Cartas De Amor escrita por Lune Kuruta


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Pois é, chegamos ao último capítulo. Era pra eu ter postado ano passado (melhor dizendo, ontem XD), mas depois de uma ferrenha luta com meus cabelos e com o Lattes (e com minha Internet por tabela, já que anda muito instável ultimamente), não necessariamente nessa ordem, acabei não publicando. Daí fui reler a crônica que me inspirou e... não resisti, tive de mexer na carta do Mu e isso me tomou mais um tempo hoje. Peço desculpas a quem acompanha a fic x.x''
Também peço desculpas por ainda não ter podido responder a todos os comentários. Agradeço de coração e responderei a cada um deles amanhã. Mas gostaria de agradecer a vocês, DAFTOOKAMI (que também favoritou a fic, muitíssimo obrigada! *-*), ORPHELIN e CRISTAL_BLACK pelos reviews adoráveis.
Agradeço também à HIME YAOI por ter favoritado esta humilde fic =3
Deixemos o falatório pra depois, né? Depois de uma carta meio "ultimato" de Aldebaran, Mu precisa tomar um posicionamento. Qual será a resposta?



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Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões.

Rubem Alves

**********

Jamir, 01 de julho de 1985.

Alde,

Depois de ler sua última carta, poderia começar a minha de mil maneiras. No entanto, a primeira coisa que devo dizer é que acho que o entendo.

É verdade, o tom de sua carta chegou a me assustar. Mas creio que esse pequeno choque tenha sido muito importante para que eu pudesse enfim me decidir com relação à forma como lido com meus sentimentos.

Você não estava enganado quanto à leitura que fez de nosso último encontro; há muito tempo sei que você consegue me compreender a fundo, aprendendo a enxergar meus sentimentos por meio de gestos corriqueiros, de meu tom de voz e mesmo de um olhar. E imagine, ainda passamos tão pouco tempo juntos! Sempre admirei sua sensibilidade.

Imagino que, em parte, o desespero (com o perdão da palavra, caso lhe seja ofensiva de alguma forma) expresso em sua carta se deva à frustração em não ouvir um posicionamento concreto meu. No entanto, confesso que nunca fui pródigo em demonstrar emoções verbalmente, preferindo muitas vezes o silêncio e a reflexão – como bem o sabe. E aquele momento foi de uma intensidade ímpar, portanto realmente não sabia como me expressar. Dessa forma, por mais que tenha receado magoá-lo em princípio, creio que escrever sobre meus sentimentos seja mais fácil para mim, ao menos por enquanto.

Afinal, como eu poderia dizer que sofro dos mesmos sintomas que me relatou? Há semanas já notava os assustadores sinais do amor, e foi imbuído da confusão e do receio que lhe enviei aquela carta estranha e sôfrega. Como dizer que enfim compreendia a sensação das borboletas esvoaçando em meu íntimo? E nem precisava vê-lo para tal! Bastava ter em mãos uma nova carta sua para ser acometido por frêmitos irresistíveis. Bastava-me ler sua promessa de visitar-me em breve e sentia meu coração pulsar violentamente.

E a falta que sentia de seus toques... a forma como me envolvo na manta que você me deu em busca de aconchego nas noites frias... antes mesmo de racionalizar o que fazia, já estava irremediavelmente apaixonado. Sim, era mesmo isto: o amor, nosso "objeto de estudo", já estava instalado há tempos em minha alma e eu não pude percebê-lo como tal... até que passássemos a falar sobre ele.

"Saudade", Aldebaran... como eu conheço o significado dessa palavra! É o aperto no peito que sinto sempre que vejo suas costas se afastando de mim. É o suspiro lamurioso que solto quando fico à janela da torre vendo-o partir, desaparecendo na neblina de Jamir. É a esperança que sinto ao saber que está a caminho. É o júbilo que me aquece o coração ao vê-lo surgir no horizonte ostentando um sorriso, por piores que estejam as condições climáticas.

Sinto-me corar apenas escrevendo estas linhas, pois jamais disse isso a ninguém. Por sinal, esta também é a primeira vez em que escrevo algo desta natureza. É um momento intenso para mim, mas de certa forma receio que não saiba escrever uma carta de amor. Aliás, temo que esta carta esteja se tornando ridícula com minhas divagações insanas...

Hoje entendo o motivo pelo qual mestre Shion jamais se desfazia de um baú de madeira e o conservava em seu quarto, impedindo-me de sequer tocá-lo. Quando criança, acreditava que fosse um tesouro grandioso. Hoje sei que estava certo, mas não no sentido que minha inocência infantil me permitia imaginar. É lá, no baú que até hoje não ouso abrir, que mestre Shion guardava as cartas de mestre Dohko. Soube que Dohko também tinha esse mesmo costume. Imagine quantas cartas através dos séculos! Quantas palavras trocadas! Quanto amor armazenado ali!

E sim, Alde, essas cartas armazenam amor. Eram a forma como mestre Shion e Dohko podiam se tocar, por intermédio do papel frágil. O que jaz guardado naquele antigo baú são as carícias de mãos que se encontravam apesar da distância e do fardo de suas missões. Aquelas cartas estão impregnadas com o perfume do amado, e é por isso que mestre Shion jamais poderia se desfazer delas. Talvez o teor das cartas nem fosse de especial relevância, mas saber que o amado tocara aquele papel... que suas mãos escreveram aquelas linhas...

Imagino-o na privacidade de seus aposentos apanhando uma das cartas. Nem precisaria relê-la, pois já conhece seu conteúdo de cor. Apenas abraça o papel como se estivesse abraçando aquele que ama, tentando amenizar sua solidão...

Perdão! Apenas especulo. Imagino meu mestre fazendo tal coisa, mas o que descrevi foi apenas o que faço com suas cartas tão queridas noite após noite, esperando por seu retorno. Suas cartas sempre trouxeram consigo o seu calor e o seu perfume.

Tolo que sou! Uso o perfume que me deu para escrever essas linhas. Talvez uma tentativa vã de que este se impregne na carta e possa reforçar suas lembranças de mim...

Faço inúmeras vergonhosas confissões, mas ainda não fui capaz de dizer as três palavras que você tanto desejava ouvir de mim, embora certamente as lesse em meus olhos. Pois bem, eu o amo, Aldebaran. Perdoe-me por temer um sentimento tão intenso! Entretanto, agora que o elucidei (em termos), e graças à sua última carta, sinto-me pronto para me render sem reservas a ele. É algo aterrador, como se me deixasse cair em um abismo escuro, mas sei que irá me segurar.

Amo-o, Alde, de uma forma tão assustadoramente intensa e fervorosa que o simples fato de dizê-lo por escrito é capaz de trazer lágrimas aos meus olhos! Amo-o de forma tão sôfrega que iria caminhando até a Grécia para lhe entregar esta carta, se pudesse!

Ah, a sensação reconfortante de vê-lo caminhar ao meu encontro! Por mais que acredite em suas capacidades como cavaleiro de ouro, por mais que saiba que é um forte, honrado e poderoso guerreiro de Atena, meu coração se aperta ao imaginar que talvez não volte. Amo-o de forma tão violenta e ridícula que seria capaz de abraçá-lo, protegê-lo, lutar por você para que nunca se machuque. Sim, é ridículo, mas por vezes tenho ganas de prendê-lo entre Muralhas de Cristal e proibi-lo de lutar contra quem quer que seja.

Acho que agora compreendo a dualidade entre a fraqueza e a força que o amor confere. Você é meu ponto fraco, Aldebaran, mas também é a força de que necessito para me manter firme.

Creio que, a essa altura, você já tenha se convencido de que não "escaparei" de você... mas me permita reforçar essa ideia dizendo que não me importo em absoluto com os boatos a nosso respeito. Por mim, espero que eles se tornem ainda mais fortes e suas visitas, ainda mais frequentes.

Também gostaria muito de "ter algo" com você. O nome desse relacionamento – namoro, noivado, casamento, o que for – não importa. Apenas fique comigo. Como você mesmo disse, devemos sentir o amor. Nomeá-lo, explicá-lo... a esta altura, isso já não importa mais. Mesmo minhas parcas tentativas de descrevê-lo parecem não se aproximar do que realmente sinto, como se as próprias palavras não tivessem, dentro de si, suficiente poder.

Tudo o que desejo é que a caixa em que presentemente guardo suas cartas se torne pequena demais para seu conteúdo. No que depender de mim, Alde, pretendo preencher um baú inteiro de cartas, cartas de uma vida inteira entregue a este sentimento que me aquece a alma.

Espero ansiosamente o seu retorno! Não sei se serei capaz de dizer tudo o que escrevi, mas espero que meus abraços e beijos sejam suficientes para corroborar o que tento lhe transmitir. É verão e Kiki costuma passar os dias fora da torre em seu treinamento ou brincando, então teremos privacidade.

(Perdoe-me caso esse comentário tenha soado indecoroso, não pude reprimi-lo! Tampouco posso fingir que não desejo ardentemente ficar em seus braços sem me preocupar com mais nada...)

Aguardo-o com fervor e muita saudade!

Sempre seu,

Mu.

P.S.: Compreendo plenamente seu desejo de continuar escrevendo, de prolongar esse toque imaginário de nossas mãos através da carta.

P.P.S.: O sono chega aos poucos e a vela se esgota. Sinto-me dividido entre a angústia de cessar a escrita e o anseio de vê-lo em meus sonhos. Queria eu dormir sobre o papel, degustando de tal proximidade, mas receio manchar a tinta recente e borrar o que escrevi com tanto ardor. Portanto, recolho-me. Boa noite, boa noite! A ideia da separação, ainda que momentânea, aflige-me com tal pungência que poderia permanecer me despedindo até o amanhecer...*

P.P.P.S.: Três pequenas palavras parecem abarcar todo um Universo. Deixe-me ao menos dormir com esta doce frase gravada em minhas retinas: eu amo você.


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Notas finais do capítulo

* Sim, gente, não resisti, ok? Inspirei-me em um trecho da famosa cena da sacada em "Romeu e Julieta", de Shakespeare. Mais especificamente, na despedida de Julieta: "O mesmo, querido, eu desejara; mas de tanto te acariciar, podia, até, matar-te. Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que boa-noite eu diria até amanhã".
É que eu acho essa cena tão linda! Podem me bater, agora x.x
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Fim... ou melhor, o fim da fic, porque o relacionamento está apenas no começo. Espero sinceramente que o capítulo não tenha ficado exagerado ou meloso demais. Talvez eu tenha dado vazão ao meu coração taurino de manteiga XD
A crônica que me inspirou a escrever esta fic e, especialmente, a última carta de Mu, chama-se "Cartas de amor" (ops! XD), de Rubem Alves. Uma das crônicas mais encantadoras que já li. Neste blog (que não é meu, encontrei-o no Google) vocês podem ler o texto na íntegra: migre . me / cCYqb (basta tirar os espaços). Por sinal, a epígrafe deste último capítulo (sugestão do DARK SHAKA FICWRITER, muito obrigada, Shaka-sama! X3) é um trecho dessa crônica.
Aos trancos e barrancos, fic concluída. Eu já gostava desse casal pelas fics lindas (poucas, mas lindas) que li deles, e agora estou realmente apaixonada. Tenho pelo menos mais duas ideias de fics no mesmo "universo" (a side-story inspirada pelo comentário da SAYURI NO VIRGO e outra fic decorrente de conversas com Shaka-sama), um dia escreverei (quando o tempo, a inspiração e o mestrado permitirem). Não será a única fic escrita do casal, com certeza!
A todos os que me acompanharam (seja comentando, favoritando ou mesmo seguindo em silêncio), os meus mais sinceros agradecimentos. Espero que tenham gostado desta fic tanto quanto, sinceramente, gostei de escrevê-la. Tenham um 2013 pleno de saúde, alegria, inspiração e luz!
Kissus,
Lune Kuruta