Susana observava o pai de Marley leva-la de carro para a escola, Marley estava com os dias contados lá, logo iria ser transferida para cursar o Ensino Fundamental Um, no Cross-Waldorf. Toda essa proximidade estava deixando Susana preocupada, porque ela já é um pouco atormentada pela precocidade de Marley, e aí vem o pai e lhe dá um Sideckick porque é seguro usar um celular não muito caro em um “bairro como o Brooklyn”. A menina ganhara também um tablet, um ipod, e de celular reserva um iphone 5, roupas caríssimas da Chanel Kids, um X-Box 360 e diversas outras coisas. Susana está preocupada com que Marley prefira o pai que lhe dá tudo do bom e do melhor.

Mas ela conhece a filha que tem. Marley ama a mãe, o padrasto, os avós maternos, os tios e a madrinha coruja, Lindsay.

Ela estava arrumando o quarto em que ela, Marley e Lúcia dormiam, já que hoje é seu dia de folga. O quarto antigo, com madeira de barco e papel de parede velho e encardido da Miney, estava entupido de roupas por todos os lugares. Ela estava arrumando as roupas de Marley na cômoda dela, e encontrou atrás da cômoda, preso encostado na parede um diário, com capa de veludo rosa choque com um cadeado com o nome em caligrafia prata, “Meus Segredos” do lado havia um pequeno cadeado em forma de coração.

Ela reconheceu ser o diário que Lindsay deu para Marley no seu aniversario de seis anos, na época não se importou, pois achou que Marley ia usar para anotar afazeres escolares, mas pra que tinha um cadeado? Pra que tinha o nome em caligrafia prata “Meus Segredos”? O que Marley teria para esconder de Susana, ela só tem quase sete anos, embora tenha a mente de doze, e Susana lembrou-se de tudo que fez aos doze anos que escondeu dos pais.

Ela e sua amiga da Inglaterra Carter Base experimentaram cigarros pela primeira vez aos doze anos, foi uma completa estupidez, mas ela ainda lembra que teve que colocar a cômoda sobre a marca de queimadura no papel de parede, essa foi a primeira e ultima vez que ela tocou num cigarro, e não lembra porque fez isso, ah sim, porque ela e a amiga queriam ser sexys como as garotas do oitavo ano que fumavam no beco da escola e que os garotos eram loucos, isso foi extrema estupidez, ela desejaria voltar aquela época e dizer a si mesma “Garota, você é a mais estupida que já vi”.

Lembrou-se do seu primeiro “namoradinho” que só estava tentando tirar proveito da inteligência dela, pedindo para fazer os seus deveres de casa e da sua namorada, e o namoro deles era só fachada. Lembrou-se de quando deu seu primeiro selinho em Charles Grant, o cara que se aproveitou dela, e que ela e a amiga escreveram uma carta falando mal das garotas mais bonitas do sétimo ano com todos os palavrões que aprenderam.

Tudo isso só a fez conduzir para o caminho certo, eram coisas que toda criança passa quando está passando para a adolescência, e na adolescência há muito mais dessas experiências, e teve uma boa adolescência porque corrigiu todos os seus erros na pré-adolescência, mas o assunto não é ela, é Marley. Susana conversa o mesmo que sua mãe conversava com ela quando tinha doze ou treze anos, sobre “virar mocinha” embora Marley fosse extremamente criança, um dia perguntou a mãe diretamente o que era menstruação. Falava sobre “namoradinhos” sobre manter uma boa relação com a coleguinha que mais odeia e etc. Mas elas nunca falaram sobre palavrões e drogas, e a única coisa que ela disse sobre namoradinhos foi “Diga sempre não”. Marley estaria fumando no beco da escola? Estava beijando um garoto? Talvez mais velho? Estava chamando palavrões?

Ela se questionou se estava delirando, Marley era uma filha perfeita, tirava boas notas, era comportada, educada e etc. Ei, ela tira boas notas, será que ela cola? Pensou Susana. Depois percebeu que tudo aquilo era loucura, mas depois se lembrou de uma matéria que ela mesma fez para o Daily News que as crianças estão evoluindo muito mais rápido, crianças de onze anos engravidando, nas drogas e tudo, e isso a deixou inquieta; o que Marley tem para esconder num diário? Ela tinha certeza que a filha não estava grávida nem drogada, mas ela não resistiu mais a curiosidade.

Achou a chave no porta-joias de Marley, abriu o cadeado em forma de coração e começou a ler a primeira página, a caligrafia de Marley era idêntica a sua. Talvez ela estivesse falsificando papeis de reporte da escola?

16 de Fevereiro de # 2012

Querido Diário

Minha madrinha Lindsay me deu você de presente de aniversario hoje, ela disse que não devia contar só o que acontece de sem graça comigo, como “Hoje, tomei café, fui pra escola, voltei, assisti TV e etc.” Ela disse para contar os meus segredos.

Eu já ouvi essa palavra antes, “Segredos”, mas não sabia direito o significado, e estava muito ansiosa para saber o que é consultando o dicionário, então perguntei a madrinha e ela disse que é algo pessoal, que só a gente deve saber, algo que a gente deve guardar num lugar seguro como um diário.

Quando mostrei a mamãe, ela estava trabalhando no notbook e nem olhou direito, só disse “Que agenda linda!” aí madrinha me disse para não mostrar mais a ela, “Se uma mãe descobre os segredos da filha é encrenca” disse madrinha, e eu não estava entendendo direito e ela me deu uma dica, “Uma vez que fui a uma festa escondida da minha mãe, eu escrevi isso num diário, e se ela soubesse, eu estaria encrencada”, embora eu nunca tivesse ido a uma festa escondida, eu entendi a coisa.

Bom, minha vida não é das mais interessantes, até porque eu queria estar vivendo em Nova York com meus avós e o resto da minha família. Enfim, está tarde, amanhã tenho aula, quem sabe daqui pra lá eu escrevo alguma coisa de interessante pra você.

Com Amor

Marley

Susana sentiu vontade de matar Lindsay por dizer aquilo a Marley, ensinar a filha a esconder segredos, mas lembrou-se de quando tinha doze anos e sua mãe lhe deu seu primeiro diário, e ela e Carter Base chegaram a ir a uma festa escondidas também quando tinha doze anos, embora Marley fosse inocente, Lindsay a corrompera? Por uma parte ela é culpada, mas por outrora Marley tinha entendido o que significava. Ela resolveu partir para a próxima pagina e um peso atingiu a sua consciência, será que ela estaria invadindo a privacidade da filha? Com certeza, mas “Uma criança de seis anos não precisa de privacidade” pensou.

20 de Fevereiro de 2012

Querido Diário

Demorei a escrever, porque estava em semana de provas, desculpe. Mas tive um tempo para pensar no que escrever nesses dias. Madrinha disse que não precisava escrever todo dia, só quando tinha uma coisa de muito, muito, muito importante pra escrever, mas que em geral eu devesse escrever ao fim de cada semana, ou quando tivesse vontade.

Pesquisei sobre diários, e vi que é uma forma de colecionar lembranças, alguns momentos ótimos são quase impossíveis de registrar, e pra não esquecer devemos colocar num diário.

Bom, vou começar falando sobre mim mesma, meu nome é Marley Rose Pevensie, tenho seis anos, moro na Rua Fosters no Edifício Fisk nº 7, em Connecticut, desde que me lembro. Moro com meus tios: Edmundo, Lúcia e Pedro, minha madrinha Lindsay e minha mãe Susana.

Meus tios, minha mãe e meu padrasto Robert me levaram para a pizzaria para comemorar o meu aniversario, já que completei seis anos na segunda feira, e não deu pra fazer uma festa, mas minha mãe, minha madrinha e minha tia fizeram um bolo de chocolate pra mim e me deram presentes.

Depois da pizza nós fomos para o shopping comprar mais um presente de aniversario pra mim; comprei um livro, eu adoro ler, comprei Harry Potter e a Pedra Filosofal, minha mãe disse que leu e que é lindo, e que depois eu iria querer ler a coleção toda.

O livro tem duzentas e poucas páginas, e já estou na página cem, é um livro ótimo, recomendaria pra você. Confesso que queria uma bicicleta, mas minha mãe não tem esse dinheiro todo, e quando cheguei em casa, encontrei uma bicicleta embrulhada no meu quarto, meus tios, minha mãe, minha madrinha e meu padrasto fizeram uma vaquinha e compraram uma bicicleta pra mim.

Mamãe disse que eu merecia por causa das minhas notas altas, tiro só dez em todas as matérias. Mamãe disse que também era assim, aliás me inspiro em mamãe, tão bonita, tão inteligente, é a pessoa que eu mais amo no mundo.

Infelizmente não tenho um pai, gostaria de ter. Bom, está tarde e a folha que eu estou escrevendo já está acabando, te vejo depois diário, acho que você é um grande amigo porque sabe de tudo e não conta nada.

Com Amor

Marley

Susana folheou mais páginas, e ficou feliz de confirmar que Marley não era drogada nem tinha namorado, depois se sentiu extremamente culpada por não confiar na filha e de pensar essas coisas dela. Ela disse a si mesma para guardar o diário, que já era o suficiente, mas decidiu ler mais um pouco. Algumas páginas refletiam o desejo de Marley de saber quem era seu pai, e de querer conhece-lo e da ambição de ser cantora. Parecia que ela estava num livro muito interessante do qual não conseguia parar de ler.

26 de Dezembro # 2012

Querido Diário...

Meu pai me levou para passar o natal na casa dele. Foi legal e triste ao mesmo tempo, foi legal porque fiquei com meu pai, e ele gostou da gravata que eu dei a ele, infelizmente, meus avós, Kirsten e Ryan Cooper não gostaram dos presentes que dei a eles, e foram caros, mas aposto que eles compram roupas e perfumes ainda mais caros, vi Kirsten dando os presentes a empregada para jogá-los, se ela não gostou poderia doar pra quem precisa?

Minha irmã Kitty é muito exibida, não, não é ciúmes que tenho dela, só que ela ficou mostrando seus presentes a todos os convidados da festa de natal, enquanto sua mãe conversava com amigas tomando champanhe, e me lançava olhares horrorosos que me davam muito medo, parecia que eu tinha um doença contagiosa. Não tenho nada contra Kitty, mas a mãe dela sempre a impede de falar comigo. E tudo que ela me disse foi “Oi”.

Claro, toda madrasta é assim, não vê nos contos de fada? A madrasta da Branca De Neve a fez de criada toda vida e depois queria mata-la, a da Cinderela também a fez de criada toda vida e quase a impediu de seu final feliz, a do João e Maria obrigou o pai deles a deixa-los na floresta, todas as madrastas são más! Mas eu não vivo no mundo dos contos de fadas, eu vivo no mundo real, e esperava que fosse diferente. Ela me olha como se eu fosse um inseto a ser esmagado, às vezes eu tenho até pesadelos.

Apesar dos defeitos, eu acho essa família tão bonita, tão bonita e perfeita quando a família real Inglesa, mesmo eles não tendo uma bastarda. Minha avó é bonita como a rainha Dianna, meu avô é bonito como o príncipe Charlie, minha mãe é linda como a princesa Kate, meu pai é bonito como o príncipe William, e a minha madrasta? Tenho que admitir que ela é bonita, e que tal se fosse a atual mulher do Charlie? Bom o fato é que eu queria me chamar Marley Rose Cooper, queria entrar pra família real!

Eles são tão importantes, tão bonitos, eu me orgulharia de ser Cooper, apesar de ter o sangue deles, não me sinto uma Cooper, mas minha mãe diz que sempre agi como uma Cooper, sempre fui bem educada, tive postura, e inteligência, e todas as coisas que os Cooper são e que eu amo.

Não me sinto uma Cooper porque Kirsten e Ryan (ainda não me sinto a vontade para chama-los de avós) não aceitaram os meus presentes de natal, e de alguma forma isso me frustrou, mamãe sempre diz que um presente é válido pela intenção, e eu acreditava nisso até agora, que meus avós paternos recusaram os presentes que eu dei, não foi implicância de mamãe, porque aqueles presentes eram caros e de marca, e eu não sei por que eles não gostaram, e isso só me traz mais vontade de ser aceita por eles. Espero um dia ser aceita pela família real, e na minha certidão estar escrito Marley Rose Cooper. (Eu realmente preciso ver minha certidão de nascimento).

Com Amor

Marley

Lágrimas de indignação saíram do rosto de Susana, ela estava quase se sufocando de tristeza, como ela deixou as coisas chegarem aquele ponto? Como ela deixou a filha sofrer aquele ponto, para qualquer um Marley não estaria sofrendo, mas por Susana ela estava sim! Estava sendo rejeitada e mentiu sobre os presentes dos avós, mentiu sobre Lilian, só para ser aceita nessa maldita família Cooper.

O que mais doía em Susana eram as lembranças de quando era jovem que vinham na sua mente como bombas nucleares, memorias de humilhação e sofrimento na mão dos pais, – e principalmente da mãe – de Caspian.

* Flash Back *

Susana se olhou no espelho para ver se estava “perfeita”, era hoje o grande encontro com os pais de Caspian, e ela queria impressiona-los, porque eles eram uma das famílias mais ricas de Nova York.

Tudo que ela visualizou sobre a família de Caspian era a família real, a família perfeita, a família pra qual ela queria entrar e queria que gostassem dela, mesmo sem conhecer a sogra, ela era uma grande fã dela.

Desceu as escadas já ouvindo elogios da família toda, Lúcia ficou boquiaberta e Edmundo e Pedro não conseguiam desviar o olhar para o vídeo game.

– Uau Susana! – vibrou Lúcia sentada no sofá lendo “O Sol Nasce Para Todos”. – Onde conseguiu esse vestido?

– A Alice me emprestou – disse Susana. Logo veio seu pai para elogia-la.

Os pais haviam pedido divorcio há algumas semanas e a Sra. Pevensie tinha ido para a casa da irmã Alberta na Virginia.

– Desse jeito eles vão querer te adotar! – disse o Sr. Pevensie.

Susana estava vestindo um vestido branco de ceda com um cinto preto Calvin Klein, os cabelos negros jogados para a esquerda, saltos pretos, uma botinha de amarrar e uma maquiagem que a tornava perfeita.

Uma buzina soou do lado de fora, era Caspian. Susana saiu quase correndo para o carro, sua pele estava pinicando de adrenalina. Iria conhecer a rainha, a matriarca da família real, a família que ela queria tanto entrar.

Caspian estava vestido à altura também, com um luxuoso terno inglês.

Eles saíram do Brooklyn no Volvo C3 de Caspian e foram para o Upper East Side onde havia um evento beneficente da família Cooper.

A recepção era a coisa mais chique e luxuosa que Susana já vira em sua vida, um lustre de cristal, pessoas bonitas, chiques e ricas, garçons bonitos, e champanhe pra todo lado, exposições de anúncios e artes, musica clássica tocando e um cheiro de Chanel nº 5.

Ela entrou timidamente, não estava esperando tudo isso, e estava muito, muito nervosa, enquanto Caspian de braço dado com ela cumprimentava todos.

Eles chegaram perto de um anuncio que chamava atenção.

– Não é tarde pra fugir daqui e jogar golfe – brincou Caspian e Susana riu.

Ela estava adorando, apreciava a artes, filosofia, e cultura.

– Lyle e Frances Springer... – disse Susana apontando para o quadro do anuncio.

– Meus avós – informou Caspian e Susana ficou boquiaberta.

– Springer do fundo de preservação? Springer o patrocinador das artes? – ofegou Susana.

– Culpado! – disse Caspian.

– Uau! – arquejou Susana.

Eles foram mais a frente de mãos dadas, havia quadros, esculturas e anúncios, e pessoas ricas e bonitas.

– Minha mãe adora arte... – disse Caspian.

– Bom, a cada vez me torno mais fã da sua mãe! – disse Susana examinando uma pintura. – Mas... Tudo isso pertence a sua família?

– Culpado de novo – brincou Caspian.

Os dois deram mais voltas, examinaram mais quadros e pinturas.

– Eu tenho, tenho que te contar uma coisa – disse Caspian nervoso.

– O que? – perguntou Susana namorando um quadro de Picasso.

– É difícil tocar no assunto...

– É sobre o que? – perguntou Susana cada vez mais fascinada com os quadros.

– Não sei bem por onde começar... Na verdade, acho que sei... – disse Caspian.

– Tudo isso pertenceu à família da minha mãe há séculos, aí ela casou com meu pai, e bom, é daí que vem esse dinheiro todo, e... Meus pais são o que se pode chamar de ricos arrogantes! – disse Caspian.

– Não pode ser, não com esse bom gosto! – riu Susana sem dar muita atenção.

– Só... Minha mãe é imprevisível, tenha delicadeza com ela, por favor – disse Caspian.

– É só por isso que você atrasou essa apresentação? Não queria que sua mãe sua família conhecessem sua namoradinha pobre? – disse Susana ofendida.

– Não! Claro que não! Eu te amo, não estava mantendo você longe da minha família, estava mantendo minha família longe de você... Olhe eu não sei o que eles vão achar de você, está zangada? – perguntou Caspian triste.

– Não... – disse Susana e deu um beijo em Caspian. Ele não podia estar falando sério? Podia?

– Ei, eu tenho que ver meu irmão, ele voltou da faculdade de Londres, te vejo depois! Porque não pega uma bebida? – disse Caspian e se afastou.

Susana estava gostando demais daquilo tudo, das artes, das esculturas, era um sonho para ela. Pegou uma taça de licor com um canudo no chique bar que havia no canto do salão, preferiu licor para se acalmar.

Enquanto olhava “As Mensageiras Do Rei” de Picasso, uma mulher magra alta, com cabelos castanhos escuros presos num coque e olhos castanhos iguais aos de Caspian, e muito, mas muito elegante, a mais elegante que Susana já vira, chegou perto dela sorrindo.

– Você parece tão sozinha aqui... – disse a Sra. Cooper, como alguém podia ser tão elegante?

– Estou bem – disse Susana com um sorriso de orelha a orelha. Caspian não podia estar falando sério sobre a sua mãe?

– São... Simplesmente maravilhosos! – elogiou Susana se referindo as exposições e a Sra. Cooper assentiu. – Caspian disse que pertenciam aos seus pais...

– É isso mesmo, mas Caspian não te contou muito sobre ele, não é? – disse a Sra. Cooper.

– Ainda estamos aprendendo – disse Susana meiga, nem acreditava que estava conhecendo sua tão sonhada sogra.

– Mas você sabe sobre o rock, e sobre o grafite, e sobre o leparkour, você se encaixa perfeitamente aí, poderia ser a musa! – disse a Sra. Cooper.

Susana sorriu, mas ficou confusa. Musas eram as deusas inspiradoras dos poetas, escultores, filósofos e músicos na mitologia grega, então Susana estaria inspirando Caspian para o rock, o grafite e o leparkour?

– Eu não fingiria ser aquilo – disse Susana ainda sorrindo.

O pouco que Caspian mencionara sua mãe, ele falara da discórdia que tinha em casa sobre os hobbies de Caspian, ele adorava grafitar, compor musicas de rock, fazer shows em pequenos bares, e treinar e divulgar o novo esporte leparkour, que era muito mal visto.

– Não se menospreze, tem um papel muito importante nisso – disse Kirsten ainda com um sorriso elegante.

– Eu só, não me vejo fazendo nenhum papel com o Caspian – disse diminuindo o sorriso.

– Não, não espero que veja – disse a Sra. Cooper alinhando o sorriso.

– O que os seus pais acham do Caspian? – quis saber a Sra. Cooper.

Susana ficou feliz que as duas mudaram de assunto.

– Bom, minha mãe gosta mais dele que meu pai...

– Pais e filhas, isso é sempre complicado... – disse a Sra. Cooper voltando a sorrir.

Susana sorriu novamente.

– Sabe, vem um rapaz e tira a garotinha do papai... – riu a Sra. Cooper.

Susana deu uma risadinha abafada.

– Seus pais são de classe média não são? – perguntou a Sra. Cooper.

Susana congelou.

– Sim, eles são – confirmou.

– Quais são as profissões deles? – perguntou a Sra. Cooper.

Nenhuma das duas estava trocando mais sorrisos.

– Meu pai ensina Filosofia na Cross-Waldorf, e minha mãe já foi professora de ensino fundamental – respondeu Susana calmamente.

– E porque ela não ensina mais? – perguntou a Sra. Cooper.

– Porque quando nos mudamos da Inglaterra meu pai já estava contratado, aí minha mãe não conseguiu emprego – respondeu Susana.

– Bom, e desde quando você tem o visto? – disse a Sra. Cooper dando um sorriso muito amarelo. – Romanticamente...

Susana sorriu constrangida.

– A senhora faz perguntas como se já soubesse as respostas. – disse Susana.

– É muito fácil descobrir o que precisa saber sobre as pessoas – disse a Sra. Cooper dando um passo a mais, perto das mensageiras do rei.

Susana calou-se.

– Seus pais estão se divorciando certo? Qual o motivo? – perguntou a Sra. Cooper.

Susana já sentia vontade de chutar sua sogra, era normal que ela perguntasse sobre sua família, mas perguntar o motivo pelo qual os pais estavam se divorciando? Jogando na cara dela que Caspian demorou a apresenta-la a família?E Susana não queria pensar no que deduziu sobre isso.

– Com todo respeito, minha família não é da sua conta – disse Susana calmamente e a Sra. Cooper deu um sorriso.

– Mas é uma família tão interessante, sua mãe saiu de casa, seus irmãos tem registos de prisão, um já se envolveu com drogas, sua irmã já roubou, seu romance com um garoto de classe alta... – disse a Sra. Cooper no tom mais superior possível.

– Como? – hesitou Susana sem entender.

Ela não queria só chutar Kirsten, queria arrancar cada pedacinho de sua pele. O irmão Pedro foi vitima de uma cilada pelo pessoal do Cross-Waldorf que colocaram drogas na mochila dele, Edmundo foi pego invadindo uma mansão, que era justamente a casa de sua namorada, e outras meninas do Cross-Waldorf tinham colocado um gloss na bolsa de Lúcia enquanto ela estava com elas no shopping. E que é por causa de todos esses motivos que os pais estavam se divorciando.

– Porque ficou tão surpresa? Quero dizer, é exatamente por isso que você está namorando o meu filho, para se aproveitar do dinheiro e da fama que ele tem, você pode literalmente mapear as rachaduras e podridões e limpa-las querendo entrar para os Cooper... – disse diretamente a Sra. Cooper.

– Com licença – disse Susana humilhada se afastando de Kirsten

– Susana! – falou alto a Sra. Cooper.

– Age como seu eu estivesse ferido os seus sentimentos. – disse descaradamente a Sra. Cooper. – Não foi intencional.

Susana virou-se para Kirsten e olhou para baixo, não conseguia encara-la.

– Só quero ter certeza de que estou sendo clara – disse Kirsten chegando bem perto de Susana. – Posso não concordar com o jeito que Caspian vive a vida dele, mas não vou ficar parada e deixar você arruína-la, não só ele como o nome da família Cooper.

– Eu o amo – disse Susana com os olhos cheios de lágrimas.

– Sim – disse sarcasticamente Kirsten. – Tudo é romance e sacrifício... – desdenhou. – Exceto que você determina o que é sacrificado, não ele – disse Kirsten encarando uma assustada Susana.

Susana derramou sua taça de licor numa planta perto de uma escultura e a deixou encima do balcão de um quadro.

Ela estava chorando, e chorando muito. E foi direto para o ponto de ônibus mais próximo.

– O que você disse a ela? – perguntou Caspian.

– Disse o que pra quem? – disse Kirsten.

– Não consigo encontrar a Susana – disse Caspian.

– Ela já foi? É melhor assim, daqui à uma hora os metrôs parecem latas de sardinha – desdenhou Kirsten.

– É assustador ver que você pode fazer coisas assim, e não entender o porquê de eu não querer fazer parte dessa família – disse Caspian sério.

– Não tenho ideia do que você acha que eu fiz. Tive uma conversa ótima com ela – disse a Sra. Cooper. – Talvez ela não tenha gostado do lugar.

– Você pode fazer quantos eventos beneficentes quiser, mas não engana a ninguém, não tem generosidade em você – disse Caspian.

A Sra. Cooper fez cara de quem pudesse matar o primeiro que aparecesse ali.

Ao lembrar-se disso Susana ficou chorando muito mais do que estava antes. Droga, droga, droga! Pensou. Tudo que ela passou, todo sofrimento e humilhação, a filha estava passando agora, e isso era tudo que ela lutou para protegê-la.

É por esse e outros tantos motivos que ela não contou a Caspian que estava grávida dele, e por esse e outros motivos que ela não queria voltar à Nova York, e por esse e outros motivos que ela não queria que Marley conhecesse seu pai ou alguém da família dele.

Mas aquilo não ia ficar assim!