Aurora Boreal escrita por Mr Ferazza


Capítulo 18
XV. EXECUÇÃO


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse capítulo podo surpreender.



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XVI. EXECUÇÃO

Se você ama uma coisa, deve libertá-la – Deixá-la, nesse caso.

                Eu, particularmente, nunca entendera plenamente o motivo de Edward ter partido. – Eu não podia me lembrar dessa época por dois motivos. Primeiro: Era irritante e desconfortável tentar enxergar ou sentir alguma coisa através das fracas lembranças humanas. Segundo: Relembrar aquele período de zumbi era revivê-lo, com mais intensidade, nessa nova mente e corpo poderosos.

                Entretanto, agora, eu conseguia entender as razões que o levaram a tais atitudes. Amor.

Eu prometera a mim mesma que nunca mais deixaria aqueles monstros italianos colocarem os olhos em cima de Renesmee ou Alice. E essa promessa era de alguma forma tudo o que eu poderia esperar de mim mesma. Estava errada. Eu podia fazer mais. Deveria fazer mais. Colocaria tudo o que eu tinha nisso – sem arriscar a vida de outros.

Minha família era ameaçada. De novo. Então, eu teria de fazer algo a esse respeito. Destruir, queimar ou ir atrás deles sozinha, se fosse o caso. Traria segurança de novo para eles.

Não que eu fosse suicida – eu já ouvira isso muitas vezes -, é claro. Mas não conseguiria conviver eternamente com isso, sabendo que não fizera nada para mudar. Além disso, as chances de que meu plano desse errado eram monstruosamente pequenas. Eu sobreviveria. Quanto aos monstros, eu já não tinha certeza.

Eu já tomara conhecimento de mim mesma; sabia que meus novos poderes eram suficientes para desafiar os Volturi. Sozinha. E, com alguma sorte, - E talvez paciência – eu conseguiria os poderes que me permitiriam acabar de vez com essa situação. Ela já fora longe demais.

Sabia que, mais do que proteger, aos olhos de outros, estaria tirando, arrancando a vingança de suas mãos.  – E não lamentava por isso; talvez essas vidas também fossem perdidas se alguém com mais poder não intercedesse por eles. – alguém como eu. Porque eu sabia que era a vampira mais poderosa que o mundo imortal já tinha visto. Eu poderia vencer sozinha.

O avião já começava a baixar. – Senti a mudança da pressão atmosférica.

Era noite e eu teria de alugar um carro para chegar a Volterra, ou eu podia ir correndo. – Essa última ideia era muito mais atraente para mim; eu perderia menos tempo e, quanto mais rápido acabasse com essa história, melhor seria. Contudo, havia muitas pessoas nas ruas. – Essa é a consequência de se chegar a um lugar estanho e turístico em época de férias. – ruas apinhadas de turistas de todas as partes do mundo. Eu não poderia seguir o percurso a forma mais confortável.

Já no desembarque do aeroporto, pude ouvir os turistas satisfeitos com a viagem. Exclamações de admiração vinham de todos os lados. – dezenas de línguas diferentes que eu não conhecia.

E agora? O que fazer? Alugaria um carro ou roubaria um? – Sorri ao pensar no Porsche que Alice roubara tantos anos antes. – eu me assustara na época, agora era divertido.

As decisões eram difíceis; Nenhuma delas era tão prática que superasse ir correndo. Levei um segundo para decidir ficar invisível e correr.

Eu nunca havia entrado em ação estando invisível; era surpreendentemente divertido passar como um raio por entre as pessoas – a milímetros de distância -, o ar assoviando enquanto eu abria caminho por entre os turistas com uma agilidade incrível. E o mais divertido de tudo: Eles não podiam ver absolutamente nada.

Enquanto eu refazia o caminho que fizera alguns anos antes com a Alice – Indo até os Volturi para salvar Edward - não havia a esperada sensação de Déja vu; O motivo da corrida era outro. Eu não estava com pressa para salvar alguém do desastre iminente – Talvez fosse um provável desastre em longo prazo. E era por isso que eu estava correndo pala Itália. Para evitar futuros desastres.

Eu já podia ver os muros de Volterra enquanto corria; a cidade lá no topo da enorme colina parecia um castelo medieval – de certa forma era mesmo. – Enquanto fixava o os olhos naquele pequeno ponto adiante – Pequeno porque estava diminuído pela enorme distância – não pude sentir o mesmo que da outra vez. – Medo. Medo pela vida do vampiro que eu amava. – A cidade agora me parecia surpreendentemente inocente. Inocente porque eu não temia mais a horda de vampiros que se autodenominavam governantes daquele lugar. Sim, devia ser isso, porque, se eu os temesse, certamente ainda me pareceria um lugar macabro cercado por muros antigos e encarquilhados. E eu colocaria a cabeça entre os joelhos para não desmaiar com o temor, como fazia com frequência enquanto era humana.

Enquanto os quilômetros que eu devia percorrer diminuíam a cada segundo, pensei em como faria aquilo; Eu com certeza tinha um plano A, mas não era minha melhor ideia. Eu devia pensar em algo mais eficiente. – não que meu plano anterior não fosse, mas sempre era bom ter um plano B, ou C, D, E, F, G, H... Quantos forem necessários.

Então concluí que devia chegar lá sem usar a invisibilidade; Isso mesmo, eu tinha razão. Diria a verdade – ou parte dela - desde o começo. Pediria que Aro deixasse minha família em paz. Além disso, seria muito perigoso ler a mente dele. Sim, seria perigoso porque não se pode ficar exposto à imaginação e aos pensamentos de alguém que você odeia sem responder a eles. Principalmente quando você não quer que essa pessoa saiba que você sabe ler mentes. Definitivamente não. Eu devia estar louca. O melhor ataque era a defesa. Disso eu estava certa.

Agora a cidade cercada estava muito perto; apenas algumas passadas até chegar ao portão. – O portão que, vi, estava trancado.

Estranho. Qual seria a finalidade de trancar uma cidade contemporânea – ou quase – com um portão? Isso era coisa de antiguidade Clássica, como a Grécia. É claro que por Volterra ser medieval deveria ser assim, mas eu nunca tinha visto, então era estranho.

Agarrei-me ao muro alto para verificar se havia algum guarda no portão. Mas se houvesse, estaria dormindo. A menos que fosse um vampiro. A sorte estava comigo. A parte de dentro da cidade, logo depois do muro, estava deserta. Nenhum sinal de humanos ou vampiros. Eu podia tomar pouco impulso e saltar o muro ou então derrubá-lo a murros. – Faria um bom serviço e adiantaria o trabalho que o tempo ou o vento teriam – Derrubá-lo aos poucos. – Mas tive a sensação que os Volturi não gostariam disso e, além do mais, faria barulho. Muito barulho. E eu não estava com ânimo para chamar a atenção para mim mesma. – Nunca tive essa espécie de predisposição.

Decidi que saltar era o mais sensato a fazer. Dei uns quatro passos para trás, tomando impulso. Depois disparei para frente e fiz com que meus pés pegassem impulso do chão. Então estava dentro de cidade medieval.

Ao contrário do que eu pensava, não havia o cheiro concentrado de vampiros aguardando para dar boas vindas à cidade. Só sentia o cheiro limpo e apetitoso de humanos. Fazia minha garganta arder um pouco, mas eu não estava com sede agora. Além disso, caçar humanos estava totalmente fora de meus princípios.

Pensando bem, havia um cheiro muito fraco, ao norte. – não reconheci – Um vampiro deveria ter passado por ali há alguns dias. Se fosse recente, o cheiro teria uma intensidade maior e não estaria tão disperso no ambiente como aquele estava. Isso não me surpreendia. Os Volturi só saíam quando o “dever” – ou seria a necessidade de serem incrível e insuportavelmente intrometidos – os chamava. Ou a sede.

Então segui para o norte.

Não havia vento para trazer-me o cheiro de lugares muito mais distantes do que aquele que eu estava, por isso não podia afirmar com certeza se não havia vampiros por perto – Eu poderia, no máximo, torcer para que não tivesse.

Mas a força do pensamento não ajudou; enquanto eu andava – ainda invisível – pelas ruas estreitas de Volterra, seguindo o cheiro e, ao mesmo tempo, procurando pelo Palazzo Dei Priori, vi uma figura escura e encapuzada no fundo de um beco sem saída – Era um membro da guarda. – Seu manto meio tom mais escuro do que o breu que pairava sobre o beco sugeria isso. – A figura era quase do mesmo tamanho que eu. Agradeci aos céus que não fosse alto – Se, por acaso, fosse Felix eu estaria morta. Ou quase. (Me lembrei de que podia incinerá-lo em um segundo com minha corrente elétrica – um presente que eu ganhara de Kate. – E eu estava invisível).

Mas o vampiro no fundo do beco escuro não era Felix. Eu nem sabia se era um homem ou não. Ainda não podia ouvir sua voz. Mas talvez fosse um homem; os ombros eram largos demais, contra a escuridão do beco, para ser uma mulher.

Resolvi me aproximar.

Agora eu andava até o beco discretamente. – Não que alguém pudesse me ver ou sentir meu cheiro. – o fato de eu não deixar meu cheiro por aí enquanto estava invisível era outro bônus pelo qual eu não esperara. – Mas ainda poderiam me ouvir.

Quando me aproximei – agora podia ver que eram duas figuras na escuridão, só que o soldado da guarda estava na frente, de costas para mim. – podia ver que o outro ser, o que estava na frente do vampiro, com as costas contra na parede de tijolos velhos, era humano.

Eu não sabia muito sobre os Volturi, mas, lembrei-me, Alice me dissera certa vez – num passado agora muito remoto para mim – que eles não podiam se alimentar dos habitantes da cidade.

Mas o vampiro não parecia estar se alimentando. Ainda. Em vez disso, falava com uma mulher, a voz colérica, mas contida.

Reconheci a voz de Demetri.

 - Aro tem planos para você, Gianna. – Era a secretária candidata a monstro. Lembrei-me vagamente dela, a bela secretária dos Volturi. Então eles ainda não haviam decidido o que fazer com ela! Era estranho que um humano durasse tanto tempo em sua condição natural perto daqueles monstros e ainda não ter virado a sobremesa de um deles.

- Planos?  - Repetiu ela, confusa. Não havia medo na voz dela. Era só isso. Confusão.

Concluí que ela já deveria ter aceitado seu futuro, fosse ele como fosse. Ela já sabia disso. Sabia que havia duas opções; transformá-la ou se alimentarem dela.

Tentei usar o talento que havia recebido de Eleazar. – Para ver se Gianna seria útil aos Volturi de um modo especial. Para checar se ela seria uma Vampira talentosa.

Tive de me concentrar um pouco. – com humanos não era tão fácil; suas capacidades futuras ainda eram muito nebulosas.

Não encontrei grande coisa. Só carisma. Como Jasper possuía enquanto era humano, embora, no caso de Gianna, em uma quantidade muito pequena. Um talento como o de Jasper, mas em uma “versão“ muito mais limitada. Os Volturi não precisariam dela; eles já possuíam Chelsea.

Então pude concluir os planos que Aro tinha para aquela pobre moça que um dia fora candidata a monstro italiano.

Quase me esqueci de que ela esperava por uma resposta de Demetri.

- Sim. Planos. Como você já sabia que ele possuía. – Disse ele numa voz fria e monótona.

- E que tipo de planos? – Perguntou ela com um forte sotaque italiano impregnando sua voz.

- Bem, ele concluiu que suas habilidades futuras serão facilmente dispensáveis e que não precisaremos mais de você por muito tempo.

Pude concluir facilmente o rumo que a conversa tomaria, mas Demetri não estava com uma expressão corporal de quem estava prestes a fazer um lanchinho-da-meia-noite. Eu deveria estar preparada para prender a respiração imediatamente se ele resolvesse tomar um Mc Lanche Feliz de vampiros.

-Mas... – ela não terminou.

Em um milésimo de segundo sua cabeça já não estava mais grudada ao corpo. Agora Demetri se fartava de sangue, enquanto eu agradecia por ter prendido a respiração bem a tempo de não poder sentir o cheiro.

Uma coisa era sentir o cheiro limpo de humanos à minha volta. Outra completamente diferente era sentir o cheiro do sangue de uma pessoa quase jorrando pelo local onde deveria estar sua cabeça.

Eu estava sem respiração, mas ainda possuía outros sentidos.

O som do gotejar de sangue fresco fazia minha garganta arder com o desejo de sangue, mas não era tão ruim quanto provavelmente seria sentir o cheiro. E foi fácil me controlar (eu sempre me alegrava com isso).

A cor, vermelha-escuro, do sangue não me dizia nada. Era só vermelho. E nem tudo o que é vermelho é sangue. Simplesmente ignorei.

Demetri tinha acabado rua refeição agora.

Demetri. Demetri. Demetri.

Aquele era Demetri. Só agora eu percebia isso. – quando não estava prestando atenção ao diálogo. Não havia mais diálogo; o corpo de um dos interlocutores jazia completamente drenado no chão de pedras escuras. – Demetri estava na minha frente.

De repente, involuntariamente me veio à memoria cenas memoravelmente tensas.

Naquela primeira manhã depois de pensarmos que nossas vidas haviam sido condenadas, aquela em que Edward e eu discutíamos sobre as vantagens ofensivas dos Volturi.

A memória era bem nítida:

“Se Demetri não existisse, então poderíamos fugir. Os que restassem entre nós, em todo caso. Minha filha, quente em meus braços... Alguém podia fugir com ela. Jacob ou Rosalie, quem restasse.”

“E... se Demetri não existisse, então Alice e Jasper poderiam ficar seguros para sempre. Fora isso o que Alice vira? Que parte de nossa família continuaria? Eles dois, pelo menos.”

“Poderia eu invejá-la por isso?”

“‘Demetri... ’ – eu disse.”

“’Demetri é meu’. – Disse Edward numa voz dura e tensa. Olhei para ele rapidamente, e vi que sua expressão se tornara violenta.”

“’Por quê? ’ – Sussurrei.”

“Ele não respondeu... Ele finalmente murmurou:”

“’Por Alice. A única forma de eu agradecer a ela os últimos cinquenta anos ’”.

Vi em minha mente outra lembrança. Essa era mais curta, ecoada em meus próprios pensamentos.

“Por Jacob e Renesmee, por Alice e Jasper, por Alistair e por todos aqueles estranhos que não sabiam o que lhes custaria aquele dia, Demetri tinha de morrer...”.

A resposta para o que eu tinha de fazer me veio naquela última lembrança de meus próprios pensamentos: “Demetri tinha de morrer”

Obviamente a situação não era a mesma daqueles dias tensos que eu passara há alguns anos. Mas o fundamental não mudara tanto. Demetri ainda tinha de morrer. Era a única maneira de despistar completamente os Volturi. De deixá-los cegos. Sim, Demetri tinha de morrer.

Eles ainda perseguiriam Alice eternamente, se tivessem Demetri. Se Demetri sobrevivesse, Alice jamais teria paz. E eu jurara devolver a paz à minha família.

Demorei menos de um segundo em minhas deliberações.

E, se seu afastasse meu escudo, Demetri saberia que eu era eu? Mesmo estando invisível? Eu duvidava. Ele não conhecia o teor, o... Sabor? – Como certa vez Edward dissera. – De minha mente.

Foi o que eu fiz. Mandei o escudo que me protegia dar uma voltinha breve por aí0 enquanto Demetri analisava a nova presença.

Ele deixou cair o corpo drenado a seus pés e pareceu apurar ou ouvidos. – Certamente uma reação reflexa ao teor de novas mentes.

E depois o escudo me protegia novamente, involuntário à minha vontade. Resposta à exposição.

Demetri teve um sobressalto por não conseguir sentir mais nada. E depois ficou paralisado por alguns segundos. Uma reação ao estresse que todos os vampiros tinham.

Será que ele conseguiria me rastrear? Com um escudo me protegendo? Eu duvidava. Por dois motivos.

 Primeiro: Ele precisava ter acesso à densidade e ao teor de meus pensamentos para que pudesse me rastrear, e isso era exatamente o que ele não tinha.

Segundo: Ele não viveria tempo suficiente para isso.

Então, num lampejo de energia, saltei sobre ele.

Demetri se debatia e tentava me empurrar, sem saber o que era; Talvez ele pensasse que uma força do mal o estava possuindo. Mas isso não iria adiantar por muito tempo. Minhas mãos seguraram firme seu pescoço e puxaram a cabeça para fora do corpo. E então eu estava com uma cabeça entre as mãos. Só uma cabeça. Os olhos vermelho-escuros abertos e numa expressão que sugeria medo.

Seu corpo descabeçado continuava a lutar, mas eu já estava longe dele.

O que faria agora? Podia despedaçá-la, somente com um aperto forte de minhas mãos entre a cabeça nojenta.

Mas então larguei a cabeça no chão e ateei fogo ao corpo. De Demetri e de Gianna também, já que o rastreador dos Volturi não podia limpar sua sujeira.

Fiquei, por um instante, assistindo o corpo queimar. O cheiro era um pouco enjoativo e concentrado demais. A fumaça densa me impedia de ver qualquer coisa além do que estava a dois centímetros de meu rosto. Apesar de meus olhos poderosos.

O que eu faria com aquela cabeça sem corpo? Pensei em enviar para os Volturi pelo correio, mas me pareceu melodramático demais.

Mas... Pensando bem... E se eu enviasse isso com um tom de ameaça ou um ultimato, juntamente com um bilhete?

Quem sabe algo como:

Aro,

Deixe em paz minha família.Não finja desentendimento;sabe de quem se trata. Esse presente é só uma amostra do que pode

acontecer se você não desistir disso.

Bella Cullen.

Argh. Não, não, não.

Eu não era assim, mas a raiva me consumia como o veneno, como a sensação do fogo da transformação. Eu não faria aquela cena melodramática; queimei o bilhete e também a cabeça de Demetri.

Eu precisava de um plano. Aro saberia que Demetri jamais voltaria para “casa.” Mais cedo ou mais tarde os Volturi saberiam (Eu esperava que fosse mais tarde) o que eles pensariam? O que Aro pensaria? Talvez soubessem que ele fora morto. Desaparecer estaria fora de cogitação, já que Chelsea servia para isso mesmo. – Manter os membros da guarda satisfeitos com sua função.

Depois de alguns minutos de deliberação, resolvi seguir com meu plano original. O mais idiota que eu tinha. Era o mais idiota, mas também era o menos arriscado.

Sim eu faria tudo às escuras.

Então disparei para o covil dos Volturi.

Não havia sinal de movimento do lado de fora da entrada dos esgotos de Volterra.

Nem humanos e nem vampiros. Isso era bom.

Tirei a enorme tampa do bueiro e entrei no corredor sombrio. Antes aquele lugar me parecera incomumente frio. Calculei que isso se devia menos ao fato de que da última vez era inverno do que agora eu não ser mais humana.

Era estranho. Eu não encontrei nenhum sinal de vampiros o caminho todo. E eu esperava que a segurança fosse mais bem reforçada. Os elevadores estavam vazios. Entretanto, quando cheguei à imensa porta de madeira, pude ouvir um burburinho de vozes ao longe. – Elas estavam abafadas.

Como eu entraria? Não podia simplesmente abrir a porta e esperar que alguém colocasse a culpa no vento (eu continuava invisível aquele tempo todo.)– Não havia vento nenhum ali naquela antessala macabra.

Eu deveria esperar que alguém aparecesse do lado de fora e então entraria, sorrateiramente, atrás.

Não foi fácil. Uma hora e meia e ninguém aparecera ainda. – Aqueles vampiros nunca se entediavam? Nunca saíam ou entravam a não ser quando o dever os chamava?

Mas então ouvi alguém chegando. – longe no corredor escuro. – Era Caius. Estranho que algum dos anciãos saísse sem algum segurança. Contudo, lembrei-me, certa vez, Edward me dissera que, com exceção de Caius, os Volturi ou sua guarda raramente saíam.

Foi muita sorte minha.

Eu esperava que o ancião de cabelos brancos simplesmente empurrasse a porta e entrasse, mas não. Ele emitiu um ruído. – algo como se fosse um código secreto. – e Felix abriu a porta.

Para mim era algo ridículo que Caius não tivesse aberto aquela porta sozinho. Mas me esqueci de que seria um enorme esforço para ele fazer isso.

Eu quase sorri com o sarcasmo que impregnava meus pensamentos. Era uma reação reflexa ao ódio que eu sentia por aquele odioso vampiro de cabelos brancos.

Tive que me esforçar ao máximo para não pegar o isqueiro que estava em meu bolso e queimá-lo ali mesmo – como ele fizera com Irina.

Mas eu não podia fazer isso.

Essa vingança não estava em minhas mãos. Kate ou Tanya teriam de fazê-lo. E digo isso porque a vingança, para os vampiros, não era uma opção ou algo ruim que martelava dia-a-dia em nossos pensamentos.

Não. Era algo involuntário; precisávamos disso como queríamos o sangue para nos sentir satisfeitos. Por isso eu podia ter tanta certeza sobre a vingança das duas irmãs.

Afastei aquele pensamento de minha mente.

E depois segui atrás de Caius silenciosamente. Quando entrei na enorme sala redonda, vi Aro em pé, falando com algum membro de sua guarda; era um vampiro baixinho, que eu reconheceria de muito, muito longe. Seu rosto de anjo era memorável, mas, ao mesmo tempo, a raiva me corroía por dentro ao vê-la.

Jane.

- Por favor, Jane, vá ver porque Demetri demora tanto, sim. Diga que preciso falar com ele e mande-o o mais rápido possível. – Aro pediu. Seus sussurros frágeis acompanhados de um tom perfeitamente gentil.

Jane assentiu e disparou pela porta.

Isso. Essa era minha oportunidade perfeita.

Jane não havia saído ainda; estava abrindo a porta quando a ideia me veio à mente.

Então, rapidamente, lancei de leve minha corrente às suas costas. Ela parou de imediato, sobressaltada pela irritação na pele de pedra. Ela procurou fixamente o que lhe causara a dor mínima. Seus olhos demorando-se em mim, sem nada ver. Ela acertara. Era esse o ponto que eu queria.

Meu plano era simples: obrigá-la a usar seu poder em algo que ela não pudesse ver, mas que tinha certeza que estava ou devia estar ali. Onde eu me encontrava oculta pela invisibilidade.

Por fim ela desistiu de procurar; deu, novamente, as costas para mim e eu a atraquei com uma voltagem baixa outra vez.

O padrão se repetiu; Jane paralisou e varreu com os olhos o ponto onde eu estava, procurando alguma coisa.

Aro percebeu.

- O que houve, querida? – perguntou gentilmente o ancião. – O que está esperando?

- Mestre? – perguntou a vampira, agora confusa. – Hã... Eu... Senti... Como se fosse um formigamento em minhas costas. Não sei o que está havendo. Mas eu não vejo nada que não devesse. Oh, desculpe-me. Já estou indo.

- Isso mesmo, vá. – Disse ele.

Dessa vez Jane me deu as costas vagarosamente, como se esperasse ver alguém, com sua visão periférica, que não conseguia ver de frente; Quando estava totalmente de costas para mim, eu repeti o que havia feito. Joguei a corrente elétrica nela. Dessa vez com um pouco mais de voltagem. Queria que ela se irritasse logo com a situação.

Rapidamente afastei meu escudo, enquanto Jane mostrava os dentes para o ponto invisível. Como se fosse ataca-lo.

Foi o que ela fez.

A próxima coisa que senti foi a dor. Uma dor quase tão lancinante quanto a dor da transformação.  Eu aguentara essa sem nenhum ruído. E foi o que fiz com o dom imaginário de Jane. Obriguei-me a ficar de pé e a não emitir som algum. Funcionou bastante bem.

Um segundo inteiro por passar e eu ainda estava sentindo a dor atordoante. Chamei meu escudo de volta à minha mente. Ele voltou facilmente. E agradeci aos céus por isso. Eu não poderia mais suportar a dor por muito tempo sem abrir a boca para gritar.

E não havia mais dor; ela havia passado com a mesma rapidez com que chegara.

Podia ver Jane ainda tentando ferir quem quer que ela imaginasse estar ali. Não havia ruídos de dor, como, certamente, ela imaginara ouvir.

Ela recompôs a expressão e saiu da sala imediatamente, indo atrás de Demetri. Ou de suas cinzas, mas ela ainda não sabia disso.

Senti-me tentada a experimentar o dom que pegara emprestado dela nela mesma, antes que desaparecesse de minhas vistas.

Controlei-me. Esse não era o momento para demonstrações desse gênero.

Aro assistira ao surto de Jane calado. Quando virei-me para ver seu rosto, ele anda estava paralisado pelo que ocorrera. O que ele pensava? Será que achara que Jane tinha enlouquecido? Vampiros podem enlouquecer? Eu não sabia, mas duvidava que a resposta fosse sim.

Não entrei na mente dele para verificar.


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Notas finais do capítulo

O próximo será postado se houver um bom número de Reviews. Alguém gostaria de recomendar? Fique à vontade,
Obrigado...