Virei-me realmente devagarzinho, como se cada respiração minha fosse vigiada. Olhei para o homem de cabelos platinados. Céus, eles eram tão parecidos...

– Está com dor de barriga, querida? - Disse a mulher que estava ao seu lado ao me ver com a mão sobre a barriga. Olhei para ela criticamente. A reconheceria de longe, longos e desgrenhados cabelos pretos, sorriso malicioso e o mais marcante, apesar de saber que ela não era a única que a tinha, a Marca Negra no braço direito.

– Não. - Disse ríspida. - Mas muito obrigada pela preocupação.

Vultos pretos enchiam a minha visão por todos os lados. Comensais da morte. Estremeci quando cada um deles sacou a varinha e apontou para cada um de nós.

– A mim, Potter. - Repetiu a voz rouca de Lucius Malfoy.

– Onde está Sirius? - Harry perguntou com uma os arrastada. Alguns daqueles homens encapuzados riram.

– Apenas me dê a profecia, Potter. - Repetiu o loiro.

– Eu sonhei! Eu vi! - Harry praguejou - Onde está o Sirius?

– Onde está o Sirius? Blá blá blá blá.– Belatriz repetiu numa voz nasalada.

– Entregue logo, Potter.

– Mas...

– Você apenas viu o que o Lorde das Trevas queria que você visse, criança tola. - Malfoy continuou. - Agora nos dê a profecia e ninguém sairá machucado.

Eu ainda estava estática, sem saber direito o que fazer. Quando decidi que viria, sabia que iria ter que enfrentar o que quer que fosse. Mas eu simplesmente não me movi. Meu estômago parecia estar dando várias voltas de 380 graus, e isso não está nada bom para uma mulher gravida.

– Accio prof...

Mas antes que ela pudesse terminar, Harry gritou "protego" Beltriz olhou para ele desafiadoramente.

– Então ele sabe brincar... - Ela disse sarcástica enquanto apontava a varinha para o meu irmão.

– EU JÁ DISSE A VOCÊ, NÃO! - Malfoy berrou para a mulher. - Se você quebrar essa profecia...

– Então o que? Me matará? Me pegue! - Harry berrou - me pegue, então.

Lucius xingou obscenidades e cochichou com um homem ao seu lado. Não tive nenhuma reação, nem mesmo quando o homem chegou perto de mim e me puxou com brutalidade. Ele ergueu meu pescoço e eu senti a ponta da sua varinha nele.

Foi quando eu me desesperei. Não por mim, mas pelo meu filho. Tentei me mexer mas a varinha se enterrou mais em meu pescoço e uma lágrima escapou do meu olho.

– Soube que estava dormindo com o meu filho. - O pai de Draco se aproximou de mim. Olhei para Harry pelo canto do olho e vi que ele estava alarmado, com a varinha e a profecia na mão. - Todos estavam perguntando o porque de tanto mal gosto. Da parte dele, claro. Mas eu nunca os falei que ele estava com você porque eu mandei. Mandei que ele ficasse de olho em você, Potter, pra que pudesse dar pistas sobre essa profecia. - Ele tocou meu rosto já cheio de lágrimas - Entende agora como isso é importante? Essa profecia? Fiz o meu próprio filho dormir com uma Potter pra poder ganhar o que seu irmão tem em mãos.

Nunca em minha vida fui tão humilhada. Nem mesmo quando Pansy falou para toda Hogwarts que Draco e ela transavam loucamente enquanto ele estava comigo. Claro que doeu saber que eu era traída sempre que Draco podia, mas não teve tanta intensidade como quando Lucius falou aquilo. Talvez porque eu estivesse pensando mais em que meu filho foi concebido quando Draco Malfoy estava simplesmente "comendo" uma Potter por causa de uma tarefa designada por seu pai.

Todos os Comensais deram risada, inclusive o avô do meu filho. Acariciei a minha barriga, mesmo em meio a toda aquela humilhação. Acariciei porque se eu saísse dali viva eu nunca iria contar para meu filho quem era sua verdadeira família.

Lucius Malfoy percebeu o meu gesto e o sorriso desapareceu do seu rosto. Ele tinha descoberto. Ele ficou pálido feito papel e eu mantive o olhar forte. Queria que ele entendesse que em mim não vivia simplesmente o seu neto, em mim vivia o herdeiro primogênito da continuação da linhagem Malfoy. Era mais que apenas sangue, era honra. Uma honra que fora quebrada dentro do peito do Malfoy mais velho no momento em que ele sussurrou "solte-a".

– Lucius, não se atre...

– SOLTE-A! AGORA! - Ele berrou e senti o aperto do meu pescoço afrouxar. Assim que pude corri para o lado de Rony, que me ajudou a ficar estabilizada. Olhei para ele com um olhar carinhoso, e ele me olhou de volta secamente, ainda com a mão na minha cintura. Teria que me acostumar com isso.

– Me entregue a profecia e deixaremos vocês irem embora.

Harry olhou pra mim e hesitou.

– Não! - Menino tolo! - Belatriz praguejou - ESTUPE...

– NÃO! - Lucius bloqueou o feitiço, mas parte dele tinha atingido a esfera brilhante a fazendo estilhaçar-se no chão.

– ... no solstício virá um novo... - A voz vinha da profecia - ... e não virá outro depois...

E então o silêncio. Mas não durou mais que cinco minutos, quando vi as luzes se lançarem por todos os lados. Saquei a minha varinha e comecei a lançar feitiços bloqueadores.

Todos estávamos correndo, mas ficava difícil enquanto todos os vultos pretos estavam a nossa volta. Senti um puxão no meu braço, o que me fez lançar um estupefaça na pessoa, mas ela bloqueou o feitiço. O aperto estava tão forte que estava sentindo meu braço formigar pra falta de circulação do sangue.

Fiquei pra trás junto a Lucius Malfoy, que apertava cada vez mais o meu braço.

– De quem é o filho? - Ele perguntou. - FALA, SUA VADIA!

– Meu nome é Lilian Sophie Potter. - Disse calmamente tentando ignorar a dor no meu braço.

– Me responda!

– O filho é do Draco, de quem mais seria? Não foi você quem inventou essa história toda?

– E você não tomou a poção anticoncepcional? - Apertou mais o meu braço.

– Caso você não saiba, não saem distribuindo poções anticoncepcionais por Hogwarts.

Vi Lucius sacar a varinha.

– Sua vadi...

– Não se atreva! - Ouvi uma voz conhecida atrás de mim. Senti o braço de Lucius soltar o aperto. Rapidamente fiz uma massagem, estava roxo o local.

– Ah, Draco. - Lucius falou. - Que bom que chegou, você terá novidades!

Estava andando cuidadosamente para trás, ainda de costas, para que Lucius não percebesse, mas deu de encontro com algo macio, mas rígido. Senti as mãos do loiro no meu braço machucado.

– Qual novidade seria essa que te fez piar ao ponto de machucar uma mulher?

– A que ela está esperando um filho seu. - Lucius foi direto. Senti Draco tirar suas mãos de mim instantaneamente. Me encolhi botando os braços em volta da minha barriga.

– Não acredita? Pois a pergunte!

Me aliviei quando Draco não perguntou nada, embora não tive como parar de chorar.

Cinco minutos se passaram, e Lucius estava impaciente. O mais velho se aproximou de mim e tomou o meu - outro - braço novamente.

– Se você não age, vou fazer o que é preciso. - Lucius disse antes de me lançar contra uma estante cheia de profecias, e todas caíram sobre mim, estilhaçando-se em meu corpo.

A dor era tanta que não conseguia respirar. Tentava me agarrar a vida mas todo esforço que fazia um vidro perfurava-me mais é mais. Quando já não tinha mais resistência nenhuma, fechei os olhos, e aceitei o fato de que eu iria morrer, embora não tenho deixado de pensar o quão patética a minha morte iria ser.

Queria ter dito pra Harry o quando o amava, queria ter retribuído tudo o que ele fez por mim. Queria ter dito à Gina e Hermione o quanto amava a amizade delas. Queria ter dito pra Rony que eu o amava também, como amigo, como um irmão. E finalmente, queria ter dito pra Draco que não me arrependia de ter o amado.

E por fim, o ultimo sentimento que me preencheu antes de tudo acabar foi culpa. Culpa por não ter tudo a oportunidade de dar ao meu filho a vida.

E foi como se eu estivesse dormindo.