Emily abriu os olhos novamente. Alguém batia sua porta. Ela ouviu seu pai abri-la. Ficou agachada ouvindo a conversa.

– Bom dia, a Emily está? – pergunta uma voz. É a de Willian. Ele soa educado.

– Está sim – responde a voz de seu pai. – Mas... Quem é você?

Droga! Emily se desespera. O que ele vai responder? Ela não havia percebido a gravidade da situação. Quando uma voz tranquila fala simplesmente:

– Ah claro, acho que ainda não fomos apresentados. Meu nome é Willian Hurt. Sou um... – ele pensa um pouco. – Amigo da sua filha.

Emily suspira aliviada. O que ele poderia dizer? Um namorado? Não, essa não seria bem a palavra. Mas ela tinha certeza de que “amigo” também não é a palavra certa.

– Prazer em conhecê-lo.

Não convida ele para entrar, pai. Não convida! Ela implora de dedos cruzados.

– Você pode entrar e esperar que eu a chame se quiser. – Estava feito. Agora, Willian podia entrar na casa deles quando bem entendesse.

– Ah... Muito obrigado. – Emily imagina que ele está com o sorriso maligno e vitorioso.

Está na hora dela interferir. Mesmo sendo tarde demais. Emily desce as escadas.

– Bom dia pai. Bom dia Willian – diz ela fingindo não ter ouvido nada.

Willian já está sentado na poltrona com o sorriso que Emily imaginava que estaria.

– Olá, Emily. Estava aqui conversando com seu pai, que foi muito gentil em me deixar entrar.

Ela apenas sorri educadamente para disfarçar sua raiva.

– Pai, por que você não prepara algum chá para nossa visita? – Ele baixou a cabeça em concordância e retirou-se para a cozinha. – O que você faz aqui? – sussurrou ela sibilando, assim que seu pai sumiu de vista.

– Eu vim lhe trazer uma notícia.

Os olhos de Emily se arregalam tamanha sua preocupação e seu medo. Isso só pode significar que...

– Sim, Lyla está morta. – Willian anuncia friamente. Até com um pouco de orgulho no tom. – Você não tem mais com quem contar para se proteger. Está sozinha. Agora, fale para o seu pai que seu amigo estava com um pouco de pressa e não pode ficar para tomar um chá. Até logo, Emily.

Ele estava na porta quando a abriu de novo e acrescentou: – Ah, e quero recordá-la: você ainda é minha.

Emily ainda estava em choque. Tentando absorver a informação que acabara de receber. “Lyla está morta”, as palavras dele soavam na mente dela. Sim, ele a havia matado. Quem mais poderia? Ela tentara ajudar Emily, logo Willian estava furioso. Então ficaram a sós e com certeza, ele a matou. Como ele consegue ser assim? Como pôde fazer isto? Matar a sua melhor e única amiga?, perguntava-se ela. Entretanto lembrou-se da resposta: esse é o Willian Hurt.

Emily pensou mais um pouco... E viu as coisas pelo lado dele. Willian é apaixonado por ela, disso ela não tem dúvida. Ele sempre quis tê-la. E finalmente havia conseguido, porém sua amiga o impediu. Ele ficou furioso e talvez no fundo, tinha medo de perdê-la. A sua melhor opção foi matá-la, assim nunca mais atrapalharia seu “romance”. De algum jeito, que Emily não sabia por que, ela conseguia entendê-lo. Mesmo sem querer entender. Não foi certo o que ele fez de jeito nenhum. Mas em seu ponto de vista, foi necessário.

Oh Lyla. Você deu a sua vida por mim. Eu preferia ter ido em seu lugar... Assim, eu e você estaríamos bem. Obrigada por sua ajuda e pelos conselhos sobre o Willian. Eu vou ser eternamente grata a você!

Outro dia de escola, outro dia com o Willian. Mas sem Lyla. Por quanto tempo será que ela aguentará aquilo tudo? Por toda a eternidade? Não, ela morreria antes. Disso, tinha certeza. E ele não o impediria disso. Ela afastou esses pensamentos e entrou em sua sala de aula. Estranhamente, Willian passou as aulas calado. Sem dirigir uma palavra a Emily.

A aula acabou e o entardecer chegou. Ela estava indo para seu ônibus, como de rotina, quando Willian a puxa pelo braço e a impede de entrar.

– Precisamos conversar – ele diz em um tom calmo.

– Não temos o que conversar Willian.

– Sim, nós temos.

Ele a segura com tanta força, que ela é incapaz de mover seu braço. Então, assim que o ônibus pontualíssimo parte sem ela, sua única saída é seguir o caminho até em casa a pé com ele. Eles andam alguns quarteirões das ruas sombrias em silêncio. A noite já caiu no céu e está pouco iluminado. Até que Emily rompe o silêncio com uma questão que apesar de saber a resposta, lhe indigna:

– Como você foi capaz de fazer aquilo?

Willian ficou calado um tempo, pensando.

– Não sei – deu de ombros. – A questão é: como ela foi capaz de me trair?! E como você foi capaz de desonrar sua promessa. Você acha isso justo, Emily? Eu salvar sua pobre amiga e você não querer me agradecer? Ora, o que eu pedi foi muito simples. Que você aceitasse ser minha dama! É tão difícil assim?!

Emily pensou que se ela não respondesse seria melhor. Mas depois percebeu que é o que ela faz sempre. Não ser totalmente sincera. Já estava na hora disso mudar.

– Sim, Willian. É muito difícil estar ao seu lado. Sabe por quê? Por que você é horrível! Você nunca se importa com os outros. Só pensa em você! – ela gritava. – Você nunca pergunta se eu estou bem ou se preciso de algo. Como você quer que eu goste de você desse jeito? Como quer que eu te aceite desse jeito? É impossível! Se quiser ficar comigo algum dia, vai ter que mudar...

Emily foi interrompida. Mal percebeu que algo tapava sua boca quando abriu os olhos e viu que eram os lábios de Willian. Aqueles lábios gelados e pálidos. Aos poucos, seus músculos que estavam rígidos pelo estresse da discussão foram relaxando. Ela estava lentamente se entregando ao beijo. Cerrou os olhos. Willian foi descendo os lábios pelo queixo dela. E ela se entregava mais e mais. Jogou a cabeça para trás.

Pare! Algo a alertava em sua mente. Ela abriu os olhos rapidamente e viu os dentes caninos dele aumentando. Com as mãos no peito dele afastou-o.

– Pare! – ela soltou. – É disso que estou falando! Você não pode mais ser assim!

– Mas assim sou, e sempre serei Emily. Você já pensou na possibilidade de que eu não querer mudar? De que pode ser que eu não queira que você goste mesmo de mim?

– Então você pode até me sequestrar, fazer o que quiser. Passar anos me perseguindo. Até mesmo me transformar em vampira. Ter o meu corpo, mas com nada disso você ganhará o meu coração.

Dizendo isso Emily correu. Lagrimas escorriam de seus olhos. Para sua casa faltava pouco. Ela olhou para trás e viu um Willian pensativo. Refletindo as suas palavras. Depois, desapareceu.

– Emily – chamou Willian na saída da escola no dia seguinte. – Eu sei que você não quer conversar comigo, mas...

– Não! Eu não quero conversar! – berrou, cessando-o. Alguns outros alunos lançaram olhares de espanto para ela.

– Eu tenho algo para te contar. Venha comigo. – Quando ele puxou o braço dela, Emily puxou com força de volta. – Eu prometo que não a machucarei dessa vez.

Emily hesitou ao lembrar-se do segundo encontro que teve com ele. No qual ele prometera que não faria nada com ela, porém afinal bebeu seu sangue. Mas dessa vez havia sinceridade em sua voz. Ela suspirou. Deixou-a levar. Parecia ser importante.

– Espera. Para onde vamos?

– Para um lugar onde possamos conversar a sós. Você até sonhou uma vez com esse lugar.

Aquilo despertou sua memória. Talvez fosse o penhasco que sonhou no dia anterior a morte de Lyla. Mas ela temia que o sonho se realizasse. Porém era tarde para fugir. No momento, não havia mais ninguém no corredor da escola. Ele abraçou Emily fortemente e em um segundo, desapareceram.

Emily abriu os olhos e olhou a seu redor. O local era idêntico ao do seu sonho. A lua brilhava igualmente forte, não havia nenhuma construção ou pessoa por perto. Um local isolado, apenas para os dois. Havia um penhasco a frente deles. Abaixo, um mar escuro e a lua refletida nele. Além de muitas rochas. No lado oposto, um enorme campo gramado com umas raras arvores e arbustos. Bem perto deles, uma linda roseira cheia de rosas vermelhas – quase da cor de sangue. Agora por que Willian escolhera aquele local? O que ele planejava? Ela ficou com medo da resposta. Mas deveria perguntar.

– É fantástico. Nem sabia que esse lugar existia.

– Gostou? – pergunta ele.

– Adorei. Mas Willian, por que você me trouxe aqui?

– Por que eu pensei no que você disse ontem... Não quero mudar de jeito nenhum. Estou decidido quanto a isso. Mas eu sinto que preciso te contar isso.

– Me contar o quê?

– O meu passado.

Emily ficou surpresa. Ela nunca imaginaria que ele algum dia falaria isso. E também nunca havia se dado conta de que realmente seu passado era um mistério. Talvez ele nunca contou nem mesmo para Lyla. E ela também nunca lhe contou seu segredo. A sua história.

Porém Willian não contou a ela com palavras. Ele esticou os braços e pôs seus dedos sobre as têmporas dela.

Cenas se passaram rapidamente sob sua mente.

Uma mulher grávida. Muito parecida com Willian. E um homem também parecidíssimo com ele com um braço estendido sobre os ombros dela e sorrindo, apaixonado e feliz. Ela retribuiu o sorriso. Ele acariciou sua barriga enorme que guardava um bebê. O parto. A mulher soando frio e gritando. O homem a seu lado junto de duas parteiras com roupas usadas em séculos passados. O bebê nasce. Uma das parteiras o embala nos braços e entrega para a mãe que parece fraca e palida demais. Ela sorri ao ver seu filho recem-nascido, e logo seus olhos se fecham e seu rosto perde a vida. O homem entra em desespero, gritando o nome da mulher várias vezes. Porém ela não atende, está morta.

Uma criança. Com aproximadamente, uns seis anos de idade. Cabelos pretos, não penteados. Olhos igualmente negros e inocentes estão cheios de lágrimas e um olhar triste. Como de um cachorro pedindo carinho ao seu dono, sabendo que fez besteira. A mesma aparencia de Willian, só que muito mais jovem e mais humano, o rosto possui uma coloração normal, sem palidez. Ele está em uma sala. Em uma casa pobre. Bastante suja. Principalmente pelas garrafas de vinho quebradas e seus cacos de vidro, que estão espalhadas pelo chão. Ele se aproxima cautelosamente de um senhor que está virado de costas tomando mais um copo de vinho e quebrando a garrafa com raiva no chão.

O que você quer criança imbecil?

Ao se virar, se pode ver seu rosto. O mesmo homem que viu sua esposa morrer no parto. Agora com rugas, e o cabelo grisalho. Ele gritava com a criança com um ar de reprovação e muita arrogancia. O garoto sussurrou algo que mau se podia ouvir. O pai olhou-o furioso e deu-lhe uma tapa na cara. O golpe foi tão forte, que ele caiu no chão. Começou a chorar alto, mas seu pai ameaçou bater-lhe novamente caso chorasse. Seu pai segurou seu pé e arrastou a criança que arranhava o piso de madeira para tentar fugir, berrando e chorando. O pai levou-lhe para um quarto totalmente escuro e vazio. As paredes de ferro. Quase um manicômio, ou pior: um calabouço. Ele pegou algo que parecia um chicote. Despiu a criança que se debatia. Fechou a porta, o único local de onde se via alguma luz, então tudo escureceu. Só se podia ouvir o som das chicotadas, socos e o grito da criança desesperada.

Emily saiu do transe. Ela própria não aguentava mais ver aquilo tudo. Era dor demais para ela. Ela sentiu muito dó daquela criança. Mas então tudo fez sentido em sua mente. Ela assimilou tudo aquilo.

– Aquela criança... Era você. Não era?

Willian não respondeu. Olhou-a sem expressão. Mas não parecia que ele estava olhando para ela, seu olhar era distante. Emily quase entendeu aquela expressão. Dor. Sofrimento. Pela primeira vez, ela vira Willian Hurt sofrendo. Então se aquele era seu passado, explicava muita coisa.

– O seu pai... colocou toda a raiva e culpa da morte da sua mãe em você, não foi?

Novamente, ele não respondeu. Baixou a cabeça e parou de encará-la. Emily percebeu que provavelmente o estava incomodando com aquelas perguntas óbvias. Então resolveu se calar. O que ela fez a seguir, provavelmente era de fato a melhor coisa a fazer. Pela primeira vez na vida, Emily aproximou-se de Willian. Abraçou-o fortemente. Não era mais um dos abraços forçados dele. Dessa vez ela que o abraçou. E foi um abraço sincero, com amor. Dessa vez, ela não estava com medo dele. Estava começando a compreendê-lo. E isso era bom.

– Agora é minha vez de contar uma história – Emily suspirou, como quem vai começar um longo discurso. E por fim fala: – a história de uma garotinha que perdeu a mãe. Quando tinha apenas 10 anos de idade. Não é uma história muito longa. A última vez que lembro de tê-la visto. Estava nevando. Eu pudia ver pela janela. Ela entrou no meu quarto. Sentou na minha cama e sussurrou em meu ouvido: “Boa noite, querida. Haja o que houver nessa noite, eu quero que você se lembre de ser corajosa. Não tenha medo. E lembre-se principalmente o quanto a mamãe te ama.” Ela me deu um beijo na testa e fechou a porta. Depois disso, nunca mais a vi. A polícia depois de uma semana, achou o corpo dela. Morto. Aí, depois desse dia, eu nunca mais voltei a ser feliz.

Willian parecia pensativo. E até mesmo triste. Uma lágrima escorreu de seu lindo rosto.

– Eu sinto muito. – ele diz.

Emily fica tão emocionada por ele ter dito isso, por ele finalmente parecer estar verdadeiramente se importando com ela. Tentando ganhar seu coração honestamente. Ela se deixa levar pelo momento e toma outra atitude insana. Ela aproxima seu rosto no dele, abraçando-o. E aproxima seus lábios. Beija-o. Pela primeira vez, ela o beija. E é um beijo verdadeiro. Com emoção. E amor.

Depois de muitos minutos se beijando, parando apenas para retomar o fôlego, Willian solta-a. Ele vai até a roseira próxima e arrasnca uma das rosas. O espinho o fere, mas rapidamente cicatriza e ele não liga para a dor. Ele a estende e entrega para Emily. Ela sorri. Ele não fala absolutamente nada. Sua expressão é nula. Não demonstra amor, nem nada. Apenas o gesto. Ela interpreta aquilo como uma demonstração de afeto.

– Guarde como sua vida. Cuide dela. É para você nunca se esquecer de mim – ele diz com sua frieza e um mínimo sorriso sarcástico nos lábios. – A mais bonita das flores. Até ela não é perfeita, com seus espinhos que machucam. Machucar. Esse é meu sobrenome.

De fato – to hurt ou hurt –, em inglês significam “machucar”, “ferir” e “ferido”. Emily levada pela emoção beija-o novamente.

Um pensamento ocorre a ela enquanto está indo junto de Willian, que a leva em casa. Lyla sempre conheceu Willian até nos mais profundos segredos. Ela sabia que ele nunca mudava. E que seria um risco para Emily, se continuasse assim. Depois de tudo o que eles passaram essa noite, ela pensou que talvez a morte de Lyla fosse mais um sacrifício, do que um assassinato. Lyla poderia ter se matado, ou entregado-se a ele com a intenção de ensinar-lhe uma lição de vida. E provavlemente, ela havia atingido seu objetivo. Mais por quanto tempo será que vai durar?, pensou Emily. Ela o mudou para sempre?


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