- Não! – o grito saiu da garganta de Julie, mesmo sem querer.

Draco não entendeu.

- Calma Julie, é só por uns tempos. Eu sei que você está se sentindo sozinha nesse momento, mas se eu pudesse, eu ficava... é complicado... – ele desviou o olhar

- Para quê você vai lá? Para ficar mais perturbado ainda?

- Da onde você tirou isso? – disse Draco, meio ofendido - Só vou cumprir meus deveres... E é só!

- E depois ficar remoendo isso? Ficar com a consciência tão pesada que nem mesmo consegue dormir em paz de noite?

A fisionomia de Draco mudara drasticamente. Já não havia aquele ar de brincalhão de até pouco tempo atrás. Sério, virou-se para ela e disse:

- Eu não estou com peso na consciência, ao contrário. Estou cumprindo o meu dever de acabar com os sangues-ruins do mundo bruxo.

Julie ficou furiosa.

-Então é isso? – ela começou, elevando o tom da voz cada vez mais - Você vai viver matando pessoas por causa dessa sua crença ridícula? Só o que vale pra você é o sangue? Me diga, Draco, você ama meu sangue ou você ama a mim?

Ele ficou sem fala. Logo depois, respondeu:

- Você, é claro! Que pergunta!

- Então meu sangue não faz diferença? Se eu fosse sangue ruim você me amaria do mesmo jeito?

Ele deu um sorriso sarcástico:

- Do que você está falando? Você tem sangue puro e pronto - disse, puxando-a e abraçando-a.

Julie abraçou-o de volta, percebendo que não havia jeito. Ficar com ele e com o bebê seria impossível. Aquela mentira não ia durar tanto, e ela tinha medo do que poderia acontecer com a criança caso ela viesse à tona. Sentiu o Coração de Malfoy bater perto dela quando algo em sua barriga se mexeu. “Eu sei”, ela pensou, “também vou sentir falta dele...”

Alguns meses se passaram desde aquela noite e Malfoy não regressou. Julie e Alicia, nesse meio tempo, tiveram algum trabalho para esconder a modificação do corpo de Julie. Entre feitiços e poções, elas conseguiram esconder de todos. Apesar disso, a barriga de Julie crescia cada vez mais rápida. Julie tivera o cuidado de contar quantos dias de gravidez tinha, para arranjar alguma desculpa para se ausentar de Hogwarts quando chegasse na hora do parto. Mas essa não era a maior preocupação de Julie.

Quando Alicia contou para Julie que a gestação de um bruxo dura apenas 7 meses, ela começou a quebrar a cabeça com a mesma questão durante dias: e se seu bebê não nascesse bruxo? Se ele fosse um abortado? Mais uma razão para fugir antes de Draco voltar... Mas ela sentia tanta saudade dele, sonhava com ele toda noite, pensava nele sempre que fazia tricô na madrugada, contemplando as estrelas na torre de astronomia.

Em uma dessas noites, ela tricotava tranquilamente quando pareceu ouvir um ruído. Parou de fazer o tricô, tentando escutar qualquer coisa. Resolveu que já era hora de dormir, ultimamente sua barriga tinha um tamanho considerável, o que a deixava cansada rapidamente. Pensou que talvez fosse Dobby, o elfo doméstico tão simpático que de vez em quando aparecia na sala comunal pra lhe dar algo de comer e lhe contar histórias sobre Harry Potter. Para Julie, assim como para muitos outros nascidos trouxas, Harry Potter era uma esperança. Julie gostava de ouvir Dobby falar dele, (apesar de acreditar que o elfo ás vezes exagerava... e muito!) sobre algumas das enrascadas que ele e seus amigos acabaram se metendo.

Levantou-se, juntando suas coisas na mochila que estava ao seu lado e colocando-a nas costas, pronta pra descer as escadas. Olhou para trás, conferiu se não tinha esquecido nada, mas quando voltou a olhar para frente se deparou com uma cena assustadora.

Draco estava parado ao pé da escada, seu rosto cheio de cortes, com uma expressão séria e furiosa que dizia a Julie que algo estava muito errado. Ela ficou sem reação, dando graças a Deus pela capa que Alicia costumava enrolar para disfarçar a barriga dela ainda estar funcionando.

- Não se esqueceu de me contar algo não, meu amor? – ele disse, naquela voz fria e arrepiante.

E agora? Ela não tinha certeza se ele estava falando do bebê ao da grande mentira. Ainda assim, se fez de desentendida:

- Contar o que, Draco? O que aconteceu com seu rosto? – ela tentou desviar o assunto.

- Apenas uma visita desagradável na mansão – ele respondeu, com um tom ameaçador, caminhando na direção dela – Mas você devia estar mais preocupada com seu irmão, não?

Ele agora estava em sua frente. Havia algo de loucura no modo em que ele olhava para ela, uma mistura forte de ressentimento e ódio. Julie, aquela altura, sabia que tudo estava perdido e não pode deixar de sentir uma dor no peito por causa da expressão dele.

- Como assim Draco? – ela respondeu numa voz dolorida, as lágrimas ameaçando sair.

Ele chegou mais perto, pousou sua mão no rosto dela, acariciando de leve. Ela estremeceu, temendo que a qualquer momento ele explodisse. Segurava a varinha no bolso das vestes, esperando qualquer coisa. Mesmo que ele esteja furioso, ela pensou, não posso deixar que nada aconteça com esse bebê.

- Só me responda uma coisa, Trigger – ele disse, sua voz agora com um tom mais ameaçador ainda – Qual é o nome do seu irmão?

                                                                   ***